terça-feira, 30 de setembro de 2014
terça-feira, 23 de setembro de 2014
MV - capítulo 7
Desliguei o motor voltando um
olhar para Ale, que ainda ressonava no bebê conforto. Removi nossos cintos e
antes que pudesse sair da picape, Pamela já abrira a porta. Sorrindo para seu
bebê.
Alex abriu minha porta, seus
braços circularam minha cintura com extremo cuidado, beijando minha testa antes
de se afastar. Sorriu terno, mas a preocupação em seus olhos dourados não pode
ser escondida.
Seus lábios assim como os
olhos tremeram para em seguida ouvir o salto de Pamela chicotear pelo chão até
a escada da entrada da casa. Rapidamente me ergueu, sentando sobre o capô da
picape.
– Eu preciso te pedir uma coisa, bê. Eu sei
que não deveria, mas... preciso que... se algo der errado, se eu e Pamela não
voltarmos...
– Vocês precisam voltar – foi tudo o que
consegui dizer antes que o choro fechasse minha garganta.
– Eu sei, bê. Mas se algo der errado... o
único lugar que Ale ficaria seguro é com você. Vamos nos empenhar para voltar
para vocês – sua mão subindo por minha bochecha e removendo a lagrima. – não estava nos seus planos ser mãe tão
cedo... – brincou.
– Você nos engravidou, agora trate de arcar
com as consequências! – revidei buscando de alguma força para parar o
choro.
Seus olhos se ergueram e o que
quer que me fosse dizer foi esquecido, sorriu complacente antes de se afastar
um pouco, os cascalhos da entrada protestaram e virei o rosto buscando o
causador do som.
Edward caminhava com lentidão,
até estar ao meu lado. Sorriu para Alex e me abraçou pela cintura, beijando
minha fronte.
– Eu cuido daqui.
– Ok, Pamela não quer uma nova despedida. Ela
não esta lidando com isso muito bem... – disse tomando meu rosto entre suas
mãos e beijando meu nariz antes de se afastar. Voltei minha atenção para
Edward.
– Vamos entrar? – apenas acenei
concordando e movendo meus pés.
Estranhamente a casa estava
silenciosa, não que mais de 20 vampiros fariam a mesma bagunça que humanos, mas
não era esse silencio que eu encontrava, a cada corredor um vampiro surgia, a
cada janela era possível assistir a um treino e desta vez nada.
– Onde estão os outros?
– Foram caçar... passar um tempo juntos,
antes da batalha.
Edward desviou os olhos na
ultima parte e pude entender perfeitamente o que era o “passar um tempo”
– Estamos sozinhos?
Seus olhos se estreitaram e tomou a postura de quando
esta “ouvindo” algo – sim, agora
estamos.
A pequena menção a estar sozinha com Edward
após tanto tempo fez partes inadequadas esquentarem. Eu teria uma grande
oportunidade e não poderia desperdiçá-la, não com tudo que posso perder, com
tudo o que pode desmoronar neste fim de semana.
Eu teria uma boa desculpa e
precisaria usá-la como um excelente argumento para enfim ter o que quero.
Caminhei em direção as escadas
quando sua mão segurou meu pulso, forçando minha parada. –o que?
– Vamos ficar por aqui.
– Vamos para seu quarto?
– Não é uma boa ideia.
– Por quê? Estamos sozinhos! Finalmente
sozinhos, Edward.
– Por isso, mesmo. Vamos conversar, Bella. –
sua mão deslizou até moldar sobre minha bochecha, tomando todo o lado esquerdo
em sua palma. – já tenho dificuldades
com a casa ocupada, não quero me exceder com essa oportunidade.
– Mas eu quero – digo após abraçar seu
dorso – você também quer, ao menos é o
que aparenta... estou enganada?
– Não, Bella... você é muito frágil,
diferente de uma cristal que mesmo quebrado pode ser colado, eu não poderia
fazer o mesmo com você.
– Isso não tem haver com o fato de ainda não
sermos casados, tem? – em seu século de nascimento a situação era outra e
suas raízes permanecem em sua forma.
– Não é sobre você ainda não ser minha
esposa, mas ao fato de ser frágil. Não imagina o desejo que sinto por você –
sua mão em minha bochecha seguiu por meu pescoço, tomando minha nuca e em
conjunto com sua outra mão que tomava minha cintura, colou mais nossos corpos – a sede que sinto por seu sangue, o desejo
de fazê-la minha não se compara ao medo que tenho de lhe perder – sussurrou
em minha boca. – não suporto vê-la
machucada e se eu for o causador de um mínimo ferimento... provavelmente serei
o primeiro vampiro a enlouquecer.
– Você se subestima.
Sussurrei de volta, sentindo
seus fios cobres entre meus dedos. Beijando seus lábios enquanto sua
temperatura não me alcançasse. Passei minha língua pela sua quando seus lábios se
abriram.
Abri os olhos confusa ao
sentir uma leve brisa após meu corpo pousar em algo macio, o teto branco do
quarto foi a primeira coisa que vi, assim como Edward apertando um controle.
Seus olhos voltaram em minha
direção, uma intensidade que me fez suar, cada parte do meu corpo estava em
alerta, não por medo, mas por desejo. Na esperança de que finalmente eu pudesse
sentir e ter Edward em toda sua gloria.
Possivelmente vendo a
esperança em meus olhos, Edward acenou uma negativa – nos não vamos...
– Uma garota pode sonhar! – retruquei
frustrada.
Seus dentes rasparam em meus
lábios, onde provavelmente havia um bico. Os próximos minutos foram deliciosos
e irritantes, o calor do aquecedor permitia que Edward mantivesse seu corpo
colado ao meu, mas sem seu peso. Os beijos permaneciam, mas sempre que tomavam
uma forma explicitamente sexual, era interrompido.
– O que esta fazendo, Bella? – perguntou
desconfiado quando removi minha camiseta após remover o casaco.
– Eu estou com calor – digo voltando a
deitar, agora apenas com uma blusa de alça fina.
Seus olhos pousaram em meus
seios antes de sua mão percorrer minhas costas e sua expressão suavizou quando
tocou o volume do sutiã. Buscando tornar o ato o mais inocente possível, subi
em seu corpo voltando a beijá-lo.
Sua mão deslizando por minha
cintura, abrindo espaço pela blusa que subia e tocou minha barriga, gemi
sentindo o músculo tremer com seu toque. Seu corpo se inclinou, nos fazendo
sentar sobre a cama.
Sentia o suor escorrer por
minha testa, era o esforço para não implorar para que me tomasse, se uma mínima
suplica escapasse Edward finaria os toques. O medo que isso acontecesse fazia
com que meus nervosos latejassem.
Nossos olhos se encontraram, o
dourado escurecia a medida que sua mão tomava meu quadril e a outra arranhava
minhas costas. O calor, uma batida falha do meu coração, um simples toque em
sua barriga, o som de algo partindo, tecido rasgado e o mundo girou novamente.
Respirar se tornou uma função
difícil quando suas mãos moldaram em concha sobre meus seios, pele com pele,
língua com língua. Uma pequena parte do meu consciente reconheceu este momento,
reconheceu este Edward.
Edward estava fora do
controle, completamente entregue ao que sentimos. E assim como da primeira vez,
não havia medo. Apenas desejo, paixão e amor. Movíamos em busca de um encontro
melhor, tomando seu quadril entre minhas pernas para novamente estar sozinha na
cama.
Provavelmente tenha passado
muitos pares de minutos até que
meu corpo reagisse, me inclinei sobre a cama, só agora notando que a cama
estava com os pés quebrados. Uma parte dos lenços e cobertores rasgados e meu
corpo nu.
– Cubra-se agora.
Medo percorreu minha espinha e
me encolhi puxando o que sobrou do lençol. Edward nunca havia usado tal tom de
voz comigo. Não parecia ele, meus olhos seguiram seu rastro, encontrando-o
encolhido perto da porta, também nu. Uma visão que me hipnotizaria se não fosse
por seu grito anterior.
Meu corpo tremia de susto,
enquanto lutava para manter minha respiração e expressão calma, levantei
devagar arrastando o edredom, cobrindo meu corpo e removendo o lençol.
Ajoelhei-me ao seu lado entregando
o lençol vendo seus olhos negros, e passei os meus discretamente por seu corpo,
tendo tempo suficiente para um vislumbre de sua masculinidade, perfeitamente
ereto.
– Acho que a Alice não vai ligar se eu pegar
uma roupa dela.
Seus olhos um pouco mais
calmos e âmbares correram pelo quarto, antes de cair sobre minha mão que cobria
a sua. Sentei ao seu lado e me inclinei beijando seu rosto. Ouvi passos pelo
corredor, muito suaves, seguido de três batidas leves antes dos passos se
afastarem.
– Alice e Jasper trouxeram o que precisamos. –
desta vez soou mais como meu Edward. Mas ainda irritado.
Sorri me erguendo e prendendo
o edredom no corpo. Ele não quis parar, apenas precisou por causa de Jasper e
Alice. Nenhum esforço foi capaz de remover o meu sorriso. Olhei fascinada para
a cama destruída, contendo os retos mortais da minha calcinha, minha calça
jeans e blusa.
Parando em minha frente e
completamente vestido, Edward me estendeu uma bolsa, o perfume de Alice
denunciava o conteúdo, ainda sorrindo segui para o banheiro. Removi o edredom e
percorri meu reflexo no grande espelho com atenção, eu permaneci viva, inteira
após ser tocada por ele. Ou quase.
Uma pequena marca vermelha se
destacava em meu quadril, respirei fundo. A marca nítida de seus dedos estava
cravada em meu quadril, isso ficaria muito, muito feio amanhã. Abri a embalagem
que continha um conjunto novo da Chanel, tão Alice! A calça de cintura alta
escondia a marca, olhando atentamente busquei memorizar cada lugar vermelho que
se tornaria roxo com o tempo para manter longe dos olhos atentos de Charlie e
do próprio Edward.
Quando voltei ao quarto já não
havia nenhum vestígio do que aconteceu antes. Apenas um espaçoso sofá no lugar
da cama, onde Edward olhava com atenção um envelope pardo de tamanho médio.
Uma expressão neutra e corpo
tenso, simples sinais que me fizeram ter uma pequena noção do que seria o
conteúdo do envelope. Acomodei-me no espaço ao seu lado, seus dedos deslizaram
por minhas costas antes de tocar minha nuca e me beijar, um beijo que me deixou
sem ar.
– Alice teve algumas visões, distorcidas pela
presença dos lobos – disse voltando o olhar para o envelope – por segurança Jasper buscou alguns
documentos para você e Alice. – me estendeu o envelope, sem olhar em meus
olhos.
– O que a Alice viu? – ao tocá-lo senti o
volume do que poderia ser um passaporte, comecei a abrir quando sua mão cobriu
a minha. – o que foi?
– Não veja agora, neste está certidões e
passaportes para Cindy e Jacob. O seu esta junto com os de Alice.
– Porque você não diz o que Alice viu?
– Ela não tem certeza, não chegou a ver
rostos, a presença dos Quileutes interfere na visão, Bella – sua voz soou
cansada e preferi não insistir, apenas acenei.
Era algo grave, pensamentos
tortuosos bailaram em minha mente, meu coração disparou e pensei que fosse
vomitar. Não tive forças para perguntar ou talvez era o medo de que ele
confirmasse.
– Eu te amo – foi o máximo que consegui
libertar antes que minha garganta fechasse com o choro.
– Eu não quero que chore – sussurrou
tomando meu rosto e acomodei em seu colo. –
você ficará bem.
– E você? Vocês... – me calou com um
beijo.
– Nos ficaremos bem, eu ficarei bem. Bella?
Você tem que me prometer que vai seguir Alice. Se eu não voltar... Se algo der
errado e Alice dizer para fugirem, eu preciso ter a certeza que você vá com ela
sem hesitar. Prometa-me?
– Tudo bem... – digo fungando.
– Bella?
– Eu prometo. – me aperto em seu colo.
Deslizei meu nariz por seu
pescoço, respirando fundo, buscando memorizar seu cheiro. Batidas fracas na
porta, antes de um ranger. Mas eu só queria ficar aqui, assim pra sempre.
– Esta na hora – Pamela disse entrando
com Ale adormecido no bebê conforto.
Minhas pernas tremiam e Edward
nos ergueu. Seguindo até Pamela e segurando o bebê conforto. Com as mãos
fechadas em punho, os olhos avermelhados com o choro de vampiro minha amiga mantinha
um pequeno sorriso nos lábios.
– Queria poder abraçá-la, dar um, como eu
espero, até breve. – uma de suas
mãos seguiram pelo cabelo, afastando a franja enquanto caminhávamos para um
abraço. – Acho que consigo! – diz com a voz falha e me abraçando – obrigada, bê. Obrigada, minha amiga.
Minha irmã.
– Nos temos que ficar bem, por Ale.
– Por Ale – sussurrou.
Seu corpo ondulou por alguns segundos
antes dela desaparecer da minha frente e algo esquentar meu rosto. Um estalo e
Pamela estava colada a parede, onde um rachado tomava forma de um lado ao
outro, Edward já estava ao seu lado e
cobria as mãos de Pamela com uma toalha encharcada.
– Desculpe, eu estou tentando... – retrucou
triste.
– Eu sei, Jasper deve estar adorando esse
desafio. Não é a única perdendo o controle e você é a caçula, aqui.
– Desculpe, bê. Eu não estou conseguindo
controlar as emoções e isso esta afetando meu dom.
Eu apenas acenei, sorrindo
fraco. Minha atenção nunca foi para o risco que corri com o dom de Pamela, mas
sim com a forma atenciosa de Edward. A lembrança de um ditado popular
brasileiro que Laura disse: “Se da o doce ao filho para adoçar a boca da mãe”.
Pamela não é minha filha, mas caiu perfeitamente nesse momento.
Eles estariam seguros, um
cuidaria do outro e isso me dava mais segurança. Esperança.
– Desculpe interromper, mas Charlie ligou.
Esta exigindo nossa presença – Alice sorriu após ver como sua roupa ficou
em mim. – perfeita. Vamos?
Algo aconteceu com minha
mente, pois naquele momento era como se tudo você incompreensivo. Vi-me
seguindo até o sofá, tomando Ale em meus braços, sendo abraçada por Edward
enquanto seguíamos para fora do quarto, vendo os outros Cullens na sala, assim
com as Denali. Recebendo o abraço de cada um, vendo Ale passar no colo de cada
um.
Emmett me abraçou com muito
delicadeza, tirando meus pés do chão. Em suas costas vi Alex com Ale em seu
colo, o pequeno de olhos atentos, recebendo um beijo dos pais. Meus olhos
arderam, foi quando finalmente minha mente voltou ao normal.
Aquela poderia ser a ultima
vez que veria um deles, na pior das hipóteses, que os veria.
– Ei, magrela? – Emmett me afastou com os
braços erguidos, como se eu fosse uma criança de cinco anos. – nos vamos acabar com eles! – as
covinhas dominavam seu rosto. – para de
choro e vai lá no Edward, antes que ele prove que um vampiro pode chorar e vire
um maricas! – finalizou pondo-me no chão.
– Eu vou tirando o carro – disse Alice
abraçada a Jasper, seguindo para a garagem.
Segui até ele que me recebeu
em seus braços, me levando para a varanda. Sentou no degrau após me tomar em
seu colo. Levou a mão ao bolso do blazer, de onde tirou uma caixa quadrada em
metal, lembrava a caixinha de joias da minha avó. Puxou minha palma e colocou a
caixa.
– Não é hora para presentes, Edward.
– Meu bisavô presenteou minha avó no dia do
casamento dela, assim como minha avó presenteou minha mãe que desde de que
consigo recordar, disse que se eu não tivesse uma irmã. Esse seria o presente
para minha noiva, uma herança de família. Alice disse que ficará lindo com o
vestido. Quero que use no dia da cerimônia.
Minhas mãos tremiam e não
pareciam querer me obedecer, meus dedos deslizavam pela caixa sem conseguir
abrir – estou com medo de quebrar – sussurrei tocando a rosa em alto
relevo.
– Acho um pouco difícil, mas como sempre me
surpreendo com você – retrucou sorrindo, abrindo a caixa e arfei.
A caixa grossa continha um
delicado colar, eu posso não entender de joias, mas esse certamente era um
diamante, um enorme diamante em forma de coração descansando sobre um fino
suporte que parecia com mãos, a corrente de um material fino e duro.
A bela joia não estava segura
sobre uma base acolchoada e sim entre o colo e as mãos de uma pequena princesa,
uma bonequinha fina e delicada, ricamente detalhada. Meus dedos correram pelo
colar e demorando na bonequinha.
– É linda, obrigada.
– Linda será você caminhando até mim, pronta
para ser a senhora Cullen. – tomou meu rosto me beijando, um beijo que
revelava o quanto nos amamos.
E mais uma vez desejei poder
parar o tempo. Ficar irremediavelmente em seus braços, mas o ar foi o primeiro
a provar que isso não aconteceria. Respirando fundo para normalizar meus
batimentos, enquanto Edward fechava a caixinha pondo em uma mochila que Rosalie
entregou.
Sorriu se afastando, enquanto
nos levantávamos, Alice e Jasper estavam abraçados ao lado do carro. A ergueu,
colando seus rostos em um abraço esmagador. Preferi não olhar, me sentindo uma
intrusa em um momento que é só deles. Uma despedida na qual eu sou a culpada. Espantei
logo essa onda de sentimentos para não afetar Jasper.
Pamela caminhou ao nosso lado,
arrumando o bebê conforto sobre a cadeirinha. Voltei minha atenção para Edward,
um lindo sorriso nos lábios, um fio raio de som rompeu pelas nuvens atingindo
em cheio o rosto do meu vampiro, tornando a pele pálida iluminada, assim como
seus cabelos cobres vibraram refletindo com facetas de vermelho sobre seu
rosto.
Seus olhos dourados brilharam
com maior intensidade enquanto meus dedos correram por onde o sol tocava, nos
beijamos mais uma vez.
– Vou estar te esperando – digo quando
ele quebrou o beijo para que eu respire.
– Eu vou buscá-la.
A forma decidida e segura em
sua voz acalentou meu coração e me vi sorrindo com a certeza de que eles
voltariam, que ele voltaria, me buscaria amanhã ao fim da tarde.
– Eu vou te esperar.
Edward abria a porta e se
abaixou prendendo meu cinto e deixando um beijo molhado e tentador em meu
pescoço, antes de roçar os dentes em meu queixo, recebi outro beijo, desta vez
apenas um roçar de lábios, antes que ele se afastasse e fechasse a porta.
Alice já estava
com seu cinto e porta fechados, sua mão na porta segurava a de Jasper. – Jasper? – chamei quando vi que ele se
afastaria. Abaixou atento. – eu vou
proteger Alice.
Seu rosto suavizou e um lindo
sorriso dominou as bochechas cobertas de cicatriz, ainda mais evidentes com o
raio de sol que não iluminava com a mesma intensidade que os outros pedaços da
pele.
– Eu confio em você, Bella. Sei que Alice tem
controle para transformá-la e que você não permitirá que toquem em minha Alice.
O motor pulsou e tive a mais
triste visão, todos os outros Cullen e Denali entre os degraus da entrada,
Pamela e Alex abraçados ao lado de Jasper e Edward no meio da estrada. Mantive
meus olhos atentos, enquanto a estrada serpenteada me permitiu. Alice segurou
minha mão, sorrindo feliz.
– Obrigada por acalmá-lo, eu já não sabia
mais o que fazer. – sua voz estava embargada e eu não quis me arriscar em
pronunciar nem um resmungo. Minha garganta já estava fechada sem esse esforço.
O caminho até La Push foi em
silencio e com a rodovia sendo um enorme borrão. Alice dirigiu mais veloz que
Edward e eu não me importei com isso. Meu corpo e minha mente estavam cansados
e mesmo que fosse covarde da minha parte, queria que fosse mais forte para que
me fizesse dormir.
Estacionamos em frente à casa
de Sue,onde todos estariam nos esperando. Charlie preferiu manter uma distancia
entre Cindy e Jacob, mas Laura e o próprio Billy o convenceram que não haveria
problemas e que Rachel queria nos conhecer melhor e por causa de um curso
Rebecca não poderia vir nessas férias.
Sem esquecer o enorme fato de
que Charlie acredita em tudo que Alice diz e certamente acredita na boa
educação que Carlisle e Esme deram aos filhos. Jacob e Seth saíram nos ajudando
com as duas bolsas, Alice prontamente deixou a bolsa com os documentos em eu
ombro e me entregou a mochila.
– Jacob, Bella precisa entregar algo a você.
Temos que aproveitar enquanto Charlie não vê. Eu não posso saber de nada aqui –
disse tocando a testa como se estivesse com dor.
– São para você e Cindy, caso dê errado. –
digo estendendo o envelope. Jacob jogou a bolsa enorme sobre o ombro e abriu o
envelope.
– Certidão de nascimento, casamento,
passaportes e carteiras de motorista – Alice fez o mesmo que Edward quando
ele tentou ver os nomes – não olhe
agora. Ai dentro tem um endereço para vocês e uma conta e contatos e quando
tudo der certo – continuou enquanto Jacob fechava o envelope com cuidado e
guardava no bolso da calça jeans. – o
endereço e a conta serão presente para o futuro casamento.
– Que irado jake! Já imaginou onde pode ser
esse endereço? Você e a Cindy em um paraíso tropical?!
– Cala a boca moleque! – disse rindo
dando um tapa na nuca de Seth. –
obrigado por lembrarem de nos.
– O que ainda fazem ai fora? Entrem? –
sue ordenou da porta de casa, os meninos levaram as bolsas para a sala e
seguimos do lado de fora, indo até o quintal dos fundos.
Charlie, Billy e o velho
Ateara conversavam perto da churrasqueira, alguns dos rapazes jogavam perto da
mata, o mais longe da casa possível. Leah estava sentada no chão cercada por
brinquedos com Claire tentando trançar seu cabelo curto e Cindy ao lado
ajudando-a, a brincadeira era supervisionada por Quil que sorria bobo.
– Finalmente.
– Charlie já olhou tanto para o coldre dele
dentro do carro que se anoitecesse e você não chegasse, ele invadiria a casa
dos Cullen a tiro. – implicou Billy.
Você esta precisando correr um
pouco pra cansar essa língua – rebateu Charlie sacudindo a cadeira de Billy.
– Te venço com uma mão!
As brincadeira e provocações
era uma visão reconfortante e extrema ao comparar com o que nos espera, com o
que espera pelas matilhas.
– Charlie? – Emily surgiu da cozinha com
uma grande travessa – eu queria fazer
uma noite das garotas – disse colocando sobre a mesa co mas carnes cortadas
– poderia liberar a Bella, Alice e
Cindy? Nem mesmo Sam tem permissão para aparecer.
– Não é uma boa ideia – retrucou olhando
Jacob de esgueira.
Laura se aproximou, abraçando
ele e sussurrando por um longo tempo em seu ouvido, Alice sorriu e Charlie
corou diante nossos olhos, principalmente após Laura lhe dar um beijo.
– E você que ficará sem netos – Charlie
retrucou para Billy que apenas sorriu matreiro.
– E você vai acabar morrendo e deixando essa
beldade sozinha. Relaxa, Jacob nunca fará mal para Cindy. E se você bater as
botas, eu sou o primeiro da fila para cuidar da jovem.
– Sai fora velho safado. – rebateu
irritado empurrando com o pé a cadeira de Billy. – tudo bem, eu deixo. Já sabe o que vai te acontecer de pisar fora da
casinha, Jacob.
– Sim, sogrão, digo, senhor Swan.
– Senhor Swan? Desde quando é senhor Swan? –
perguntei confusa.
– Desde de hoje de manhã, só isso que digo! –
Seth falou rindo.
– Vamos de uma vez? – Kim pediu – por favor, meninas?
Rapidamente nossas coisas
voltaram para o carro, assim que saímos do campo de visão de Charlie a
atmosfera mudou. Sue veio ao nosso lado.
– Ficou decidido que Quil será o lobo com
Seth, vamos à casa de Emily e assim que escurecer seguiremos, os outros
partiram para onde os Cullen decidiram esperar pelos frios.
Esse pequeno aviso foi o
bastante para tornar os próximos minutos tortuosos, minha mente voltou para o
que aconteceria amanhã. E a espera na sala de Emily não ajudou em nada. Alice
mantinha uma conversa com Emily que foi completamente educada, assim como as
outras, apenas Leah se manteve distante.
Suspirei quando o sol se foi e
uma grande lua cheia surgiu entre a mata. Alice surgiu em minha frente.
– Os meninos estão esperando na mata, vamos?
Acenei e seguimos, por um
longo tempo o caminho foi feito em silencio e andando.
– Ainda podem se comunicar a essa distancia?
– Sue perguntou e Quil foi atrás de uma pedra e voltou como lobo. Fez um
sinal para Seth.
– Não dá pra comunicar. Vai uma carona, mãe?
– disse animado removendo a blusa.
– Tinha esquecido esse detalhe.
– Vai ser legal, a Bella sabe como é –
pediu ajuda.
– É... é como um cavalo, só segurar os pelos
com força... – acho que minha explicação não ajudaria, mas Sue pareceu
pensar.
Após hesitar, Sue subiu em
Quil, Seth em seguida, firmando a mãe e Alice
me puxou jogando sobre suas costas e começou a correr, conseguia manter
os olhos abertos, acompanhando uma conversa de Sue com os meninos.
O caminho era explicado aos
poucos, Sue parecia temer contar de uma vez para onde estava nos levando. Nosso
caminho cruzou com um rio, seguimos pela borda da água. Um pingo grosso bateu
em meu braço e voltei os olhos para o céu.
Camadas cinzas de nuvens
cobriam a lua, ainda permanecemos por um longo tempo antes de pararmos perto de
uma gruta.
– Ainda falta muito? – meus dentes batiam
de frio, Alice me entregou uma toalha e permaneceu com um casaco grosso na mão.
– obrigada. Conseguiu ver isso?
– Apesar de as vezes errarem, humanos
conseguem prever o tempo e estamos em Forks – disse sorrindo – e imaginei que teríamos que correr por um
tempo, uma hora ou outra você sentiria frio.
– A chuva apagará o rastro de todos,
precisamos seguir enquanto chove.
– Você esta bem, Bella?
Acenei confirmando, não
imagino para onde Sue esta nos levando, mas o caminho é longo, muito longo e
justo agora que eu queria estar atenta, o cansaço se apresentava com força,
meus olhos cansados aguentaram por mais um tempo, antes que a vontade de
fechá-los e adormecer fosse maior.
Sabe aquele preciso momento em
que sabemos que estamos dormindo, mas nosso consciente esta atento ao mundo? Ou
quando você deveria estar dormindo, mas sabe que vai acordar a qualquer momento
e o que ouviu era pura verdade? Era nesse pequeno mundo entre o consciente e o
inconsciente que eu me encontrava.
Eu estava aquecida,
confortável, sonolenta, ouvia os sussurros. Sabia que acordaria completamente,
mas não queria. Estique meu braço para apertar o travesseiro, senti fios
roçarem em meu rosto e abri os olhos em um estalo.
Pulei para longe e recebi um
latido de Quil, cocei meus olhos vendo-o tombar a cabeça de lado como um
cachorro.
– Eu me assustei. – fez um barulho
estranho de cachorro e mordiscou a pata, antes de levantar e sacudir o corpo,
movendo a cabeça em uma direção.
Voltei meus olhos pelo local.
Um caverna pequena no canto uma barraca de camp, lanterna e embalagens de
comida. Segui a mesma direção de Quil, encontrando Alice parada ao lado de Quil
que agora estava em duas pernas.
– Ninguém entrou em contato com Seth –
disse Alice.
– Então tenta ver mais alguma coisa, vou me
afastar um pouco, Seth já estava ao meu alcance.
– Desculpe, já esta amanhecendo.
– Não precisa se desculpar, Bella. Você
estava cansada.
– Consegui ver alguma coisa?
– Eles estavam em volta de uma fogueira,
contando histórias. Edward e Jasper estao treinando a mente, alguma forma de
manter Jane e Aro fora. Agora estão na clareira, esperando pelos Volturi.
Um pequeno raio de sol atingiu
Alice, iluminando seus cabelos curtos. Estava atenta aos efeitos do sol sobre
sua pele, por isso vi quando seus olhos perderam o brilho e sua boca se tornou
uma linha fina.
– Eles chegaram, todos eles. Aro esta nos
procurando – seus olhos voltaram ao foco.
– O que foi?
– Aro mandou guardas a nossa procura, estão
varrendo a reserva. Foi tudo que Edward disse antes da visão sumir.
sábado, 20 de setembro de 2014
Entre a Luz e as Sombras Capítulo 5
Capítulo 5 – Partida
Dear God the
only thing I ask of you is
to hold her
when I'm not around,
when I'm much
too far away
We all need
that person who can be true to you
But I left
her when I found her
And now I
wish I'd stayed
'Cause I'm
lonely and I'm tired
I'm missing
you again oh no
Once again
(Dear God – Avenged Sevenfold)
Pensar em Marina fazia meu coração se contorcer em dores horríveis como
se estivesse sendo rasgado, como se não fosse mais o lugar das metáforas, mas a
manifestação física desse músculo místico estirado em arranjos impossíveis.
Durante dois deliciosos anos, ela foi o terço mais importante da pequena
família formada por nós duas e seu lindo bebê. E eu os amei, tanto e tão
abandonadamente que deixá-los foi a dor mais terrível pela qual já passei.
Marina foi minha filha, minha irmã, minha mais querida amiga. E eu só não
desisti de tudo para ficar ao lado dela, porque eu sabia que ela e o pequeno
Caio precisariam de mim no futuro. Talvez, quando isso acontecesse, eu pudesse
finalmente descansar. Mas ainda não.
Eu tinha precisado deixá-los. Marina não estava pronta para descobrir a
verdade naquele momento. Seu bebê, nosso
doce bebê, era como eu. Ele seria um de nós, se optasse por sê-lo. Mas isso
tinha a hora certa para acontecer. Se Marina soubesse de tudo antes do tempo,
podia conduzir o futuro de maneira a influenciar a escolha de seu filho. Uma
escolha influenciada inviabilizaria seu destino. Eu não podia deixar que isso
acontecesse. Mais tarde, quando chegasse a hora, eu ouviria o chamado e saberia que era hora de
voltar para eles. No entanto, há dezoito anos, o chamado que ouvi era para
longe de meus amores.
Eu já estava há muito tempo vivendo aquela vida, encarnando aquela
identidade. Já estava na hora de mudar ou os outros começariam a perceber que
eu não envelhecia. Marina perceberia também, em algum ponto. Isso era algo que
sempre tinha me afligido desde o momento em que tinha ficado claro que ela
ficaria em minha casa, que ela e o filho precisariam de mim por um bom tempo.
Mas eu procurava não pensar nisso. Era meu truque para viver com as coisas com
as quais não conseguia lidar: não pensar nelas.
Mas um dia, ao abrir os olhos pela manhã, eu soube. Não havia como fugir,
havia chegado a hora de partir. A hora da quebra, como eu tinha me acostumado a
chamar esses momentos dolorosos. Só que desta vez, a quebra partiria meu
coração em pedacinhos irreconciliáveis. Arrumei tudo com lágrimas nos olhos.
Levei alguns dias para passar a casa para o nome de Marina, fazendo-a assinar
os documentos achando que eram ainda referentes à venda da casa da mãe dela. Eu
queria que ela ficasse bem, que ficasse com as coisas que eram sagradas para
mim, como ela era.
Coloquei o relógio e o anel de minha mãe em uma caixa que deixei na
cabeceira de sua cama junto com uma carta em que não deixava explicações, apenas
a promessa de que eu a amava, que voltaria para ela um dia e que estava fazendo
o que era melhor para nosso amado pequeno. Eu jurei para Marina que um dia ela
entenderia. Pedi que não me odiasse, que vivesse sua vida com amor e fé e que
cuidasse bem de seu precioso filho, pois havia um futuro grandioso reservado
pra ele. Então, em meio à madrugada, com uma escuridão maior que a noite dentro
de mim, beijei o rosto de Marina e a mão pequena de nosso bebê, e entrei no
carro sem olhar par trás.
Demorou semanas até que eu conseguisse “ouvir” o Pai novamente. Enquanto
não cessaram as turbulências constantes em meu coração, enquanto a dor não se
tornou uma cicatriz sensível, mas fechada. Eu não queria ouvir. Foi parecido com quando perdi minha mãe. Uma espécie
de luto infinito se apossou de mim e eu não pude reagir. Eu só queria entrar no
carro e voltar. Voltar para minha casa e para minha família. Mas toda vez que
eu pensava nisso, imaginava os olhos de Caio brilhando com a luz especial dos servos como eu, daquele jeito único que
só um de nós pode reconhecer. Então eu me segurava.
Eu estava num quarto de hotel barato, gastando todas as minhas poucas
economias enquanto definhava de dor. Era preciso viver. O mundo lá fora me
chamava e, se eu não aceitasse seu chamado, sucumbiria ao desespero. Um de meus
semelhantes, novamente meu amigo Alberto, veio em meu auxílio e me ajudou a me
“levantar”. Com a força dele para me apoiar, saí e arrumei um emprego do tipo
que estava acostumada. Nada que exigisse um currículo muito detalhado, apenas
experiência. Era, mais uma vez, um trabalho de garçonete. Eu gosto de trabalhar
com comida e ver gente diferente todos os dias.
Com o tempo, Alberto voltou para sua vida e eu fiquei sozinha novamente,
mas já podia tomar conta de mim mesma. Fiz o que sempre faço quando chego em
uma cidade nova, aluguei um pequeno apartamento e continuei vivendo, mas a dor
estava ali. Todos os dias, no curto espaço entre despertar e abrir os olhos, eu
via Marina e Caio na minha mente e a dor que isso provocava não deixou de me
cegar, de me rasgar por dentro, mas eu abria os olhos e decidia não pensar
neles pelo resto do dia. Era preciso me consolar com a lembrança de que a cada
dia que passava estava mais próximo o momento de nosso reencontro.
As memórias conscientes eu conseguia bloquear. Mas as inconscientes me
escapavam e, vez ou outra, me ferroavam, lembrando que o tal dia ainda não
tinha chegado e que este era um a mais longe deles. Como agora, enquanto
preparo torradas e o cheiro, a memória olfativa, pulou a barreira do meu
raciocínio e foi direto ao meu coração. Vi-me de volta à minha cozinha, vinte
anos atrás, preparando o café da manhã para a menina adormecida no sofá.
Mesmo de costas para a porta, pude ouvir sua aproximação, seus passos
cuidadosos e envergonhados. Ainda sem me virar, eu disse:
— Fico feliz que tenha decidido ficar. — E olhei para ela a tempo de
flagrar os restos de um sorriso que ela desfez, tentando manter sua cara de
menina má. — Sente-se aí à mesa que o café da manhã já está saindo. Precisamos
conversar.
Marina se sentou sem dizer nada. Ela parecia com fome, então tratei de me
apressar com as torradas e servi um pouco de leite para ela. Lembrei-me que
tinha umas frutas na geladeira.
— Você gosta de frutas? Posso fazer uma vitamina pra você, se quiser.
Tenho mamão, maçã...
— Não gosto, não. Mas obrigada — ela me interrompeu.
— Você precisa se alimentar bem. Seu filho e você vão precisar.
Ela pareceu pensar nisso. O rosto jovem continha uma angústia e um
abandono quase insuportáveis. Ela parecia ter medo de mim.
— Por que você está me ajudando? — ela perguntou, finalmente.
— Porque você precisa de ajuda — respondi.
— Mas não faz sentido.
— O que não faz sentido?
— Você nem me conhece. Por que ser tão gentil?
— Você acha que precisamos conhecer alguém para ser gentil com essa
pessoa?
— Sei lá! Não estou acostumada a gente como você. Você é esquisita!
— Obrigada — respondi rindo. — Gosto disso. Esquisita é legal.
— Você é doida! — Marina respondeu, balançando a cabeça de um lado para o
outro, confusa com minha reação.
— Tudo bem. Mas vamos parar com os elogios, porque já estou ficando sem
graça. Vou fazer a vitamina pra você — disse, pegando o copo de leite que tinha
posto em frente a ela e jogando-o dentro do liquidificador. — Podemos ligar
para sua mãe agora? Você acha que ela já voltou da casa do namorado?
— Não precisa! — ela respondeu assustada. — Eu vou embora daqui a pouco.
Pude sentir a tristeza dela quando disse isso. Aquela pobre menina estava
muito assustada e sem rumo.
— Qual é o problema, Marina? Você não quer ver sua mãe?
— Posso ficar aqui mais um pouco? Eu me sinto bem com você.
— Claro que pode! Pode ficar o tempo que quiser, mas você precisa me
explicar o que está acontecendo com você.
—Tudo bem — ela suspirou. Em seguida, uma torrente de palavras disparou
ininterrupta, enquanto seus olhos ficavam marejados de dor. — Eu estou grávida
deste idiota e ele não me quer. Ele chegou até a me bater quando descobriu. Era
um dos amigos drogados de minha mãe. Minha mãe anda com muita gente estranha,
de todas as idades. Quando ele chegou lá em casa, todo bonito e jovem como eu,
achei que minha sorte tinha mudado, mas não! Ele era encrenca pura. Devia ter
fugido dele como fugi dos outros!
— Que outros, Marina? De quem você precisava fugir?
— Dos outros homens que vão lá em casa usar drogas com minha mãe. Ela é
usuária e trafica também. Eu não quero ter um filho num lugar como a minha
casa!
A voz de Marina tinha subido um oitavo e o desespero dela era visível. As
lágrimas que ela vinha contendo, sabe-se lá há quanto tempo, rolaram todas de
uma vez quando eu a abracei, como se um pouco de carinho as tivesse libertado.
— Tem razão, querida. Você não pode voltar para lá. Em algum momento, porém,
vamos tentar acertar as coisas com sua mãe. Eu vou lá na casa dela hoje e aviso
que você está aqui.
— Não! Ela vai tentar tirar dinheiro de você. Pode ter certeza que ela
nem se deu conta de minha ausência. E, se percebeu, deve estar se sentindo
aliviada. Mas no minuto em que você for lá pedir para ela me deixar ficar aqui
com você, ela vai ver uma oportunidade de te extorquir.
— Mas você é menor de idade, Marina. Eu posso até ser presa se
descobrirem que você está morando aqui comigo sem autorização de sua mãe.
— E quem vai descobrir? Por favor, você sabe que eu vou ter que voltar
para lá. E eu não posso!
Ela começou a chorar de novo e eu não pude evitar a tentação de deixar as
coisas como estavam. Mas eu não podia fazer isso.
— Confie em mim, Marina. Eu vou falar com sua mãe, mas não vou dizer onde
você está. Ela não vai te achar, se você não quiser. Ela só precisa saber que
você está bem.
— Não — ela choramingou mais um pouco.
— Vai dar tudo certo. Você confia em mim?
— É estranho, mas eu confio.
— Então tome seu café e eu vou buscar um papel e uma caneta pra você
anotar seu endereço.
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
sábado, 6 de setembro de 2014
Entre a Luz e as Sombras Capítulo 4
Capítulo 4 – Dividida
There was
truth
There was
consequence
Against you,
a weak defense
Then there's
me, I'm seventeen
Looking for a
fight
All my life
I was never
there
Just a ghost
Running
scared
Here our
dreams aren't made
They're won
Lost in the
city of angels
Down in the
comfort of strangers
I found
myself in the fire burnt hills
In the land
of a billion lights
(City of Angels
– 30 Seconds to Mars)
Depois de alimentar Marina e certificar-se de que ela estava confortável,
Clara foi dormir. Algo dentro dela dizia que era preciso deixar as revoluções
que aconteciam naquele jovem coração acontecerem longe de seus olhos.
E ela fez bem, pois seu próprio coração teria se partido ao ver que,
assim que ficou sozinha, Marina pousou a mão silenciosa sobre a mesinha ao lado
do sofá e roubou o relógio e o anel que eram as lembranças materiais mais
preciosas que Clara tinha da mãe.
Marina colocou os objetos dentro de sua mochila e pensou em ir até a
cozinha para pegar algo para comer no dia seguinte. Foi aí que o óbvio a atacou
como um fantasma que espreitava na escuridão. Tudo bem, ela podia fugir. Seu
corpo forte e jovem já estava restaurado à sua energia costumeira. Depois de
comer e descansar um pouco, ela poderia facilmente andar ou mesmo correr, se
necessário. Mas ir para onde?
Com o relógio e o anel, ela poderia conseguir algum dinheiro e manter-se
por certo tempo. O quanto ela não sabia, porém aqueles objetos pareciam ser
capazes de lhe comprar uns dias de paz. Mas e depois?
Nem mesmo há poucas horas, desesperada e chorando diante do ponto de
ônibus, ela tinha um plano. Menos ainda agora, que estava racional o suficiente
para se lembrar que não podia voltar para casa e que não tinha outro lugar para
ir.
A voz da moça, Clara, ecoou em sua mente: “Você não acha que se eu
quisesse te fazer mal já não teria feito?”. Sim, fazia sentido. E, pensando
bem, aquela moça, que não parecia ser muito mais velha ou muito mais forte do
que ela, não parecia nada ameaçadora. Vai ver que era só uma pessoa legal.
Existia gente assim, não existia?
Marina não tinha certeza. Nunca tinha conhecido ninguém que fizesse nada
por ela sem esperar algo em troca. Mas essa Clara parecia feita de outro barro.
Um tipo diferente de gente do que Marina estava acostumada. Talvez fossem os
olhos bondosos dela, ou o carinho com que lhe preparou um lanche e uma cama
improvisada no sofá... Ou ainda podia ser a voz baixinha que sussurrava cada
vez mais insistentemente no fundo de sua cabeça, mas que ela estava apenas
começando a ouvir. Fosse o que fosse, ela sentia que podia confiar na moça.
De repente, os objetos roubados pareceram pesar uma tonelada e um remorso
profundo a invadiu. Ela enfiou a mão dentro da mochila apertada contra o corpo
e tirou dela as joias que devolveu ao seu lugar de origem. Foi um gesto quase
mecânico, sem pensar.
Quando viu o dourado reluzente e tentador das coisas que acabara de
abandonar, porém, sentiu-se estranha. O que estava fazendo? Uma pessoa que
trazia uma desconhecida para dentro de casa, e ainda a deixava sozinha com seus
objetos de valor, merecia ser roubada, não é?
“Veja por outro lado”, algo se pronunciou dentro dela. “Olhe novamente”.
Que espécie de pessoa acha uma garota grávida e a leva para dentro de sua casa,
confiando tudo o que tinha e até sua própria segurança à presença de uma
estranha? Era mais ou menos a mesma pergunta, mas a resposta veio diferente
agora: “uma pessoa boa em que se pode confiar”.
No entanto, como confiar dessa
maneira em alguém desconhecido, sendo que ela não tinha aprendido sequer a
confiar na própria mãe?
Ela tinha boas lembranças, é claro. Mas eram apenas isso: coisas do
passado. Sua mãe não tinha ficado sóbria tempo o suficiente para construir uma
relação de carinho e confiança com a filha. E era difícil demais encontrar a
mulher de suas longínquas lembranças de infância naquele rosto consumido pelo
vício.
A mãe que ela tinha conhecido durante boa parte de sua vida tinha olhos
vazios e baços quando não estavam ávidos pela droga. Aqueles olhos nunca tinham
sido para ela. Nunca tinham lhe demonstrado carinho, solidariedade ou
compreensão. Nunca a tinham olhado com orgulho nem com a expectativa de algo
grandioso como Marina via nos olhos das mães de suas amigas. Ela própria já
sentia isso por seu bebezinho. Mesmo sem conhecê-lo, já queria o melhor para
ele, já se sentia capaz de virar o mundo do avesso para protegê-lo.
Pensar nisso fazia com que ela sentisse ainda mais revolta em relação ao
comportamento da mulher que a gerou. Ela sabia que, em algum momento, sua mãe
já tinha sentido esse amor avassalador. Não era possível que não tivesse. Mas
em algum ponto do caminho, ela foi preterida. Apenas uma menininha deixada para
trás por uma longa viagem sem volta. Em algum minuto congelado no tempo,
insignificante em sua duração, mas permanente em seus efeitos, sua mãe tinha
dado o passo que a levou para outros caminhos, para longe de sua filha.
Marina quase podia enxergar um caminho bifurcando-se diante de si agora,
e empalidecia ao pensar que neste único instante, nestes poucos minutos que
separavam o sim do não, ela podia estar prestes a decidir seu destino e o de
seu filho. Seria muito mais fácil se houvesse algum tipo de alarme que nos
avisasse quando momentos desse tipo chegassem. Alguém que nos dissesse: “Dê o
seu melhor. Considere tudo com cuidado, porque este instante que você está
vivendo agora pode definir seu destino. Então pense bem!”. Mas não havia coisas
assim. Na sua experiência, não havia bússolas para os caminhos da vida. Que
pena!
Marina deixou-se ficar no sofá, imersa em seus pensamentos. Olhou mais
uma vez em volta, absorvendo os detalhes da casa que era muito diferente da
sua.
Para começar, era limpa. E tinha cheiro de comida caseira em vez de
cigarro, sexo e sujeira. Clara também tinha um cheiro gostoso de banho tomado e
sua pele parecia limpa e pura, intocada pela podridão de algum vício. Não havia
homens assustadores e repelentes saindo do quarto dela ou rondando a sala com
olhares cobiçosos.
Casa para Marina nunca tinha sido sinônimo de segurança ou acolhimento.
Casa sempre fora um lugar para se ir quando não se tinha a escola, a rua ou a
casa de amigos ou vizinhos simpáticos para se esconder. Um lugar para se ficar
discretamente, evitando ao máximo o contato com os outros, enquanto esperava
outro dia amanhecer.
Mas aquela casa era diferente.
Aquele era um lar. Era inevitável não se sentir segura ali, impossível não se
sentir confortável.
E havia Clara. No início, ela teve medo e, mesmo agora, não sabia se
podia descartar esse sentimento. Gentileza e cuidado não faziam parte de seu
cotidiano e aquela parecia uma mulher um tantinho insana por fazer aquelas coisas
por uma estranha. Mas, independentemente de suas intenções, aquela que a
acolhera era uma pessoa de quem se tinha vontade de ficar perto. Alguém com
gestos firmes, pele imaculada e olhos límpidos. Alguém com quem se podia ter
uma conversa de verdade sem se ter dúvida de que ela estivesse sóbria e senhora
de sua própria razão. Não era alguém que precisasse ser evitada como os
“amigos” de sua mãe ou ela própria.
Clara tinha modos educados e parecia tão segura de si, tão confiante em
suas decisões, que Marina chegava a sentir inveja. Será que um dia ela poderia
ser assim também? Esperava que sim. Mas agora ela se sentia apenas uma menina
assustada diante de uma encruzilhada.
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