Prólogo
Logan
Os humanos têm essa palavra: Pai. Os
da minha espécie a aprenderam aqui, porque nunca tínhamos precisado dela. Até
agora.
Não tenho certeza de que a maioria de
nós saiba realmente o que significa. A linguagem humana tem um estranho jeito
de dançar com a imprecisão das sombras frente aos nossos olhos. É um lindo
espetáculo se você souber olhar para ele, mas as palavras são arredias e
efêmeras, fogem timidamente sem ficar para os aplausos. São coisinhas belas e
traiçoeiras.
Algumas te atingem em cheio como um trem desgovernado, e você nunca mais é
o mesmo depois disso. Outras são carícias suaves como gotas de chuva
refrescando um espírito cansado. Não marcam sua pele, não matam sua sede, mas
te transformam, aos menos por alguns instantes, numa bela superfície espelhada.
Depois, tão delicadamente como vieram, elas se vão, quando estiverem secos os
seus cabelos, evaporando-se em direção ao infinito.
Algumas são vazias como os que as proferem, e escapam trôpegas dos lábios
dos tolos, em busca de algo que nunca alcançarão. Já outras contêm universos
inteiros.
Essa palavra, por exemplo. Pai. É
curta e macia. Pode te vestir como um abraço ou exigir tudo o que você pode
dar. Pode ser uma carícia ou um apelo desesperado. E, na voz de uma criança,
qualquer um dos dois é poderoso o suficiente para partir um homem ao meio.
Ela parece simples, mas contém o
tempo em si. Passado, presente e futuro guardados nessas poucas letras que
entrelaçam umas às outras as histórias dos seres humanos. Você pode ter se
protegido sob a sombra de um homem ou pode ter passado toda sua vida sob o sol.
E essa presença ou essa ausência moldam seu ser, e permitem ao passado
comunicar ao presente quem você é para seu próprio filho. E, nos olhos de sua
criança, as linhas do futuro voltam a ser traçadas, formando mais um detalhe no
desenho intrincado e invisível da eternidade.
“Futuro” é outra palavra capaz de
gestar universos. Milhares de projeções imateriais do que o amanhã pode ser.
Uma ilusão diáfana que você não consegue agarrar.
O futuro é um fantasma. Ele te assusta e te espreita, enquanto você
percorre, desavisado, uma estrada que parece se desenhar ao movimento de seus
pés. Você não enxerga o caminho, apenas abre os olhos todos os dias e continua
andando. E, então, os outros depois de você. Até que não mais.
E o que você faz quando o “não mais” parece mais perto do que deveria?
Bem, eu não sei quanto a você. Mas eu
tenho meus próprios planos.
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