Durante toda a vida, eu morei com minha família, que se resumia em minha mãe, meu pai e eu. Vivíamos em uma cidade pacata, ao sul dos Estados Unidos, que apesar de ser relativamente grande, nunca era o cenário de algo novo ou emocionante. Apesar de Phill não ser meu pai biológico, nós tínhamos um bom relacionamento, pois Renée ― minha mãe ― e ele, já eram casados há muito tempo. De fato, eu não fazia a menor ideia de como era a nossa vida sem Phill.
Apesar de eu saber que nos amávamos, nós não éramos muito dados a conversas. Não havia muito a ser dito entre nós, porque eu sempre fui muito quieta e reservada, e não falava da minha vida nem mesmo com as pessoas que tinham a mesma idade que eu. Não que eu não tivesse vontade de me abrir com alguém às vezes, no entanto não havia com quem fazê-lo. Eu não fazia o gênero ‘popular’, e simplesmente não conseguia me ver tagarelando sobre minhas crises existenciais com a primeira pessoa que passasse à minha frente.
Com muito tempo de sobra, eu podia me jogar de cabeça nos estudos, eu era boa nisso. Minhas notas estavam nas alturas, enquanto minha popularidade já não tinha forças nem mesmo para se rastejar! Talvez isso se devesse à minha falta de talento para fazer amizades. A verdade era que eu tinha... costumava ter uma amiga. Se ela não tivesse precisado ir embora quando éramos ainda crianças, estou certa de que ela seria minha confidente de todas as horas. Mas não era esse o caso. Acho que foi aí que eu me tornei um pouco mais fechada.
Minha mãe percebia isso, mas o que ela poderia fazer? A resposta era nada, mas ela resolveu fazer alguma coisa: uma viagem de férias. Eu teria alguns dias de recesso para ficar longe da escola e das incríveis, belíssimas e sem cérebro das líderes de torcida! A maior parte dos alunos já tinha algo em mente para fazer nas férias de inverno, mas eu não me senti inclinada a fazer parte disso, então desfrutaria desse tempo em casa. Foi quando Renée me propôs que fôssemos para um lugar com muito sol e praia, já que ela não gostava de usar agasalhos e nem de ficar em casa assistindo a um filme, comendo pipoca e tomando chocolate quente. Ela gostava da brisa acariciando seu belo rosto e seus cabelos, e da água do mar lavando a areia de seus pés. Onde morávamos fazia sol a maior parte do ano, mas não havia praias por lá.
― Bella! ― ela disse alegremente. ― Tenho o lugar perfeito para as nossas férias! Tenho certeza que você vai adorar passar duas semanas no México! ― o sorriso preso a seus lábios não poderia ser mais genuíno.
― México?! ― repeti assustada. Nós não tínhamos dinheiro nem para comprar presentes de Natal, como poderíamos ir ao México?
― É... ― ela continuou. ― Phill recebeu um convite do tio James para ir até o México, lembra-se dele?
― Sim.
Claro que eu me lembrava! Ele era tio do Phill, certo? E decidiu acompanhar a família de ascendência latina, que deixou os Estados Unidos anos atrás.
― Então, acontece que desde que ele foi para lá, parece que as coisas estão funcionando bem para ele. Ele nos convidou para ir passar alguns dias com a família, para as festividades de fim de ano. Então vamos resolver tudo o que for preciso para viagem! Sem atrasos, ok?
― Uhum ― eu não estava muito animada para nada daquilo. Foi um dia difícil na escola, então nada do que minha mãe me dissesse melhoria minha cara.
Dois dias depois, Renée me esperou em frente ao portão da escola para resolver os trâmites: eu não tinha passaporte ― começamos por aí. Graças aos céus, tudo se resolveu bem rápido.
Meus pais estavam animados para a viagem, mas eu não. Aqui, no país aonde nasci, não conseguia me relacionar bem com as pessoas, por que seria diferente no México? Além do mais... havia algumas coisas lá... pessoas... que eu ainda não sabia se gostaria de ver. Os anos haviam se passado, mas os sentimentos, não.
Minha mãe falou sobre a viagem durante os dias que seguiram, ela sabia tudo sobre o país. Contudo, sua animação não me contagiou, afinal, tio James tinha netos e amigos insuportáveis, que o seguiram até o México. As coisas na escola também não estavam boas, e eu me sentia meio estranha ultimamente. Quer dizer, mais que de costume. Era quase como um pressentimento.
Eu desejava sumir, desaparecer e nunca mais precisar encarar ninguém que eu conhecia de novo.
Tentei elaborar uma forma de dizer a Renée e a Phill que não queria viajar com eles, ou com ninguém. Só queria ficar sozinha. No entanto, não conseguia pensar em nada. Isso me sufocava e me fazia sentir mal. Fui me deitar pensando nisso, e o resultado foi não conseguir dormir. Quando finalmente consegui não pensar em nada, o despertador me avisou que era hora de ir à escola. Eu hesitei em levantar, mas tinha teste de Álgebra e, sobretudo, se eu faltasse aula minha mãe me faria perguntas, e eu não tinha respostas. Surpreendentemente, esse foi o dia mais incomum da minha vida, até então. As líderes de torcida me cumprimentaram com sorrisos gentis, estampados em seus belos rostos. Não consegui esboçar nenhuma reação, a não ser dar um breve e tímido sorriso em resposta.
Minha primeira aula era de Álgebra, e como sempre o teste seria, em dupla, teoricamente. A meu modo costumeiro, eu estava esperando alguém sobrar para que eu pudesse me juntar a essa pessoa, já que para mim não fazia a menor diferença em fazer uma atividade com ‘A’ ou ‘B’, porque eu jamais confiaria minha nota a alguém, então eu faria tudo sozinha, à companhia de um telespectador. Mas a capitã das líderes de torcida ― Jane ― se sentou comigo. Inesperadamente. Por um motivo que eu não fazia ideia de qual era.
― Você se importa? ― ela disse.
― N-não ― eu respondi sem conseguir acreditar direito. Ela estava sendo simpática, era isso?
― Bem, como você sempre fica por último na escolha das duplas, resolvi me sentar com você. Algum problema?
― Claro que não. Por mim está bem.
Okay, acho que ela estava sendo simpática.
Ela continuou.
― Sabe, se você não tiver nada de interessante para as férias, bem que poderia viajar com a gente. Nós vamos para algum lugar mais ao sul, onde a neve não nos alcance nas férias ― ela sorriu de forma amigável, me pegando desprevenida.
― Eu já tenho planos para as férias, obrigada ― minhas palavras saíram quase sem eu perceber. Aquilo não era mentira. O fato de eu não querer ir ao México, não queria dizer que eu não fosse.
― E o que você vai fazer? ― ela falou como se realmente se importasse.
― Meus pais e eu iremos visitar uns familiares no México ― eu dei de ombros, fingindo indiferença.
― Ninguém merece! Vai dispensar nossa companhia por isso? ― ela falou irritada agora, referindo-se a seu grupo fiel de seguidores, provavelmente.
Engoli em seco, ciente de que ela esperava que eu articulasse alguma coisa.
― Bom, o México é legal, e...
― Essa não é a questão ― ela me cortou. ― O problema é ir com seus pais ― apontou. ― Você os aguenta o ano inteiro, não precisa fazer isso nas férias!
O professor de álgebra, então entrou na sala, pediu silêncio e distribuiu os testes. Jane não tocou mais no assunto. Na verdade, ela não tocou mais em assunto nenhum, até que eu terminasse de responder as questões e as entregasse ao professor.
***
― E então, como foi o dia hoje? ― minha mãe inquiriu abrindo a porta do meu quarto. Desviei minha atenção do livro que estava lendo, e fitei uma Renée despreocupada, ciente de que a argumentação sobre como seria melhor, para mim, ficar em casa em lugar de ir viajar com ela e com meu pai, não iria funcionar. Desse modo, eu apenas a ignorei. A argumentação, e não a minha mãe.
― Bom.
― Algo de extrema importância para amanhã?
― Não.
― Então desça logo, vou servir o jantar ― ela fechou a porta do quarto atrás de si, provavelmente desaparecendo pelo corredor.
***
Oficialmente, eu estava vivendo meu inferno astral. O único problema é que, essa data se resume aos quinze dias que antecedem e sucedem o dia do seu aniversário. Bem, faltavam mais que isso para o meu.
Caminhei de forma distraída, adentrado o prédio onde eu teria minha próxima aula, desejando apenas não estar ali.
― Bella! ― a voz invadiu meus ouvidos. ― E então, decidiu se vai passar as férias com a gente? ― Jane inquiriu de forma casual, como se fôssemos amigas de infância. O que não era o caso.
― Já disse que vou ao México ― eu a lembrei.
― Ah, não pode dizer a seus pais que você tem outros planos? Você não precisa fazer o que eles querem sempre. Vamos! ― ela insistiu.
― Vou ver o que posso fazer! ― prometi.
Eu não veria. Isso também não era o que eu realmente queria fazer.
O restante do dia foi estressante e cansativo, mas na saída, Jane me chamou para ir almoçar com ela e seus amigos. Eu aceitei, ainda que não soubesse se o fizera por de fato querer algum entrosamento, ou apenas para ser educada e não recusar o convite. Isso se repetiu por toda a semana. De repente, era como se tivéssemos criado algum vínculo. Era confortável estar com eles, ainda que não fosse a coisa mais extraordinária do mundo. Eles ao menos estavam se mostrando simpáticos e interessados. Depois de anos me mantendo fechada dentro das minhas reservas, parecia que havia encontrado uma amiga.
Durante os dias que se seguiram, minha aproximação do seleto círculo de amizades de Jane me fez sentir como se, finalmente, eu tivesse encontrado o lugar ao qual pertencia. Já estava até mesmo começando a considerar o fato de dizer aos meus pais que tinha outros planos, e uma ida ao México não fazia parte deles. Mas não via como dizer isso.
De fato, além de me sentir animada ante a possibilidade de passar algum tempo extra com meus novos amigos, eu me sentia diferente de mais formas do que eu poderia externar. Era como estar conhecendo outra versão de mim mesma; uma despojada, divertida, e sem todo aquele siso que eu sempre tive. Aparentemente meus pais também viram essa mudança, porque começaram a dizer que meu comportamento não estava o mesmo. Todas as noites eu tinha o que fazer com meus “amigos”, e pela primeira vez em toda a vida, eu estava fazendo jus ao meu status de adolescente. Uma ou outra vez, Phill e Renée mencionaram o fato de que gostariam de conhecer meus recém adquiridos amigos, mas como eu iria explicar ao restante do pessoal que, seria interessante ― para os meus pais ― conhecer os amigos da filha? Por isso eu sempre hesitava quando esse assunto surgia lá em casa.
Por mais que eu tivesse me esforçado ― e eu realmente me esforcei ―, chegou o fatídico dia em que, com a voz trêmula e um falso ar de casualidade, eu propus aos meus amigos que marcássemos algo interessante para fazer na minha casa. Não foi uma surpresa total quando eles de fato zombaram da proposta. Também não foi surpresa alguma o fato de eu ter quase morrido de vergonha... e raiva! Foi esse último que me surpreendeu, na verdade, porque eu senti como se Renée e Phill fossem os responsáveis. Se eles não tivessem insistido tanto!
― Você não pode deixar que eles te controlem para sempre, Bella! ― Jane me repreendeu. ― Eles precisam ver que você não é mais um bebê.
Corando, eu concordei com a cabeça uma vez. Ela estava certa, não estava? Eu não poderia ser tão dependente e submissa aos meus pais como vinha sendo. Eu via isso, e os faria ver, também. No fim das contas, todo mundo cresce um dia.
***
Ao chegar em casa, eu hesitei, parada diante à porta. Eu não queria que, apesar do que estava sentindo naquele momento, houvesse alguma chance de eu me desentender com meus pais pela primeira vez. Não queria que algum dia isso viesse a acontecer, sob nenhuma hipótese. Decidi que, qualquer que fosse a conversa que nós fôssemos ter, ela precisaria esperar até o dia seguinte.
Entrei em casa de forma silenciosa, na intenção de ir diretamente ao meu quarto, mas estaquei ainda no vestíbulo, ao escutar a voz de Phill pronunciar meu nome na cozinha.
― Bella não está sendo como costumava ser! Acho que nós a mimamos demais.
Eu caminhei a passos lentos e cuidadosos para mais perto de onde vinham as vozes, e me mantive escondida pela parede que separava a cozinha da sala de estar.
― Ela é uma adolescente, Phill ― essa era a voz de Renée, condescendente como sempre. ― É normal que ela dê um pouco de trabalho, mas isso vai passar depressa.
― Não, querida, não vai ― ele objetou. ― A verdade é que, nós deveríamos ter omitido de Bella o fato de que não sou seu pai biológico. Você deveria ter deixado que eu a registrasse, talvez assim ela me respeitasse um pouco mais.
― Você é o pai que ela conheceu, não diga asneiras!
― Asneiras? ― testou, aparentemente com ironia. ― As coisas não funcionam assim, Renée! Ela sabe que não sou o pai dela, e é por isso que se mantém distante. Você sabe que estou dizendo a verdade, porque Bella é o motivo pelo qual você se negou a me dar filhos.
― Phill...
― Não tente desmentir isso, por favor ― Phill a interrompeu. ― Você estava tentando fazer com que Bella não se sentisse à margem da família, dando a ela o status de filha única, mas tudo o que conseguiu fazer foi me manter afastado.
― Não! ― a voz de minha mãe soou em protesto. ― Nós três somos uma família. Bella e eu amamos você, Phill. É você quem tem cuidado de Bella e de mim.
― E nem mesmo isso foi suficiente para que eu merecesse um espaço maior na vida de nenhuma das duas ― disse amargo.
― Você não está sendo justo!
― Eu também não achei justo o fato de você ter se recusado, por todos esses anos, a me dar um filho. Era a única coisa que eu estava pedindo, Renée...
Houve um silêncio constrangedor, e eu senti uma lágrima quente escorrendo pela minha bochecha. A constatação me acertando em cheio, pesando no meu peito.
É claro que eu não queria viajar com meus pais! Como eu poderia, se eles estavam indo numa viagem de família? Quão parte daquela família eu era? Foi tudo uma ilusão, e agora eu sabia. Nunca houve amor exacerbado dentro daquela casa, porque mesmo que Phill sentisse alguma afeição por mim, não havia nada ligando-nos. Tudo o que existia entre nós era o amor que compartilhávamos por Renée, e a empatia que crescera com o convívio diário. Mesmo de forma inconsciente, agora eu podia ver, com total clareza, que eu sempre me dei conta disso. Foi isso o que me manteve distante, cautelosa. Eu simplesmente não queria ocupar mais espaço do que poderia na vida de nenhum dos dois, porque eu sempre esperei a chegada de um irmão ou irmã. Um filho de Renée e Phill, nascido do amor deles, e não alguém como eu, que mais parecia a sombra de um passado trágico.
Eu não queria mais ter esse significado, de forma alguma. Não queria estar ali, respirando aquele ar impregnado de ressentimento. Por isso girei sobre meus calcanhares, e tornei a sair de casa. Apenas meus pensamentos e eu, e as conclusões que eu tiraria ao dar um pouquinho de atenção a eles.
***
― Oi, Bella! ― Renée falou levantando seus olhos da revista que lia para me fitar. ― Como foi sua noite? Você chegou tão tarde.
Eu evitei seus olhos. Não queria que ela enxergasse o que se passava comigo. Não que ela já tivesse chegado perto disso, alguma vez.
― Muito boa ― eu respondi com a voz rouca. ― Na verdade, eles me convidaram para uma viagem, então estou cancelando minha ida ao médico ― eu disse rudemente. Não foi intencional, e sim um reflexo do meu estado de espírito.
― Bom... eu acho que não é uma boa ideia, já que ainda não os conheço! Se você ao menos os trouxesse até aqui, talvez eu pudesse dar o aval para que vocês marcassem algo quando voltarmos. Mas a viagem ao México já é algo certo, cancelar não é uma boa ideia ― Renée falou calmamente.
― Por que não seria uma boa ideia? ― quis saber. ― Eu tenho o direito de escolher para onde eu quero ir! ― minha voz estava muito mais alta que de costume, e isso fez Phill me ouvir e descer até a sala, onde estávamos, para ver o que acontecia.
― O que está havendo aqui? ― ele inquiriu surpreso e aturdido. ― Que gritos são esses?
― Bella não quer ir ao México. Ela prefere ir viajar com os amigos dela ― a voz de Renée estava fria, agora.
― Qual o problema, Bella? Eu achei que você fosse adorar a ideia de ir ao México, sair do país, conhecer gente nova...
― Esse é o problema! ― cortei-o abruptamente ― Vocês sempre decidem o que eu tenho que fazer, e o que eu vou achar disso! Você nem é o meu pai de verdade! Não teria sido mais fácil perguntar qual era a minha opinião? Só dessa vez! Será que só dessa vez, vocês poderiam se importar com o que eu penso e com o que eu quero?
Eu não esperei por uma resposta, e fui me trancar no meu quarto, aos prantos, deixando um Phill aturdido no andar debaixo. Naquele momento, eu percebi que havia uma ligação direta entre o meu sistema nervoso e as minhas glândulas lacrimais, porque eu simplesmente não conseguia parar as lágrimas.
Por quê? Por que eles precisavam de uma viagem estúpida para tentar me inserir no seio da família? Eu estive ali o tempo todo, aberta à atenção. Minha aproximação de Jane apenas me provava isso. De fato eu era acessível, de uma forma que não pensei que poderia ser! A única coisa necessária, era alguém realmente interessado em estreitar laços, mas não muitas pessoas estiveram dispostas a isso. Meu próprio pai não esteve disposto, e foi justamente por isso que ele abandonou minha mãe. Claro que ela tinha sorte por ter encontrado Phill, mas e quanto a mim? Mesmo que Phill tenha exercido o papel de pai, nossa relação não era completa, porque se fosse, ele não teria soado tão ressentido ao dizer que minha mãe se negou a lhe dar um filho. Contudo, ele soou, e eu me senti uma intrusa, justo na vida das únicas pessoas que estiveram comigo durante todo esse tempo.
***
Eu não sabia ao certo quando consegui parar de chorar e adormeci, mas quando acordei pela manhã, a fim de ir à escola, estava na mesma posição em que havia me deitado. Fiz o meu “ritual matinal”, tomando um banho rápido e me vestindo, e fui tomar o meu café da manhã.
No fundo eu sabia que havia exagerado na reação da noite anterior, porque eu não tinha o direito de cobrar afeto algum, mas eu não sabia como me desculpar. Nesse caso, decidi não dizer nada, e me limitar a responder se fosse questionada sobre algo.
― Bom dia, querida ― Renée disse enquanto eu entrava na cozinha. O tom não era animado como costumava ser, e senti-me ainda pior comigo mesma, graças a isso.
Eu acenei uma vez com a cabeça, sem dizer nada. Ela continuou, enquanto Phill e eu nos sentávamos à mesa, após ele descer com os cabelos molhados, e desejar um bom dia coletivo, depositando um beijo casto nos lábios de Renée.
― Phill e eu conversamos ontem à noite ― minha mãe começou num tom casual. Falsamente casual. ― Nós... decidimos que, se você realmente quer tanto viajar com seus amigos... então, tudo bem.
Eu não sabia o que dizer. Apenas balancei a cabeça num gesto de aprovação, e murmurei um “obrigada”.
― Mas sua mãe vai estabelecer algumas regras ― Phill advertiu. ― Nós até pensamos em adiar a viagem, pra que você não ficasse sozinha, mas...
― Tudo bem ― eu o interrompi. ― Não me importo. E eu não quero atrapalhar vocês mais do que já atrapalho.
― Bella... ― minha começou um protesto, porém eu não deixaria que continuasse com ele. Minha última frase foi impensada, e eu não queria começar uma discussão àquela hora.
― Só estou dizendo que, não acho justo que cancelem a viagem ― apontei. ― Ficar foi uma escolha minha, não de vocês.
Renée concordou pouco satisfeita, e eu escutei pacientemente enquanto ela recitava sua lista de “Coisas-a-não-fazer-enquanto-estivermos-fora”.
― E você não vai ficar em casa sozinha ― Phill se pronunciou. ― No caso de precisar voltar mais cedo, você fica com Elisa, está bem?
Elisa era a vizinha ao lado, a mãe da única amiga que eu já tive na vida, e que havia ido embora para um colégio especial, ao norte. Eu não entendi isso muito bem, na época, e não quis questionar minha mãe sobre isso, anos mais tarde. Concordei rapidamente, balançando a cabeça.
Já na escola, Jane, ao me ver, veio falar comigo, e perguntar o que eu havia decidido, se realmente tinha falado com meus pais, assim como ela sugeriu.
― Eu vou com vocês ― não disse nada além disso.
Os próximos dias se seguiram quase normais, obedecendo sua linearidade.
As férias se aproximavam, e as únicas mudanças, eram que minha mãe não estava mais tão animada com sua viagem e de Phill, e eu me sentia como se, dentro de pouco tempo, fosse ter minha vida posta de ponta cabeça. De fato, eu já estava de ponta cabeça, por dentro.
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