Capítulo 12 – Lembranças
I
paint a picture of the days gone by
When
love went blind and you would make me see
I'd
stare a lifetime into your eyes
So
that I knew that you were there for me
Time
after time, you were there for me
(I Remember You – Skid Row)
Peregrina
“Então, sim, estou com medo. Estou
com muito medo. Principalmente porque eu fiz isso. Não estava tentando, mas eu
fiz.”
As palavras, ouvidas quando me
aproximei do hospital, me soaram dolorosamente familiares. Certa vez, Cal me
disse que à medida que nos humanizamos, aumenta nossa capacidade de nos
torturamos. Ou que talvez — quem éramos nós para saber — fosse o contrário.
Talvez a culpa fosse o mais humano dos sentimentos, e a existência dela fosse
definidora e inalienável à condição humana.
Naquele momento, era Flores Vivas
Calcinadas quem falava, a Alma atormentada pelas formas de vida que consumiu,
embora não tivesse escolha. Cal, o aculturado, sabia também o que era amizade,
família e as coisas que o tornaram humano, mas foi a culpa, além do respeito
pela índole de seu hospedeiro, que primeiro o motivou a salvar a vida de Nate e
a construir com ele um novo mundo para os humanos que conseguiram salvar.
Eu também conhecia minha parcela
desse sentimento. Este planeta foi o primeiro lugar que me fez sentir vergonha
de ser quem eu era. Melanie foi a primeira hospedeira que me encheu da sensação
desconhecida e carregada de remorso de estar roubando seu lugar. E depois Pet.
A vida que ela tinha aqui e as Almas que a amavam, a mulher ruiva que a tinha
como filha e que eu via constantemente em meus sonhos...
A presença da Buscadora que tirou a
vida de Wes.
A lista era potencialmente
interminável se eu parasse para pensar nela. Por isso eu apenas procurava não
fazer isso. Não mais. Depois de tudo o que aconteceu, não era justo comigo
mesma, nem com nenhuma das pessoas que me amavam, que eu me permitisse afundar
em autopiedade quando havia tanto amor e beleza à minha volta. Quando eu tinha
uma família. Um filho. Era simplesmente lógico aceitar o preço.
Todos que eu conhecia lidavam com a
culpa e viviam com ela. Sunny sabia das contradições no coração de Kyle e,
apesar de estar feliz aqui, gostaria que sua presença não o tivesse magoado
tanto no início. Culpa também foi o que trouxe Estrela para cá. Culpa pela dor
de Ian, por nosso filho que eu não conheceria se não fosse por sua decisão
arriscada, e até pela alegria que ela sentia ao carregá-lo em meu lugar... Por
todas as coisas que não eram, exatamente, responsabilidade dela, enfim. Quanto
aos humanos, estes também carregavam seus fardos, alguns tão complexos que
nunca cheguei a decifrar. Mas Logan não. Ele não sabia o que era isso.
Era feliz por ter trazido paz a seu
hospedeiro de coração atormentado. Sentia que o tinha completado e se fundido a
ele, ao invés de roubado sua vida. E, com relação a todo o resto, estava sempre
certo de suas decisões, por isso não sentia medo. Ou arrependimento. Por essa
razão ele era, entre nós, o mais forte. Porque era o mais simples também. De
certa forma.
Mas agora ali estava ele.
Destroçado. Perdido. Vulnerável. Atribuindo a si mesmo a responsabilidade por
coisas que estavam fora de seu controle. E isso me partia o coração.
Na noite em que tudo aconteceu, eu
estava tranquilamente dormindo em meu quarto. Ninguém pediu minha ajuda ou me
comunicou a respeito de nada. Pelo meu coração, passaram milhares de sentimentos
estranhos quando descobri, mas o mais incômodo dentre eles era a irritação por
terem me poupado. Por meus amigos estarem em perigo, confusos e sofrendo e eu
não ter sequer estado ao lado deles. Ainda que, se o pior tivesse acontecido, eu não
tivesse realmente podido evitar.
A morte, ou a possibilidade dela,
era pouco familiar para os da minha espécie, mas eu já a tinha sentido de perto,
já tinha sido ferida por ela. Senti a vida de Walter escorrer pelos meus dedos
sem que eu pudesse fazer nada além de consolá-lo. Sofri a perda de Wes como uma
amputação brusca e sem anestesia. Senti medo por meus humanos e por mim mesma
também. Sabia que tudo estava fora de nosso controle. Ainda assim, eu gostaria
de ter estado ao lado de Jeb se ele tivesse partido.
Porque esta era minha vida. Minha
única vida. A que importava. E eu estaria ao lado daqueles que eu amava até o
último momento possível.
— Logan? — chamei, fazendo com que
ele levantasse a cabeça das mãos onde a tinha enterrado. Ele estava sentado numa
cadeira desconfortável de madeira ao lado do leito de Jeb, e o cansaço
avermelhado de seus olhos deixava-os ainda mais profundamente verdes. — Você precisa
descansar. Por que não dorme um pouco enquanto eu fico com ele?
Mesmo se fosse possível esconder a
exaustão em seu rosto, seria perfeitamente plausível deduzi-la. Logan tinha
permanecido no corpo de Jeb durante a viagem de volta para casa. Estrela estava
cansada e ambos ficaram receosos que ela pegasse no sono enquanto dirigia,
então ele assumiu a direção em uma parte do trajeto. Durante o tempo que pôde,
entretanto, não relaxou. Ficou repassando as lembranças de Jeb em sua cabeça,
tentando despertar alguma reação. Em vão. Mas então, assim que chegaram, Logan
foi devolvido a seu corpo e, desde então, há quase dois dias, ele não saiu
daqui, mesmo enquanto cada um de nós tentou assumir seu lugar na cabeceira de
nosso querido amigo.
— Você realmente precisa descansar —
reforcei.
Ele olhou para mim e sorriu como
sempre fazia. Em seguida, balançou a cabeça discretamente em negativa, como se eu
tivesse feito uma piada sem cabimento da qual ele estava esgotado demais para
rir.
— Lindsay está bem? Ela se alimentou?
— Sim, Estrela está cuidando dela,
mas ela perguntou por você. John também sentiu sua falta.
— Vou vê-los assim que ele acordar.
Vai ser logo, você vai ver.
A esperança em seus olhos era meio
insana, mas também era minha. Quando Melanie desapareceu, eu fiquei em pânico e
por isso sabia exatamente o que ele estava sentindo. Mas as coisas haviam
mudado, eu tinha uma confiança diferente e maior na força de meus humanos.
Incontestável. Dentro de mim, eu contemplava uma certeza inabalável de que Jeb estava
onde deveria estar. Era apenas uma questão de tempo até que voltasse.
— Tenho certeza de que sim —
confirmei.
Ele assentiu, esticando o corpo com
sua elegância impossível, aquela de que Estrela tanto gostava, enquanto
inclinava a cabeça para trás, observando as pedras do teto.
— Você... — Meu amigo me olhou
indeciso, seu rosto carregava uma fragilidade que era quase penosa de olhar,
mas não tão estranha para quem tinha se dedicado a observá-lo com um pouco mais
de atenção. Por mais esperança que se forçasse a ter, ainda havia inseguranças
com que se lidar. — Você o conhece tão bem quanto eu. Talvez melhor. E já
passou por isso. O que mais podemos fazer?
— Você já está fazendo tudo o que
pode, Logan. Conversar com ele, tentar reavivar suas lembranças, os traços de
sua identidade... É o máximo que podemos fazer e foi o suficiente para Candy. Apenas
dê um tempo a ele.
— Tempo — ele repetiu frustrado,
talvez decepcionado por eu não poder lhe dar uma resposta menos vaga. Insegurança
também era algo novo para ele. — Eu me sinto de mãos atadas, Peregrina. E isso
não é nada fácil para mim. Quando achei que tinha finalmente encontrado uma
maneira de ajudar, acabei estragando tudo.
Havia outra cadeira por perto e eu a
arrastei para sentar-me em frente a ele. Segurei suas mãos para que ele se
firmasse em mim, para que não estivesse mais à deriva como parecia, torcendo os
próprios dedos nervosamente, como se pudesse se segurar no invisível.
— Você não fez nada de mal, Logan.
Não estragou tudo. Por favor, não caia na tentação de se culpar.
— Por que você diz isso? Eu devia
ter tido mais cuidado para não suprimi-lo. Ele estava fraco e eu...
— E você estava tentando salvar a
vida dele. E conseguiu. Se a consciência dele se perdeu por um tempo é porque
certamente foi inevitável naquelas circunstâncias. Não foi culpa sua. Eu disse
que se culpar é tentador porque é uma maneira de ter algum controle sobre o
incontrolável. Você está tentando se responsabilizar, porque assim faz parecer
que depende de você resolver o assunto, quando não é o caso.
Ele sorriu fracamente, me estudando.
Sempre me olhava daquele jeito quando conversávamos sobre assuntos difíceis,
como quem está separando e arquivando coisas em uma mente que trabalha
incansavelmente.
— Às vezes me esqueço o quanto você
me conhece bem. E o quanto é fácil para você tornar as coisas inteligíveis para
todos.
Retribuí seu sorriso, um pouco encabulada
com o elogio repentino, mas sabia que não o tinha convencido. Não a sair dali,
pelo menos. Ainda assim, fiquei contente por ter aliviado um pouco seu coração.
— Eu sei de todas essas coisas.
Racionalmente, eu compreendo tudo o que as pessoas me dizem, mas eu não sou
mais racional depois que vim para cá. Não o tempo todo, pelo menos. Tudo era
tão mais simples antes — disse ele, soltando um suspiro desanimado.
— Eu não saberia dizer. Minha vida
neste planeta sempre foi... complexa. Para dizer o mínimo.
— O que me faz pensar porque foi tão
fácil para nós a escolhermos como nossa última.
— Você sabe a resposta tão bem
quanto eu, Sunny ou Estrela. Porque simplesmente não conseguiríamos viver sem
eles. Sempre carregaríamos a lembrança conosco.
— Sim, é uma decisão fácil. Não me
vejo sobrevivendo à nossa família. Não quero viver outra vida que não seja
esta. Mas eu tinha subestimado como seria lidar com a mortalidade de um deles. Na
verdade, nunca tinha realmente pensado nisso antes do que aconteceu. Quando se
trata de nossas próprias vidas parece mais simples, porque é uma escolha. Está
sob nosso controle, de certa forma. Pelo menos há uma ilusão disso. Mas não é o
mesmo com eles.
— E isso certamente não torna as
coisas mais fáceis de aceitar — acrescentei. — Procuro nem pensar a respeito,
porque a perspectiva me desatina. Das outras vezes em que aconteceu, com meus
amigos Wes e Walt, foi muito difícil, mas eu ainda era mais Alma do que humana,
não entendia as coisas do mesmo jeito. Agora... Não me sinto mais uma intrusa,
tenho um filho, um companheiro, sou parte deste grupo. Eu...
Não consegui terminar o raciocínio.
Concluí-lo envolvia encarar a noção de que a perda de Ian seria irreversível.
Significava ter que considerar que havia uma possibilidade, ainda que menor, de
perder John antes que eu mesma partisse. Por fim, fiquei em silêncio, com Logan
me fazendo companhia, cada qual com seus próprios pensamentos dolorosos.
Provavelmente, semelhantes em sua capacidade de nos torturar.
— Eu queria ser capaz de impedir
isso. Queria que houvesse uma maneira deles viverem para sempre — ele disse. —
Mas é um delírio, não é?
Eu também, por mais prepotente que
pudesse parecer. A dor faz coisas estranhas com as pessoas. Em nós dois, estava
infundindo pensamentos quase ilógicos em sua impossibilidade. Logan não dizia
coisas assim, não pensava em cenários irrealizáveis, por isso a escolha da
palavra era certeira.
— É. Um delírio. Ainda que seja um
delírio bom. Mas talvez... Talvez haja vida para além do que se pode viver. Quero
dizer, Wes, por exemplo, ainda existe nas lembranças de Lily. Walt vive nas
minhas. Apesar de pouco tê-lo conhecido, jamais esqueceria que fui eu a segurar
as mãos dele no final. Todos aqui têm lembranças dos que perderam. E enquanto
existirem, os outros existirão também, de certa forma. Não parece o suficiente,
mas lembranças são importantes. Se não fosse por elas, nenhuma das pessoas que
queremos tão desesperadamente proteger significaria algo para nós.
Logan não disse nada em resposta.
Suas próprias lembranças ressoavam provavelmente mais altas do que o eco de
minhas palavras, que eu sabia serem apenas um consolo vago. Não serviam para
mitigar nosso medo, assim como não abrandariam nossa dor quando chegasse a hora
de senti-la. Ainda assim, valiam a pena serem ditas. Quando perdemos Wes, Lily
me fez uma pergunta que permaneceu comigo, sobre o porquê da vida e do amor
continuarem quando sua razão de ser não mais existia. Eu não sabia. E talvez
nunca descobrisse. Mas eu sabia da importância das lembranças, do poder que a
dor e a alegria misturadas a elas tinham de nos manter vivos. Por causa desse
poder, eu tinha trazido Melanie para cá. E pelo mesmo motivo, Estrela tinha me
salvado depois.
— Por muito tempo, eu sufoquei as
lembranças dele — disse Logan, saindo de seu torpor. — Não sabia como lidar com
elas.
— De quem? De seu hospedeiro? — Era uma
pergunta cuja resposta eu podia adivinhar com certa facilidade. Havia em minha
mente um registro quase desvanecido de quando Logan contou algumas coisas a
Estrela, mas eu ainda sabia como ele se sentia em relação a isso.
— Gosto de me lembrar dele —
confirmou. — Me faz sentir que ainda está aqui. Então acho que você tem razão, o
que se constrói sobrevive. Porque eu sempre vou me importar com ele.
— Vocês se tornaram uma coisa só,
não foi? É diferente do que aconteceu comigo e Melanie. O oposto, na verdade.
— Sim, acho que é isso. Vocês eram
duas pessoas diferentes, mas comigo... As coisas que aconteceram com ele me
moldaram. E mesmo que algumas doam, eu jamais escolheria outra história para
mim. Gosto de ser quem ele era — Logan sorriu para si mesmo, depois franziu o
cenho numa expressão ligeiramente divertida. — Estou parecendo maluco?
— Não muito — provoquei, e ele riu.
— Acho que é por isso que me apeguei
a Jeb, sabe? Porque ele conseguiu entender esse lado meu antes que eu mesmo
entendesse. E ele me ajudou a ver que eu não precisava ter medo de me
humanizar.
— Sim, eu sei. Tem essa coisa a
respeito dele, não é? Ele simplesmente percebe tudo antes de todo mundo.
— Não sei como ele consegue — disse
Logan, um tom admirado em sua voz. — Eu não era exatamente um livro aberto. E,
para falar a verdade, nunca contei nada a ele sobre meu passado.
— Você nunca contou a ninguém. — Exceto
para Estrela e, indiretamente, para mim, considerando que algumas poucas
lembranças dela ficaram comigo. Eu não queria ser invasiva, mas às vezes ficava
curiosa. — Por quê?
Logan não respondeu imediatamente,
parecia estar procurando as palavras certas, talvez. Mas eu me arrependi mesmo
assim. Nossa conversa não estava sendo exatamente amena, não queria que
acabasse se tornando desagradável.
— Não sei — disse ele, finalmente. —
Não tem uma razão específica. Só são lembranças dolorosas que eu preferi deixar
onde estavam.
— Desculpe — pedi, sentindo-me mal
por ter tocado em um assunto delicado de modo tão inconsequente, mas Logan
dispensou o pedido com um gesto distraído.
— Tudo bem. É bom conversar com você
— sorriu. — E eu não me importo de falar, na verdade. Nem todas as lembranças
são ruins.
— Como Lindsay, por exemplo?
Um dia, quando conversávamos sobre o
porquê de Estrela e Logan terem escolhido esse nome para a filha, ele nos
contou sobre a garotinha que tinha sido amiga de infância de seu hospedeiro, e
sobre como a presença de Estrela em sua vida tinha despertado as lembranças
dela.
— Lindsay é a melhor de todas. E a
mais dolorosa também. Ela morreu quando tinha 5 anos.
— Oh — arquejei, sem palavras. A
morte de uma criança era algo terrivelmente assustador para mim. Especialmente
agora.
— Nós vivíamos no mesmo lar
provisório e eu a protegia, embora não fosse muito mais velho do que ela.
Vivemos juntos por uns 3 ou 4 anos, acho. No começo eu imagino que não fosse tão
ruim, mas depois o dono da casa começou a beber muito além da conta e a mulher
dele se tornou uma pessoa amarga. Os dois eram muito negligentes e deixaram
Lindsay morrer de pneumonia, porque não a levaram ao médico a tempo. Ficavam
dizendo que era só uma gripe...
— Sinto muito, Logan. Imagino o
quanto deve doer.
— Isso o destruiu. Ele era só uma
criança e perdeu toda fé nas pessoas. Não conseguia confiar em ninguém e,
portanto, não conseguia amar. Eu herdei o medo dele, o desprezo pelos seres
humanos, a ideia de que não havia nada que suplantasse o egoísmo deles.
— Todos os sentimentos que a amizade
de Jeb te ajudaram a mudar.
— Exatamente. Pelo menos de uma forma
que eu me abrisse para o resto das pessoas daqui. Com o tempo ficou fácil, mas
ele foi o primeiro a nos acolher, a mim e a Estrela. E isso eu não tenho como
retribuir.
— Ele também foi o primeiro a me
acolher. Se não fosse por Jeb, eu estaria morta. É duro admitir, mas aquele
rifle salvou minha vida mais de uma vez. Certamente ninguém se atrevia a
duvidar de que ele atiraria, mas eu prefiro acreditar que era apenas um jeito
de manter todos na linha.
— É. “Minha casa, minhas regras”.
Funciona para ele.
Nós rimos. E foi nessa atmosfera
mais amena, embora ainda carregada de emoção, que recebemos Lindsay que chegou
correndo, direto para os braços do pai. —
Não deu para segurar — disse Estrela, que veio logo atrás com ar de quem se
desculpava.
— O que foi, bebê? — perguntou
Logan, acariciando a cabecinha de cabelos cacheados da filha.
— Ela não queria dormir outra noite
sem te ver — Estrela respondeu por ela, que estava mais ocupada em se
aconchegar ao peito do pai, não sem antes lançar um olhar confuso e desolado
para Jeb.
— Vovô “ta” doente? “Cula” ele,
mamãe.
Nós nos entreolhamos. Era por isso
que não tínhamos deixado as crianças virem aqui antes. Não sabíamos como
explicar o que veriam. Mas talvez fosse impossível poupá-los dos rumores que
certamente corriam por aí. Estrela se ajoelhou ao lado de Logan e acariciou o
rosto da filha.
— Ele não está doente, não, meu amor.
Só está dormindo um pouquinho, como você devia estar fazendo. Já está tarde
para crianças estarem de pé.
— Mas eu “quelia” o papai.
Eu esperava que aquilo fosse demais
para Logan. Não tão secretamente assim, eu estava torcendo para que a menininha
vencesse a discussão, porque ele realmente precisava de uma boa noite de sono.
Uma noite inteira. Ou duas. Quando Estrela o olhou, esperando que ele cedesse
em sua vigília, eu sabia que ele não ia mais resistir. Talvez a “fuga” de
Lindsay até aqui não tivesse sido inteiramente acidental.
— Vá, Logan. Cuide de sua filha. Eu
fico aqui com ele — prometi.
— Tudo bem, bebê — disse ele, dando-se
por vencido. — Papai vai fazer você dormir.
Estrela me olhou, articulando um
agradecimento sem som e me dando uma piscadela que confirmava minhas suspeitas.
— Não se esqueça de cantar aquela
sua musiquinha desafinada.
Vinda do catre, uma voz rouca nos
surpreendeu. E de um instante ao outro, não existia mais nenhuma dor no nosso
mundo. Livres de qualquer angústia, nossos corações não pesavam mais que uma
pluma.
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