Gente, hoje estou louca
para falar sobre o machismo. E antes que você sente confortavelmente no sofá
com sua pipoca para ver uma mulher tacando lenha nos homens, e já deixo claro
que essa vai até para você, querida mulher com conceitos puramente machistas.
Nas últimas duas semanas aconteceram coisas e mais coisas
que me fizeram sentar e escrever esse texto por pelo menos umas sete vezes. E
toda vez que eu desistia de escrever, lá vinha outra situação cabulosa que me
punha a escrever pelo menos dois parágrafos a mais do que eu tinha escrito na
tentativa anterior.
Em todas as situações o que me chamou a atenção foram como
as pessoas reagem a paquera; a investida do boy magia. E não, não estou falando
daquela investida que é correspondida. Estou falando nas críticas que tecem por
trás quando a mulher rejeita o cara. Ou aqueles comentários totalmente
deselegantes da própria mulher que deu um chega para lá no caboclo.
E sabe qual a minha conclusão? A mulher sempre sai como
errada. Sempre. Se ela fala o não com todas as letras (seja para o cara casado
que não sabe se pôr em seu lugar ou para a cara que é solteiro, mas é mais sem
noção que bússola quebrada) ela é taxada como louca.
Sim.
ELA. É. LOUCA.
“Será que ela não
percebeu que era só uma brincadeira”?
“Ela realmente achou
que eu estava dando em cima dela”?
“Viu que louca aquela
mulher”?
O engraçado é que o cara não tem MATURIDADE para assumir
que sim, estava jogando sua rede (e se ela caísse, que bom, tem peixe na mesa
hoje... ou final de semana, quem sabe); mas sabe muito bem inferiorizar a
sanidade da mulher.
E pior são aquelas mulheres que ao invés de unirem-se em
prol da vítima da vez, se juntam aos homens e sua mentalidade machista, e
lascam a lenha na LOUCA. Afinal, ela fez um escarcéu atoa numa coisa que era
apenas zoação. E quem não zoa, afinal, sobre dar “uns beijo” e fazer “uns
amor”? E ainda tem aquela defesa básica dos advogados dos “pobres e oprimidos”:
“Tadinho dele. Você não vê o quanto ele é cobrado? Ela precisa extravasar um
pouco. E ele pensou que podia brincar com você”. “Você é tão séria. Precisa
aprender a desencanar e não levar tanto para o lado pessoal”.
E caso a mulher use de toda a sua boa educação e diplomacia
nata (que coloca muito diplomata internacional no chinelo) na hora de dizer não
e conseguir fingir que está levando na brincadeira a investida que também é
apenas uma brincadeira...
Bom, ela continua sendo a ERRADA da história por que foi
ela que deu moral para o cara e iludiu o pobre coitado. (Agora coloquem na
próxima frase discursiva os meus mais sinceros tons de sarcasmo e ironia, por
favor). Afinal, tudo começou com uma brincadeira e foi crescendo, crescendo,
crescendo...
(Continuem com o modo ironia e sarcasmos ligados)
A mulher iludiu o cara. Ela não disse não. Ela não foi
clara o bastante. Ela deu a entender na diplomacia dela que podia sim, ser
objeto de refeição dele mais tarde... Ela é uma puta. Sai com todo mundo.
Porque quando a mulher se coloca no seu lugar isso não acontece... A mulher sem abrir a boca tem que deixar bem claro
através de sua postura que não gostou...
Blá-blá-blá.
(Pronto, podem desativar o modo ironia e sarcasmo)
A verdade é que vivemos numa sociedade machista. Nós
mulheres somos machistas. Os homens são machistas... Parece que todos
resolveram ser machistas.
O homem pode dar em cima da mulher e fingir que é uma
brincadeira. E está tudo bem. Mas não pode ser rejeitado, porque se não a outra
é que está louca e interpretando tudo errado. Isso quando não vem aquela história do que custa dar uma chance para o
coitado. O homem pode dividir as mulheres entre moças de família e moças
para curtição e está tudo ótimo. Mas se a mulher tem o mesmo comportamento
padrão de um homem com sua sexualidade bem resolvida a ponto de ter sexo casual
a hora que quiser, ela é puta. E se ela dividir os homens entre homens para casar e homens para ficar, ela é bandida. Perigosíssima.
Mulher não tem nem
direito de se cuidar e embelezar para si, que já tem um bando de gente
achando que é para conquistar algum macho. Consegue perceber o nível de
machismo nessa mentalidade?
A verdade é que homem não consegue entender a palavra
“NÃO”. Não importa se você disse o não com todas as letras, garrafais. Não
importa se você foi educada e discreta. Não importa se sua postura e fisionomia
está expressando toda a sua indignação. O não quando vem de uma mulher, não tem
valor.
(Um minuto de silêncio para essa triste realidade, por
favor).
Mulher não pode ajudar um colega de serviço, que pronto, ou
ela está afim dele ou está dando liberdade dele investir nela. Ela não pode ser
simpática, que pronto, já está dando abertura.
E quando a mulher usa mão de sua sensualidade, então? E todas
queremos ser sensuais em algum momento. Não importa se a sensualidade é para seduzir
ou simplesmente para dar aquela sensação gostosa de: “Caraca, eu estou podendo”.
Quando lançamos mãos dos artifícios da sensualidade, é
claro que temos que ter consciência que o alvo pode ser um, mas no mínimo dez
serão atingidos. Sensualizar é a mesma coisa que que armar uma granada. O raio
do estrago feito só é conhecido depois da explosão. Pensar que afetará só um é
além de uma ingenuidade sem fim, uma grande irresponsabilidade.
Contudo, só o fato de sermos femininas, de sermos mulheres,
já é em si um ato provocativo e sensual. Principalmente
para esse bando de gente machista e tacanha. Infelizmente. Se fazemos a
unha, chamamos a atenção. Se mechemos no cabelo, é porque estamos seduzindo. Se
usamos perfume é porque estamos querendo despertar algum sentimento. Se
passamos a usar roupas melhores é porque queremos provocar. Cara, nem passar
uma maquiagem básica para levantar nosso ânimo, pode. E por aí vai.
No fim, ser mulher e ser feminina nunca é visto como um ato
de cuidado pessoal ou para a própria satisfação. Sempre acaba sendo taxado como
uma compostura adotada quando estamos apaixonadas, e claro, querendo seduzir um
boy. Isso se algum machista (não se esqueçam que muita mulher é mais
machista que muitos homens) já não vir falando que ela está bancando uma
boba sem noção.
Ser mulher já é em si um ato errado socialmente.
E em meio a tanto machismo, fica até difícil a mulher tomar
uma postura correta que permita o
homem exercer seu direito de paquerar, mas que dê direito a ela de recusar uma
investida que não for bem-vinda.
Claro, que depois do não, é tudo assédio. Mas parece que
essa cambada não entende o não. Então como faz para entender que a insistência
indigesta virou assédio?
Todo homem DEVE e tem DIREITO de paquerar. Nós mulheres até
queremos isso. E claro, tem um não que falamos que é um ardil de sedução, para
ver até que ponto o cara está afim ou é fogo no facho. Mas viu que o não pela
tangente se manteve, pula fora. PARA!!!
Se ela manter o não, é assédio. Pode ter certeza que se o
segundo e o terceiro não vierem em sequência: o não é não. Pode parar de se
iludir ou pensar que é só charme, ok? Se ela não respondeu sua mensagem é NÃO. Se
ela não aceitou ir para um local mais reservado é NÃO.
Agora, se houve um sim, por favor, lembre-se do ditado: O
que acontece em quatro paredes, fica entre as quatro paredes. E isso abrange
mais que as paredes físicas de um quarto, ok? Essas paredes são na verdade
abstratas. Elas são as paredes do relacionamento de vocês (mesmo quando o
relacionamento foi casual, ok?!). O que vocês fazem entre si, cabe a vocês. As
conversas não devem ser expostas. As brincadeiras e DRs são suas e de mais
ninguém. Aprendam que relacionamento bom é aquele que ambos se assumem, mas
ambos se preservam. Afinal, mesmo diante do sim, expor o outro, não deixa de
ser um assédio.
E olha que estou falando de todo tipo de relacionamento,
não é só amoroso, não. É de amizade também, gente.
E por falar em assédio, vamos refletir sobre o que é
assédio? Porque parece que tem gente que acha que isso é só mimimi, só pode.
1. Você sabia que se você perseguir uma pessoa pelas redes
sociais, ou tentar seguir os passos dela a ponto de saber onde ela mora, onde
ela vai, o tempo que ela fica online, com quem ela conversa, suas senhas, e
demais dados pessoais é considerado assédio do tipo stalking? Nesse momento,
querido leitor, quero lembrar que você não precisa começar a ter um infarto
diante das minhas palavras, ok? Tudo na vida é questão de equilíbrio. Se a
pessoa em questão está dando liberdade, isso não é assédio. Se ela que te conta
essas informações, não é assédio. Se ela te passa o próprio endereço ou te
estende o celular, também não é assédio. Mas se ela visivelmente está
insatisfeita com a liberdade que você está tomando e ela NÃO te deu tal
consentimento... Bom, coloque sua barba de molho e reflita. (Pagar quase duzentos
reais mensais em um programa que te repassa todas as mensagens do whatsapp
dela, é assédio. Quase psicopatia, isso. Procure um tratamento imediato, pelo
seu bem e da sociedade.)
2. Já ouviu falar de bullying? Estou sendo sarcástica, tá?
Porque se você está tendo condições de acessar esse blog e nunca ouviu esse
termo, você não existe. Ao contrário do que todos pensam, isso não é apenas um
problema escolar. Ele ocorre nas empresas também, e ganham um agravante que se
chama assédio moral. Por hora, vamos nos ater ao bullying. Você está ameaçando
ou sendo ameaçado por alguém? Está discriminando ou sendo discriminado por seu sexo?
(Mulheres em ambiente puramente masculino sabem bem o que é isso). Está
humilhando ou sendo humilhado? Bem-vindo, ao século XXI e a incapacidade das
pessoas entenderem a diferença entre brincadeira saudável e aquele que fere a
integridade psicológica da pessoa. A verdade é que cada pessoa tem um jeito de
sentir diferente. Para uns a brincadeira é apenas para descontração, para
outros, ela pode estar ferindo sentimentos que já estão abalados... E tem mais
um detalhe, você não sabe se a pessoa está lutando contra a depressão. E cara!,
essa doença silenciosa arrebenta com o nosso psicológico e principalmente com a
nossa capacidade de brincar. E antes que você já se coloque no fogo do inferno
ou jogue algum conhecido, novamente enfatizo sobre o equilíbrio e o
discernimento. Se a pessoa está concordando com seu bullying, e rebatendo ele a
altura, então não é bullying, ok? É só um jeito muito estranho de vocês se
socializarem. Mas se a outra pessoa nitidamente está ficando calada ou evitando
você, pedindo para parar... Bem, repense e atualize suas definições de
brincadeira com ela.
3. Engatando o ensejo, vamos falar do famigerado assédio
moral. É bullying apimentado. Porque ele inclui colocar o outro em situações
além de constrangedora também em condições desumanas. E antes que você pense
que por não estarmos mais na época do escravagismo não exista condição
desumana, te digo que tem empresas (vulgo patrão e chefe) que não permitem o
funcionário ir ao banheiro ou controlam até mesmo se o funcionário pode ou não
beber água. E claro, junte isso as piadas de maus gosto, comentários sobre a
forma como ela se penteia, veste ou pinta os cabelos dando uma conotação
pejorativa, pronto! E nesse caso, infelizmente a pessoa faz de propósito. Não
tem nem como dizer que a pessoa está fazendo sem querer por brincadeira ou
porque em sua trajetória educativa não foi ensinada sobre os limites. O fato é
que tem ainda pessoas que tratam os outros como se fossem seus capachos. E as
vezes por racismo, as vezes por machismo, e outras por falta de humildade: o
famoso “subir na cabeça”. São capazes de fazer o outro refazer alguma coisa, ou
estragarem o que é do outro pelo simples prazer de ver o outro nervoso ou para
desmotivar. E tem mais: Você está colocando ou sendo exposto a situações que te
forcem a pedir demissão? Sim?! Preciso dizer que isso é assédio moral? Então,
por favor, neh.
4. Agora vamos ao assédio sexual. Essa é a mais comentada e
amplamente confundida. Paquerar não é assédio, gente (embora quando a paquera
vem do boy casado ou daquele sem noção dê vontade de fazer o barraco, você não
está exatamente em condições legais para isso. Só saiba dar o fora!!!). Se
fosse assim você mesmo já deveria ter sido processada um trilhão de vezes. Mas
forçar um beijo ou um amasso sem a permissão, é. Publicar fotos dos dois ou
apenas dela(e) não é assédio. Mas fotos intimas ou vídeos sendo publicados sem
o direito de imagem, e ainda por cima com a intenção de denegrir, ofender ou
manchar a reputação de alguém; é assédio sim. Mandar mensagem chamando para
sair ou para elogiar, não é assédio. Tirar print das conversas que teve com a
gata/gato para tirar onda com os amigos, é! (E se você não tira print, mas faz
questão de mostrar a conversa para todos com intuito de provar o quão fodão
você consegue ser, bem... Isso continua sendo assédio). Sair com uma pessoa e
ter um momento intimo com o consentimento dela, não é assédio. Contar para Deus
e o mundo, e o vizinho do fundo tudo que rolou em quatro paredes é assédio. Se
desfazer publicamente dela expondo sua intimidade, desempenho ou desejos; é
assédio sexual e moral, TAMBÉM.
Agora que botamos todos os pingos nos devidos “is”, comece
a refletir se você não é um desses sem noção com alta dificuldade em entender o
não. Reflita se sua implicância com a coleguinha não está ajudando a denegrir a
moral dela. Reflita se sua paquera está sendo recebido com bons olhos. Ou se
você está perdendo um pouco a noção do respeito. Talvez não seja a mulher que
esteja cheia de mimimi, mas você que está errando violentamente na dose de
liberdade que pensa que tem.
E antes que você, amado leitor, pense que estou esquecendo
que todos têm o direito de tentar,
já digo que a resposta para a dúvida está na forma que o outro recebe o seu
tentar. Porque enquanto ela estiver levando na brincadeira, ok. Enquanto ela
também estiver tomando a mesma liberdade que você tomou com ela, ok. Enquanto
ela está receptiva, mais ok impossível.
Mas se ela não brincou de volta, se ela está evitando e sumindo
do radar, ignorando sua mensagem, ignorando suas piadas com o famoso “abstrair
e fingir demência”, está pedindo para parar, está dando entender que tem outro
na jogada e que ele não gostaria de saber sobre essas investidas; hora de
parar. Isso tudo são modos tanto discretos quanto enfáticos de dizer não.
Brincar e paquerar é um jogo para dois. Se apenas um
estiver jogando, é game over. Hora de buscar outro jogador. E nesse caso, o seu
tentar vai virar insistência. E toda insistência indigesta além de ser um nítido
quadro machista e também um assédio. #fica_a_dica.
Oi, minha querida fada sensata.
ResponderExcluirQue bom que você retomou os editoriais do nosso blog! Não tinha visto ainda até vir aqui ontem postar um capítulo.
E justo no dia 8 de março, que é um dia complicado pra mim, que me enfurece de maneiras abissais simplesmente porque tem gente que acha que é uma celebração, você me vem com um textão poderoso desses.
Adorei a iniciativa, principalmente na parte em que mostra que muitos não "entendem" o não, por isso não percebem o limite simples de que tudo o que vem depois dele é assédio. Acho muito louvável o esforço de diferenciar na prática o que é paquera (aquilo que tem reciprocidade) e aquilo que é assédio.
Sinceramente, espero que as pessoas certas leiam este texto e que a sororidade entre a mulheres e o respeito entre as pessoas em geral se torne mais constante.