sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

50T - Capítulo 5

Mandar aquela mensagem de “tanto faz” para Anabel tinha sido difícil.

Na verdade estava mais furioso consigo do que com ela. A culpa era dele por ter deixado ela chegar perto demais do seu coração e esquecer que era somente sexo.


Sua real vontade era perguntar como ela estava, se tinha alimentado-se direito, quem ela tinha encontrado durante o passeio no maldito shopping e principalmente se ainda falava com o namoradinho da faculdade.

Estava aborrecido, normalmente as mulheres com quem se relacionava de uma forma íntima, tinham somente a função de satisfazer seus desejos. Sempre se preocupava com o prazer delas, mas o foco era sempre ele e suas vontades.

Com Anabel no entanto, as coisas estavam tomando um rumo diferente e ele não gostava de se sentir assim. Mesmo naquele momento seu coração batia de forma irregular ao pensar nela, queria ter passado o dia todo com ela, levá-la a sua casa, deixá-la a vontade ali, para tê-la a hora que quisesse.

Precisava ter em mente que ela não deveria significar nada. Ela era só mais uma e ele tinha que vê-la assim.

A contra gosto pegou o telefone e ligou para Lúcia. Já haviam ficado antes, aliás estava com ela quando conheceu Anabel e decidiu terminar tudo. Sentia-se enjoado dela, apesar de ser uma negra linda, olhos amendoados, muito educada e principalmente submissa. Pertencia ao mesmo meio que ele, com ela não precisa passar o tempo explicando nada e nem dando satisfações, mas faltava alguma coisa nela que ele não conseguia identificar.

Bastante confiante Lúcia aceitou sair com ele mais uma vez, estava com saudades. Nunca havia se conformado com o fato de ter sido deixada por outra.

Ele estava faltando com a palavra, tinha dito a Anabel que não gostava de sair com várias mulheres ao mesmo tempo, mas não queria se preocupar com isso. Afinal já tinha passado uma noite com ela, poderia simplesmente não procurá-la mais.

O inconveniente era que na pressa tinha marcado o encontro para o dia seguinte, uma segunda-feira, com tanto trabalho no escritório e uma audiência marcada, estaria cansado. Na verdade já estava desanimado e sem vontade de sair.

Lucas ficou ali, no sofá, divagando por horas e sem perceber dormiu.…............................................................................................................................................

O despertador tocou e Lucas acordou confuso. Tinha dormido na sala, completamente vestido e com a televisão ligada. Estava atrasado, com dor no corpo e com um humor do inferno. Tinha sonhado com Anabel a noite toda. Sonhos estúpidos com ela morando ali e eles vivendo como um casal baunilha. Agora além de atrasado, estava irritado consigo também.

O dia transcorreu da mesma forma que começou, Anabel permeando seu pensamentos e atrasos para todos os compromissos.

Seu humor não estava melhorando em nada.

Para completar tudo Lúcia disse que antes de irem para a casa dela, gostaria de ir ao shopping. O que as mulheres tem com esse maldito shopping? Ele pensou.

Estava arrependido de ter chamado outra mulher para sair e, mesmo que não admitisse, com remorso de faltar com a palavra dada a Anabel.

…............................................................................................................................................

O primeiro dia de Anabel no trabalho foi tranquilo, sempre tivera bom gosto nas compras e isso estava ajudando no trato com os clientes.

Não queria, mas deveria agradecer por Lucas quase obrigá-la a usar maquiagem e saltos. A aparência era essencial numa joalheria e a sua chamava atenção.

Não tinha fechado nenhuma venda ainda, mas tinha uma promessa para aquela noite. Uma mulher estivera ali pela manhã vendo pingentes e anéis. Ela dizia que era para comemorar a volta com o namorado e que o traria à loja, no início da noite, para ajudá-la a escolher o que melhor combinasse. Anabel tinha gostado da mulher e nem se importou de passar o maior tempo ajudando separar peças que ela nem tinha certeza se ia comprar.

Um namorado, tinha terminado com o seu, mas sentia falta do aconchego de alguém. Não sentia falta do Henrique que só era carinhoso quando queria algo. Apenas achava estranho estar sozinha. De repente lembrou que não estava exatamente sozinha, tinha Lucas. Ele era bom de cama, quente o tempo inteiro, carinhoso, mas não queira nada com ela, nem dela.

Em meio a esses pensamentos escutou a cliente chamando:

__ Olá querida, voltei para ver os anéis que pedi para você separar.

Quando Anabel virou para atender a cliente seu sorriso quase sumiu, as pernas falharam e ela ficou sem fala. Lindo ao lado da mulher estava o namorado, Lucas.

Quase engasgada disse que ia pegar e os deixou por alguns minutos.

Mais velha e experiente, Lúcia percebeu que Anabel conhecia Lucas e sentiu ciúmes da garota mais jovem. A mulher simpática de antes sumiu e deu lugar a uma que iria defender seu lugar ao lado do “Dom” preferido.

Quando Anabel voltou com seis modelos para apreciação do casal, Lúcia fechou a cara e falando um pouco mais alto acusou Anabel de não pegar os anéis corretos.

__ Acho que você se enganou e não separou os que pedi.

Anabel olhou as peças e ficou com raiva da mulher que tinha passado quase duas horas para escolher aqueles e agora dizia que ela estava errada. Pensou em jogar tudo nela, agarrada ao braço de Lucas que nem um carrapato, mas se fizesse isso perderia o emprego.

Quando levantou a cabeça não olhou para a mulher, olhou para ele. Lucas tinha um sorriso torto na cara, parecia se divertir com a situação. Se ele podia, ela também se divertiria com aquilo. A regra era ser educada com a cliente, então ela seria um exemplo de educação.

__ Sinto muito senhora. Pode ser que eu a tenha confundido com outra cliente, mas se ainda estiver disposta posso mostrar peças que chegaram essa tarde. São únicas e extremamente belas.

Lucas arqueou a sobrancelha ao ouvir o tom calmo e Lúcia fechou mais a cara ao ouvir o senhora. Ela esperava que a nova sub de Lucas perdesse o controle e não que agisse com calma.

__ Você se mostrou incompetente, quero ser atendida por outra vendedora.

Ela deu graças a Deus, já passava das dezenove horas e ela estava atrasada para faculdade. Tinha decidido ficar para concretizar uma venda, como não ia acontecer era melhor ir embora. Além do mais queria se afastar do casal e nunca mais olhar para o falso, hipócrita e mentiroso.

A gerente foi chamada e ouviu a reclamação da cliente. Nem precisava, pois ela estava ali e tinha visto tudo. Outra vendedora foi chamada e Anabel dispensada. Ótimo! Agora era bem possível que ela perdesse o emprego. Melhor seria ter bagunçado a cara da mulher.

As lojas não tinham banheiros, os funcionários usavam o sanitário do shopping e Anabel foi para lá trocar de roupa. Tirou o uniforme formal da loja e colocou um vestido simples e sandálias de salto médio. Com raiva de Lucas, que dizia não gostar de sair com várias ao mesmo tempo, decidiu caprichar na maquiagem e ir linda desfilar na faculdade.

Ela ia pegar um ônibus, mas tinha que passar pelo estacionamento para chegar ao ponto. Na pressa nem se deu conta do carro conhecido estacionado e muito menos do homem que saiu dele e a puxou pelo braço.

Ele não disse nada, somente esmagou sua boca na dela. Um beijo úmido e intenso com direito a ser prensada contra o corpo dele.

__ Parabéns pelo emprego.

Ela com o raciocínio lento, sem entender o que ele queria com o beijo e aquela voz gostosa sussurrada no ouvido, não conseguiu responder, só balançou a cabeça.

__ Melhor você ir logo, já está atrasada. Eu passo na faculdade para buscar você.

Ela foi sorrindo que nem boba, ele também ficou sorrindo como um bobo e nenhum dos dois se deu conta de Lúcia observando. Lucas tinha mandado ela pagar o estacionamento e ao voltar viu tudo. Ela sabia que não tinha nenhum direito sobre ele, não eram nada um do outro, mas agora sabia por quem tinha sido trocada.

Por mais que se esforçasse, os planos de Lúcia foram por água abaixo, Lucas não quis ficar com ela naquela noite, deixou claro que foi um erro e foi procurar outra mulher.

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Ela estava agitada. Tinha chegado na segunda aula e não conseguia prestar atenção ao assunto discutido. Queria conversar com alguém, Renata tinha sumido, fazia tempo que não aparecia na faculdade.
Henrique parecia uma ave de rapina perseguindo a presa. Aparecia em todos os lugares em que ela estava e quando não puxava assunto, ficava olhando e dando indiretas. Que chato, queria que ele sumisse! Parecia um grude. Agora ele percebia o quanto ela fazia falta na vida dele.
Era isso que ela queria. Não era? Ele correndo atrás que nem um cachorrinho. O plano era se vingar da traição e dos anos em que tinha sido feita de boba por ele.
Afinal quando tinha se esquecido do Henrique e passado a gostar do Lucas. Gostar? Tinha que admitir que não gostava. Estava perdidamente apaixonada. Se bobeasse ia começar a escolher o vestido de noiva e sonhar com futuros filhos.
__Que saco!
Não percebeu que disse isso em voz alta até todos na sala olharem para ela.
A professora era legal e se esforçava para ministrar uma aula diferenciada. Agora a pobre mulher estava olhando para ela com cara de decepcionada.
Vermelha, Anabel começou a pegar suas coisas para sair da sala e como se não bastasse a vergonha que estava sentido seu celular começou a tocar.
Silenciou o aparelho ouvindo os risos dos colegas de classe e saiu. No corredor respirou fundo e foi em direção ao pátio central.
O lugar era cheio de árvores frondosas, bancos e com vários caminhos ligando os corredores laterais ao centro do pátio, onde tinha o busto do patrono da faculdade. Anabel sentou no banco mais perto do portão de saída e checou o celular. Como ela não havia atendido ele tinha mandado uma mensagem.
“Já estou aqui.”
Ele já estava lá. Ainda estava na terceira aula e ele já tinha chegado.
Lucas não teria ido tão cedo para esperar acabar a quarta aula. Com certeza ele esperava que ela saísse agora para servi-lo.
Quem ele pensava que era!? Seu dono por acaso? Mudar sua vida, exigir coisas, forçá-la a vê-lo com outra mulher e esperar que ela largasse tudo. Já tinha sido boba com Henrique, não seria um capacho de novo.
Ela era uma nova mulher. Estava mais independente e pouco se importando se Lucas era responsável por sua mudança. Ele que fosse ao inferno se pretendia usá-la e descartá-la. Ia dar um basta naquilo tudo. Ela tinha ido atrás, ela tinha procurado por aquilo e ela iria terminar tudo. Afinal já tinha dado um boa lição no Henrique.
Decidida passou pela catraca que ficava na saída e já ia descendo os degraus quando Henrique chamou:
__ Posso falar com você. É só um minuto.
Que mal faria escutar o rapaz?
__ Tudo bem.
Os dois saíram e caminharam até achar um lugar sem a presença de curiosos. Foi fácil, quase ninguém tinha saído ainda.
Henrique segurou a mão de Anabel e começou:
__ Sei que fui um grande idiota. Não tratei você bem, admito que me aproveitei da sua bondade te traí. Mas eu mudei e quero voltar com você. Senti muito a sua falta.
Anabel sorriu e olhou bem para ele, analisando tudo. Na aparência ele não tinha mudado nada. Bermudão, camiseta e tênis surrado, parecia um moleque. Tinha falado com ela como se tivesse decorado um texto. Ela ficou feliz consigo pela esperteza adquirida. Resolveu testar.
__ Em que exatamente você mudou?
__ Em tudo. Você ficou irritada comigo e foi mexer no meu computador porque fiquei atrapalhando você. Quando você for me ajudar, não vou ficar em casa atrapalhando, decidi perdoar você por não respeitar minha privacidade e me humilhar na frente dos meus amigos. Também vou esquecer esse casinho que você teve.
Anabel mal pode acreditar, começou a gargalhar, ele só podia estar brincando. Será que ela tinha sido tão idiota naquele namoro? Era assim que ele a via? Uma idiota que engoliria qualquer besteira?
__ Não vejo graça nenhuma, estou sendo sincero.
__ Você está somente querendo me fazer de idiota mais uma vez. O que faz você pensar que eu iria até sua casa “ajudar” em alguma coisa? Você precisa me perdoar em que? Deveria me pedir perdão e não o contrário. Você me usou e traiu.
Com essa Henrique se transformou de vez. Fechou a cara e apertou o braço de Anabel.
__ Fui simplesmente atrás de coisa melhor. Você pode até ficar “dando uma de gostosa” por aí, mas eu sei a boneca frígida que você é. Você tem razão, eu te usei. Usei o babaca do seu pai que vivia se gabando e jogando na minha cara que a filha merecia coisa melhor, mas o melhor foi que eu saía com a Renata debaixo do seu nariz e você não percebeu. Logo esse cara pra quem você está “dando” se cansa e te dá um pé na bunda também.
Anabel não percebeu, somente sentiu o estalo na mão e o barulho de ossos se chocando. Ele segurava seu braço esquerdo e com o direito ela o socou com toda a força. Estavam sozinhos, aquela hora não havia ninguém passando na rua, estavam longe da portaria e do segurança.
Henrique olhou para ela com sangue escorrendo do canto da boca. Estava chocado, a Anabel que conhecia nunca se comportaria daquele jeito.
Com raiva e cansada de tudo o que tinha acontecido naquele dia ela nem estava pesando as consequências de nada.
__ Você não tem ideia da pessoa que eu sou e nem como sou de cama porque você é um broxa, que nunca vai chegar aos pés de nenhum homem que eu conheça.
Henrique ficou furioso com a maneira que ela falava com ele. Sempre se gabara de manipular Anabel e agora ela estava humilhando.
Decidido a dar uma lição nela, dobrou a esquina em direção a passagem de nível.
Para total azar de Henrique, ele tinha dobrado a esquina arrastando uma Anabel barulhenta . O carro de Lucas estava ali e como sempre ele estava esperando encostado na porta do passageiro.
__ Acho melhor soltar a minha namorada agora.
Henrique olhou com desprezo para Anabel e soltou.
__ Pode ficar com essa vadia. Já usei mesmo.
Lucas fez sinal para Anabel entrar no carro, ela obedeceu prontamente. Estava cansada, com dor na mão e tudo o que queria era ir embora descansar.
__ Sabe você tem razão. Ela é uma vadia, mas é a minha.

Sem alterar a expressão, Lucas começou a socar o Henrique.

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