quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DA - Capítulo 2

~ 02 ~

Robert

O trânsito estava infernal, e isso estava acabando com meus nervos.

Meus dedos tornaram a apertar o volante, ao mesmo tempo em que meu celular iniciava mais um toque insistente, e eu não precisava agarrá-lo para saber quem estava tentando deixar minha vida ainda mais impossível do que ela já era.

A verdade é que Charlotte era uma companhia incrível se eu precisasse de alguma distração — o que não era o caso, nesse exato momento. Flertar com ela foi uma experiência, assim como flertar com qualquer outra mulher por quem eu me interessasse, e como tudo na vida, às vezes é preciso ir em busca de algo novo. Eu dediquei a Charlotte um mês inteiro do meu tempo, no entanto, minha mente agora estava em um par de pernas mais longo, vindo diretamente da França.

Sorri pensando em como seria agradável sentir as belas e delgadas pernas de Madeleine ao meu redor. Ela seria minha ainda esta noite, eu tinha certeza. Madeleine chegou ao país há uma semana, para um desfile de moda, e eu a quis desde o primeiro instante em que a vi do alto de seu 1.80m, desfilando seminua em uma passarela.

Como sempre acontece, Charlotte já havia perdido a graça, e a julgar por suas insistentes ligações na última meia hora, Rosalie, minha secretária, já teria deixado isso bem claro.

Outro toque.

Ou talvez não! — eu resmunguei para mim mesmo.

Tirei o celular do bolso do meu paletó, e apertei um número na discagem rápida.

— Sim, senhor Blackwell — a voz de Rosalie soou do outro lado após o primeiro toque.

— Eu disse para você mandar o tradicional cartão para a senhorita Charlotte Gray, não disse?

— E eu o fiz, senhor — Rosalie apressou-se em dizer com voz trêmula. — A essa altura, a senhorita Gray já recebeu um belo cartão de despedidas, junto com uma pulseira de brilhantes.

— E o que você me diz da encomenda para a senhorita Madeleine Sardou?

— O senhor a terá em mãos assim que chegar ao restaurante, Sr. Blackwell. Eu mesma fiz as reservas e mandei entregar um colar de esmeraldas.

— Esmeraldas? — inquiri confuso.

— Sim, senhor. Os olhos da Srta. Sardou são verdes — apontou.

Rosalie era eficiente, e quando finalmente entrasse de licença para dar à luz seu primogênito, eu teria problemas com a substituta.

***

— Está tudo perfeito, chéri... — Madeleine disse em seu acentuado sotaque francês.

Seus grandes olhos verdes varreram o local, analisando o requinte, e eu reconheci nela o mesmo brilho de interesse que havia em todas as minhas conquistas.

— Não mais que você — eu disse num sorriso lúbrico, recebendo um olhar igualmente lúbrico em retorno.

— Você é muito galanteador — ela disse sorvendo um pouco mais de champanhe.

— Apenas quando uma mulher realmente me interessa, Madeleine — murmurei.

— Devo supor, então, que eu desperto seu interesse?

— Assim como eu desperto o seu.

Madeleine voltou a sorrir, mostrando uma fileira de dentes perfeitos, e eu sabia que a noite estava ganha. Fiz um gesto em direção ao garçom sem tirar meus olhos de Madeleine e de sua pele perfeita. Recebi a conta e a deixei sobre a mesa junto com dinheiro mais que suficiente para saldar a dívida.

— Vamos? — chamei levantando-me e estendendo uma mão para Madeleine, que aceitou de muito bom grado.

Caminhamos juntos até a saída do restaurante, e ajudei Madeleine a entrar na limusine que nos esperava. Um brilho de triunfo passou por seu olhar quando ela se deu conta de tudo o que eu havia posto a seus pés essa noite.

Apenas essa noite! — eu disse a mim mesmo.

Um breve roçar dos meus dedos pela cintura de Madeleine informou-me que ela era magra demais, mesmo para uma modelo, mas ainda assim, era linda. E eu sabia que se já a achava linda agora, estaria ainda mais convencido quando suas roupas estivessem amontoadas em algum lugar da suíte que mandei Rosalie reservar no melhor hotel da cidade.

Eu gostava da parte da sedução, e eu podia ver que Madeleine não se oporia se eu a beijasse naquele exato momento, no entanto, eu queria adiar isso, até o instante em que o desejo fosse quase insuportável para ambos. Mas especificamente, até o momento em que estivéssemos a sós em nossa suíte.

E falando em suíte, Madeleine também adorou essa parte, em especial. Adorou todos os luxos e mimos que eu estava lhe proporcionando, e um leve sorriso se formou em meu rosto quando me lembrei de que, como todas as outras, ela tentaria me fisgar e, como eu fiz com todas as outras, eu iria dispensá-la. E bem depressa.

— Você gosta? — eu inquiri com uma voz rouca ao pé de seu ouvido, enquanto ela encarava a bela e espaçosa cama que dividiríamos em apenas alguns minutos.

— Muito — ela disse virando-se para mim, e uma centelha de desejo inflamou seus belos olhos verdes.

Meus lábios desceram sobre os dela, famintos, vorazes e exigentes. Nada delicados. As minhas mãos prenderam seus cachos loiros, sentindo-os imóveis e nada maleáveis, e amaldiçoei qualquer que fosse o tipo de produto que ela tivesse utilizado neles. Ignorei o fato de que seu gloss labial tinha um gosto horrível, lembrando a mim mesmo que nada é perfeito, e que a beleza feminina cobra um preço alto.

Meus dedos percorreram a pele exposta pelo decote do vestido nas costas de Madeleine, sentindo-a estremecer sob meu toque e beijando-me com mais volúpia, em resposta. Suas mãos deslizaram por meus braços e, mais que depressa eu as segurei, prendendo-as firmemente atrás de suas costas.

Eu tinha o controle, e não Madeleine.

Além do mais, como eu poderia estar certo de que aquelas mãos que me acariciavam, não estavam acariciando outro homem há pouco? Como eu poderia estar certo de que Madeleine não era tão nociva quanto as amantes que meu pai sustentava enquanto era casado com minha mãe?

O pensamento me fez apertar os pulsos de Madeleine com mais força, e ela soltou um gemido arrastado. Aquele ato lhe causava dor, mas eu sabia que também a excitava, e essa constatação se tornou irrefutável quando senti o corpo de Madeleine apertando-se ainda mais contra o meu. Impacientemente, puxei o zíper do belo e provocante vestido vermelho que ela usava, livrando-me dele. Enquanto eu prendia seus pulsos com uma de minhas mãos, com a outra eu explorei a pele alva e macia, provocando seus seios fartos e alongando seus mamilos intumescidos sob meus dedos.

— Rob... — ela murmurou enquanto eu explorava a pele de seu pescoço.

Afastei-me de Madeleine, mantendo suas mãos presas e a encarei. Seus olhos me encararam de volta, e eu os fitei firmemente.

— Sem diminutivos — disse-lhe secamente. — Odeio diminutivos, Madeleine.

— Chéri... — ela murmurou lubricamente. — Não me faça esperar mais, mon amour!

— Eu não farei.

Meus lábios voltaram para os de Madeleine, e sem mais delongas eu a levei para a cama, retirando a última peça de roupa que restava em seu corpo, e livrando-me das minhas logo em seguida. Eventualmente, eu deixei que suas mãos afoitas esbarrassem em meu corpo, mas apenas tempo o suficiente para fazer-me lembrar de que eu não deveria me importar com o prazer de Madeleine. O que importava era minha própria satisfação, e levar minhas mulheres ao clímax antes de mim era apenas uma parte de meu próprio prazer, um afago ao meu ego.

O corpo de Madeleine tremulou diversas vezes sob o meu enquanto ela murmurava palavras desconexas, então me deixei ir também, entregando-me à minha própria liberação e deleitando-me com meu próprio prazer.

Por alguns minutos, Madeleine e eu ficamos apenas em silêncio, esperando nossas respirações acalmarem-se ao passo que a letargia parecia ir embora, deixando em seu lugar o ressurgimento do prazer que pairou sobre nós instantes atrás.

Com renovado vigor, Madeleine e eu nos satisfizemos um do outro até que a noite adentrou a madrugada, e minha bela francesa se rendeu ao cansaço.

Com uma lentidão deliberada, eu me levantei da cama e fui para o banho, aproveitando os efeitos da água quente no momento pós-coito. Tornei a vestir minhas roupas, tendo o cuidado de retirar o colar de esmeraldas que Rosalie comprou para Madeleine em meu nome, deixando-o sobre o travesseiro que eu deveria ocupar, junto com um bilhete que dizia:

Cara Madeleine,

A noite passada foi realmente uma prazerosa experiência para ambos, mas foi apenas isso... uma noite.

Com as esmeraldas eu espero estar agradecendo-lhe adequadamente pelos momentos compartilhados até então, deixando claro que eles não voltarão a se repetir.

Não tenha pressa em sair do hotel, afinal, as despesas serão por minha conta. Desfrute de um saboroso desjejum e encontre alguma ocupação divertida até o horário do almoço. Pelo que sei, o restaurante do hotel tem excelentes pratos franceses, e você poderá matar as saudades de casa enquanto saboreia seu almoço.

Atenciosamente, Robert Blackwell.

Descansando o bilhete sobre os travesseiros, dei uma última olhadela em Madeleine, feliz por ela ser uma estrangeira que já estava com os dias contados no país.

***

Depois de uma noite praticamente insone, levantei-me a fim de ir ao escritório, afinal, sempre estive ciente de que meus hábitos noturnos não deveriam interferir nos negócios.

Uma rápida olhadela no relógio indicou-me que, provavelmente, Madeleine ainda não estaria acorda. Um sorriso irônico instalou-se em meu rosto ao pensar em sua expressão ao despertar e perceber que eu a deixara sozinha. Bom, não deveria ser muito diferente da expressão que as mulheres que tive antes dela costumavam fazer.

Num falso gesto de desapontamento, balancei a cabeça de um lado para o outro enquanto dirigia rumo ao trabalho. Por que belas mulheres costumavam superestimar seu poder de sedução? De fato, cortejá-las era apenas um caminho que eu precisava percorrer quando desejava levá-las para a cama. Depois que meu objetivo era alcançado, continuar com os gracejos era perda de tempo.

Bem como partilhar a cama após o sexo.

Eu odiava partilhar o que quer que fosse, e conseguia lembrar-me exatamente onde e quando esse sentimento teve início. Há exatos trinta anos, quando tive que partilhar o ventre de minha mãe com meu irmão gêmeo, Matthew.

O pensamento fez-me apertar o volante com mais força, mas eu não o detive. Era sempre bom lembrar o porquê de eu não ter derramado uma única lágrima quando meu pai faleceu há pouco mais de um mês.

Matthew nasceu com duas horas de antecedência em relação a mim, tornando-se o primogênito e, consequentemente, o favorito de nosso pai. Como éramos gêmeos fraternos, parecíamo-nos tanto quanto qualquer outro par de irmãos. Nossas diferenças físicas tornavam Matthew muito parecido com nossa mãe, Alexandra, enquanto eu me parecia muito mais com nosso pai, Frederick.

Pela lógica, eu deveria ser o favorito, afinal, era eu quem mais lembrava o imponente Frederick Blackwell. No entanto, vindo de uma tradicional família britânica, Frederick valorizava muito a questão da primogenitura, e nesse quesito, Matthew tirava vantagem sobre mim.

Nós nascemos em Londres fruto de um casamento de aparências, e não do amor. Lembro-me de como minha mãe costumava se esforçar para que meu irmão e eu não presenciássemos nenhuma das inúmeras discussões que ela protagonizava juntamente com Frederick, mas ela nem sempre obtinha êxito em sua empreitada.

Alexandra era uma mãe dedicada e amorosa, contudo, e não fazia distinção entre Matthew e eu. Frederick era quem costumava fazê-lo, deixando bem claro que Matthew deveria ser mais bem tratado, porque seria ele a assumir seus preciosos negócios de família. Negócios esses, que ruiriam em poucos meses se meu avô materno não tivesse concordado em comprar parte das ações e passá-las para o nome de sua única filha solteira — minha mãe.

Foi por isso que meus pais se casaram. Para que a empresa não saísse do controle dos Blackwell. Desse modo, Frederick continuaria sendo o sócio majoritário e, consequentemente, não teria que renunciar à presidência da companhia fundada por seu avô.

Sete meses após o casamento de meus pais, minha mãe engravidou, mas a situação desse acordo denominado casamento já estava em crise. Meu pai mantinha amantes. Muitas. E minha mãe sabia, senão de todas, mas de uma grande parte delas.

Matthew e eu éramos pequenos demais para entender tudo o que se passava naquela época, no entanto, nós achávamos um pouco curioso o fato de nossos pais brigarem tanto.

Lembro-me de que Frederick costumava brigar com minha mãe por minha causa. Ele odiava o fato de eu demonstrar mais interesse por atividades ao ar livre ao invés de preferir ficar trancafiado em casa com algum jogo metódico. Quando a fria cidade de Londres permitia, mamãe levava a mim e a Matthew para piqueniques, e passávamos toda a tarde desfrutando de ar puro e da companhia de outras crianças.

Essas eram as únicas ocasiões em que minha mãe ria de forma genuína.

Matthew também aproveitava ao máximo esse tempo longe de Frederick, porque era o único momento em que ele se atrevia a ser ele mesmo. No restante do tempo, ele costumava falar e agir como Frederick exigia que fosse.

Ao menos posso dizer que saí ileso desse jogo de manipulação. Talvez seja por isso que Frederick sempre me detestou: por eu não priorizar suas vontades, mas as minhas próprias.

Quando Matthew e eu tínhamos cinco anos de idade, Alexandra deu à luz a Elizabeth, e ela encheu nossa casa de alegria. Por alguns meses.

O casamento desastroso de nossos pais tornava o clima pesado de qualquer forma, então nós éramos obrigados a encontrar nosso próprio modo de diversão, que ganhou um significado mais abrangente quando Frederick nos levou à Espanha em uma de nossas viagens de verão.

Era um lugar excelente, com belas praias e sol. O clima agradável parecia deixar tudo mais leve, inclusive a expressão no rosto de Alexandra. Acho que nem mesmo quando Elizabeth nasceu, três anos antes, vi minha mãe sorrir com tanta frequência e espontaneidade.

Eu realmente gostava daquele sorriso.

Minhas memórias daquele verão são sempre de momentos leves e felizes, até o instante em que Matthew me convidou para ir com ele até o mar. Frederick estava distraído em uma de suas ligações de negócios, enquanto mamãe trocava as fraldas de Elizabeth.

Era o momento perfeito para duas crianças de oito anos escaparem!

Matthew e eu estávamos brincando, mas veio uma onda forte e acabou nos levando um pouco mais para o fundo. Meu irmão era um péssimo nadador, e em seu desespero por sair depressa da água acabou frustrando todas as minhas tentativas de salvá-lo.

Quando percebi que jamais conseguiria arrastá-lo comigo até a praia, desvencilhei-me de suas mãos que tentavam me segurar em busca de ajuda e nadei de volta à praia. Vasculhei o lugar com os olhos por alguns instantes, e quando encontrei Frederick ainda ao telefone, corri até ele, contando o que havia acontecido com Matthew.

Frederick tampouco sabia nadar muito bem, então pediu ajuda a alguns banhistas, atrapalhando-se com a língua estrangeira. Ainda assim, eles conseguiram tirar Matthew da água.

Mas não com vida.

A partir daí os acontecimentos tornaram-se um pouco turvos, no entanto, lembro-me bem de quando Frederick disse que eu havia matado meu irmão. Lembro-me das lágrimas desesperadas de minha mãe, de minha família deixando a Inglaterra e indo viver nos Estados Unidos, e lembro-me com clareza de ter sido levado para um colégio interno.

Eu recebia uma única visita no ano, quando Frederick mandava seu motorista buscar-me a fim de que eu passasse os feriados de fim de ano em casa. Mamãe sempre me sorria e dava-me presentes, tentando fazer com que eu me sentisse em casa. Quando as festividades acabavam, ela e Elizabeth me abraçavam forte, e minha irmã caçula implorava-me para ficar. Mas eu simplesmente não podia.

Ver minha mãe e minha irmã chorarem minha ausência fez com que eu deixasse de amar o meu pai. Quando cheguei à adolescência e percebi as traições de Frederick, a ausência de amor transformou-se em raiva, que evoluiu para ódio quando, aos dezoito anos, descobri que Frederick tinha dois filhos bastardos com uma de suas amantes. Sua até então secretária.

Aquele foi um período difícil. Eu estava de volta em casa, cursando a faculdade, e mamãe estava em profunda depressão, que teve um agravante quando ela também descobriu sobre os filhos bastardos do marido. Ela não viveu muito mais tempo depois disso.

Depois de tornar-se viúvo, Frederick tentou convencer-me a me casar com uma das filhas de algum de seus sócios no intuito de fazer-me seguir seus passos, administrando sua maldita empresa e tirando-me da mansão onde vivíamos. Possivelmente para levar seus filhos bastardos e sua amante asquerosa para viverem lá. Mas eu não permitiria que ele sujasse a memória da minha mãe, nem tampouco seguiria os passos dele, sob nenhuma hipótese! Eu não me opunha em flertar com nenhuma das garotas que ele me empurrava, ou levá-las para passear, porque eu também precisava de alguma diversão. Mas isso era tudo.

Eu segui meu próprio caminho, construindo meu próprio império, ditando minhas próprias regras e mandando em minha vida, sem jamais ter dado a Frederick Blackwell o prazer de render-me à suas vontades.

Ao menos até agora.

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