quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DA - Capítulo 15

~ 15 ~

Robert

― Você deveria ter me dito que ela era importante, Rob! Como eu iria saber?

Eu pesei as palavras de Elizabeth por um momento, notando o quanto elas me incomodavam.

Deveria. Eu não deveria nada, para começo de conversa. Nem mesmo consigo me lembrar da última vez em que devi algo a alguém.

E importante. Importante. Era nisso em que Linda havia se convertido? Porque eu, honestamente, não gostava muito de como soava. Sob esse prisma, era como se a presença dela em minha vida fosse algo vital, mas eu tentei encontrar um significado distinto por trás das palavras de minha irmã, que esbravejava algo do outro lado da linha.

Levar acompanhantes em casa não era minha marca registrada desde... sempre. Apresentar Linda como minha namorada em pleno aniversário de Sofie, deve ter sido mais do que Elizabeth poderia lidar. Imaginei qual seria sua reação quando anunciasse meu casamento, e me permiti sorrir. Seria, no mínimo, algo interessante.

― Você ainda está aí? ― a voz impaciente inquiriu.

― Claro que sim. Eu estava apenas... esperando um pedaço de terra seca em meio ao seu dilúvio de palavras.

― Muito engraçado, Robert. Muito engraçado.

― Elizabeth, no fim das contas, não foi assim um desastre total, está bem? Você e Linda podem não ser as melhores amigas do mundo, mas essa não era minha intenção.

― Mas é claro que essa não era sua intenção! ― ela anuiu amargamente. ― Nunca faz parte das suas intenções incluir sua própria família na sua vida.

― Não. Comece. ― Adverti-a entre dentes. ― Esse não é o momento mais propício.

― O que eu estou tentando dizer... ― ela hesitou por alguns instantes, e eu fechei meus olhos, reclinando-me sobre a cadeira de couro do escritório. Ao menos passar o fim de semana com Linda adiou esse telefonema tão... instável. ― Estou dizendo, apenas, que você deveria ter me contado que você e a moça... bem... que você tem intenções sérias com ela.

― Intenções... sérias? ― eu testei.

― É... você sabe. Quer dizer, ao longo desses anos, você nunca criou laços. Não que eu saiba, pelo menos, e agora você me apresenta... uma namorada! ― Elizabeth pronunciou a última palavra com tanto entusiasmo, que eu até mesmo podia visualizá-la atirando-se em meus braços, se estivéssemos próximos. ― Além do mais... ela parece... diferente.

― Diferente de Britney, você quer dizer?

― Definitivamente!

― Sim... ― eu soltei num suspiro. ― Ela é diferente.

Um riso baixo soou do outro lado da linha, e eu franzi o cenho em confusão. Iria questionar Elizabeth sobre o motivo dessa reação, contudo ela foi mais rápida.

― Você acha que consegue arrastá-la até aqui, outra vez? Para um jantar, quem sabe! Eu quero me retratar... lançar mão de um olhar amistoso no lugar de um perscrutador.

― Estarei muito ocupado nos próximos dias. Acabo de chegar de uma viagem ― eu a lembrei. ― Preciso organizar algumas coisas na empresa, antes de qualquer coisa.

― Claro, claro... ― zombou deliberadamente. ― Vir ao aniversário de Sofie já foi uma concessão, agora eu devo esperar... o quê? ― ela ponderou, pirrônica, provavelmente fazendo um sorriso involuntário instalar-se em meus lábios. ― Dois meses até que sua agenda de CEO permita que você volte ao seio da família?

Eu não pude conter o riso, então. Ele veio fácil, como Elizabeth costumava conseguir com que acontecesse, anos atrás.

― Sempre tão dramática, irmãzinha... ― murmurei para ela no meu mais acentuado sotaque britânico. ― Às vezes eu me pergunto por que você não quis ir a Hollywood e investir na carreira de atriz.

― Algo a ver com o fato de eu ter encontrado o amor da minha vida antes de me tornar uma workaholic! ― ela estava rolando os olhos para mim, em sua melhor pose de ironia. Eu poderia apostar que sim!

― Okay... eu pretendo arrastar Linda até aí assim que minha agenda de CEO workaholic permitir. Isso, é claro, se Linda não se opuser.

― Acha que ela se oporia? ― Elizabeth inquiriu em tom preocupado. ― Eu espero não tê-la espantado... Meu Deus! Não ficou um clima estranho entre vocês depois do que...

― Ei, ei! ― chamei, interrompendo-a. ― É preciso mais do que uma irmã enciumada e inamistosa para fazer com que uma de minhas conquistas desista do páreo.

Eu sorri genuinamente, mesmo que Elizabeth não pudesse me ver. Talvez, justamente valendo-me disso.

― Acontece que ela não é mais uma de suas conquistas... ― ela murmurou calmamente. ― Não apenas isso...

Aquela era a deixa para encerrar a conversa. Elizabeth já estava se encaminhando a seus ideais românticos, e isso não era bom. Obviamente eu não queria que ela soubesse de minhas reais intenções, mas também não era justo que ela criasse imagens idílicas ao redor do que Linda e eu tínhamos... ou teríamos, em breve.

― Como eu já disse, tenho ocupações nesse momento, Elizabeth. Nós podemos pensar em algo para a semana que vem, mas nada concreto.

― Eu nunca tenho nada muito concreto vindo de você, de qualquer forma... ― ela resmungou exalando o ar com mais força. ― Espero que Linda seja mais maleável.

Houve um silêncio desconfortável, que não sei precisar quanto tempo durou. Quebrá-lo poria um fim definitivo à conversa, e não apenas uma pausa, então eu tomei a iniciativa.

― Nós nos falamos depois... ― disse-lhe num tom baixo. ― Prometo telefonar.

― Certo... ― concordou. ― Não demore, está bem? Eu amo você.

Engoli em seco.

O que eu diria, agora? Por que ela necessitava jogar tão baixo?

― Até logo, Elizabeth.

Ainda pude ouvi-la suspirar uma vez mais, antes de a ligação ser encerrada, o que me fazia questionar por que ela ainda se importava com o fato de eu responder com um “até mais”, às vezes em que ela me dizia um “amo você”. Ela já deveria saber que uma resposta qualquer, era o máximo que alguém poderia ter de mim. Um privilégio só dela. Da minha, ainda, doce e frágil Lizzy.

***

― ... é claro que eu me assustei um pouco, afinal, uma criança não deveria ser tão formal, mas eu não acho que...

Qualquer coisa que Linda pretendesse dizer depois disso, foi esquecida no exato momento em que meus lábios se apossaram dos dela. Não era um beijo calmo, mas também não era tão voraz quanto os beijos que trocamos no dia em que voltei de viagem. Talvez o motivo seja que, naquela ocasião, eu estava mostrando a Linda as razões pelas quais eu, supostamente, a havia apresentado à minha família. Ela precisava sentir que eu a desejava, sendo assim, eu precisava mostrar-me insaciável quando o assunto era seus toques e seus beijos. Devo confessar, contudo, que tudo estava sendo muito mais fácil do que eu poderia prever. Principalmente agora, que Linda não apresentava nenhuma resistência a mim, mas recebia de bom grado a todas as vezes que eu a tocava.

Em especial, quando a tocava como agora. Eu nem mesmo esperei que ela terminasse de falar sobre como tinha se encantado por Sofie e sua maturidade precoce, ou que cerrasse a porta de seu apartamento atrás de nós. Simplesmente passei um de meus braços por sua cintura fina, trazendo o corpo dela para perto do meu. Chutei cegamente o espaço atrás de mim, atingindo a porta e fazendo com que ela se fechasse de maneira ruidosa. A bolsa que Linda segurava em uma das mãos já havia atingido o solo, e ela acariciava meus cabelos enquanto retribuía ao meu beijo sofregamente.

A forma como a língua dela deslizava contra a minha era a prova concreta de que sua timidez se esvaía um pouco mais a cada vez que estávamos assim, tão próximos. Dias depois da reunião na casa de Elizabeth, era como se Linda já se sentisse perfeitamente à vontade ao meu lado. Em meus braços. Eu não consegui escapar de alguns resquícios de sua insegurança, é claro, mas sempre que eu a beijava, era como se nada mais lhe importasse. Ela simplesmente me correspondia. Como fazia agora.

Escorreguei uma de minhas mãos por suas costas, agarrando uma porção generosa de seus cabelos macios, sentindo o corpo de Linda arqueando-se de prazer sob meu toque. Eu queria tocá-la em todos os lugares possíveis. Sentir como seria ter minhas mãos sobre cada uma de suas curvas generosas, mas me contive, permitindo-me apenas beijar aqueles lábios cálidos e macios, agradecido por sentir apenas o gosto deles. Sem traços de nenhum gloss labial de sabor duvidoso. Apenas boca com boca.

Como sempre ocorria, eu rompi o contato de nossos lábios quando a escassez de ar tornou-se impossível de ignorar.

Linda estava ofegante, com as maçãs do rosto mais coradas que o normal, e os lábios rubros e brilhantes, devido à umidade. Seus olhos permaneceram em mim enquanto ela tentava acalmar sua respiração, e eu sorri satisfeito, simplesmente por ela precisar de algum tempo para se recuperar das sensações que eu lhe causava.

― Você ao menos escutou alguma coisa do que eu disse? ― ela inquiriu ainda ofegante.

― Absolutamente nada, depois de você dizer que eu não precisaria dirigir por quilômetros e quilômetros, em busca de um restaurante que servisse uma boa massa ― articulei. ― Fiquei tão feliz com a ideia de você preparar o jantar e eu roubar alguns beijos, que não escutei enquanto você falava sobre... ― eu franzi as sobrancelhas, fingindo puxar pela memória o assunto em questão. Ou fora dela. ― Sobre o que falávamos? ― dissimulei.

Linda sorriu brilhantemente para mim. Um sorriso sincero, deixando todos os dentes à mostra, de um modo que nunca vi nenhuma das mulheres com quem me relacionei fazer parecido. Então me dei conta de que, com nenhuma delas eu havia sido tão extrovertido quanto estava sendo com Linda. Esse pensamento me assustou, de certo modo, e eu quis afastá-lo de mim junto com o corpo de Linda, empurrando-os para longe, mas ela foi mais rápida, talvez não percebendo minha mudança de comportamento. Seus lábios pressionaram os meus demoradamente. Uma. Duas. Três vezes, até eu deslizar minha língua entre eles, e enroscá-la à sua.

***

― Senhor Blackwell, o senhor Smith está aqui para vê-lo ― Rosalie me informou pelo telefone.

Eu arqueei uma sobrancelha em surpresa.

― Ele tem hora marcada?

― Não, senhor, mas...

― Então diga a ele que volte depois.

― Mas, senhor...

― Rosalie... ― eu chamei meio irritadiço. ― Sem hora marcada, você pode dizer até mesmo ao Papa Bento XVI que volte depois, fui claro?

― Senhor, o Papa Bento XVI renunciou ao posto... há algum tempo.

― Oh, é mesmo? ― inquiri sarcasticamente. ― Acho que você entendeu o que eu quis dizer, Rosalie. Mas se não...

― Tudo bem ― ela apressou-se em dizer. ― Eu darei o recado.

― Ótimo ― eu sorri satisfeito do outro lado da linha, devolvendo o telefone ao gancho.

Mas minha felicidade não durou muito.

― Robert! ― a voz ecoou em minha sala.

Eu fitei firmemente a figura presunçosa de James adentrando o escritório. Seu rosto vermelho parecendo ter dobrado de tamanho, e os olhos azuis nublados por algo não muito amigável.

Mas eu não me importava.

― Senhor Blackwell! ― Rosalie chegou logo atrás dele, respirando com dificuldade graças à barriga proeminente. Ela estava em qual semana de gestação, mesmo? Ao que parece, tempo bastante para que ela não fosse levada a sério. ― Ele insistiu em entrar, eu não pude...

― Está tudo bem, Rosalie... ― eu a tranquilizei. ― Apenas avise à senhorita Calle que não estarei disponível durante o almoço.

― Sim, senhor. Com licença ― Rosalie murmurou, deixando-me a sós com um James nada amigável.

― Sr. Smith... ― eu articulei em reconhecimento. ― Que prazer em vê-lo...

― Vamos saltar a parte das bajulações, Robert. E também a das formalidades! Eu não vim como um mero advogado...

― O que ficou bem claro depois de você passar por aquela porta sem hora marcada, e sem ser anunciado... ― eu o interrompi apontando em direção ao local onde James praticamente se materializou.

― Seu humor negro não me atinge, garoto!

Trinquei os dentes, controlando-me ao máximo para não avançar em James e ter sua garganta entre minhas mãos. Quem, ou o que ele pensava que era para invadir meu escritório daquela forma, e me chamar de... garoto?

― Você deve estar enganado, James... não há nota alguma de humor, aqui ― adverti-o pondo-me de pé, e apoiando minhas mãos em punhos sobre a mesa de madeira à minha frente.

― O que você julga estar fazendo, hein? ― questionou. ― O QUE VOCÊ JULGA ESTAR FAZENDO?

― Do que está falando, James?

― Aquela mulher que você levou à casa do meu filho... a que apresentou como sua amante...

― Você quis dizer namorada ― eu o corrigi num sorriso falso.

― Que seja! Ela... ela é parte do seu staff! Do seu maldito staff! ― ele praticamente berrou em ultraje.

― Isso não soa como uma pergunta... ― observei com indiferença.

― Não é...

― E isso o interessa, porque... ― eu o instiguei a continuar.

― Porque... ― James hesitou por um momento, cerrando os olhos com força, aparentemente buscando trazer algum controle para si mesmo. ― Porque eu me preocupo com essa família... ― decidiu-se por fim. ― E eu sei que, você não leva esta moça a sério, realmente, então por que está fazendo todo esse teatro?

― Está mesmo guardando toda essa fúria por quase duas semanas, deixando-a explodir somente agora? ― testei incredulamente.

― Eu não sabia que aquela mulher não era ninguém além de uma funcionária qualquer!

― Acho que você perdeu a parte em que eu disse que temos um compromisso ― sugeri ironicamente.

James riu em escárnio. Seu corpo pesado movimentado-se de forma quase desajustada, enquanto uma gargalhada rouca deixava seus lábios finos e esbranquiçados.

― Foi justamente essa a parte que me irritou quando eu soube quem ela era! Por Deus, Robert! A garota da contabilidade? ― mais uma risada escarninha. Mais um motivo para eu mandar minha paciência ao inferno. ― Quando Britney me contou, eu sequer...

― Britney? ― testei franzindo o cenho.

― Ora essa, você não pode culpar uma garota por tentar proteger seu território! ― ele falou em defesa da filha.

― Devo presumir que o território... seja eu?

A expressão de James pareceu aliviar-se, e ele caminhou calma e displicentemente para mais perto de mim, que permanecia no mesmo local.

― Eu confio no seu bom senso, Robert ― segredou-me. ― Você conhece a cláusula no testamento de Frederick, e as consequências de não cumpri-la. Além do mais... ― ele inclinou-se um pouco mais em minha direção, permitindo-me ver seus olhos azuis, que possuíam um leve vestígio de estrabismo. ― Você não se casaria com uma mulher tão... ― ele pareceu buscar as palavras certas por um tempo, então voltou a falar. ― Comum... quase grosseira. Ela não é uma dama, nem vai ser, mesmo depois que você se cansar de estar entre as pernas dela, e ela arrancar-lhe bons milhões com o processo de divórcio. Isso, é claro, supondo que você estivesse suficientemente fora de si para deslizar um anel de compromisso pelo dedo de uma mulher feito aquela.

Pela segunda vez desde que James adentrou meu escritório, eu trinquei os dentes. Desta vez com mais força, e eu me perguntei se era possível que a cólera dilatasse minhas veias para esgueirar-se através delas.

― Você sugere... ― eu comecei num tom baixo, tentando controlar a irritação, notando minha voz ainda mais grave que de costume. ― Que eu procure alguém mais... refinada... com requinte, e bem nascida?

― Já tivemos essa conversa antes, Robert ― ele me lembrou num sorriso condescendente. ― Eu não sei o que você viu naquela garota... ― James ponderou por um instante, seu sorriso mudando de intenção antes de ele retomar sua fala. ― Ou talvez eu saiba... ― concedeu. ― Belas pernas... que provavelmente fornecem um abrigo extremamente acolhedor em noites frias, mas que com o tempo... não despertam mais tanto interesse.

Eu não poderia trincar dentes que já se encontravam trincados. O processo inverso, contudo...

― Frederick discordaria de você... Ele esteve entre as pernas de Paige nos últimos vinte anos ― cuspi de volta para ele.

― Achei que você não fosse parecido com seu pai ― James franziu o cenho, em confusão. ― Mas isso não vem ao caso... Frederick não teve muitas opções ao se casar com Alexandra, até onde eu sei... já você, Robert... ― ele sorriu. Um sorriso cúmplice. E asqueroso, que me causou náuseas. ― Britney se mostra sempre muito receptiva e feliz aos seus galanteios. Você não acha...

― Que é melhor trocar um belo par de pernas que traz um cérebro de brinde, por um par de pernas desinteressante e com caráter duvidoso? ― eu zombei, assistindo o sorriso de James se desmanchar, e seu rosto voltar a tingir-se de vermelho.

― Você não está insinuando que...

― Diferente de você, James ― eu o interrompi. ― Eu não insinuo coisas. Sou extremamente objetivo quando tenho algo a dizer.

― E isso significa...

― Que se Britney está esperando por mim para deslizar um anel de compromisso por seu dedo... ― eu o parafraseei descaradamente. ― Sugiro que ela comece a procurar um convento.

James bufou de irritação. Suas narinas inflando, desfigurando seu rosto.

― Você vai engolir essas palavras, Robert ― ameaçou.

― E você pode se considerar sortudo por ter o dobro da minha idade. Caso contrário, eu o faria engolir seus próprios dentes.

Eu sorri para James. Não de forma indulgente, e ele me deu as costas, levando sua presença desagradável para longe do meu escritório.

Afundei-me em minha cadeira, ciente de que, em partes, James tinha uma ponta de razão. Primeiro: eu não tinha muito tempo para conseguir uma esposa, e precisava ser mais ágil do que vinha sendo. Segundo: Linda não era igual a Britney, e eu me sentia absurdamente grato por isso.

Num ímpeto, eu tirei meu celular do bolso interno do paletó, discando o número recém memorizado rapidamente.

― Robert?... ― a voz do outro lado soou cautelosa, com uma nota de ansiedade, logo após o terceiro toque. ― Está tudo bem?

― Está sim... você... já almoçou?

― Bem, eu... a senhora Russel me disse que você estava em uma reunião importante, e que duraria todo o horário de almoço... Então eu almocei com Christine.

― Christine... ― eu pronunciei em reconhecimento. ― A garota da contabilidade... ― sussurrei a alcunha pejorativa que James havia me apresentado, há pouco.

― Na verdade, eu a chamo de colega de trabalho ― Linda objetou bem humorada do outro lado da linha. Ela com certeza não estaria com o humor tão agradável, caso soubesse que Christine tentou instalar-se em minha cama. Na verdade, em minha mesa.

― Claro que sim... ― anuí me levantando, e caminhando de um lado a outro em minha sala. ― Eu... não vou à casa da minha irmã desde o aniversário da minha sobrinha, e Elizabeth está me pressionando a fim de adquirir algum tempo em família... ― comentei de forma quase inocente. ― Eu disse a ela que poderíamos nos ver essa semana... acho que um jantar hoje à noite seria perfeito.

― Você merece alguma distração ― Linda murmurou de forma condescendente do outro lado da linha. ― Além do mais... sua irmã parece gostar muito de você. Acho que fazer-lhe visitas regulares não vai ser um sacrifício.

― Eu fico feliz que pense assim... a propósito, a que horas você acha que consegue estar pronta? ― houve um silêncio considerável, a ponto de eu pensar que a chamada havia sido interrompida. ― Linda? ― eu chamei uma vez. ― Você não me ouviu?

― Ouvi... ― ela sussurrou incerta.

― E então?

― Bom... eu... não sei... quer dizer, eu não acho que seja uma boa ideia aparecer na casa da sua irmã. É melhor você... ir sozinho.

― E dizer a Elizabeth que você declinou o convite, é isso?

― Que eu... declinei o convite? ― ela testou.

Eu ri sem humor uma vez, ainda afetado pela visita indesejada de James.

― Elizabeth me fez prometer que lhe faríamos uma visita... você e eu... juntos.

― Mas... ela... você... tem... certeza?

O estado catatônico de Linda quase me fez rir genuinamente. Quase.

― Vou dizer a Elizabeth que você ficou radiante com o convite, e que estaremos na casa dela às 8h. Esse horário está bom pra você?

― Às 8h... ― ela murmurou quase automaticamente.

Dois minutos depois de falar com Linda, eu disquei o número de Elizabeth, fazendo a única pergunta para a qual eu tinha resposta.

― O convite para jantar ainda está de pé?

***

Relembrar o infortúnio em que consistiu a visita de James naquela manhã, estava acabando com meus nervos. Ao repassar nosso diálogo em minha mente, me dei conta de que Smith, da forma mais deliberada possível, comparou sua filha Britney, com minha mãe, colocando-a inclusive em posição superior. Para deixar tudo ainda mais desastroso, minha reação a isso foi trazer o nome de Paige ao assunto, grosseiramente a comparando a Linda.

Era o que James queria afinal, não era? Ressaltar as supostas qualidades da filha, e anular Linda. Eu esperava ter sido claro o bastante quanto ao fato de Britney não ser alvo do meu interesse.

A fim de espantar os pensamentos que não me eram bem-vindos, acabei indo até a casa de Linda muito tempo antes do que havia sido combinado. Como já era de se esperar, ela ainda não estava pronta, então eu aguardei pacientemente enquanto ela terminava de se vestir, assistindo a um programa qualquer na televisão.

Quando eu já estava a um único passo do tédio completo, a voz de Linda soou baixinho ao meu lado, precedida por um perfume adocicado que tomou conta do ambiente.

― Estou pronta ― anunciou.

Linda era uma mulher atraente, eu já sabia disso, mas a cada vez que nós saíamos juntos, e eu podia vislumbrá-la totalmente alheia ao ambiente do escritório, a gana de tocá-la era maior do que qualquer outra coisa que eu pudesse sentir.

― Quem é você, e o que fez com a Linda de terninho cinza que eu deixei aqui, mais cedo? ― inquiri divertidamente, levantando-me e estendendo minha mão para acariciar sua cintura sobre o tecido do vestido escuro que ele usava.

Ela sorriu em resposta, enrubescendo e levando seu olhar para longe do meu por alguns segundos, trazendo-o de volta para mim logo depois.

― Você está me deixando ainda mais nervosa... ― admitiu.

― Nervosa?

― É... você sabe! Sua irmã não foi muito com a minha cara, e cá estou eu, prestes a ir jantar na casa dela! ― Linda deu de ombros, fingindo indiferença e puxando seu lábio inferior com os dentes. Observei aquele gesto, deixando as palavras que ela acabara de dizer esquecidas por um tempo. Eu mesmo queria ter aqueles lábios entre os meus... por que ela tinha que ter usado gloss labial neles justo hoje? ― Você não gosta? ― Linda inquiriu, tirando-me dos meus devaneios.

― Do quê? ― questionei confuso.

― Do gloss que eu estou usando... acaba de reclamar.

Eu havia mesmo dito aquilo em voz alta?

― Não é que eu não goste... é só que, se eu beijar você agora, vai ser um desastre total ― eu fiz uma careta de desgosto. ― Nesse caso, acho que terei de esperar até a volta.

Ela piscou seus olhos escuros para mim, uma vez, aparentemente perplexa, e então engoliu em seco, acenado rapidamente em concordância.

***

― Eu realmente não acredito que você fez isso, Elizabeth! ― sibilei para ela descontente.

― O que você queria que eu fizesse? Eles são a família de Michael, e ele os convidou, não eu! ― defendeu-se.

― Você poderia ter me avisado... assim, Linda e eu não teríamos vindo!

― Algum problema por aqui? ― Michael irrompeu na biblioteca de sua casa, ironicamente, o lugar onde eu escolhi conversar com minha irmã, a fim de não sermos interrompidos. Não funcionou, obviamente.

― Problema algum... ― Elizabeth desconversou forçando um sorriso que poderia rasgar seu rosto ao meio. ― Robert e eu estávamos apenas trocando algumas palavras... coisas de irmãos! ― cantarolou com seu sorriso fajuto firmemente preso em seus lábios. ― Mas o que faz aqui? Onde está Linda?

― Onde mais ela poderia estar? ― Michael devolveu numa risada incrédula. ― Sofie praticamente a arrastou até o quarto, e acho que não pretende deixá-la tão cedo.

― Melhor assim ― eu murmurei num tom azedo, fazendo Elizabeth voltar seus olhos para mim, num pedido mudo de desculpas, ao passo que os de Michael refletiam sua confusão.

O que deveria ser um simples jantar na casa de Elizabeth, transformou-se em algo mais no instante em que Michael convidou sua desagradável família para juntar-se a nós. Meu desentendimento com James havia deixado um clima desagradável, e os olhares furtivos de Britney em minha direção apenas pioravam tudo. Até mesmo a sempre desatenta senhora Cameron Smith, conseguiu perceber certa tensão no ambiente, e eu estava agradecido por Sofie ter conseguido afastar Linda desse circo ridículo.

***

― A Europa é sempre agradável. Acho que não importa muito a época do ano ― Elizabeth comentou tentando fazer com que algum assunto relativamente agradável perdurasse por tempo suficiente.

Depois de ter apenas alguns minutos para conversar com Linda a sós, minha irmã buscava desesperadamente trazê-la para a conversa após o jantar. O que não estava funcionando muito bem.

― Pessoas extremamente interessantes também costumam migrar de lá, não é mesmo, Robert? ― Britney comentou num olhar sugestivo, com um sorriso lúbrico dançando em seus lábios.

Ao meu lado, Linda me fitou de soslaio por um instante, visivelmente desconfortável, apesar de estar se esforçando para não aparentar seu desconcerto. Ao que parece, James não havia entregado meu recado a Britney.

Eu me abstive de responder. Tanto tempo naquele lugar estava praticamente me asfixiando. Houve um retardo considerável para que o jantar fosse servido, e mesmo depois de todos terem feito a refeição, e tomado uma xícara de café, sob a insistência de Elizabeth, nós nos sentamos na sala de estar, sob o peso de um monólogo executado por ela mesma, e com raros interlúdios, como o de Britney, há pouco.

Graças ao esforço de Elizabeth, ela finalmente conseguiu com que a família Smith se inteirasse de algum novo assunto, e eu segurei um bocejo involuntário.

― Se você quiser ir embora... ― eu cochichei ao ouvido de Linda, aéreo ao que quer que fosse que os demais estivessem falando. ― Posso muito bem fingir um infarto...

Ela soltou um riso contido, prendendo seu olhar ao meu logo em seguida.

― Você não é jovem demais para enfartar?

― Sou jovem demais para ser torturado tão sadicamente, também...

Eu revirei os olhos de forma teatral, e Linda sorriu mais abertamente.

― Eu acho que...

― Olha! Então ela fala! ― Britney proferiu sobre o som das demais vozes, fazendo com que Linda e eu voltássemos nossos olhares para ela. ― Ao que parece a senhorita antissociável não é tão inalcançável, assim ― ironizou.

― Sim, ela fala... ― eu concordei espelhando o tom de voz de Britney. ― Quando o assunto é minimamente interessante.

― Era isso o que ela estava cochichando para você? ― Britney quis saber. ― Sobre como sua família é tediosa?

― Na verdade... ― Linda interveio antes mesmo que eu pudesse articular algo. ― Eu não quis atrapalhar a conversa... vocês me pareciam tão absortos. Não quis parecer grosseira, me desculpe.

― Sou eu quem tem que se desculpar, Linda ― foi a vez de Elizabeth objetar. ― Você é minha convidada, e eu deveria fazer com que se sentisse à vontade. Eu também não tenho muito interesse em tours europeus. Não voltei muitas vezes ao meu continente de origem desde que minha família decidiu se instalar na América ― admitiu. Eu pude ver um relance de tristeza percorrer os olhos de Elizabeth. Esse tópico trazia lembranças dolorosas. ― Mas... você não quer subir e ver algumas fotografias de família? Robert era bem mais adorável quando tinha apenas um metro de altura.

― Elizabeth! ― eu ralhei com ela num sorriso incrédulo. Ela apenas deu de ombros, com total indiferença, e desapareceu escada à cima na companhia de Linda.

― E então, Robert ― Michael começou. ― Agora que Elizabeth não está por perto, você pode me dizer o que havia no testamento do seu pai, não?

Encarei James seriamente por um momento, antes de fixar minha atenção em Michael.

― Elizabeth abdicou da herança... assinou um termo transferindo tudo o que poderia caber a ela para mim. Isso também lhe tirou o direito de estar na abertura do testamento. Sendo assim...

― Eu sei... ― Michael precipitou-se. ― Mas... não havia nada além da divisão de bens? Talvez um vídeo dizendo que ele amava vocês... que eram importantes para ele, apesar... ― ele hesitou por um momento. ― De tudo...

Eu sorri com escárnio para Michael, sem realmente acreditar que ele estava falando sério.

― Era Frederick, Michael ― eu o lembrei. ― E ele estava sendo ele mesmo ao redigir o maldito testamento.

― Entendo... ― ele murmurou tristemente. ― Fico feliz que Elizabeth não tenha presenciado a abertura do, então.

― A recíproca é verdadeira ― anuí.

― Assim sobra mais dinheiro para você, não? ― Britney interferiu.

― Nada que eu não possa conseguir sozinho... ― resmunguei a contragosto.

Contrariando às minhas expectativas, Britney levantou-se do lugar onde estava sentada com seus pais, para vir se sentar ao meu lado, e iniciar alguma conversa fútil a qual não dediquei atenção.

***

O tempo passava tão lentamente, que eu cogitei a hipótese de meu relógio de pulso estar com defeito uma ou duas vezes.

Foi quando eu ouvi risadas vindas do andar de cima, aproximando-se gradativamente ao passo em que Linda e Elizabeth desciam as escadas. Elas pareciam tão... íntimas. Era quase desconcertante observá-las. Nenhuma das duas pareceu muito contente ao notar Britney ao meu lado, mas a expressão de Linda aparentou aliviar-se um pouco mais quando eu lhe sorri.

― Espero que não tenhamos demorado muito ― Elizabeth articulou enquanto ocupava seu lugar ao lado de Michael. Eu estendi minha mão para Linda, sobre o espaldar do sofá, e ela a aceitou, preenchendo o espaço vazio ao meu lado, ao se sentar.

― Uma eternidade ― opinei. ― E acho que já está na nossa hora... ― disse prestes a levantar-me e ficar livre da companhia indesejável de Britney, ainda à minha esquerda, no sofá.

― A casa não é minha... ― James objetou, fazendo com que eu freasse meu movimento. ― Mas por que não ficam um pouco mais? Inocentemente, Lizzy acabou monopolizando as atenções de sua acompanhante, Robert, e eu quero conhecê-la um pouco mais... admirar os atrativos que o fizeram trazê-la para conhecer sua família. Você não gostaria de ficar um pouco mais, querida? ― ele inquiriu a Linda num sorriso pretensioso.

― Bem, eu... adoraria conversar um pouco mais ― ela murmurou incerta, e eu senti seu olhar sobre mim enquanto ela falava. Provavelmente buscando em minha expressão algo que a ajudasse a responder à proposta de James. Porém eu não voltei meus olhos na direção dela, porque eles estavam presos a James, e na forma como ele encarava a morena ao meu lado, sem se preocupar em ser discreto.

― Mas já está tarde... foi um longo dia no escritório... ― finalizei. ― De qualquer forma, nós agradecemos o convite.

Nós nos despedimos de forma rápida, cumprindo o ritual da formalidade ao pé da letra, e então partimos. Durante todo o trajeto de volta ao apartamento de Linda, ela se empenhou em manter um diálogo agradável, recebendo de mim não muito mais do que alguns monossílabos. Eu não conseguia me concentrar em outra coisa que não fosse as palavras de James, e seu olhar furtivo na direção de Linda. Apertei o volante com mais força, e afundei meu pé no acelerador.

***

― Você vai me contar o porquê dessa cara, ou vai ser um mistério para mim, também? ― Linda inquiriu num murmúrio débil.

Já estávamos em frente à porta de seu apartamento, sem que eu ao menos me desse conta. Provavelmente, estava distraído demais para me manter a par de minhas ações.

― Está tudo bem...

― Foi alguma coisa que eu disse? ― insistiu. ― Ou talvez algo que eu não tenha dito...

― Não foi nada que você tenha dito ou não, Linda... ― assegurei-lhe. ― Você... não me incomoda.

― Acontece que você estava divertido antes de eu sair para conversar com a sua irmã, e depois que eu voltei... não duramos nem mesmo dois minutos naquela casa.

― Agradeça a James!

― James? ― ela inquiriu duvidosamente, franzindo o cenho. ― O que ele tem a ver com isso?

― Eu não gostei da forma como ele se referiu a você!

Linda me encarou, confusa, por um momento, estreitando seus olhos em minha direção, procurando o verdadeiro significado por trás de minhas palavras. Significado que ela não iria encontrar, porque não havia um meio de ela descobrir que, as palavras de James com relação a ela em meu escritório, e depois a forma como ele a olhou... estavam ameaçando me deixar louco.

― Eu... não entendo...

― Linda... ― eu a chamei exasperado. ― Ele praticamente te devorou com os olhos... ele foi indecoroso na escolha de palavras...

― Robert, você está vendo coisas onde não há...

Eu empurrei Linda contra a porta fechada de seu apartamento, fazendo com que ela se sobressaltasse e praticamente se fundisse à madeira de má qualidade.

― Ele estava louco para fazer isso... ― eu disse de modo sugestivo, agarrando sua coxa esquerda firmemente, levantando-a até a altura do meu quadril.

― Você... ― Linda começou, com sua respiração irregular. ― Você está exagerando.

Sorri sem humor, uma vez, enterrando meu rosto no pescoço de Linda, aspirando seu cheiro, sentindo que ele exercia influência sobre mim. Minha mão em sua coxa apertou-a um pouco mais, movimentando para que tivéssemos um contato íntimo maior. Eu arfei, espelhando a reação de Linda, e fitei seus olhos.

― Eu sou homem, Linda... ― lembrei-a, desviando minha atenção de seu olhar febril, e levando-a para sua perna, em minha mão. ― Sei o que essa visão provoca num tipo que se deixa levar tão facilmente por instintos. ― Ela engoliu em seco, com a respiração pesada. ― Isso faz com que os outros homens não vejam, ou não queiram ver, que você é minha. Só minha. E eu odeio dividir, Linda.

― Você não tem que se preocupar em dividir... ― ela me sussurrou numa voz rouca, e eu ataquei seus lábios com ferocidade. Já não havia o menor resquício de produto algum, neles, apenas seu gosto adocicado, que já me era familiar.

― Linda, Linda... ― eu murmurei em reconhecimento. ― Você tem lábios tão doces... por que eles dificilmente me dizem o que eu quero ouvir?

― Não entendo nada sobre a bolsa de valores ou futebol... ― ela fez graça.

― Há outros assuntos do meu interesse... ― segredei-lhe. ― Como um convite para entrar em seu apartamento...

― Você não precisa de um... ― ela me assegurou. ― Não precisa...

Meus lábios buscaram os seus novamente, e Linda se atrapalhou na procura pelas chaves em sua bolsa de mão. Eu a ajudei, abrindo a porta do apartamento, e encarregando-me de trancá-la novamente.

“Belas pernas... que provavelmente fornecem um abrigo extremamente acolhedor em noites frias, mas que com o tempo... não despertam mais tanto interesse.”

A memória das palavras de James e de seu olhar furtivo em direção à mulher que, agora, estava em meus braços, fez com que eu maltratasse o lábio inferior de Linda entre meus dentes, ao passo que uma de minhas mãos segurava seu rosto firmemente contra o meu, enquanto a outra apreciava a maciez de sua pele sob o vestido, rumando o norte, encontrando a nádega firme de textura suave. Eu a apertei firmemente, puxando o corpo de Linda para mais junto do meu. Com os braços ao redor do meu pescoço, ela gemeu. Longa e deliciosamente, uma versão sôfrega e arrastada do meu nome. Minha ereção apertada contra seu baixo-ventre era insuportável, e eu não conseguia pensar em nada mais além do fato de que, eu queria Linda, naquela mesma noite. Naquele mesmo instante.

Levantando seu vestido até sua cintura, eu a deitei no sofá, cobrindo seu corpo com o meu, logo após ter me livrado da minha camisa. Ver a peça íntima que Linda usava fez com que meu membro latejasse em antecipação, e eu estava ciente de que eu não me contentaria em estar dentro dela apenas uma vez. Estar casado não seria algo tão ruim de lidar, no fim das contas.

Linda era tão receptiva, e seu corpo reagia ao meu de forma tão deliciosa, que eu não sabia quanto tempo mais eu aguentaria antes de me enterrar nela. Minhas mãos acariciavam sua pele em chamas à medida que ela se contorcia de prazer sob mim, e eu me percebi gemendo entre os beijos que distribuía por seu pescoço e colo.

― Robert... espere... ― ela murmurou debilmente no momento em que eu enganchei meu polegar no cós de sua calcinha, para retirá-la.

― O que foi? ― eu quis saber, ainda acariciando sua pele, brincando com o tecido frágil entre meus dedos. ― Você não quer?

― M-mas... é claro... que sim... ― ela soltou num suspiro, quando eu mordisquei seu pescoço.

― Então, qual é o problema?

― É só que... eu não... sou muito experiente ― sussurrou.

Sorri contra sua pele, levando meus beijos até seu ouvido, enquanto ela tremia sob mi.

― Não se preocupe com isso... ― tranquilizei-a. ― Apenas me diga do que gosta, e nós podemos colocar em prática. Vamos fazer apenas o que dá prazer a você, está bem?

Meus dedos forçaram a peça íntima de Linda para baixo, e ela inspirou com mais dificuldade.

― Acontece que... eu... eu sou... ― ela engoliu a saliva com dificuldade antes de se decidir pelas palavras. ― Eu sou virgem...

Meus movimentos cessaram, e eu encarei Linda prontamente. Ela não havia realmente dito aquilo, havia?

― Virgem? ― eu cuspi entre dentes. ― Você está dizendo que nunca transou com um cara, antes? ― ela meneou a cabeça debilmente concordando, parecendo constrangida. ― Mas... você e seu último namorado... ― eu me lembrei da forma como a encontrei dançando com Javier, semanas atrás. Mesmo ela dizendo que eles eram apenas amigos, eu sabia que o rapaz tinha algum interesse por Linda. Além do mais... aquela mulher não dançava como uma virgem! ― Vocês devem ter trocado algumas carícias íntimas... ― sugeri. ― Mesmo permanecendo virgem... você sabe o que é ter prazer através de estímulos masculinos... ― eu sorri, tentando encorajá-la, mas sua boca se abriu, numa expressão quase ultrajada.

― Mas é claro que não! Eu não sou assim! ― ultraje. Definitivamente, ultraje.

Eu cerrei os olhos com força exacerbada, travando meu maxilar em indignação. Onde eu havia me metido? Como cheguei ao ponto de praticamente aliciar uma virgem?

Em cólera, eu me apressei em pegar minha camisa esquecida no chão, e comecei a marchar para o exterior do apartamento.

― Robert! ― a voz soou como uma súplica, e eu me virei para olhar Linda uma vez mais. Uma última vez. ― Por favor... ― ela murmurou a um passo das lágrimas.

― Dê um jeito nas suas roupas... ― eu pedi olhando seu corpo há pouco excitado, quase completamente exposto.

Só então ela realmente chorou... apertando uma almofada contra o peito. Eu saí de lá frustrado, não por não ter me satisfeito com seu corpo como eu desejava, mas por me dar conta de que eu não poderia me casar com Linda.

Trazê-la para o meu mundo, envolvê-la num esquema doentio tramado por Frederick. Ela não havia nascido para isso. Para ser corrompida por mim, pelo meu desejo de vingança. As horas de paixão ardente não aplacariam a dor da desilusão depois, aplacariam? Quando eu me cansasse dela, ainda assim, ela resistiria ao fato de seguir em frente, porque eu já a teria marcado como minha.

Por que ela tinha que ter dado vazão a esses ideais românticos? Por que ela se lançou à espera do homem certo para sua primeira vez? Eu não era o homem certo! Na verdade, eu não poderia ser mais errado, e mesmo assim, ela estava excitada. Ela me desejava, e queria entregar a mim o que nenhum outro homem pôde ter dela. O que Javier, provavelmente, ficaria mais do que satisfeito em receber. O que eu ficaria mais do que satisfeito em receber.

Se ela não fosse tão receptiva, talvez eu não estivesse lutando contra a tentação de me aliviar sozinho, nesse exato momento. Mas se eu fui capaz de me privar do calor ofertado pelo corpo pulsante de Linda, eu seguramente seria capaz de me privar de um impulso tipicamente adolescente.

***

― Onde está sua sombra nesse exato momento, querido?

Olhei Britney um pouco mais atentamente pela primeira vez em muito... muito tempo.

― Certamente, fazendo algo bem mais interessante do que eu! ― sorvi um pouco mais do líquido âmbar em minhas mãos, desejoso por encerrar a conversa que nem mesmo havia começado.

― Eu quase não acreditei quando o vi chegar sem... ela ― desdenhou.

― Linda não está se sentindo muito bem.

Aquilo não era de todo mentira. Eu não me sentia muito bem, não poderia ser diferente com ela. Não quando eu saí de sua casa na velocidade da luz, e a evitei pela última semana.

― Ainda assim, fico feliz que você tenha vindo. Somos uma família que está recebendo um ente querido que acaba de voltar do exterior, e...

― Sua família ― enfatizei. ― Está recebendo um ente querido que voltou do exterior. Entenda uma coisa, Britney: você é uma Smith, e eu sou um Blackwell.

Ela me sorriu de forma lúbrica, apanhando a bebida de minha mão, e sorvendo um grande gole.

― Eu não me oporia em ter que mudar meu sobrenome, você sabe... ― sussurrou com seu rosto a centímetros do meu. ― Na verdade, eu adoraria...

Lancei em direção a Britney meu melhor sorriso sedutor, e aproximei meus lábios de seu ouvido, notando-a suspender a respiração.

― É uma pena que eu não esteja interessado... ― murmurei, afastando-me dela tão rápido quanto havia me acercado, e me retirando do jardim empertigado de pessoas.

Comparecer à reunião oferecida na mansão dos Smith foi um erro. Um erro terrível, que eu pretendia consertar indo embora dali o mais depressa possível. Eu já havia dado a eles muito mais do que mereciam. Eu não me importava se algum ente querido ― como propôs Britney ― havia retornado de viagem. Na verdade, eu não dava a mínima.

― Onde você pensa que vai? ― a voz conhecida soou logo atrás de mim, quando eu já estava próximo ao meu carro.

― Para casa... ― anunciei sem rodeios. ― Eu já compareci a esse coquetel ridículo, agora eu quero ir para casa, e me esquecer de que fiz isso...

― Tem certeza de que toda essa pressa não é por causa de uma certa moça com longos cabelos castanhos, e que não pôde acompanhá-lo, hoje?

Elizabeth mordeu o lábio em expectativa, e eu bufei, impaciente, cruzando os braços à frente do corpo.

― O que está insinuando?

― Que se Linda estivesse aqui, você provavelmente não estaria tão desesperado para ir embora! ― cantarolou. ― E... se não fosse por ela, eu iria prendê-lo aqui por, pelo menos, mais uma hora.

Estreitei os olhos em direção a Elizabeth, mal acreditando no que meus ouvidos haviam captado.

― Gostou mesmo dela?

― Há como não gostar? ― ela inquiriu graciosamente, gesticulando com os braços de forma displicente. ― Pelo amor de Deus! A garota é perfeita!

― O quê? ― instiguei, cético.

― Você ouviu bem o que eu disse! ― ralhou de forma impaciente. ― Ela é simplesmente adorável... perfeita, e eu fui uma imbecil por tê-la medido de cima abaixo na primeira vez em que a vi! Eu já deveria saber que, pra você levar uma garota em casa, deveria ser alguém realmente especial.

― Elizabeth...

― Shiii... ― ela me calou, empurrando seu dedo indicador contra meus lábios. ― Eu ainda não terminei! ― advertiu-me arqueando suas sobrancelhas loiras para mim, como reprimenda. ― Ela não é parecida com nenhuma outra garota que você possa conhecer, Rob ― Elizabeth ponderou em tom maternal. ― Não precisa ter medo ao entregar seu coração nas mãos dela, porque não há um lugar mais seguro para ele... um lugar mais certo! ― minha irmã torceu o nariz levemente, ao que parece, medindo suas palavras, que lhe pareceram boas o bastante para que ela não tentasse se retificar. Suas mãos seguraram as minhas, desmanchando a postura austera que eu havia assumido. ― Eu amo você ― disse com voz embargada. ― Quero que você seja feliz e, a forma como você olha para Linda... ― ela sorriu, indulgente. ― Como se não pudesse deixar suas mãos longe dela... ― algo cintilou nos olhos de Elizabeth, e seus olhos lacrimejaram. ― Se mamãe tivesse visto vocês dois juntos, como eu vi...

― Elizabeth... ― eu tentei interrompê-la, fazer com que ela não revirasse nossas lembranças dolorosas. Nenhum de nós dois gostava de falar sobre nada daquilo.

― Ela teria, simplesmente... ― continuou, ignorando meu chamado, fazendo com que lágrimas espessas rolassem por sua pele de porcelana. ― Teria simplesmente convocado algumas testemunhas, e arrastado vocês até o cartório mais próximo.

O sorriso nos lábios de Elizabeth emoldurava um contraste magnífico com suas lágrimas quentes. De forma instintiva, sem que eu me desse conta do que fazia, levei nossas mãos até seu rosto, enxugando-o da forma mais delicada que eu pude.

― Não vou prendê-lo mais ― murmurou. ― Linda deve estar te esperando...

Engoli em seco. Não, Elizabeth, ela não está me esperando.

Seus lábios pressionaram meu rosto, como faziam anos atrás, e meus braços circundaram o corpo esguio de Lizzy, apertando-o firmemente entre eles. Notei que, mesmo depois de tantos anos, mesmo depois de ela ter crescido bons centímetros desde a última vez em que nos abraçamos assim, sua cabeça ainda se encaixava perfeitamente no espaço entre meu ombro e a base do meu pescoço.

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