quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DA - Capítulo 14

~ 14 ~

Melinda

O barulho do meu despertador soou pontualmente, como sempre fazia, com a diferença que ele não me acordara naquela manhã de segunda-feira.

A noite fora insone, e eu podia apostar que olheiras horríveis estavam estampadas em meu rosto. Eu ainda estava tentando me convencer de que tudo havia sido apenas um sonho, mas a cada vez que eu me mexia na cama, podia sentir o cheiro de Robert, agora impregnado em mim, invadir minhas narinas, e ele não poderia ser melhor. De fato, nada do que houve na noite anterior poderia ser melhor, exceto minha pequena mostra do meu caos interior. Estou certa de que poderíamos ter passado muito bem sem essa.

Eu afundei meu rosto em meu travesseiro, tentando abafar os gritos ensurdecedores dos meus pensamentos, e entrar num denominador comum, que satisfizesse as duas versões de mim, que se encontravam numa disputa ferrenha por um pouco mais de espaço e atenção às suas próprias questões.

O lado racional dizia que, seja lá o que houve na noite anterior, era melhor ser esquecido por lá mesmo. Entretanto, o lado emocional me dizia que, depois de anos reprimindo meus sentimentos, eu deveria por fim libertá-los, e me jogar em todas essas sensações novas de cabeça, sem precedentes. E as duas ideias eram completamente absurdas, sim, eu sei!

Rolando na cama e me acomodando sobre minhas costas, eu encarei o teto do meu quarto, ciente de que precisava fazer algo para ocupar minha mente. Algo que não tivesse nada a ver com Robert, ou com a sensação prazerosa de ter seus lábios contra os meus.

***

― ... um aumento de 23% na produtividade, consegue acreditar nisso? Isso implica também num possível aumento de salário! Não é demais?

Eu fitei Christine ao meu lado, impassível. Havia processado algumas informações do que ela dissera, mas não o bastante para saber se o melhor seria esboçar alguma opinião, ou encarar tudo como uma retórica.

Voltando minha atenção ao meu computador, e digitando alguns dados no arquivo aberto à minha frente, eu me decidi pela retórica.

― Tem algo muito, mas muito estranho com você, Linda ― Christine comentou seriamente. Eu não podia ver sua expressão enquanto digitava e fitava a tela do computador ultramoderno, mas pelo tom de voz da ruiva ao meu lado, eu podia apostar que ela estava estreitando seus olhos em minha direção.

― Não dormi muito bem, isso é tudo.

― Você anda tendo problemas de insônia frequentemente?

― De certa forma ― consenti. Era muito difícil dormir e pensar em Robert ao mesmo tempo.

― Algo ou alguém especial tem sondado seus pensamentos? ― Eu congelei, e sabia que aquele ato era o mesmo que dizer ‘sim’ à pergunta de Christine, com todas as letras, e em cinco idiomas diferentes. Não que ela fosse entender em quatro deles, de qualquer forma. ― Sei que você não vai querer falar sobre isso ― emendou mediante meu silêncio. ― Mas se quer um conselho, permita-se viver, Linda.

― Você não tem ideia do que está dizendo, Christine ― adverti-a num murmúrio calmo. Ela não tinha como me aconselhar, quando não sabia quão complexa era a situação em que eu me encontrava. Não eram apenas os meus sentimentos que eu deveria relevar, mas todas as coisas que seriam atingidas ao meu redor se eu não os refreasse.

― É você quem não tem a menor ideia do que está deixando escapar, Linda ― Christine retorquiu calmamente, fazendo-me encará-la. Do que exatamente ela estava falando? ― Agarre as oportunidades que a vida está dando a você, Linda! Não é como se as coisas pudessem ficar piores do que foram até agora.

― Mas...

― Apenas encontre um equilíbrio ― interrompeu-me. ― Você é inteligente e sensata o bastante.

Christine voltou seu olhar em direção ao trabalho que realizava, e eu avaliei seu semblante sério, dando-me conta de que jamais o vira anteriormente.

***

Caminhei em passos firmes até a sala de Robert, ignorando o contraste terrível que esse ato possuía em relação ao meu verdadeiro estado emocional.

Equilíbrio, equilíbrio, equilíbrio, equilíbrio ― repetia como um mantra para mim mesma.

Se Christine estivesse mesmo certa, essa seria a melhor forma de resolver as coisas: obrigar meu lado racional e o emocional a cederem um pouco, e estabelecer assim uma convivência pacífica. Tudo seria muito mais simples desse modo.

Já ao lado da mesa de Rosalie Russel, a secretária de Robert, eu lancei um sorriso amável e nervoso em sua direção, e pedi para que fosse anunciada.

― O senhor Blackwell já saiu para o almoço ― informou-me polidamente.

― E isso faz muito tempo?

― A senhora Smith conseguiu arrastá-lo há cerca de quinze minutos, de fato, creio que eles ainda nem chegaram ao restaurante. Deseja deixar algum recado?

Senhora Smith?

Eu ralhei comigo mesma, buscando enfatizar a palavra senhora, que Rosalie havia pronunciado de forma tão cortês e profissional. Eu não deveria sentir ciúmes, porque se tratava de uma senhora, e não de uma senhorita.

― Na verdade, o que eu tenho para falar com o senhor Blackwell é de caráter pessoal... e urgente, de certa forma. Se puder me passar o endereço do restaurante, eu iria até lá para esperá-lo e...

― Sinto muito, mas não será possível. Eu não tenho autorização para dar esse tipo de informação.

― Mas eu trabalho aqui! ― protestei.

― Como eu disse, sinto muito.

E pelo brilho em seus olhos, eu estava certa de que ela realmente sentia. Suspirei, resignada, já pronta para partir.

― Tudo bem, então... pode apenas avisá-lo de que Melinda Calle esteve aqui?

― Melinda Calle? ― ela testou com seus olhos arregalados. ― Mas é claro! Como eu não pude reconhecer seu rosto? Há uma foto sua no dossiê...

― Dossiê? ― franzi as sobrancelhas, aturdida.

Rosalie balançou a cabeça de um lado para o outro algumas vezes, provavelmente para organizar seus pensamentos.

― Não importa ― apressou-se em dizer enquanto esticava um de seus braços para apanhar um bloco de papel sobre a mesa. Ela escreveu algumas informações rapidamente, e entregou-o a mim. ― Ele está nesse endereço. E boa sorte!

Fitei Rosalie atentamente, assistindo seus olhos brilharem em expectativa, enquanto eu mantinha o papel que ela acabara de me entregar firmemente preso entre meus dedos.

O que havia mudado após eu lhe dizer meu nome?

***

Eu estaquei à entrada do restaurante por um momento, sentindo meu coração pesar em meu peito.

Aquela era a senhora Smith? Observando-a em frente a Robert, era como apreciar a duas obras de arte. A mulher exalava elegância até mesmo em seus gestos mais simplórios, e esse fato se ressaltava ainda mais por seus cabelos longos e bem cuidados, num tom singular e natural de loiro. Ela e Robert trocaram algumas palavras, e assisti-a sorrir abertamente para ele. Mesmo à distância, eu pude notar que ele observava aquele sorriso numa devoção contida, e quando a bela loira estendeu sua mão, pousando-a sobre a de Robert, que descansava na mesa, eu me dei conta de que ir até ali, foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, porque era a prova irrefutável de que o que houvera na noite anterior, não tinha representado absolutamente nada para Robert.

Lutei contra as lágrimas o máximo que pude, e girei sobre meus pés, obrigando minhas pernas a se moverem bem depressa, e me tirarem dali o mais rápido possível. Eu havia sido ingênua e descuidada demais, porém tudo estava claro, agora.

Voltei à empresa, e tentei inutilmente me concentrar em meu trabalho, e não me permitir pensar em Robert.

***

― Podemos falar um instante? ― a voz grave e imponente soou de modo firme, porém gentil, e ergui meus olhos lentamente, buscando a imagem de meu interlocutor.

O que ele estava fazendo ali?

Mas é claro! Provavelmente Rosalie o avisou sobre o fato de que estive à sua procura mais cedo, e que saí para encontrá-lo no restaurante em que ele estava com... ela!

― Estou muito ocupada, senhor Blackwell ― murmurei numa voz rouca, devido ao choro insano firmemente preso em minha garganta. ― Receio que este não seja um bom momento.

― Acho esse um momento excelente ― discordou. ― Estarei esperando em minha sala, Linda. Se você não chegar até lá nos próximos 20 minutos, juro que volto aqui para buscá-la.

Robert caminhou em passos firmes até a saída, provavelmente em direção à sua sala, e eu tentei ignorar uma Christine boquiaberta ao meu lado.

― Vocês discutiram? ― ela quis saber.

― Não ― apressei-me em responder. ― E nem vamos... ― ponderei mais para mim mesma.

Eu não sabia o porquê de Robert ainda querer falar comigo, porque eu não parecia pairar sobre seus pensamentos enquanto ele e sua bela acompanhante estavam juntos, hoje mais cedo. Mas de qualquer modo, nós trocaríamos, sim, algumas palavras, e eu o asseguraria de que me empenharia para apagar qualquer vestígio do que houvera na noite anterior. Qualquer vestígio perceptível aos olhos alheios, pelo menos.

Para o meu pavor, Rosalie não estava em seu posto corriqueiro, e eu me permiti esperar por ela, antes de fazer algo estúpido, como bater na porta do escritório de Robert. Eu não tinha muito mais tempo, no caso de ele realmente planejar cumprir sua ameaça de ir me buscar no lugar que ocupo do setor contábil da R Blackwell Corporation, por isso, torcia para que Rosalie não demorasse a voltar.

Mas não me empenhei nisso o bastante, ao que parece.

― O que faz aí parada? ― Robert inquiriu à soleira da porta de sua sala, talvez cansado de esperar que eu aparecesse.

― Esperando por Rosalie... a fim de ser anunciada.

A expressão de Robert se suavizou, e ele se recostou à parede. Meu coração se contorceu em meu peito quando as cenas da noite passada dançaram por meus pensamentos.

― Você não precisava fazer isso... fui eu quem a chamei, lembra?

― Ainda assim...

― Por que nós não conversamos lá dentro? ― sugeriu. ― Vamos ― convidou num meneio de cabeça, indicando-me o interior de sua sala.

Caminhei lentamente, adentrando o cômodo bem decorado, e observando o quanto ele combinava com o homem poderoso que dirigia todo aquele império. A sala era ampla, arejada, com uma enorme janela de vidro atrás de uma cadeira de couro preta, obviamente, a mesma cadeira onde Robert se sentava para assinar seus contratos bilionários. Uma porção de papéis descansava sobre a ampla mesa de madeira polida, e eu pude imaginar Robert analisando-os minuciosamente, com uma expressão concentrada fixa em seu rosto.

Eu cessei meus passos em meio à sala, dizendo a mim mesma que deveria ser forte e não fraquejar. Eu não sabia o que Robert ainda planejava falar comigo, ao menos não depois de vê-lo tão confortável ao lado de sua bela acompanhante, horas atrás, e foi quando senti a mão de Robert em minha nuca, fazendo meu corpo se retesar sob a expectativa, a incerteza em relação a seu próximo passo. Seus lábios rumaram os meus, e foi com um esforço sobre-humano que consegui me esquivar.

― Não ― murmurei debilmente, dando-lhe as costas.

― Por que não? ― testou. Eu não podia fitar-lhe o rosto, mas sua voz demonstrava confusão.

― Porque... ― eu engoli a saliva com dificuldade, e respirei fundo, tentando soar firme. ― Porque o que houve noite passada, não voltará a se repetir.

― O quê? ― Robert inquiriu prendendo meu braço esquerdo num aperto firme, impelindo-me a olhá-lo. ― A noite passada não foi um crime, Linda, nenhum de nós dois precisa se arrepender...

― É assim que você se redime da culpa?

― Culpa? Não há culpa alguma, aqui! Somos dois adultos que queriam estar juntos, e isso não é errado. Droga! Por que você não pode simplesmente se deixar levar?...

― Essa não é uma opção muito inteligente ― argumentei. ― Eu me deixei levar na noite passada, e isso não funcionou muito bem.

― Por isso veio me procurar mais cedo? ― inquiriu irritadiço. ― Para me dispensar, foi isso?

― Eu não estou dispensando-o! Isso não...

― Rosalie lhe deu o endereço de onde eu estava... você queria me ver. O que mudou?

― A verdade é que...

― A verdade é que você quer testar os meus limites! ― exasperou-se. ― E está conseguindo, Linda! Eu disse para procurar-me quando eu significasse algo mais, quando você deixasse de me ver apenas como seu chefe! E o que você está fazendo nesse exato momento?

― Eu disse que era diferente ― lembrei-o numa voz fraca, lutando arduamente contra a vontade de chorar. ― Não posso me aventurar tanto assim, não consigo fazer isso! Entenda, por favor...

― Linda, do que está falando? ― Robert indagou com seu olhar inquiridor sobre mim. Suas sobrancelhas franzidas me instigavam a falar, mas eu não tinha certeza sobre isso.

Eu deveria mesmo lhe contar o quanto doeu vê-lo com outra? Deveria falhar-lhe que isso me machucou? Saber que num instante ele me desejava, mas no outro, eu já havia sido esquecida.

― Vi você com uma moça hoje, durante o almoço ― sussurrei-lhe por fim. Se eu queria apontar que não daríamos certo utilizando benefícios no envolvimento que tínhamos, precisava colocá-lo a par dos motivos que iam contra essa ideia. ― Isso não era algo que eu esperava, Robert, mesmo estando ciente de que não temos vínculo algum! Quer dizer... eu não consigo lidar com isso, sei que pode não acreditar nisso, ao menos não depois de eu ter agido de forma tão imprudente...

― Está dizendo que está assim, esse caos de ideias, porque me viu com Elizabeth?

A menção do nome me fez tremer. Até nisso ela conseguia ser muito melhor do que eu. A imagem da mulher alta, esguia e requintada invadiu meus pensamentos, e era como se eu pudesse ver toda a cena uma vez mais. Era horrível e nocivo.

― Para mim ela é a senhora Smith ― retorqui. ― E sim, me refiro a ela. Quando Rosalie me disse que havia saído para um almoço com a senhora Smith, eu não pensei que... bom... meu Deus, aquela mulher tem praticamente a minha idade! ― desabei. ― Para que ela seja tida como uma senhora, precisa ser casada! ― as palavras ecoaram em meus pensamentos. Não! Ele não poderia... quer dizer... eles dois, juntos... ela era mesmo casada?

― Sim, ela é casada.

Eu não percebi que minhas ponderações estavam saindo em voz alta até que Robert respondeu ao meu questionamento. Olhei-o incrédula, lembrando-me da cena que presenciei há pouco! Eles não poderiam jogar tão sujo!

― Meu Deus... ― murmurei em horror. ― Você... estava com ela.

― Foi apenas um almoço, Linda. Não é como se o marido dela não soubesse! ― ele riu incrédulo, dando de ombros.

― M-mas... ele não sabe que você está apaixonado por ela, sabe?

― O quê? ― Robert testou, com seu tom de voz um pouco mais alto, como se o que eu acabara de dizer soasse terrivelmente impossível aos seus ouvidos.

― Não seja cínico! Era notável que você a olhava de uma forma diferente, e não minta pra mim, por favor!

A expressão estampada no rosto de Robert variou diversas vezes, indo de aturdida a compreensiva, para logo depois esboçar puro divertimento. Seus lábios moldaram um sorriso perturbadoramente lindo, acelerando meus batimentos e deixando-me completamente vulnerável.

― Linda... ― ele falou calmamente. ― Você está com ciúmes!

Não era uma pergunta... nem mesmo retórica. Era a afirmativa mais acertada que ele poderia ter dito, e isso levou uma boa dose de sangue às minhas bochechas.

― Ouça, Robert, a verdade é que eu...

― Não deveria sentir ciúmes da minha irmã! ― interrompeu-me numa piscadela, e eu poderia jurar que meus lábios formaram um perfeito ‘O’, quando meu queixo pendeu.

― I-irmã? M-mas Rosalie... quer dizer... o sobrenome dela... o seu sobrenome... isso não é possível...

― Eu não mentiria sobre algo assim, Linda. Seria muito fácil descobrir a verdade, não acha? ― minha boca se abriu e fechou algumas vezes, sem que um único som saísse por meus lábios. Assisti impassível enquanto Robert caminhava até sua mesa, e trazia um porta-retratos de lá, depositando-o em minhas mãos logo em seguida. Na foto estava a mesma mulher que eu havia visto com Robert no restaurante, mais cedo, ao lado de um homem com porte atlético e sorriso amplo. No colo da loira havia uma linda garotinha, de cabelos ainda mais claros que os da mãe. ― Esses são meu cunhado, minha irmã, e minha sobrinha. Michael, Elizabeth e Sofie Smith, respectivamente.

― Meu Deus... ― eu murmurei apertando meus olhos, dando-me conta do quão estúpida acabara de ser.

― Não menti para você ― Robert sussurrou dando um passo em minha direção. Seus lábios alcançaram o lóbulo da minha orelha, arrancando-me um suspiro de satisfação, enquanto as sensações prazerosas reverberavam em meu corpo. ― Eu não a quero apenas por uma noite, Linda, e você deveria acreditar em mim.

― Acontece que...

Nem mesmo tive tempo de finalizar minha linha de raciocínio. Os lábios de Robert se apossaram dos meus, erradicando qualquer pensamento lógico que eu pudesse elaborar. Seus braços ao meu redor me mantiveram junto a ele, enquanto nossas línguas travavam uma disputa por território.

― Eu tenho um convite para fazer... ― ele murmurou quando libertou meus lábios, ainda mantendo-os perto dos seus.

― Do que se trata?

― Tenho um compromisso no sábado, e quero que você me acompanhe.

― Que tipo de compromisso?

Robert sorriu contra meus lábios, depositando neles um beijo rápido.

― Um compromisso familiar.

***

― Acho que ficou ácido demais ― Javier reclamou ao meu lado, referindo-se ao molho de tomate que eu estava terminando de preparar para o nosso almoço.

Era sábado, pouco mais de meio-dia, e Javier e eu estávamos incumbidos, pela senhora González, a cuidar do almoço.

― Me surpreenderia se você tivesse dito que ficou bom ― ironizei.

Javier segurou uma risada, e pendeu sua cabeça para o lado direito, analisando-me com mais afinco.

― Você parece diferente ― observou.

― Diferente como?

― Não sei... acho que um pouco mais viva! ― ele deu de ombros. ― É como se seus olhos tivessem ganhado um brilho diferente. Aconteceu algo que eu deva saber?

Sim, aconteceu algo. Não, você não deve saber de nada. Ao menos não por enquanto...

― Isso é você quem tem de me dizer ― desconversei. ― Como foi na Wood Business? ― inquiri genuinamente interessada.

― Adivinhe: consegui o emprego! Agora as preocupações com as contas da casa finalmente acabaram, e eu ainda consegui conciliar umas três aulas de dança por semana.

A empolgação no rosto de Javier era inegável, e eu me senti feliz por ter podido ajudá-lo, mesmo de uma forma tão débil e indireta.

― Que bom, Javier! Eu sempre soube que você só precisava de uma pequena oportunidade para conseguir uma ascensão.

― Serei eternamente grato a você e ao seu chefe, ele foi muito gentil me oferecendo ajuda.

Eu anuí uma vez, num meneio de cabeça.

Escutar alguém se referir a Robert como sendo meu chefe, depois de tudo o que aconteceu na última semana, era no mínimo estranho. Especialmente quando eu me dava conta de que as pessoas não faziam a mais remota ideia “do que aconteceu na última semana”.

Durante todo o tempo em que passei na casa dos González, eu tentei agir naturalmente, e deixar os pensamentos sobre Robert de lado. Não foi algo tão fácil de se fazer, mas acho que me saí razoavelmente bem. Ao menos bem o bastante, de acordo com o que as circunstâncias me permitiam, o que confesso, não era grande coisa.

Após o almoço eu ajudei Javier com a louça, enquanto conversávamos sobre amenidades. Alguns minutos mais tarde, consegui escapar para o meu apartamento, a fim de me arrumar para o aniversário de Sofie Smith, a sobrinha de Robert.

Ainda conseguia me lembrar de como foi impossível não ficar aturdida quando Robert me falou do que se tratava o compromisso, e eu ainda não conseguia compreender como fui capaz de concordar com esse absurdo. Talvez isso se deva ao fato de meu lado racional ficar completamente inebriado quando Robert está por perto. De outro modo, eu jamais teria dito ‘sim’ a esse convite, em específico, porque era o mesmo que dizer ‘sim’ a um convite para conhecer a família de Robert, e eu não tinha a mais remota ideia de como agir na frente dela.

Respirei fundo, enquanto procurava algo para vestir em meu guarda-roupas, chutando-me internamente por não ter comprado algo novo para a ocasião. Ao passo em que o tempo corria, o nervosismo aumentava consideravelmente, e eu já estava à beira do histerismo. Como eu fui me colocar nessa situação?

Bem, eu certamente me lembrava de alguns aspectos que me trouxeram até aqui, como a boca persuasiva de Robert explorando a minha, enquanto suas mãos acariciavam minha nuca. A simples lembrança já era prazerosa o bastante para me deixar entorpecida, mas eu realmente queria algo além disso. Nada poderia se comparar a sensação de ter o corpo de Robert junto ao meu, e eu sentia falta de tê-lo por perto.

A última vez que estivemos juntos foi há quatro dias, horas antes de ele embarcar para a Alemanha, comprometendo-se que chegaria a tempo para o aniversário de Sofie. Esses dias tendo-o longe de mim já eram uma tortura, mesmo que não tivéssemos um relacionamento sólido. Eu nem mesmo sabia se tínhamos um relacionamento, ainda com a certeza de que Robert não queria apenas se divertir comigo por uma noite. A verdade é que eu havia me decidido por deixar-me levar, mas apenas até certo ponto. Não esperava que Robert me quisesse ao seu lado por muito tempo, mas eu iria aproveitar durante o tempo em que ele me quisesse. No fim de tudo, eu ainda teria as lembranças, e isso seria melhor do que nada.

Bom, isso era o que eu esperava que fosse.

***

A campainha soou às 15h47min, o que me fez pensar que não poderia ser Robert. Seu voo já deveria ter chegado, mas certamente ele passaria em casa antes de vir me buscar. Eu já estava pronta, de qualquer forma, já que desisti de fazer uma maquiagem elaborada, simplesmente por não ter paciência ou talento algum para nada disso.

Alisei meu vestido azul-turquesa uma vez mais, e me dirigi até a porta, apenas para constatar que eu estava errada em minhas suposições.

Encontrei Robert parado à soleira, em sua mais perfeita forma. Ele vestia jeans escuros, em contraste com uma camisa de mangas três quartos azul-clara, que realçava os contornos sob ela, e brincava com o tom da cor dos olhos de Robert. Observei-o atentamente, sentindo o fôlego se esvair, em especial quando seu olhar me perscrutou minuciosamente, demorando-se em minhas pernas nuas, e subindo em direção ao meu.

― Ainda mais linda do que eu me lembrava ― ele murmurou apreciativamente, adentrado meu pequeno apartamento, que agora parecia completo com a presença de Robert em seu interior.

― Você chegou cedo ― apontei, sentindo a garganta seca, enquanto Robert cerrava a porta atrás de si. ― Como foi de viagem?

― Vamos dizer que a melhor parte, é que estou de volta ― sussurrou-me.

As mãos de Robert foram para minha cintura, puxando-me para ele, e antes que eu me desse conta de qualquer outra coisa, sua língua quente já escorregava entre meus lábios, reivindicando-os. Minhas mãos foram para seus cabelos, enredando-se neles, provando-lhes a maciez, enquanto Robert explorava minha pele com sua boca. As mãos grandes percorreram meu corpo, acariciando meus quadris, minhas coxas, e qualquer outra parte que pudessem alcançar. As minhas próprias seguraram seus ombros, buscando trazer algum equilíbrio para o meu corpo, que parecia entrar em combustão cada vez que Robert e eu estávamos assim, tão próximos.

Quando sua língua deslizou pelo meu queixo, passando pela mandíbula e encontrando o ponto sensível atrás da minha orelha, não pude mais segurar o gemido arrastado que vinha reprimindo desde que Robert colocou suas mãos sobre mim. Ele explorou minha pela em chamas com mais afinco, tomando meus lábios novamente, logo em seguida.

― Acho que alguém aqui sentiu minha falta ― provocou numa voz rouca, endireitando seu tronco antes inclinado em minha direção. Instintivamente, eu me apertei mais a ele, capturando seu lábio inferior entre meus dentes, para poder sugá-lo e beijá-lo. Robert riu contra meus lábios, e o som mesclou-se a um gemido rouco, saído do fundo de sua garganta. Levei meus beijos até seu pescoço, sentindo que o cheiro irresistível que ele exalava, estava muito mais concentrado, ali. Inspirei profundamente, sentindo a fragrância de Robert invadir minhas narinas e me entorpecer, deixando-me completamente lânguida entre seus braços. ― Eu adoraria ficar aqui com você, acredite, mas Elizabeth iria me infernizar para o resto da vida se faltássemos ao aniversário de Sofie ― ele murmurou ao pé do meu ouvido, provocando arrepios de prazer por todo meu corpo. ― E além do mais, seria um pecado não deixar que ninguém mais a visse vestida assim.

A contragosto, afastei-me de Robert minimamente, o bastante apenas para fitar-lhe os olhos.

― Claro... como negar algo assim às pessoas? ― zombei.

Robert deslizou seu dedo indicador por meu rosto, brincando com ele sobre meus lábios, e depositando ali um beijo demorado.

― Vamos logo antes que eu me decida por convencê-la a ficarmos aqui... ― disse-me num sorriso.

***

― Sabe que não precisava ter trazido nada, Linda ― Robert comentou pela segunda vez, enquanto abria a porta do carro para que eu descesse e encarava o embrulho em minhas mãos.

A viagem até a casa dos Smith durou cerca de quarenta minutos, e durante esse tempo, eu tentei convencer a mim mesma de que não deveria me apavorar. Era apenas uma comemoração, nada demais. Não havia por que me desesperar... certo?

― Chegar de mãos vazias nunca foi uma opção ― murmurei para ele.

Robert apoiou uma de suas mãos em minhas costas, encorajando-me a caminhar e adentrar a bela mansão à nossa frente, mas eu permaneci estática, observando os degraus que me levariam ao interior da residência dos Smith.

― Algum problema? ― Robert inquiriu ao meu lado.

― E se eles não gostarem de mim? ― questionei-o, temerosa. Eu não sabia muito sobre a família de Robert. Na verdade, eu não sabia nada, e isso era péssimo.

― Não se preocupe com isso... vai dar tudo certo ― ele falou movimentando sua mão de cima a baixo em minhas costas, provavelmente tentando reconfortar-me. ― Agora venha comigo, e aja naturalmente.

Concordei, receosa, forçando minhas pernas a trabalharem. Robert tocou a campainha segundos mais tarde, e não demorou muito para que uma mulher esguia, na casa dos 30, abrisse a porta. Eu poderia jurar que sua expressão se tornou atônita ao ver Robert, mas eu procurei não me ater a isso.

― Senhor Blackwell ― ela pronunciou em reconhecimento, num sotaque sulista acentuado. Era uma clara concessão para que pudéssemos entrar, o que fizemos sem mais delongas.

Meus olhos varreram o lugar, e mesmo querendo apreciar a decoração ao meu redor, assim que avistei Elizabeth, vestida num tubinho branco que acentuava sua beleza descomunal, foi impossível desviar minha atenção dela. Ao menos até o momento em que vislumbrei uma garotinha correndo pela sala e atirando-se nos braços de Robert.

― Tio Robert! O senhor veio mesmo! ― ela gritou alegremente com sua voz de soprano, enquanto Robert a pegava no colo. Os longos cabelos loiros da menina estavam soltos, e fizeram uma cortina sobre seu rosto no momento em que seus bracinhos pequenos contornaram o pescoço de Robert, e ela apoiou a cabeça no ombro do tio.

― Mas é claro que sim! Eu não perderia o aniversário da minha princesinha por nada desse mundo.

Robert sorriu para a garotinha em seus braços, quando essa ergueu seus olhos azuis para encarar a imensidão esverdeada que eram os olhos do tio. Ela também sorriu, abraçando-o novamente, e recebendo um beijo demorado em seus cabelos.

― O seu presente chegou hoje mais cedo, Robert, não precisava ter se dado ao trabalho... ― uma voz grave ecoou pelo ambiente. Meus olhos migraram em direção ao local de onde veio a tal voz, e eu vi um homem alto, de cabelos acobreados e olhos no mesmo tom dos da menina no colo de Robert. Rapidamente eu me lembrei de que o vira na fotografia que Robert havia me mostrado. Michael, o marido de Elizabeth.

― Não foi trabalho algum ― Robert objetou. ― Eu gosto de mimar a minha sobrinha preferida...

Eu pude ouvir quando a irmã de Robert bufou, ironicamente. Ao que parece, aquele era algum tipo de piada interna.

― Na verdade eu pensei que um piano de cauda branco como presente de aniversário, fosse um prelúdio à sua ligação, dizendo que não poderia comparecer ― Elizabeth falou com seus olhos fixos no rosto do irmão.

Um piano de cauda? Quem dá um piano de cauda como presente de aniversário a alguém?

― Não seja dramática, Elizabeth ― Robert debochou. ― Estou aqui, não estou? E ao que parece, cheguei cedo demais...

― Sim... você está aqui ― ela concordou. Seus olhos deslizaram até mim, antes de ela continuar. ― E trouxe companhia, como disse que faria. Desculpe o mau jeito, senhorita... ― suas sobrancelhas bem feitas se estreitaram, formando um vinco na pele de porcelana da mulher à minha frente.

― Melinda... ― apressei-me em dizer. Eu pensei em dizer-lhe meu sobrenome, mas eu não poderia fazê-lo sem me sentir pouco confortável. Ao invés disso, dei alguns passos em direção à Elizabeth, estendendo-lhe a mão para um cumprimento formal, tendo meu gesto espelhado por ela. ― É um prazer conhecê-la, senhora Smith. Sua casa é encantadora, e obrigada por me receber.

― Eu não poderia negar um pedido do meu irmão ― ela disse de forma polida, soltando minha mão. ― E me chame apenas de Elizabeth, por favor. Temos quase a mesma idade, ao que parece.

Aquilo não me pareceu muito receptivo, mas eu lutei bravamente a fim de não deixar transparecer meu desconforto.

― E eu sou Michael ― o homem ao lado de Elizabeth apresentou-se. ― Sou o marido de Elizabeth. E é um prazer conhecê-la, Melinda. Robert não costuma ser visto acompanhado ― ele observou numa piscadela.

Eu sorri nervosamente, ciente de que ele havia sido mais indulgente do que a esposa. De fato, Elizabeth continuava a me analisar. Seu olhar esquadrinhava-me sem se dar ao trabalho de tentar esconder, e se eu estivesse inclinada a seguir meus instintos, já teria girado sobre meus calcanhares e ido embora há algum tempo.

Percebi uma pequena movimentação à minha esquerda, e vi quando Robert depositou a sobrinha no chão. Ela me olhou de forma curiosa, mas não do modo que me fazia sentir desconfortável, e sim do modo que me fazia sentir interessante. Sorri para ela de forma inconsciente, abaixando-me à sua frente, para que nossos olhos ficassem da mesma altura.

― Você deve ser a Sofie, certo? ― inquiri já conhecedora da resposta. Ela meneou a cabeça positivamente uma única vez, com seus olhos perscrutadores ainda sobre mim. ― Então acho que isso é para você ― eu lhe disse estendendo o embrulho firmemente seguro em minha mão esquerda.

Sofie pegou o embrulho em suas mãos pequenas, sem desviar o olhar do meu.

― Obrigada... mas não precisava se incomodar.

― Não foi nada ― eu murmurei de volta para ela, sem conseguir conter minha mão que, involuntariamente, colocou uma mecha do cabelo loiro de Sofie atrás de sua orelha, permitindo-me ver um delicado brinco de pérola, pequeno o bastante para estar totalmente colado ao lóbulo de sua orelha.

― Eu tenho outros presentes no meu quarto... gostaria de vê-los?

Fiquei perplexa e atordoada. Como uma criança tão pequena podia se mostrar tão formal quanto Sofie acabara de se mostrar? E com uma única frase! O sorriso que ela me lançou em seguida não poderia ser mais brilhante, contudo, eu não poderia simplesmente aceitar seu convite. O que Elizabeth pensaria? Eu não queria invadir sua privacidade mais do que já estava fazendo.

Meu olhar buscou o de Robert, e ele parecia tão perdido quanto eu. Seus olhos fitaram Sofie atentamente, e depois pousaram em mim. Com um aceno de cabeça, ele me encorajou a aceitar a oferta de Sofie, mas eu ainda não tinha certeza se deveria ou não, afinal...

― Talvez Melinda prefira fazer alguma outra coisa, Sofie ― Elizabeth interveio num tom conciliador. ― Talvez tomar um drink enquanto os demais convidados não chegam.

― Eu gostaria de acompanhá-la ― confessei por fim. ― Se não houver nenhum problema, é claro... ― emendei sob o olhar atento de Elizabeth.

― Problema algum... ― murmurou incerta.

Eu me alinhei sobre meus pés, endireitando minha coluna para logo depois sentir a mão pequena e macia de Sofie segurar a minha firmemente, enquanto ela me guiava escada à cima.

***

O quarto de Sofie era o quarto dos sonhos de qualquer garotinha de sua idade. Decorado em tons de rosa e branco, com pouquíssimas coisas que fugiam desse padrão. Era amplo, com uma cama de dossel posicionada junto a uma parede com textura rosa claro. No centro do cômodo havia um tapete redondo, com diversos embrulhos aparentemente intocados. Nas prateleiras espalhadas pelas paredes, havia uma porção de ursos de pelúcia, bonecas de porcelana, e algumas Barbies, também.

Sofie e eu nos sentamos sobre o tapete felpudo, e suas mãos hábeis apressaram-se em rasgar o embrulho que eu lhe havia entregado. Enquanto ela observava seu presente, eu quase me senti estúpida por lhe ter regalado algo tão simplório. Mas como eu poderia imaginar que seu Q.I era tão superior ao das outras crianças de sua idade? Quer dizer, Robert havia lhe dado um piano, e ele não faria isso a esmo. Sofie provavelmente tinha aulas, certo?

A pequena estudou o conteúdo em suas mãos, e então seus olhos reluziram em minha direção, enquanto um sorriso moldava seus lábios finos e róseos.

― Quer me ajudar a montá-lo? ― inquiriu brilhantemente.

― Claro! ― anuí um pouco mais aliviada. Ela não fingiria interesse para me agradar, eu estava certa disso.

Sofie depositou as cento e cinquenta peças do quebra-cabeça no chão, e abriu o modelo a ser seguido logo ao lado, estampando um castelo enorme e cinco princesas Disney.

Nós trocamos algumas palavras enquanto agrupávamos as peças, montando o quebra-cabeça, e Sofie mostrou-se ainda mais hábil e perspicaz do que eu poderia supor.

― Eu conheci uma Melinda no parque, dias atrás ― ela comentou casualmente.

― É mesmo?

― Sim... e ela me disse que eu poderia chamá-la de Linda ― Sofie franziu as sobrancelhas e o cenho, dando-lhe uma expressão pensativa. ― Eu posso chamá-la de Linda, também? ― seus olhos astutos me avaliaram por um instante, e foi impossível não sorrir diante tal ato.

― É claro que sim, Sofie...

― Mas se está aqui com o meu tio, eu não deveria chamá-la de tia?

Minhas sobrancelhas se ergueram instantaneamente, externando minha surpresa.

― Você costuma chamar de tia a todas as moças que o seu tio traz até aqui? ― inquiri incerta, pois eu realmente achava que Sofie estava sendo simpática comigo porque nos dávamos bem, de algum modo.

― Ele nunca trouxe ninguém antes... ― ela ponderou dando de ombros, e eu senti meu coração bater desenfreadamente. As maçãs do meu rosto esquentaram, e eu senti minhas mãos suarem.

― Você é muito pequena ― considerei. ― Talvez não se lembre...

― Talvez ― aquiesceu. ― Mas ainda assim, eu gostaria de chamá-la de tia... posso?

― Eu adoraria, Sofie... ― admiti.

Seu sorriso fez-se presente uma vez mais, e eu retribuí o gesto, sentindo-me à vontade com aquela garotinha tão madura para sua idade. Enquanto fôssemos apenas ela e eu, tudo estaria sob controle. Meu problema seria lidar com Elizabeth e sua animosidade por mim.

Eu suspirei em resignação, tentando tirar o máximo de proveito que a companhia de Sofie poderia me proporcionar, até que foi impossível protelar o momento de descer até a sala, e nos juntar aos convidados que chegaram há pouco. Foi enquanto eu descia as escadas, com Sofie segurando uma de minhas mãos em seu aperto firme, que eu me dei conta de que o cômodo antes praticamente vazio, agora estava repleto de pessoas. Provavelmente umas quinze, reunidas em pequenos grupos.

Encontrar Robert não foi difícil, especialmente quando uma loura escultural estava postada ao seu lado, conservando uma de suas mãos no ombro de Robert, enquanto mantinha uma taça de champanhe na outra. Robert tinha um copo com líquido de cor âmbar em sua mão direita, e sorria educadamente para uma senhora na casa dos cinquenta anos, logo à sua frente. Mas o que me deixava desconfortável, era a forma como a loira ao seu lado se inclinava para mais perto dele, a cada vez que tinha algo para lhe dizer, e também a forma como ela parecia provocante em cada gesto.

Nem mesmo me dei conta de que Sofie já não estava mais ao meu lado, e só me atentei a esse fato quando um senhor de meia-idade foi em direção a Robert e suas acompanhantes, com Sofie em seus braços. Robert fez uma pequena busca ao seu redor com o olhar, e o pousou sobre mim, esboçando um sorriso. Eu me obriguei a caminhar, e senti olhares demais sobre mim, contudo não me atrevi a buscar pela origem deles. Robert saiu do lado da bela loira, e caminhou até mim, passando sua bebida para a outra mão e estendendo-me a que agora, se encontrava livre. Peguei-a de bom grado, segundos antes de discernir uma voz demasiadamente aguda soar, aparentemente pouco satisfeita.

― E quem é essa? ― a loira exuberante exigiu saber, alternando seu olhar fulminante entre mim e Robert.

― Ela é a tia Linda ― Sofie contestou mais que depressa.

A loira riu com escárnio, fazendo-me estudá-la com mais afinco. Não era tão bonita quanto Elizabeth, mas tinha um rosto aristocrático, tronco delgado e pernas esguias que se ressaltavam graças ao vestido verde que ela utilizava.

― Eu sou a única tia que você tem, Sofie ― objetou acidamente.

Engoli em seco, sentindo o constrangimento se alastrando em mim.

― Acho que sua exclusividade chegou ao fim, Britney ― Robert interveio, num sorriso debochado. ― Mas deixem-me fazer as honras... ― ele passou seu braço por minha cintura antes de continuar a falar. ― Esta é Melinda Calle... ― emendou divertidamente. ― Minha namorada.

O tempo havia parado, eu estava certa de que sim.

Meus olhos se arregalaram em espanto, e eu teria corado de constrangimento se todo o meu sangue não parecesse ter se esvaído do meu corpo. Eu pude ouvir murmúrios de sobressalto ao meu redor, mas nada parecia mais importante do que a pressão dos lábios de Robert contra os meus, e o fato de eu poder sentir o gosto de sua bebida através deles.

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