quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

CD2 Cap 26


Capítulo 26 – Sobre Decidir Quando Sair do Paraíso

Oh, think twice
Cuz it's another day for you and me in paradise
Oh, think twice
Cuz it's another day for you
You and me in Paradise

Think about it
(Another Day In Paradise – Phill Collins)

Jeb

— Como você está? — perguntei, assim que voltei para o hospital de Doc e encontrei Logan sentado na mesma cadeira onde estive antes.
Era uma pergunta idiota, porque eu sabia. Ele estava confuso e com raiva. De um jeito que fazia com que não conseguisse se proteger atrás da indiferença, como era seu costume quando se sentia ameaçado. Mesmo assim, eu tinha que dizer alguma coisa, mas ele não me respondeu.
Estava sentado com as costas eretas, olhando para um ponto à frente de si, os punhos cerrados sobre as pernas. Contornei a mesa para me sentar no lugar oposto e poder ver seu rosto enquanto falássemos. Os olhos pareciam vazios quando os fixou em mim.
— Há quanto tempo? — perguntou, e sua voz estava tão diferente que mal pude reconhecer. Quase deu para ouvir seu maxilar trincando. A decepção e a fúria mal contida estavam evidentes em seu rosto.
Tentei me manter impassível, mostrar que não tinha vergonha de ter escondido minhas suspeitas. Afinal, eu o estava protegendo, pelo amor de Deus! Era muito mais complicado do que sinceridade e confiança entre amigos. Porque eu simplesmente não podia virar o mundo dele de cabeça para baixo por causa de uma pulga atrás da minha orelha, podia?
Agora, por exemplo, eu seria muito melhor amigo se inventasse uma história para despistar, negasse o que ele ouviu e deixasse tudo voltar a ser como horas atrás. Com certeza seria muito mais fácil.
Mais fácil dizer do que fazer.
— Desde o dia em que fiquei doente, quando você cantou aquela música para Lindsay — confessei, porque eu seria um bom amigo, mas um péssimo pai se optasse pelo caminho sem complicações. E não importava se tudo isso fosse loucura da minha cabeça ou que o garoto diante de mim fosse uma Alma. Eu me sentia pai dele. Não podia mais me comportar como se as coisas fossem simples.
Tinha chegado a hora. Logan e eu precisaríamos lidar com isso.
— Era uma música antiga que meu pai cantava — continuei. —  Nunca a ouvi em lugar algum, por isso não sei de onde ele tirou. Só me lembrava dela e costumava cantar para Norah, tocando violão quando acampávamos. Maggie é a única outra pessoa que se lembra da letra, mas eu sei que ela nunca a ensinou a ninguém.
Logan balançou a cabeça para mim, indignado, finalmente me vendo como quase todo mundo me via. Como um maluco.
— Isso não prova nada! É só uma música!
Ele se levantou com violência, a cadeira arrastando-se com um barulho alto e quase tombando a seus pés. Parecia um tigre enjaulado, andando de um lado para o outro, afundando o rosto nas duas mãos exatamente como Norah fazia quando estava nervosa.
Quanto a mim, sentia como se a barragem de uma represa tivesse se partido. Todas as comparações que eu tinha evitado fazer me vinham à mente agora, todos os traços em comum que eu tinha me convencido de que eram apenas coincidências absurdas me pareciam mais evidentes do que nunca.
Logan chutou o suporte de um dos catres num gesto de pura frustração. O objeto se chocou contra a parede com um estrondo e ficou ali, torto e fora de lugar, como uma prova incontestável da inutilidade da raiva que ele sentia.
— Às vezes, quando vocês jogam futebol, Melanie abre um sorriso traiçoeiro quando está planejando uma jogada — falei, imerso em minhas próprias razões. Logan me olhou com indecisão, provavelmente analisando se eu estava delirando ou se ia chegar a algum lugar com aquilo. Mas de qualquer jeito, ele esperou. E eu continuei. — Eu sempre sei o que ela vai fazer depois disso, para onde vai direcionar o olhar, para que lado jogará o corpo... São os movimentos do pai dela. Trevor sempre sorria para mim daquela maneira. Você sabe, eu era o irmão mais velho dele. Ninguém conhece nossos truques como nossos irmãos. — Sorri com a lembrança de nossa antiga cumplicidade, algo que agora eu tinha com meu filho. — No dia em que te conheci, quando saímos naquela viagem apressada para conseguir medicamentos para Estrela, você sorriu para mim do mesmo jeito antes de sair do carro e entrar no hospital. Achei que estava vendo um fantasma...
— Chega — Logan tentou me interromper, mas eu continuei como se não o tivesse escutado.
— Mas os olhos eram diferentes. Trevor tinha olhos escuros como nosso pai. Os seus são idênticos aos de minha mãe.
— Pare com isso...
— E a sua voz... No dia em que você cantou pra Lindy, não foi apenas a canção que me lembrou do meu pai. Então eu percebi, você fala como ele também. A mesma entonação áspera, a mesma cadência...
— Pelo amor de Deus, Jeb — Logan implorou, sentando-se à minha frente outra vez e apoiando a testa nas mãos, os dedos enterrados nos cabelos. — Pare com isso. Não prova nada. Não prova porcaria nenhuma, entendeu? Você tem que parar com essa loucura! Que diabos você está fazendo? Mas que droga!
Minha resposta foi um riso seco. Eu sabia como ele estava se sentindo. Sabia que estava sobrecarregado. Mas eu também estava. Estava cansado demais de fazer aquilo sozinho por tanto tempo.
         — É improvável até para uma porcaria de novela, mas não me sai da cabeça mesmo assim, porque vamos falar em improbabilidades, Logan. Você me disse uma vez que não se lembrava do nome da mãe dele, porque era uma daquelas informações desnecessárias que você não se preocupou em reter, mas o sobrenome que ele usava é o mesmo dela. Você contou que a mãe dele foi presa por tráfico e depois morreu na prisão, e as drogas foram o motivo principal para Norah e eu termos terminado, lembra? Depois disso ela sumiu e nunca mais tive notícias dela. Norah desapareceu da minha vida por completo. Pensando agora, podia ser porque ela estivesse presa ou morta. Então eu sei que Smith é um sobrenome comum e que essa podia ser a história de quase todo órfão, mas estive esperando pela derradeira coincidência para ter certeza. Porque por mais que você me diga que as lembranças não existem, porque ele tinha só uns 3 ou 4 anos quando foi separado da mãe e você deixou o pouco que ele devia guardar enterrado aí no fundo, ao menos o nome dela ele tinha que saber. E é improvável mergulhar nas lembranças de um homem e não trazer algo assim à tona. Ao menos quando você sabe o que procurar.
         — Para ter certeza e nos livrar do fardo. Era por isso que você queria que eu me focasse na infância dele.
         E ali estava. A porção de Logan que mais se parecia comigo. Ardiloso, orgulhoso e cabeça dura. Apenas esperando para jogar na minha cara as únicas palavras que pegou para si do que ouviu. Seria muito esperar que o garoto tivesse herdado de mim alguma coisa mais fácil de lidar, como o gosto por jogos de carta, a cor dos olhos ou até o jeito que os outros chamavam de excêntrico. Mas ele tinha logo era que ser a criatura mais teimosa da face da Terra!
         — Você pode me acusar de tudo, menos de não me importar com você, garoto. Você é meu amigo. Você é o Logan que conheço. E isso significa alguma coisa. Ou será que você não se perguntou por que eu não disse nada dessas coisas antes? Se eu tivesse te explicado o que estava acontecendo, você poderia ter se lembrado de algo ou ido atrás de algum documento antigo que desfizesse ou confirmasse minhas suspeitas. Mas eu guardei tudo para mim, porque não tenho nada. Não podia correr o risco de estragar o que você tem.
         Tive medo de ser claro. Medo de que ele não tivesse pensado naquilo e que, ao mencionar, eu estivesse sugerindo. Mas o que eu queria dizer era que não podia me arriscar que ele decidisse ser retirado do próprio corpo e, no fim, tudo não passasse de loucura minha e qualquer consequência ruim fosse por nada.
Afinal, e se o humano acordasse? E se ele fosse alguém detestável que tentasse roubar a vida do Logan que eu conhecia e atrapalhar tudo o que este tentava construir entre Almas e humanos? E se ele não fosse mesmo meu filho?
E se fosse?
— Você não entende, Logan. Quando disse isso pra Candy... — Esfreguei o rosto com as mãos, frustrado por não conseguir explicar, quase sentindo raiva dele por ter ouvido o que não devia. Mas a verdade era que eu é que não deveria ter dito aquilo. Aquela maldita frase devia assombrar só a mim. — Você precisa saber que não tinha a ver com você! Eu me orgulho de você desde o dia em que nos conhecemos e isso é tudo menos um fardo. Essa história toda... Não é sobre o que eu penso de você, entende? Porque, sim, você é como se fosse meu filho e nada do que descobrirmos poderia mudar isso. Mas uma coisa como essa... Saber que tive um filho biológico que nunca conheci... Não é uma coisa fácil de lidar. Como é que eu posso viver com o conhecimento de que meu filho teve uma vida miserável porque eu não estive por perto pra protegê-lo?
A expressão de desafio no rosto de Logan se desfez enquanto eu falava. Em seu lugar, surgiram outras coisas, muitas que eu não saberia identificar. Mas sobre uma pelo menos não havia engano.
Tristeza.
Aquele garoto estava tomado por uma tristeza que fazia meu fígado se retorcer como se lidasse com a pior bebedeira de uma vida. Eu só não sabia por qual de nós ele se sentia pior.
— Mas você não teve culpa — ele disse, parecendo quase surpreso que eu mesmo não estivesse me justificando. — Você não sabia de nada. Se for mesmo verdade, a mãe dele escondeu tudo de você.
Tirei um momento para apreciar o fato de que, nem por um segundo, mesmo enquanto estava com raiva, Logan achou que eu tivesse abandonado meu filho de propósito. Mas a questão era que, no fim, que diferença fazia?
— Isso não muda o resultado. Eu não estava lá para ele. E nem tenho o consolo de saber que alguém esteve em meu lugar.
De tudo, isso era o pior. Diante de como as coisas se desenrolaram, eu me contentaria se algum dos amantes de Norah tivesse proporcionado ao garoto alguma noção do que era um pai, mas nem mesmo essa esmola o destino nos deu.
— Existe uma forma de sabermos — Logan decretou sério, determinado, afastando a dor e a revolta de minutos atrás por um momento de sanidade para ambos. — Mais de uma, na verdade, porque os documentos dos hospedeiros foram todos digitalizados e guardados nos escritórios dos Buscadores de cada cidade. Preservamos o máximo que pudemos da história de cada um porque nunca se sabe quando alguma informação pode ser necessária. O nome da mãe dele seria fácil de conseguir, portanto. Mas acho que não bastaria descobrirmos se ele era filho de Norah. Pelo que entendi, ela não era fiel a você...
— É uma forma gentil de colocar — respondi, tentando esboçar um mínimo de bom-humor, mesmo em uma situação impossível. Obviamente, não era um ponto que eu achava agradável de tocar. — Mas já seria uma pista. A coincidência derradeira, como eu disse. Sei que não basta, mas...
— Podemos fazer um exame — ele me interrompeu. — Colho seu sangue, invento uma história e tiramos a dúvida.
A simplicidade óbvia da coisa me deixou sem ação. Quer dizer, eu não era ignorante, sabia que existiam testes de DNA, mas o mundo estava tão diferente agora que não pensei que ainda existisse utilidade para eles. Aparentemente, porém, do jeito que Logan falava, parecia até bem comum.
— Almas fazem testes de paternidade? — perguntei.
— Há muitas utilidades para um exame genético. Mas eu não preciso propriamente mentir sobre nosso objetivo. Posso dizer que encontrei outra Alma que acredita ter um parentesco comigo e que gostaríamos de confirmar a teoria.
— Não estranhariam que eu simplesmente fornecesse a amostra para você e não fosse até lá?
— Provavelmente, mas qualquer história que eu inventasse para explicar sua ausência seria aceita. Não há motivo para desconfiarem de algo suspeito em meu comportamento, portanto também não há razão para questionamentos.
— Se você acha que é possível... — falei sem muito entusiasmo, até para minha própria admiração.
Parecia tão simples. Meses de angústia torturante resolvidos com umas gotas de sangue e uma historinha qualquer. Fácil demais.
Mas a vida não é assim. Burros velhos como eu sabem disso e por essa razão eu me sentia no direito de desconfiar da sorte, que já não era pouca por ele estar tão disposto a me ajudar.
No fim, as coisas não tinham sido tão terríveis entre nós. Dava para ver que Logan estava magoado, que algo na maneira singela e admirada com que ele me via tinha se quebrado, mas ele ainda estava ao meu lado. Havia esperança para nós. As pontes não estavam queimadas e podíamos chegar um até o outro novamente.
A questão era que, àquela altura, o que me preocupava era a resposta. O não era tão ou mais difícil do que o sim. Porque se tudo não passasse de uma fantasia da minha cabeça desparafusada e Logan não fosse meu filho, o coração velho e seco que ele tinha resgatado do deserto em que nos metemos se partiria. Mas se ele fosse, o que isso faria com nossas vidas?
— Talvez devêssemos deixar o teste para depois — sugeri. — O trabalho que você está fazendo agora é muito importante. E sua cabeça precisa estar inteiramente nisso.
Logan estreitou os olhos e me analisou com aquela expressão irritante de policial buscador jogador de pôquer. É claro que ele já tinha percebido que havia algo de errado na minha reação pouco entusiasmada. Só esperava que não soubesse exatamente o quê. Afinal, era preciso ganhar tempo para nos preparar para o que viria se a resposta fosse positiva. E Logan era do tipo que se apressava para enfrentar o fogo.
Assim, embora eu soubesse que era impossível evitar que um de nós sofresse, conhecia Logan o suficiente para saber também que ele se colocaria na linha de frente, tentando impedir que fosse eu. E, como Peg havia feito por Melanie, o garoto faria por mim o sacrifício supremo de abrir mão de si mesmo.
A grande questão é que eu não teria ânimo de impedi-lo.
Depois de tantos anos e das experiências com Jodi e Pet, havíamos concordado que a chance de um hospedeiro acordar era remota. Quanto maior o tempo de supressão, mais o corpo sofreria em risco depois da retirada da Alma, à espera de que o humano acordasse. E se caso isso acontecesse por um milagre, havia uma série de complicações com que lidar. Mas como, em sã consciência, eu poderia impedir que essa chance fosse dada ao meu filho? Se havia uma possibilidade de ele acordar, por mínima que fosse, eu devia isso a ele. Só não podia agir como se a culpa pelo que aconteceria com este Logan não me afetasse.
— Não sei bem o que você está esperando de mim, Jeb, mas acho que está querendo, de alguma forma, me proteger das consequências. Só que isso não é mais possível. Saber das coisas é um caminho sem volta e eu já estou envolvido. Não há mais como deixar de ir até onde for preciso.
Sim, como eu disse... Irritante!
— Eu já esperei muito, Logan. Posso esperar mais um pouco. Você é o rosto que David e Flora conhecem. Como eles reagiriam se te vissem em outro corpo e tivéssemos que explicar o que fizemos aqui? Com Peg, Estrela, Candy, Lacey...? Pode estragar tudo o que você está tentando construir.
— Se Peg encontrar Fords, ele vai saber o que aconteceu com ela. E não é algo que possamos esconder para sempre, de qualquer maneira — ele disse como se não estivesse sentindo nada a respeito. Como se não estivesse pensando.
— Pense no que isso significaria para sua família, garoto. Não seria como foi com Peg. As coisas são diferentes agora. Se o Logan humano acordasse, como ele se sentiria em relação a Estrela e Lindsay? — A pergunta parecia tê-lo atingido como um tijolo e eu quase me arrependi, mas precisava dizer. Ele precisava encarar tudo o que podia perder tentando ser o herói abnegado. Isso eu devia a ele. — E você? Que tipo de sentimentos seu novo hospedeiro traria da antiga vida? Nós não temos como saber ao certo. Então entenda que não sou prioridade aqui, por mais que eu queira dar uma chance ao meu filho... Ter uma chance com ele. Só estou tentando proteger o filho que já tenho.
Os olhos de Logan ficaram vermelhos enquanto ele me encarava. Os meus ardiam como o inferno. Eu só queria levantar daquela cadeira e abraçar meu menino. Mas não o fiz. Nem ele. Ficamos apenas ali. Dois corações desertos lidando com todas as emoções que não deveríamos ter.
— Eu vou esperar — Logan quebrou o silêncio, por fim. — Preciso preparar Estrela e Lindsay. Principalmente Lindsay — ele esfregou o nariz, a expressão resignada e os ombros tombados de quem carregava o peso do mundo. — Você está certo quanto a David e Flora. É cedo para pôr em risco alianças que ainda nem temos. Até falarmos com eles... Bem, é isso. Vamos dar um tempo a nós mesmos para nos acostumarmos com a ideia. Quanto ao exame...
— Pode esperar também.
— Você não quer saber? Não quer ter certeza?
— Você quer?
Uma risada breve e amarga escapou pelos lábios dele, mas exceto por isso, não houve resposta. Por um único momento, admitimos em silêncio um para o outro — e entendemos — que nossa coragem habitual tinha temporariamente se recolhido à terra dos covardes.
— Conte-me, Jeb — Logan pediu, a voz melancólica de meu pai tão presente na dele que era como se eu a ouvisse de novo. — Me fale sobre sua história com Norah.
Então eu respirei fundo. E passei as próximas horas falando sobre mágoas há tanto tempo esquecidas que pareciam pertencer a outra vida. Exceto que agora eram parte desta aqui também.



CD2 Cap 25


Capítulo 25 – O Último Grão da Balança

I know that there's no turning back
If we put too much light on this we'll see through all the cracks
Let's stay in the dark one more night
Don't want to know
I'm ok with the silence
It's truth that I don't want to hear
(Lie – David Cook)

Logan

Há muito tempo eu não sabia mais como era isto. Não sentir nada.
Antes de Estrela, vivi todos os meus anos na Terra me mantendo apartado da realidade, distanciando-me ao máximo das emoções humanas, porque eu é que tinha que ter o controle sobre elas, não o contrário.
Então Estrela chegou e eu entrei neste redemoinho que ela trouxe consigo. De repente, quando passei a me importar com ela, era como se o antes não tivesse existido. Fiquei vulnerável. Toda minha experiência não valia de nada sem a indiferença que eu julgava ser minha fortaleza. E sem isso eu não sabia mais como me proteger.
Assim, como se sempre tivessem estado à espreita, os sentimentos me invadiam, me enlaçavam em teias imensas de prazer e dor e eu me deixei levar. Pela primeira vez nesta vida, me deixei levar.
Sem hesitação ou arrependimentos, eu tinha chegado até aqui. A este lugar onde tinha descoberto o que era amor e família. Onde tinha amigos que me dedicavam uma confiança que tornava a dor inevitável apenas parte da vida, não de mim. Onde eu tinha encontrado quem era e aprendido a gostar disso.
Mas estas paredes guardavam segredos estranhos também. O passado das outras pessoas. E, aparentemente, um pouco mais do meu.
“Agora a história do humano é a história dele também.”
...extraído do corpo.
“A suspeita de que ele é seu filho...”
“Ele precisa se lembrar, Candy. Logan precisa se lembrar da verdadeira história do humano...”
Sim, eu também tinha querido me lembrar.
Mas no instante em que as palavras me atingiram, elas me transformaram. Porque eu soube que, quer as lembranças viessem ou não, e fosse o que fosse que me trouxessem se chegassem, nada nunca mais seria igual. Eu seria culpado por ser quem Jeb esperava. Seria culpado por não ser também.
Então como enxergar a mim mesmo depois disso?
Lutei incansavelmente para chegar até aqui e ser alguém novo. Tinha me permitido ficar em carne viva para poder construir algo sobre os escombros e, de repente, isso não valia mais nada, porque eu tinha que voltar ao princípio para poder suportar, ao Logan anestesiado de antes.
Não. Logan não. Canção Noturna.
Canção Noturna era uma Alma. Apenas isso. E Logan era mais do que podia ser. Logan era também o outro, mas sua história não estava mais no passado para ser lembrada, estava?
Não. Estava aqui agora. Mais presente do que nunca quando eu não poderia estar mais cansado de trazê-la comigo.
De repente, um novo e último grão foi depositado na balança e ela pendeu. Desequilibrou-se. Todo peso que eu não podia aguentar caiu sobre meus ombros e eu soube que era demais para mim, não importava o quanto eu já tivesse acreditado que podia carregar.
O passado. As memórias. A dor. Eu simplesmente não queria mais.
Não queria essa humanidade, não queria os sentimentos e lembranças do outro. Não queria nada. Porque sentir era muito difícil e eu estava me afogando.  
Minha mente se convenceu, então, de que eu precisava parar de me debater e boiar. Apenas esperar o torpor e nadar até chegar àquela ilha dentro de mim onde pudesse ficar seco. E seguro.
Porque há segurança no entorpecimento.
Dor alguma poderia me afetar se eu deixasse de me importar com tudo.
— Logan — às minhas costas, a voz de Jeb me paralisou, provando que era cedo para me anestesiar. Ou talvez tarde demais para mim, de qualquer jeito. — Você pode, por favor, me escutar? Eu não sei o que você ouviu, mas não tire conclusões precipitadas, me deixe explicar...
Havia preocupação em sua expressão quando me virei para encará-lo. A voz estranhamente amena trazia um tom de súplica que eu não reconhecia e odiei isso.
Aquele não era o Jeb a que me acostumei, não era o meu amigo. Toda aquela preocupação não era para mim. Talvez nada do que havíamos passado já tivesse sido, aliás. E esse pensamento só provava que eu não estava pronto para aquela conversa. Ainda doía como o inferno. Por isso eu precisava esperar enquanto a dor fazia seu trabalho de se tornar parte de mim outra vez. Até que eu não sentisse mais nada.
— Não posso. Tenho que levar isto para Lily — respondi secamente, empunhando o frasco de Curar. — E continuar os treinos.
— Pare com isso, eu sei que não é nada grave. Porque se fosse você teria trazido a garota aqui para dentro imediatamente — ele disse sem hesitar, porque sabia que era verdade. Eu a teria mesmo trazido imediatamente. Jeb me conhecia bem, era inegável. Talvez por isso mesmo devesse saber que não adiantaria falar comigo naquela hora, mesmo assim ele insistiu. — São só alguns minutos, Logan. Lily não vai se importar em esperar um pouco. Aqui todos estamos acostumados a viver sem remédios. Era assim antes de vocês...
— Fale por si — interrompi. — Já que está claro que você nunca precisou dos parasitas para nada.
Não sei ao certo por que disse isso, mas a palavra pejorativa saiu como uma bola de espinhos de minha garganta, ferindo a mim também enquanto eu a cuspia para machucá-lo. Ainda assim, ela nunca tinha me parecido tão verdadeira e poderosa, o que me fez sentir como o nada dentro de uma casca.
— Eu não preciso mesmo de parasitas — Jeb me corrigiu —, apenas dos meus amigos. E o nome certo é Alma. — Suspirou como quem se prepara para lidar com o impossível. — Foi o que me ensinaram. Meus amigos são chamados assim.
Almas. Esse era o nome que minha espécie tinha assumido aqui e Jeb sempre o tinha respeitado, ao menos em minha presença. Quanto a precisar de nós, eu sabia que não estava sendo justo. De todas as pessoas, ele havia sido sempre o primeiro a se tornar necessário em nossas vidas antes que tivéssemos a possibilidade de retribuir. Então, não. Jeb não precisava de mim ou de qualquer outra alma — humana ou não — que tenha acolhido, nós é que precisávamos dele. E talvez fosse essa, em grande parte, a razão por eu me sentir desta maneira agora que sabia de suas suspeitas. Como um maldito parasita.
“Ele precisa se lembrar, Candy. Logan precisa se lembrar da verdadeira história do humano, para livrar a nós dois do fardo que seria eu ser seu pai.”
Fardo, sim. Porque não seria justo eu ter roubado a vida do filho dele. E era por isso que ele queria tanto que eu enfrentasse as memórias difíceis. Não por elas me atormentarem ou porque eu sairia melhor do enfrentamento dessas aflições quando elas se tornassem velhas conhecidas. Mas porque ele não podia lidar com a realidade do que eu representava. Um parasita. Um ladrão. Um...
— Ouça, filho... — ele começou, mas aquela palavra também era uma facada em mim agora, por isso não deixei que continuasse.
— Você pode não me chamar assim? Eu não sou seu filho.
— Disso você não sabe — Jeb me respondeu sério, tentando aparentar que não tinha sentido o baque.
E outra vez a maldita bola de espinhos machucava minha garganta, mas eu não conseguia parar. Simplesmente queria feri-lo e, ao mesmo tempo, sentia que merecia toda dor que isso me causava.
— Então me diga o que você sabe — cedi, porque agora eu tinha chegado em um ponto de onde não conseguia voltar. — Se quer tanto conversar, vamos livrar a nós dois desse fardo.
— Vou pedir um favor a Jared — disse, pegando o frasco de Curar de minha mão e fingindo ignorar o amargor que eu tentava destilar. — Ele vai levar o remédio para Lily e assumir seu lugar no treino de hoje. Direi que preciso tirar umas dúvidas com você ou algo assim. Me espere no hospital enquanto isso. Candy não vai estar mais lá e Doc está com Sharon e Estrela levantando hipóteses sobre o que David pode querer saber. Não vamos ser perturbados e eu preciso de mais do que alguns minutos.
Jeb disse tudo isso com a praticidade fria de sempre, mas não se moveu por longos segundos depois de terminar. Apenas ficou parado ali como se esperasse alguma coisa que nenhum de nós dois sabia o que era.
— Você sempre foi meu garoto, Logan — falou, por fim. —  Se quiser, posso não usar a palavra. Mas não tem jeito de você me fazer esquecê-la agora que eu disse. E sei que você também não vai.
Então ele se foi e eu fiquei com a dor de saber que tudo o que eu mais queria era que isso fosse verdade. E que esse desejo me tornava absolutamente desprezível.
Uma coisa era sobreviver. Eu nunca tinha me permitido sentir culpa por estar neste corpo de que tanto precisava. Sem ele, não haveria vida para mim. Mas outra coisa completamente diferente era viver um laço ao qual minha contraparte humana tinha direito absoluto.
Estrela era minha mulher, meu amor. Lindsay era minha filha. Sunny, Peg e John eram a família que eu tinha escolhido. Kyle, Ian, Jared, Melanie, Jamie, Lily... Meus amigos eram meus amigos. Meus.
Jeb era meu amigo.
Mas por mais que eu quisesse, não era justo que ele também fosse meu pai. Isso era somente dele. Do Logan humano. E eu não podia viver com a culpa de ter lhe tirado algo tão precioso.



CD2 Cap 24


Capítulo 24
A Dúvida, o Conhecimento e o Preço de Tudo Isso

So let it out and let it in
Hey, Jude, begin
You're waiting for someone to perform with
And don't you know that is just you?


Hey, Jude, you'll do
The movement you need
Is on your shoulder
Na na na na na na na na na


Hey, Jude, don't make it bad
Take a sad song and make it better
Remember to let her under your skin
Then you begin to make it better
(Hey, Jude – The Beatles)


Jeb

         Entrei no hospital e encontrei Candy concentrada em um livro, por isso tive alguns segundos para observar os cachos de seu cabelo escuro caídos sobre o rosto.
         — Candace — chamei.
Ela levantou os olhos para mim e sorriu.
— Jebediah.
— Soube que você estava aqui sozinha.
Já de pé, ela contornou a mesa, passou os braços por meu pescoço e me beijou os lábios suavemente.
— Então você veio me fazer companhia. Que conveniente! — exclamou, brincalhona. — Parece até que estamos nos escondendo.
— Bem, não estamos exatamente nos mostrando! — Ri, enlaçando a cintura de Candy e puxando-a para mais perto. — Achei melhor não perder a oportunidade de ficarmos sozinhos. Você pediu para sermos discretos.
— Apenas por enquanto. — Suspirou, apoiando o rosto em meu peito. —  Quero descobrir sozinha o que estou sentindo, sem os olhares dos outros sobre nós. Além do mais, há muita coisa acontecendo por aqui ultimamente. As pessoas vão precisar de sua atenção.
— Posso ser multitarefa, mas não vou reclamar. Ninguém tem nada a ver com nossa vida, mas é mesmo mais prudente assim. Não estou com paciência para lidar com perguntas e brincadeirinhas neste momento. Então, vamos tentar do seu jeito, ao menos pelo tempo que for possível.
O que não seria muito.
Um dos vários desafios de se viver há tanto tempo com um grupo pequeno de pessoas: você não escapa do olhar delas. Mas para ser justo com meu pessoal, nem eu mesmo me imaginaria nesta posição de novo.
Imagine. O velho Jeb Stryder tendo um romance. Meu Jesus. Quem diria!
Tudo começou com uma conversa franca.
Um dia, Candy e eu falamos sobre seu período como hospedeira e ela me contou coisas que nunca tinha dito a ninguém. Sobre seus rígidos valores religiosos de antes e sua aversão ao divórcio. Sobre o marido abusivo que por anos tentou quebrar seu espírito, mas que tinha se tornado passado depois da invasão das Almas, porque o amor que ela achava que sentia era apenas uma conveniência que não fazia mais sentido, uma dependência que, felizmente, não sobrevivera ao novo estado das coisas.
Então, por uma razão qualquer, de repente eu era a única pessoa com quem ela já tinha dividido essas histórias, e nos dias que se seguiram continuamos a conversar a respeito de tudo o que tinha mudado em sua vida depois de ter sido hospedeira da curandeira Verana.
A experiência tinha, como era de se esperar, enchido sua cabeça de dúvidas. A fé inabalável e a rigidez de ideias de antes se tornaram questionamentos. E Candy quase afundou em silêncio, bem aqui, debaixo do meu próprio teto. Bem lá no começo, quando ela não se abria com ninguém. Contudo, assim como eu mesmo sempre preferi fazer, ela ainda escutava.
Ouvia as histórias de Peg sobre outros planetas e sabia que não podia ignorar a mudança que se dava em seu coração enquanto entendia mais sobre o que sobrara do nosso mundo. Ou enquanto percebia que ínfima parte do universo infinito nós éramos. Porque, bem, é o tipo da coisa que te faz humilde e Candy não ignorava isso.
— Eu não tinha medo de Peg, como ela pensava — me explicou certa vez. — No começo, eu temia o que ela era, sim. Seria impossível não temer tendo passado pelo que passei, mas depois minha relutância não era com ela, e sim com o que as Almas representavam. Peg, Sunny e, por fim, Logan e Estrela eram impossíveis de odiar. Eles eram bons demais para isso e representavam com toda força minha obrigação de abrir os olhos e lembrar, porque saber eu já sabia, que Verana tinha me deixado melhor. O corpo é meu, mas ela merecia esta vida e fez mais coisas boas com ela em seus poucos anos aqui do que eu jamais fiz nos meus 50 anos antes disso. Admitir isso me custou, mas também me fez entender o que significava humanidade de verdade. Acho que nunca me senti tão sozinha como enquanto percorria esse caminho, mas descobri que a dúvida é uma bênção disfarçada. Questionar, mesmo as coisas mais essenciais e difíceis sobre nós mesmos, é o que nos faz pensar, investigar, concluir... Não há caminho para a paz que não passe pelo conhecimento e é assim que se chega lá. Com sacrifício. Desde então tenho me construído aos poucos.
Dúvida é uma benção disfarçada. Não há paz sem conhecimento e para isso é preciso esforço.
Eram sábias palavras e não pude deixar de pensar em minhas próprias dúvidas quando ela as disse. E em como paz e entendimento pareciam coisas simples quando discutíamos a respeito, mas ainda estavam, na prática, bem mais longe de mim do que daquela mulher tão sensata à minha frente.
Um mundo sem certezas podia ser um lugar muito assustador, agora eu sabia, mas Candy foi se tornando mais corajosa e eu a admirava por isso. Com o tempo, a admiração passou a ser outra coisa.
Percebi quando me peguei preocupado em fazê-la sorrir.
Parecia apenas uma daquelas necessidades tolas que todo homem sente diante de uma mulher que lhe agrada os olhos, mas eu sabia que não era só isso. Porque meus olhos só se agradaram dela quando meu coração e minha mente tinham se agradado também. Antes disso, ela era apenas bonita para mim. De um jeito que não tinha lá muito significado além do óbvio.
Mas então, de repente, ser cuidadoso com Candy se transformou em ocupação bem-vinda em meio à minha confusão interior e não havia nada de óbvio na maneira como me sentia ao lado dela. Eu queria estar por perto. Ela gostava que eu estivesse. Uma coisa levou à outra, então. E enquanto eu me descobria envolvido nos dilemas dela, foi inevitável me abrir também.
— Como ele está? — ela perguntou cuidadosamente, e eu sabia o que queria dizer. Mesmo assim, preferi desviar-me da pergunta real.
— Empenhado. Repassando com Doc e Sharon todas as coisas que gostariam de dizer ao tal David, que é o líder do Conselho de Nova Orleans e membro da Representação Geral. Antes disso, Logan e Estrela vão falar com Flora, a amiga que ele fez lá também. Estão pensando em levar Jamie para isso, porque eles regulam mais ou menos de idade. E os filhos de Lucina, porque Flora gosta de crianças. Se ela topar, é mais um reforço para convencer David, mas esses dois parecem fáceis de lidar. O coringa, no caso, seria o Curandeiro que Peg conheceu em Chicago, Fords Águas Claras. Ela disse que o achou razoável e acredita que se contar o que aconteceu com ela e Mel, ele pode aceitar colaborar. Então a comitiva nesse caso seriam Peg, Mel, Ian, Jared e, claro, John. Mas eu não sei quanto a isso. Já faz muito tempo. Só Deus sabe se esse sujeito se tornou mais duro ou mais receptivo com o tempo.
— Pensei que você tinha dito que eles iam sondar a disposição das Almas antes de revelar qualquer coisa ou apresentar humanos.
— Sim, eles vão, é claro. Eu não colaboraria com essa maluquice, caso contrário.
— Mas você continua relutante...
— E alguém pode me culpar?
Ainda me arrepiava até os ossos a possibilidade de algo dar errado, e Candy sabia disso. Acho que todo mundo sabia e sentia a mesma coisa, embora uns estivessem mais vendidos à ideia do que outros.
— Você sabe que durante um tempo guardei rancor das Almas, como todos nós, mas eu sei como pensam — ela argumentou. — Não há mentira ou dissimulação entre eles. É fácil saber se estão dispostos a ouvir ou se apresentam alguma ameaça.
— Eu acredito. E também confio em Logan e nos outros. Mas se eu pudesse ser egoísta, escolheria outro momento para ele bancar o diplomata em missão.
— Porque você precisa de mais tempo, não é? — Tínhamos nos sentado, cada um de um lado da mesa de estudos, e Candy estendeu a mão para mim por cima dos livros abertos, fixando meus olhos de um jeito que eu não podia desviar. — Você tem que contar a ele, Jeb. Logan tem o direito de saber. Agora a história do humano é a história dele também.
— Sim. E é exatamente por isso que não posso. Você sabe o que ele faria. Sabe que daria um jeito de ser extraído do corpo.
— Já foi feito antes, é perfeitamente seguro...
— Não dessa maneira. Não com tanto a perder. Esse é o rosto que a filha dele conhece, que Estrela ama, o rosto em quem as pessoas confiam. Não posso pedir isso a ele com base em uma suspeita.
— A suspeita de que ele é seu filho? Ah, pode sim! Ele ama você, Jeb. E também é pai.
— Eu é que não sei se sou! — me exaltei. Não com Candy, embora a insistência dela me apoquentasse, mas com toda a situação.
Eu até poderia explicar a Logan, meu amigo, como me envolvi com uma drogada irresponsável que pode ou não ter escondido uma gravidez de mim. Mas como poderia explicar a um filho que a vida de merda que ele levou poderia ter sido outra se eu não fosse tão estúpido e orgulhoso?
Se eu tivesse ido atrás de Norah, como tantas vezes quis fazer, ele nunca teria ficado nas mãos de uma mãe negligente ou parado no sistema. Mas não! Eu tinha que dar mais importância a ter sido traído do que ao fato de que ainda a amava.
De todo jeito, tudo o que eu tinha eram suspeitas e semelhanças inventadas. Os olhos de minha mãe, a voz de meu pai, o sorriso de meu irmão Trevor, o jeito intempestivo de Norah... E aquela maldita canção esquecida que eu costumava cantar para ela.
Era pouco demais para que eu arrastasse o garoto para minha paranoia. E seria muito mais fácil se eu pudesse descobrir que estava errado.
 — Ele precisa se lembrar, Candy. Logan precisa se lembrar da verdadeira história do humano, para livrar a nós dois do fardo que seria eu ser seu pai.
Os olhos de Candy, antes fitos em nossas mãos entrelaçadas, subiram para os meus e se arregalaram enquanto ela empalidecia. Por uma fração de segundo, procurei em minhas palavras o que poderia tê-la deixado assim, mas ela apontou para a porta. Não era nada que ela tivesse ouvido, e sim o que viu. E agora eu também estava vendo.
Ali, parado feito uma estátua, estava o garoto que eu faria qualquer coisa para não magoar. Exceto calar minha maldita boca.
— Lily se machucou — ele disse mecanicamente, com uma voz que eu não reconhecia. — Ela tropeçou nas pedras e fez um corte no braço. Eu vim...
— Logan — chamei, levantando-me e indo ao encontro dele.
Como que entorpecido, o garoto me deu as costas, dirigindo-se ao armário de remédios.
— Logan, por favor, escute — pedi, mas era como se eu não estivesse mais ali. Ou pior, era como se eu fosse o próprio demônio do qual ele precisava fugir.
— Preciso levar o Curar para ela.
— Filho — insisti, tentando segurá-lo pelo braço, mas ele se livrou com um puxão. E o olhar que me lançou antes de sair fez com que eu preferisse mil vezes ter tido meus dentes quebrados por um soco. Para nunca mais repetir as palavras que ele não poderia ter ouvido. Não assim.


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