domingo, 24 de março de 2019

Sou solteira, não nego. Namoro quando puder!!!



É incrível como as pessoas não conseguem lidar com a solidão. E não digo nem a própria solidão. Mas a solidão alheia. Logo que veem alguém solteiro lá vem com uma lista de pessoas para apresentar, como se o ser humano fosse um item de um imenso cardápio. Tratam o outro como se fosse um objeto e não como se tivesse sua individualidade, seu caráter, seus sonhos, anseios, lados negros e lados de luz. Resumem a pessoa pela sua fisionomia, sua estrutura corpórea, cor dos cabelos e dos olhos, profissão, nome, hobbys, perfume, posses, etc...
“Quero te apresentar um amigo. Ele vai amar te conhecer. Eu só de olhar acho que vocês foram feitos uma para o outro. Daria certinho. Ele trabalha com isso... Adora tal bicho. Você precisa ver a cor dos olhos dele...
Às vezes eu tenho a sensação que a pessoa está tentando me vender uma televisão. Ou uma geladeira. Talvez uma máquina de lavar. Ou muito provavelmente uma TekPix. (E por falar nela, alguém chegou a comprar essa câmara mesmo?)
Outras vezes me sinto conversando com alguém que quer me converter para sua religião. Nada contra qualquer tipo de religião. Mas poxa, crenças é algo tão individual e pessoal, que não tem nada mais chato que alguém tentando provar que seu modo de ver é o certo. Tentar explicar para mim que de acordo com os seus conceitos o fulano é minha alma gêmea, é tão pedante quanto uma tentativa de conversão. Além de ser algo deselegante: ignorar todos os meus conceitos pessoais do que é belo, charmoso, tolerável (quando digo tolerável, me refiro aos defeitos, ok? Porque se os defeitos forem demais para você, ele pode ser um Deus Grego, que mesmo assim não vai descer pela goela; quem dirá ter acesso a pepeka).
Outra coisa irritante é essa mania de achar que a felicidade nossa está na mão do outro. Ou que se ele namorar com a fulana, vai acabar com a crise existencial dele. Gente, pelamor de Dios: Ninguém é centro de reabilitação, não (procure um amigo, ou apresente um AMIGO. Ou um terapeuta!!!). Você não pode criar expectativa sobre uma pessoa e jogar no colo dela toda a responsabilidade pelo seu bem-estar. Claro que o outro da relação pode ou não te apoiar. Mas isso é uma decisão dele. E se você não gostar da decisão dele, o problema é seu. Mova-se. Mude. Procure algo que te agrade. Ao invés de esperar e tentar converter o outro a ter a mesma ideia de bem-estar que a sua. Livre arbítrio, lembra? Ou as palavras liberdade e direito de escolha soam estranhas demais para você quando elas vão contra a sua vontade?
E mais uma coisa: a solteira em questão quer namorar? Ela quer conhecer alguém? Será que ela não está fechada para balanço? Ou até mesmo já teve o resultado do balanço e resolveu decretar falência. Já pensou nisso?
O fato que ser solteira não deve ser visto como algo ruim. Deve ser sim um tempo que a pessoa tem que usar para se amar, se respeitar, se entender. Se você não consegue aguentar a própria companhia, como pode querer que outra pessoa aguente? Se você está numa crise existencial, como pode querer impor esse fardo para outra pessoa?
Pessoas que não suportam ficar só, precisam de terapia e não de um relacionamento. Se não consegue ser um bom ímpar, como pretende ser um bom par?
E o principal: Quando alguém quer namorar, ela mesma vai pedir ajuda. Ela mesma vai sair à caça. E se ela tem a mania de resumir o outro a um cardápio, ela mesma vai baixar o Tinder. Não precisa de ninguém fazendo isso por ela. Não precisa de ninguém caçar, matar, mastigar e dar na sua boca. O que essa pessoa precisa, homem ou mulher, é de amizade. Gente que ri, se diverti, brinca. Um solteiro precisa descobrir sua identidade, seu potencial, seus deveres enquanto dono e senhor de si mesmo. Para que quando entrar em um relacionamento não despeje sobre o outro a responsabilidade da sua felicidade, das suas tarefas diárias.
Você olha um pouco para o lado e vê solteiros engatando relacionamento um atrás do outro sem assumirem o dever de apoiar, conquistar, ser autêntico, de dar e ter liberdade. Pessoas que jogam no colo do outro, deveres que são dele, e que não sabem lidar com a individualidade e personalidade do outrem. Daí vem o ciúme, a insegurança, as brigas. Solteiros que não aguentam ficar duas horas na própria companhia em silencio. E tem pessoas que estão solteiras, mas que não tem nada a oferecer, porque morreram em vida. Não tem mais sonhos, não tem paciência. Estão individualistas, apegados ao seu ritmo de vida, hora que acorda, hora de trabalho, lista de prioridades que não tem como encaixar outra pessoa nessa equação.
No primeiro caso, talvez a terapia ainda resolva, mas no segundo, ela tornou-se seu próprio relacionamento. E não cabe ao tio, ao amigo, ao vizinho impor uma pessoa. Como se o outro não tivesse sentimento. Ou como se fosse obrigatório ter um namorado, um relacionamento.
Claro que todo solteiro, e eu me incluo nessa lista, quer ter um relacionamento. Quer algo real, sólido, um "conto de fadas" da vida real. Mas as vezes esse solteirão compreendeu que isso não deve ser uma busca insana, desesperada. E sim que é algo que acontece. Uma hora vai aparecer alguém que vai rolar. Uma pessoa que não é a minha metade. Porque eu sou uma pessoa inteira. E você deve se sentir uma pessoa inteira, também. Mas uma pessoa que tem seu caráter, seus sonhos, ideais.
Uma pessoa que tem todo um jeito de ver a vida, talvez até diferente do meu, mas que tem propósito, pés no chão. Que tem ciência que ele tem que ser ele, eu tenho que ser eu. E nós dois juntos temos que ser um casal que ambos entendem que devem se apoiar, lutar pelos projetos juntos, que o relacionamento será um constante ceder das duas partes, procurando o equilíbrio sempre. E o principal, que ambos entendem que conto de fadas, não existe. Que a vida é feita de momentos bons, momentos ruins, de prosperidade e de fracassos. Mas o mais importante: sabe que a felicidade não está na mão do outro, mas na própria mão.
Portanto, respeitem esse momento. Respeitem seus conhecidos. Trate todos como humanos e não como um cardápio, ou um objeto. E ofereçam momentos agráveis para que esse período de solteirice seja para autoconhecimento e não um suplício por não estar cumprindo alguma regra secreta de que as pessoas precisam ter um namorado, um marido, filhos e tudo mais. Porque pensa numa coisa que esgota é você conhecer um, não dar certo. Conhecer outro, e achar ele louco. Conhecer outro e ser a louca. E chegar num ponto onde você parece que está em Matrix desviando de balas.
Então, queridos tios, amigos, conhecidos eu lhe digo: Sou solteira, não nego. Namoro quando puder!
Tchau, obrigada.

sexta-feira, 8 de março de 2019

CD2 Cap 38


Capítulo 38 – Contra Todas as Probabilidades
How can I just let you walk away
Just let you leave without a trace?
When I stand here taking every breath with you, ooh ooh
You're the only one who really knew me at all

How can you just walk away from me
When all I can do is watch you leave?
'Cause we've shared the laughter and the pain
And even shared the tears
You're the only one who really knew me at all

So take a look at me now
Well there's just an empty space
And there's nothing left here to remind me
Just the memory of your face
Ooh, take a look at me now
Well there's just an empty space
And you coming back to me is against the odds
And that's what I've got to face
(Against All Odds – Phil Collins)
Peg

A conversa na fila do escorregador parecia animada e, pelo jeito, o responsável pelas risadas era meu menino, já que as outras crianças se reuniam em torno dele. John era assim, “um bom O’Shea”, como diria Kyle, o tio babão. Por onde passava, seu carisma cativava amizades instantâneas.
Aparentemente chegando a algum tipo de combinação estimulante, ele estendeu a mão para o alto recebendo vários toques em sua palma, num cumprimento que tinha aprendido com Jamie e que eles chamavam de “high five”.
— Mãe, mamãe — chamou, correndo até o banco do parque onde eu o esperava. — Podemos comprar um sabor diferente de sorvete pra cada um dos meus amigos? Vamos juntar tudo e fazer um piquenique!
— Claro! — respondi, checando com minha visão periférica o homem sentado ao meu lado fingindo não prestar atenção. — Mas vou precisar que pelo menos alguns de vocês venham comigo até o sorveteiro. Ou não vai dar pra carregarmos... quatro, cinco...
— Sete sorvetes — o homem completou, dirigindo-nos um sorriso discreto. — Eu posso ajudar, se quiserem.
— Legal! O senhor também vai querer participar do piquenique de sorvete? E você, mamãe?
Esperei que o homem respondesse ao convite antes de mim. O azul muito escuro dos olhos dele adquiriu um brilho divertido.
— Obrigado, amigo. Mas estou indo trabalhar na limpeza do bairro daqui a pouco. De qualquer jeito, acho que por agora você tem amigos o bastante com quem dividir.
— Nããão! — John negou veementemente, estendendo o som para acentuar o protesto. — Sempre cabe mais gente. 
O homem gargalhou e seu rosto ganhou um ar jovial que reconheci com súbita ternura, satisfeita em perceber que, apesar do jeito sério acentuado pelos fartos cabelos grisalhos, sua expressão jamais parecia manter-se austera. A simpatia que ele me despertava era inegável e imediata cada vez que sorria, mas evitei pensar nisso, da mesma forma que tentava evitar qualquer antecipação ultimamente. Se eu podia contar em ter aprendido alguma coisa, era que tudo seguia seu próprio fluxo, alheio a previsões.
Depois de dizer que aceitaríamos a ajuda do “estranho” gentil, nós três atravessamos até a outra calçada do parque, onde estava o sorveteiro. Sorrateiramente, lancei um olhar para o furgão estacionado próximo, mas Ian não estava em nenhum lugar visível, então apenas me concentrei na tarefa presente, tentando manter a cabeça fria.
— Vou esperar o papai chegar para tomar o meu sorvete — disse a John. — Ele vai querer companhia para tomar o dele, não acha?
— Aham, sim. Você acha que meus amigos esperam?
— Não precisam. Ou o de vocês vai derreter.
— Com certeza — nosso novo amigo confirmou, lambendo um pingo que tinha escorrido pelas costas de sua mão.
Com um gesto amplo, ele sinalizou para que o seguíssemos e, quando chegamos ao banco onde estivéramos sentados, as crianças estavam todas à espera e se dispersaram rapidamente com risinhos e agradecimentos, indo se sentar em círculo sob uma árvore próxima, passando os cones de sorvete de mão em mão.
— Você tem uma criança adorável — elogiou. — E acho que apesar do ritmo acelerado, deve ser estimulante acompanhar — acrescentou segundos depois, rindo do fato de que John já tinha entregado o sorvete pela metade para um amigo e corrido para o escorregador de novo.
— John me faz sentir sortuda por tê-lo.
— Imagino. Todas as mães e pais com quem converso têm esse mesmo ar de deslumbre — disse de modo espirituoso. — Acho que compensa as preocupações, não é?
Assenti, sorrindo.
— As preocupações também são grandes. Mas não é nada comparado ao amor, certamente. O “ar de deslumbre” se justifica.
A resposta dele veio em um leve curvar de lábios apenas. Em seguida, os olhos de meu novo amigo fitaram o chão para, por fim, se desviarem dos meus, o brilho prateado fugidio seguindo o movimento de pessoas ao longe. Parecia que o assunto tinha se encerrado subitamente, mas resolvi me arriscar mais.
— Você tem filhos?
— Não — ele respondeu de pronto. Uns poucos instantes se passaram antes que completasse, ainda sem olhar para mim: — Ele tinha dois, meu hospedeiro. Mas faz muitos anos que não os vejo — falou, finalmente voltando a me encarar com uma expressão séria que não dava a entender muita coisa.
— Muitos laços familiares se romperam quando chegamos. Não houve identificação entre as Almas, então elas simplesmente... — Dei de ombros, tentando aparentar alguma impassibilidade. — Cada um foi para um canto, acho. Foi o que ouvi dizer.
— Hum — ele concordou concisamente. Quer dizer, era tão lacônico que mal dava para saber se era concordância, mas deduzi que sim, da mesma forma que ficou claro que o assunto tinha chegado a outro beco sem saída.
Decidi por uma abordagem mais direta.
— Eu me chamo Peregrina. Qual é o seu nome?
Com um sorriso de lado que emoldurava sua beleza madura, o homem me respondeu, parecendo ligeiramente envergonhado e divertido ao mesmo tempo.
— Seu nome diz muito sobre você, viajante. Acho que esse é o propósito, afinal. Eu era do Planeta dos Ursos e quase todos que conheço que vieram de lá mantiveram alguma relação com a palavra gelo em seus nomes. Tem uma sonoridade bonita nesta língua[1]. Mas a única coisa que me vinha à mente quando eu tentava pensar em algo era o apelido pelo qual todos me chamavam quando cheguei. Você sabe, eu sou de uma das primeiras levas...
— E logo no começo, alguns tiveram que passar por seus hospedeiros — completei.
— Sim — ele confirmou meio constrangido. Então me estendeu a mão em cumprimento. — Pode me chamar de Paddy.
— Muito prazer, Paddy. — Sorri.
Ele voltou a observar as crianças, distraído, e deixei o momento passar, tentando não apressar nada, mas isso custou aos meus nervos. Talvez eu tenha imaginado esta parte, mas quase pude sentir o olhar de Ian às minhas costas, questionando em que passo eu conduziria as coisas agora. Ou quem sabe fosse minha própria ansiedade que eu tentava controlar.
— Sabe, meu companheiro, o pai de John, vinha muito aqui quando era criança. Os pais o traziam com o irmão. O lugar preferido dele também era o escorregador gigante.
O perfil de Paddy se alterou ligeiramente. O breve sorriso que ele tinha nos lábios quando comecei a contar a história se desfez e sua testa se franziu um pouco. Ele me olhou nos olhos sem dizer nada, depois olhou para John. A risada alta do meu garoto preencheu nossos ouvidos enquanto ele corria com as outras crianças e então ele parou e apoiou as duas mãos nos joelhos, tomando fôlego. Exatamente como Ian fazia quando brincavam de pega-pega.
— Não — ele soltou um riso de desdém, balançando a cabeça. — Estou imaginando coisas.
Mesmo assim, diante da própria negação, seu corpo se virou inteiro para mim, prestando atenção total, como se não fosse uma afirmação, mas uma pergunta que ele me fazia. Senti que precisava responder sem rodeios, por mais que tivesse lutado para ser cuidadosa até aqui.
— Não, Paddy, você não está imaginando coisas — respondi séria, ousando colocar minha mão sobre a dele. — Trago notícias.
Espantado, ele olhou do meu rosto para nossas mãos, e depois de volta aos meus olhos.
— Quando ouvi dizer o que faziam com hospedeiros resistentes... — a expressão dele era comovida, à beira das lágrimas. — Eles fugiram e eu tive medo porque nunca voltaram. Se tivessem se tornado Almas, acho que teriam voltado. Então me perguntei se teriam conseguido sobreviver. Mas eu não sabia. Eu não sabia. Apenas fiquei esperando eles voltarem. — As palavras se despejavam fora de controle. Então ele virou a palma da mão para cima e apertou a minha. — Eles sobreviveram.
— Sim, eles sobreviveram. São humanos.
Uma lágrima fujona escorreu pelo rosto de Paddy antes que ele a secasse com a manga da camisa. E eu quase pude ver um peso invisível abandonar seus ombros enquanto ele assentia com a cabeça, sem a menor preocupação em disfarçar o alívio.
— Aquela criança — disse, apontando John com o queixo. — Ele tem os olhos de Alice.
— Assim como o pai dele — concordei. — Os de Kyle se parecem mais com os seus.
Ele sorriu por um instante, quase perdido em meio ao turbilhão, então finalmente pareceu colocar os pensamentos em alguma ordem.
— Onde eles estão? Onde estiveram esse tempo todo?
— Moramos no Arizona. Eles encontraram uma comunidade de humanos lá, logo no começo da ocupação. Foi assim que nos conhecemos. Eu cheguei até lá atrás da família de minha hospedeira, então encontrei meu lar em Ian. Não sou mais uma viajante, Paddy.
Ele sorriu à menção de seu comentário anterior e me analisou por breves segundos.
— Ian sempre foi o mais cuidadoso. O mais compreensivo e diplomático. Não me espanta que ele tenha pedido a você que viesse.
No primeiro instante, os elogios a Ian pareceram inocentes, mas o sorriso que Paddy me lançou em retribuição ao meu não lhe subia aos olhos. Então entendi as implicações do que ele dizia.
Justamente o que tínhamos previsto. E exatamente o que queríamos evitar.
— Paddy, eu não estou aqui como negociadora. Não vim pedir, de Alma para Alma, que você se submeta às retiradas. — Enquanto falava, percebi que meu toque parecia estranho, então soltei sua mão e ele a recolheu cuidadosamente, como se para não me insultar. Era quase como se estivesse desconfiado agora, me sondando inseguro sobre se aquilo era algum tipo de hábito humano que deveria aprender. Endireitei o corpo, numa postura mais familiar às Almas e ele imitou meu gesto. — Vim porque Ian e Kyle decidiram que não querem te pressionar de nenhum modo. Eles queriam saber de você e também queriam que soubesse que estão bem, mas não vão se impor. Se você não quiser vê-los, se preferir deixar tudo como sempre foi, eles vão respeitar sua decisão.
Paddy me ouviu com uma atenção lúcida e respeitosa, mas a última frase pareceu tirá-lo da espécie de transe não responsivo em que tinha entrado.
— Eles estão aqui!? Ian e Kyle vieram com você? — perguntou, olhando freneticamente ao redor.
— Ian virá se eu chamar — expliquei, omitindo o fato de que Ian estava a poucos metros, esperando no furgão, porque tive medo de que a proximidade inquietasse Paddy ainda mais. Eu ainda não sabia se ele estava com medo ou ansioso, mas de qualquer jeito, era importante que ficasse calmo. — Kyle está em missão de paz no Kansas, mas ele e Sunny virão para Portland se você quiser vê-lo.
— Kyle faz parte dos esforços de paz! — ele exclamou, surpreso e admirado quando confirmei. — E quem é Sunny?
— Luz do Sol Através do Gelo, a esposa de Kyle.
— Ele se casou com uma Alma!?
— Paddy — chamei pacientemente, pousando a mão em seu ombro desta vez. — Muita coisa mudou, os garotos de que você se lembra são homens maduros agora.
— Não tenho dúvidas disso, mas... — ele parou, deixando a frase pela metade. Então pegou minha mão em seu ombro e a segurou entre as dele. — Não estou fazendo um pré-julgamento. E preciso que vocês entendam que quero muito vê-los. Não tenho medo... Quer dizer, eu acho que não tenho medo do que isso me custaria. Só sei que não conseguiria me levantar daqui e ir pra casa sabendo que rejeitei a aproximação dos filhos de Patrick, porque... Eu sempre quis, sempre sonhei com isso. Mas não entendo como posso ser o suficiente.
Eu entendia. Dentre as Almas em nossa família, incluindo eu mesma, Paddy não era o primeiro e provavelmente não seria o último a lidar com essa sensação.
— Você se lembra de Jodi? — questionei.
—Jodi... — repetiu, franzindo o cenho. — Sim, eu me lembro. Era a namorada de Kyle. Há anos não pensava nela, mas Patrick gostava bastante da garota. O que houve com ela?
— O mesmo que houve com todos os outros humanos na vida dele, exceto por Ian — falei, e Paddy assentiu, compreendendo. — Anos atrás, quando Kyle descobriu que era possível retirar uma Alma de seu hospedeiro, ele raptou Sunny e a colocou em um criotanque enquanto esperava Jodi acordar.
— Céus! — ele murmurou, empalidecendo um pouco.
— Mas ela não acordou. E Kyle sofre a perda dela pela segunda vez. Isso quase o destruiu. Pelo menos até Sunny ser devolvida ao corpo.
— Entendo. Então ele ficou com Sunny para remediar a falta de Jodi?
— Não, é aí que eu queria chegar. Kyle se apaixonou por Sunny de verdade. A lembrança de Jodi se mantém, há muito amor e respeito por ela entre os dois, mas eles têm sua própria história agora. Sunny não é uma substituta, nem você seria.
De repente, o peso de nossa conversa parecia grande demais para carregar, e Paddy voltou a fugir dela concentrando-se nas crianças do parque. Deixei-o a sós com seus pensamentos por um instante excepcionalmente longo, durante o qual pude sentir uma aproximação familiar. Ian estava a alguns passos de nós e, virando o rosto para observá-lo, percebi a intensidade de sua expressão emocionada, dos olhos safira que brilhavam com lágrimas nascentes.
— Senti falta deles todos os dias — Paddy continuou sem perceber que tínhamos companhia. — Mas não tenho ilusões. Eles estão em todas as lembranças que guardo e que este lugar me desperta, mas eu não estou nas deles. É Patrick quem ocupa esse lugar de direito. E sei que eles foram embora por medo e fizeram muito bem em partir, mas fizeram isso porque amavam tanto o pai e o conheciam tão bem que nunca o enxergaram em mim.  Posso ser eu mesmo, como Sunny, e ter minha própria história. Minhas próprias lembranças. Mas temo que isso só faria bem para mim. Se já aprenderam a lidar com a dor da ausência de Patrick, se já seguiram adiante, não tem sentido serem lembrados o tempo todo de quem eu não sou.
Eu queria dizer que ele estava errado, que precisava dar a Ian e Kyle o direito de decidirem o que lhes traria mais dor, porque na verdade eles já haviam feito isso. Mas acabei guardando tudo em meu peito, porque agora Ian poderia dizer por si mesmo. Contudo, havia uma última coisa que eu precisava perguntar antes que ele assumisse a conversa, por isso fiz sinal para que esperasse.
— Essa forma de colocar o interesse deles acima dos seus é familiar para você, não é, Paddy? Não é a primeira vez que você age como pai.
— O que quer dizer?
— Você ficou dias convivendo com Ian e Kyle, tempo o bastante para chamar Curandeiros que ajudassem com a inserção, como mandava o protocolo. E quando eles finalmente fugiram, os Buscadores podiam tê-los alcançado se você tivesse feito o alerta nas primeiras horas da manhã. Mas você deu a eles tempo para ganhar distância, não foi? — arrematei, externando minhas suspeitas pela primeira vez, desde que Ian me contou melhor os detalhes e me mostrou o caminho percorrido por Portland. O Escritório Central dos Buscadores ocupava uma posição estratégica de saída para a rodovia. Segundo Logan me explicara, era praxe no começo das ocupações, justamente para facilitar a mobilidade.
— Eu me levantei mais tarde naquele dia... — disse Paddy, mas foi interrompido pelo sobressalto de uma voz que lhe devia ser familiar.
— Você fez isso? — perguntou Ian, contornando o banco e sentando-se ao meu lado, perto o bastante de Paddy para poder olhá-lo nos olhos, longe o suficiente para se proteger da intensidade das emoções dos dois. — Você nos ajudou a fugir?
— Não sei — o outro respondeu com uma expressão que misturava angústia, surpresa e ternura. — Pensei muito nisso, mas não tenho uma reposta.
— Teria sido mais fácil para você chamar os Buscadores. Era o que esperavam que fizesse, certo? — Ian insistiu e Paddy confirmou assentindo. — Você não teria ficado sozinho.
— Eu só dormi um pouco mais, demorei para perceber a ausência de vocês. Isso também é verdade.
Também é verdade — Ian repetiu, sorrindo. — Eu sinto muito, Paddy — disse, pronunciando o nome devagar, testando a dificuldade de chamar aquele corpo de outra coisa que não fosse “pai”.
— Sente muito? Mas pelo quê?
—Por ter fugido e deixado você sozinho. Por ter sido motivo de preocupação. Pela falta que você disse ter sentido ao longo dos anos.
Paddy hesitou, sem saber ao certo o quanto Ian tinha escutado.
— Vocês tinham que fazer isso — falou, resignado. — Não podia ser de outra maneira.
— Não, não podia. Mesmo assim, eu sinto muito. Você merecia ter tido uma família.
Paddy controlou a respiração, estudando a calma calculada de Ian como se soubesse tão bem quanto eu que aquele pedido estranho de desculpas era tão sincero quanto difícil.
— Nunca culpei vocês. Fui eu que nunca consegui me desligar. Apenas... fico feliz em saber que estiveram seguros todo esse tempo. E que são felizes.
— Kyle sempre quis vir atrás de você, mas eu tive medo. Não era seguro.
— Eu entendo.
— Eu devia ter vindo. Sempre me perguntei se você sentia nossa falta e, de algum jeito, sempre soube que a resposta era sim. Mas nós não estávamos prontos. Você entende isso, Paddy? Nunca foi sobre não ser capaz de gostar de você.
— Peregrina me contou sobre Jodi e Sunny. Está tudo bem, Ian.
Eu podia sentir o calor que o corpo de Ian emanava enquanto Paddy o encarava com olhos marejados e lhe assegurava com voz falha. Aquele era um momento difícil de mensurar ou definir, mas me parecia impossível que alguém pudesse passar por ele como se nada tivesse mudado. Por isso soava quase redundante o pedido que Ian fez em seguida.
—Kyle e eu conversamos muito e sabemos que não temos garantias de que não haverá sofrimentos. Mas temos certeza de que podemos amar você. No fim, a vida não é nada se a gente não se arriscar. Então eu peço, se você puder fazer isso, se for possível, que abra um espaço para nós em sua vida. Será que você pode?
Paddy ensaiou uma resposta, mas ela não veio de imediato. A voz parecia parada em sua garganta, estrangulada.
— Eu nunca... — esforçou-se para dizer. — Nunca achei que...
A frase ficou incompleta quando John se aproximou, barulhento e animado, saltando no colo de Ian.
— Papai, papai!
Então Paddy explodiu num choro silencioso, escondendo o rosto entre as mãos. Ian cochichou algo no ouvido de John e o colocou em meu colo, para então passar os braços em torno dos ombros que um dia haviam lhe amparado também, na figura de seu próprio pai.
Atrás de nós, um carro conhecido estacionou próximo ao meio-fio. Kyle saiu primeiro e Sunny apareceu logo depois, contornando rápido a partir do lugar do motorista para estar ao lado do homem que amava. Eu não sabia que eles estavam a caminho, mas devia ter previsto que Kyle não conseguiria esperar por um sinal positivo. De todo jeito, suspirei aliviada e feliz pela presença deles e sorri para ambos, tocando levemente o braço de Ian para que os notasse.
Como se já soubesse, Ian apenas encarou Kyle por sobre o ombro de Paddy e eles se comunicaram em sua linguagem silenciosa de irmãos e cúmplices. Eu me levantei dando a mão a John e fui até meu cunhado, tocando-lhe o ombro em um leve incentivo. Sunny segurou a outra mãozinha de John e, sorrindo uma para outra, fomos buscar outro sorvete enquanto Kyle se sentava do outro lado de Paddy e o acercava em um longo e esperado abraço.







[1] Em inglês, idioma originalmente falado pelos personagens do livro, a palavra gelo é “ice” (pronuncia-se “aice”). Não sei você, mas, particularmente, concordo com o amigo de Peg e gosto do som.

segunda-feira, 4 de março de 2019

Tentar, paquerar, assediar: é só começar.


Gente, hoje estou louca para falar sobre o machismo. E antes que você sente confortavelmente no sofá com sua pipoca para ver uma mulher tacando lenha nos homens, e já deixo claro que essa vai até para você, querida mulher com conceitos puramente machistas.
Nas últimas duas semanas aconteceram coisas e mais coisas que me fizeram sentar e escrever esse texto por pelo menos umas sete vezes. E toda vez que eu desistia de escrever, lá vinha outra situação cabulosa que me punha a escrever pelo menos dois parágrafos a mais do que eu tinha escrito na tentativa anterior.
Em todas as situações o que me chamou a atenção foram como as pessoas reagem a paquera; a investida do boy magia. E não, não estou falando daquela investida que é correspondida. Estou falando nas críticas que tecem por trás quando a mulher rejeita o cara. Ou aqueles comentários totalmente deselegantes da própria mulher que deu um chega para lá no caboclo.
E sabe qual a minha conclusão? A mulher sempre sai como errada. Sempre. Se ela fala o não com todas as letras (seja para o cara casado que não sabe se pôr em seu lugar ou para a cara que é solteiro, mas é mais sem noção que bússola quebrada) ela é taxada como louca.
Sim.
ELA. É. LOUCA.
“Será que ela não percebeu que era só uma brincadeira”?
“Ela realmente achou que eu estava dando em cima dela”?
“Viu que louca aquela mulher”?
O engraçado é que o cara não tem MATURIDADE para assumir que sim, estava jogando sua rede (e se ela caísse, que bom, tem peixe na mesa hoje... ou final de semana, quem sabe); mas sabe muito bem inferiorizar a sanidade da mulher.
E pior são aquelas mulheres que ao invés de unirem-se em prol da vítima da vez, se juntam aos homens e sua mentalidade machista, e lascam a lenha na LOUCA. Afinal, ela fez um escarcéu atoa numa coisa que era apenas zoação. E quem não zoa, afinal, sobre dar “uns beijo” e fazer “uns amor”? E ainda tem aquela defesa básica dos advogados dos “pobres e oprimidos”: “Tadinho dele. Você não vê o quanto ele é cobrado? Ela precisa extravasar um pouco. E ele pensou que podia brincar com você”. “Você é tão séria. Precisa aprender a desencanar e não levar tanto para o lado pessoal”.
E caso a mulher use de toda a sua boa educação e diplomacia nata (que coloca muito diplomata internacional no chinelo) na hora de dizer não e conseguir fingir que está levando na brincadeira a investida que também é apenas uma brincadeira...
Bom, ela continua sendo a ERRADA da história por que foi ela que deu moral para o cara e iludiu o pobre coitado. (Agora coloquem na próxima frase discursiva os meus mais sinceros tons de sarcasmo e ironia, por favor). Afinal, tudo começou com uma brincadeira e foi crescendo, crescendo, crescendo...
(Continuem com o modo ironia e sarcasmos ligados)
A mulher iludiu o cara. Ela não disse não. Ela não foi clara o bastante. Ela deu a entender na diplomacia dela que podia sim, ser objeto de refeição dele mais tarde... Ela é uma puta. Sai com todo mundo. Porque quando a mulher se coloca no seu lugar isso não acontece... A mulher sem abrir a boca tem que deixar bem claro através de sua postura que não gostou...
Blá-blá-blá.
(Pronto, podem desativar o modo ironia e sarcasmo)
A verdade é que vivemos numa sociedade machista. Nós mulheres somos machistas. Os homens são machistas... Parece que todos resolveram ser machistas.
O homem pode dar em cima da mulher e fingir que é uma brincadeira. E está tudo bem. Mas não pode ser rejeitado, porque se não a outra é que está louca e interpretando tudo errado. Isso quando não vem aquela história do que custa dar uma chance para o coitado. O homem pode dividir as mulheres entre moças de família e moças para curtição e está tudo ótimo. Mas se a mulher tem o mesmo comportamento padrão de um homem com sua sexualidade bem resolvida a ponto de ter sexo casual a hora que quiser, ela é puta. E se ela dividir os homens entre homens para casar e homens para ficar, ela é bandida. Perigosíssima.
Mulher não tem nem direito de se cuidar e embelezar para si, que já tem um bando de gente achando que é para conquistar algum macho. Consegue perceber o nível de machismo nessa mentalidade?
A verdade é que homem não consegue entender a palavra “NÃO”. Não importa se você disse o não com todas as letras, garrafais. Não importa se você foi educada e discreta. Não importa se sua postura e fisionomia está expressando toda a sua indignação. O não quando vem de uma mulher, não tem valor.
(Um minuto de silêncio para essa triste realidade, por favor).
Mulher não pode ajudar um colega de serviço, que pronto, ou ela está afim dele ou está dando liberdade dele investir nela. Ela não pode ser simpática, que pronto, já está dando abertura.
E quando a mulher usa mão de sua sensualidade, então? E todas queremos ser sensuais em algum momento. Não importa se a sensualidade é para seduzir ou simplesmente para dar aquela sensação gostosa de: “Caraca, eu estou podendo”.
Quando lançamos mãos dos artifícios da sensualidade, é claro que temos que ter consciência que o alvo pode ser um, mas no mínimo dez serão atingidos. Sensualizar é a mesma coisa que que armar uma granada. O raio do estrago feito só é conhecido depois da explosão. Pensar que afetará só um é além de uma ingenuidade sem fim, uma grande irresponsabilidade.
Contudo, só o fato de sermos femininas, de sermos mulheres, já é em si um ato provocativo e sensual. Principalmente para esse bando de gente machista e tacanha. Infelizmente. Se fazemos a unha, chamamos a atenção. Se mechemos no cabelo, é porque estamos seduzindo. Se usamos perfume é porque estamos querendo despertar algum sentimento. Se passamos a usar roupas melhores é porque queremos provocar. Cara, nem passar uma maquiagem básica para levantar nosso ânimo, pode. E por aí vai.
No fim, ser mulher e ser feminina nunca é visto como um ato de cuidado pessoal ou para a própria satisfação. Sempre acaba sendo taxado como uma compostura adotada quando estamos apaixonadas, e claro, querendo seduzir um boy. Isso se algum machista (não se esqueçam que muita mulher é mais machista que muitos homens) já não vir falando que ela está bancando uma boba sem noção.
Ser mulher já é em si um ato errado socialmente.
E em meio a tanto machismo, fica até difícil a mulher tomar uma postura correta que permita o homem exercer seu direito de paquerar, mas que dê direito a ela de recusar uma investida que não for bem-vinda.
Claro, que depois do não, é tudo assédio. Mas parece que essa cambada não entende o não. Então como faz para entender que a insistência indigesta virou assédio?
Todo homem DEVE e tem DIREITO de paquerar. Nós mulheres até queremos isso. E claro, tem um não que falamos que é um ardil de sedução, para ver até que ponto o cara está afim ou é fogo no facho. Mas viu que o não pela tangente se manteve, pula fora. PARA!!!
Se ela manter o não, é assédio. Pode ter certeza que se o segundo e o terceiro não vierem em sequência: o não é não. Pode parar de se iludir ou pensar que é só charme, ok? Se ela não respondeu sua mensagem é NÃO. Se ela não aceitou ir para um local mais reservado é NÃO.
Agora, se houve um sim, por favor, lembre-se do ditado: O que acontece em quatro paredes, fica entre as quatro paredes. E isso abrange mais que as paredes físicas de um quarto, ok? Essas paredes são na verdade abstratas. Elas são as paredes do relacionamento de vocês (mesmo quando o relacionamento foi casual, ok?!). O que vocês fazem entre si, cabe a vocês. As conversas não devem ser expostas. As brincadeiras e DRs são suas e de mais ninguém. Aprendam que relacionamento bom é aquele que ambos se assumem, mas ambos se preservam. Afinal, mesmo diante do sim, expor o outro, não deixa de ser um assédio.
E olha que estou falando de todo tipo de relacionamento, não é só amoroso, não. É de amizade também, gente.
E por falar em assédio, vamos refletir sobre o que é assédio? Porque parece que tem gente que acha que isso é só mimimi, só pode.
1.    Você sabia que se você perseguir uma pessoa pelas redes sociais, ou tentar seguir os passos dela a ponto de saber onde ela mora, onde ela vai, o tempo que ela fica online, com quem ela conversa, suas senhas, e demais dados pessoais é considerado assédio do tipo stalking? Nesse momento, querido leitor, quero lembrar que você não precisa começar a ter um infarto diante das minhas palavras, ok? Tudo na vida é questão de equilíbrio. Se a pessoa em questão está dando liberdade, isso não é assédio. Se ela que te conta essas informações, não é assédio. Se ela te passa o próprio endereço ou te estende o celular, também não é assédio. Mas se ela visivelmente está insatisfeita com a liberdade que você está tomando e ela NÃO te deu tal consentimento... Bom, coloque sua barba de molho e reflita. (Pagar quase duzentos reais mensais em um programa que te repassa todas as mensagens do whatsapp dela, é assédio. Quase psicopatia, isso. Procure um tratamento imediato, pelo seu bem e da sociedade.)
2.    Já ouviu falar de bullying? Estou sendo sarcástica, tá? Porque se você está tendo condições de acessar esse blog e nunca ouviu esse termo, você não existe. Ao contrário do que todos pensam, isso não é apenas um problema escolar. Ele ocorre nas empresas também, e ganham um agravante que se chama assédio moral. Por hora, vamos nos ater ao bullying. Você está ameaçando ou sendo ameaçado por alguém? Está discriminando ou sendo discriminado por seu sexo? (Mulheres em ambiente puramente masculino sabem bem o que é isso). Está humilhando ou sendo humilhado? Bem-vindo, ao século XXI e a incapacidade das pessoas entenderem a diferença entre brincadeira saudável e aquele que fere a integridade psicológica da pessoa. A verdade é que cada pessoa tem um jeito de sentir diferente. Para uns a brincadeira é apenas para descontração, para outros, ela pode estar ferindo sentimentos que já estão abalados... E tem mais um detalhe, você não sabe se a pessoa está lutando contra a depressão. E cara!, essa doença silenciosa arrebenta com o nosso psicológico e principalmente com a nossa capacidade de brincar. E antes que você já se coloque no fogo do inferno ou jogue algum conhecido, novamente enfatizo sobre o equilíbrio e o discernimento. Se a pessoa está concordando com seu bullying, e rebatendo ele a altura, então não é bullying, ok? É só um jeito muito estranho de vocês se socializarem. Mas se a outra pessoa nitidamente está ficando calada ou evitando você, pedindo para parar... Bem, repense e atualize suas definições de brincadeira com ela.
3.    Engatando o ensejo, vamos falar do famigerado assédio moral. É bullying apimentado. Porque ele inclui colocar o outro em situações além de constrangedora também em condições desumanas. E antes que você pense que por não estarmos mais na época do escravagismo não exista condição desumana, te digo que tem empresas (vulgo patrão e chefe) que não permitem o funcionário ir ao banheiro ou controlam até mesmo se o funcionário pode ou não beber água. E claro, junte isso as piadas de maus gosto, comentários sobre a forma como ela se penteia, veste ou pinta os cabelos dando uma conotação pejorativa, pronto! E nesse caso, infelizmente a pessoa faz de propósito. Não tem nem como dizer que a pessoa está fazendo sem querer por brincadeira ou porque em sua trajetória educativa não foi ensinada sobre os limites. O fato é que tem ainda pessoas que tratam os outros como se fossem seus capachos. E as vezes por racismo, as vezes por machismo, e outras por falta de humildade: o famoso “subir na cabeça”. São capazes de fazer o outro refazer alguma coisa, ou estragarem o que é do outro pelo simples prazer de ver o outro nervoso ou para desmotivar. E tem mais: Você está colocando ou sendo exposto a situações que te forcem a pedir demissão? Sim?! Preciso dizer que isso é assédio moral? Então, por favor, neh.
4.    Agora vamos ao assédio sexual. Essa é a mais comentada e amplamente confundida. Paquerar não é assédio, gente (embora quando a paquera vem do boy casado ou daquele sem noção dê vontade de fazer o barraco, você não está exatamente em condições legais para isso. Só saiba dar o fora!!!). Se fosse assim você mesmo já deveria ter sido processada um trilhão de vezes. Mas forçar um beijo ou um amasso sem a permissão, é. Publicar fotos dos dois ou apenas dela(e) não é assédio. Mas fotos intimas ou vídeos sendo publicados sem o direito de imagem, e ainda por cima com a intenção de denegrir, ofender ou manchar a reputação de alguém; é assédio sim. Mandar mensagem chamando para sair ou para elogiar, não é assédio. Tirar print das conversas que teve com a gata/gato para tirar onda com os amigos, é! (E se você não tira print, mas faz questão de mostrar a conversa para todos com intuito de provar o quão fodão você consegue ser, bem... Isso continua sendo assédio). Sair com uma pessoa e ter um momento intimo com o consentimento dela, não é assédio. Contar para Deus e o mundo, e o vizinho do fundo tudo que rolou em quatro paredes é assédio. Se desfazer publicamente dela expondo sua intimidade, desempenho ou desejos; é assédio sexual e moral, TAMBÉM.
Agora que botamos todos os pingos nos devidos “is”, comece a refletir se você não é um desses sem noção com alta dificuldade em entender o não. Reflita se sua implicância com a coleguinha não está ajudando a denegrir a moral dela. Reflita se sua paquera está sendo recebido com bons olhos. Ou se você está perdendo um pouco a noção do respeito. Talvez não seja a mulher que esteja cheia de mimimi, mas você que está errando violentamente na dose de liberdade que pensa que tem.
E antes que você, amado leitor, pense que estou esquecendo que todos têm o direito de tentar, já digo que a resposta para a dúvida está na forma que o outro recebe o seu tentar. Porque enquanto ela estiver levando na brincadeira, ok. Enquanto ela também estiver tomando a mesma liberdade que você tomou com ela, ok. Enquanto ela está receptiva, mais ok impossível.
Mas se ela não brincou de volta, se ela está evitando e sumindo do radar, ignorando sua mensagem, ignorando suas piadas com o famoso “abstrair e fingir demência”, está pedindo para parar, está dando entender que tem outro na jogada e que ele não gostaria de saber sobre essas investidas; hora de parar. Isso tudo são modos tanto discretos quanto enfáticos de dizer não.
Brincar e paquerar é um jogo para dois. Se apenas um estiver jogando, é game over. Hora de buscar outro jogador. E nesse caso, o seu tentar vai virar insistência. E toda insistência indigesta além de ser um nítido quadro machista e também um assédio. #fica_a_dica.

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