terça-feira, 25 de março de 2014

MVE - Epílogo

Eu só quero saber como você esta, por favor retorna as ligações. Vamos conversar, jake? – tentei uma vez mais.

            Já haviam passado três dias e Jacob não respondeu a nenhuma ligação, ele não voltou aqui, nem quando Billy e Sue vieram pessoalmente conhecer Cindy.
            Eu aproveitei e entre uma disputa e outra que Billy fazia sobre quem era mais veloz na cadeira de rodas, perguntei sobre Jacob.
            Não disse muito, mas que Jacob esta em uma briga que demoraria, sendo assim como uma desculpa perfeita fomos convidados para uma pequena fogueira, Cindy ficou muito animada, mesmo após a discussão com a mãe dela.

Catelyn passou toda à tarde daquele mesmo dia conversando com Charlie, ele esta furioso com ela, ela sabia onde ele estava e nunca veio. Ela estava na faculdade quando se envolveram e levou tudo como um amor de verão.
Assumindo sozinha o compromisso de cuidar da filha. O que deixou Charlie ainda mais revoltado e ao mesmo tempo admirado, apesar de todo o falatório, Cindy é uma garota educada e de bom caráter.

Tudo bem?

Ah oi, Laura. Já terminei a ligação.

Eu queria aproveitar que sua sombra esta no banho para saber como esta reagindo a tudo. – disse sentando.

Eu que deveria fazer essa pergunta, afinal você mal começou a namorar com meu pai e já ganhou mais uma enteada e ex-namorada na bagagem dele. – ela apenas riu.

Charlie teve uma vida antes que eu entrasse na dele, e bom. Vocês são garotas incríveis, o que eu quero saber, assim como Charlie que tem vergonha de perguntar é como você esta reagindo. Você ficou ainda mais silenciosa, mas basta olhar pra você e sabemos que algo grita aqui dentro. – disse tocando minha testa.

Eu estou bem, ainda não me acostumei com ser irmã, é um pouco estranho ter mais alguém chamando Charlie de pai, mas eu gosto da Cindy. Eu não estou incomodada com ela.

Isso tem haver com Edward e Jacob ter sumido?

Jacob é complicado, aconteceu uma coisa com ele que ele não esta sabendo lidar. Só quero conversar com ele e Edward... Edward me pediu em casamento.

E você o que respondeu?

Eu não respondi, na verdade ele pediu para que eu não respondesse. Para pensar antes.

Se tivesse respondido na hora seria um não, certamente. Então não sabe o que fazer, Jacob descobriu e não lida bem?

Jacob não sabe, eu acho. Espero poder falar com ele primeiro.

Então já tomou uma decisão?

Não... eu não sei o que fazer. Eu...eu me senti a garota mais feliz do mundo quando ele me pediu em casamento, mas como ele pode me pedir em casamento quando não permanece ao meu lado?

Ele só teve problemas, Bella.

Acontece que a cada problema ele resolve ir embora.

Esta com medo de ser abandonada no altar?

Eu tenho medo que ele suma novamente. Eu... não vou suportar. – as lagrimas saíram sem consentimento.

Bella ele é um homem, propenso a erros. Não importa a idade sempre vão agir como crianças, alguns mais maliciosos que outros. Nosso dever é colocá-los na linha. Faça isso com ele.

Seria fácil, se ele não fosse um vampiro que pode desaparecer e se esconder por toda a eternidade, enquanto eu morro um pouco a cada dia.

Sobre o Ale, somo adultos e ficaremos com ele, você precisa viver a sua vida...

Eu não tenho medo de criar o Ale, Laura. Sei que se eu aceitar, Edward será o primeiro a querê-lo conosco.

Bella, você precisa parar de temer e voltar a viver. Ele te ama, eu não sei o que levou ele a ir embora, mas algo me diz que era para te proteger. Que essa mulher é culpada, se ela foi capaz de invadir essa casa e levar um bebê, abandonar em um canto qualquer, Bella ela quase te matou. Pense se não esta julgando de mais. Pense o que ele passou, se estivesse sendo o contrario, você faria o mesmo.

Meu choro crescia e sequei rapidamente as lagrimas quando Cindy entrou no quarto.

Esta com dor, Bella?

Só esta nervosa e preocupada com Edward, coisa de namorados. Logo passa – respondeu Laura levantando e seguindo para a porta.

Bella? Eu... queria te fazer uma pergunta... aconteceu alguma coisa com o seu amigo, o moreno?

Jacob? – ela acenou corando forte.

Eu acho que não, ele só... eu não posso te explicar o houve sem contar algo que é só dele.

Eu pensei que ele não tivesse gostado de mim, eu vi ele todo descontraído com você, com aquele sorriso lindo, então me olhou e murchou na hora...

Não é com você, eu sei que ele gosta, digo, que ele vai gostar de você.

Acha que... quer dizer... ele tem namorada?

Não.

Há chances de vocês...? Eu ouvi Charlie com o amigo falar sobre estar triste por vocês não estarem juntos...

Jake percebeu e me forçou a aceitar o fato de que eu sempre vou amar Edward. – digo me encolhendo no batente da janela.

Charlie pediu pra ficarmos prontas, ele vai chegar um pouco atrasado – Laura entrou no quarto. Me livrando do mini interrogatório.

Eu vou arrumar o Ale primeiro.

Deixe que eu faço isso, Cindy. – digo indo ao berço.

O caminho para La Push foi feito em silencio, de minha parte, claro. A cada dia ficava mais claro que Cindy e eu não tínhamos tanto em comum como foi no inicio.
Ela não para de tagarelar, preocupada de mais com o que vai vestir em todos os momentos, o rosto muito maquiado e muitos comportamentos infantis.
No quintal dos Black uma enorme fogueira estava armada, onde os rapazes começaram a atear fogo, ainda do carro podíamos ver as mulheres na varanda.

Antes que eu me esqueça, minha amiga tem uma cicatriz no rosto, então não encara muito, nem disfarçadamente – digo para Cindy antes que ela saia.

Bella? – Kim surgiu ao nosso lado. – que bom que esta bem, Jared me contou o que aconteceu. – disse me abraçando – e aquele bebezinho lindo?

Agitado como nunca – respondo tirando-o da cadeirinha.

Esse rapaz precisa passar em muitos colos hoje, então pode esquecer que eu cuido dele – disse Emily me abraçando.

Meninas, esta é Cindy, minha irmã.

– Oi. – respondeu um pouco tímida, mas seus olhos brilhavam de curiosidade. Dei um tapinha de leve em suas costas. Ela sorriu sem graça pra mim.

– E ai garota... – Paul surgiu e me abraçou. – ainda bem que você tá viva.

– Eu fiquei preocupada com o seu castigo.

– Jake é um idiota, Sam levou numa boa.

– Não fale do meu irmão quando ele não esta aqui pra se defender!

– Rachel?

– Pensei que não fosse se lembrar de mim.

– Foi mais um chute – confessei.

Rachel é muito parecida com Billy, a pele morena com um dourado lindo, os olhos negros e cabelos castanhos escuros, como um manto sobre os ombros. Um sorriso lindo e encantador.

– Não dê asas à loucura dele, ok? – pediu ao me abraçar.

– Não somos íntimos a esse ponto, eu arrisquei e acertei. Eu devia pra ele.

– E eu adorei o pagamento, precisa ver chel, ela sabe como destruir as coisas – disse enlaçando-a e beijando o rosto de Rachel que retribuiu com olhos brilhantes.

– Acho bom tirar essas patas da minha filha, Paul. Eu não tenho paciência pra você.

– Pais... – Rachel resmungou ao se desvencilhar do abraço, mas enlaçar a mão entre a de Paul.

– Venha, Cindy. Vou lhe apresentar a todos – disse Charlie.

Finalmente vi Cindy se encabular, todos se aproximaram. Felizes por Charlie, os rapazes fizeram brincadeiras quanto à beleza dela, mas bastou um simples olhar de Charlie e todos se calaram.

– Onde o jake esta? – perguntei para Emily quando todos estavam distraídos.

– Ele me disse, mas pediu pra não contar.

– Eu preciso falar com ele, Emily. Ele contou sobre o... – averiguei se estavam prestando a tenção em nossa conversa. – sobre o imprinting?

– Jake teve? Ele não falou nada. Bom, realmente é complicado lidar com dois imprinting – Emily viu a confusão em meu rosto – Paul teve por Rachel, por isso o clima não esta muito bom nessa casa, Paul sabe ser folgado quando quer. Eu vou te contar onde ele esta. Seth? – chamou, Seth deixou Cindy em paz e veio ate nos.

– Fala, Bella. Eu fiquei sabendo do pedido.

– Droga!

– Ah não, ele não sabe. – disse rindo e coçando a nuca.

– Leve Bella ao penhasco maior, Seth.

– O jake está lá? Borá, Bella.

– Sem alarde, Seth!

Conversamos por mais um tempo, esperando o momento em que, tanto Charlie quanto Cindy e Laura estariam distraídas em suas conversas para que eu pudesse montar e sumir pela mata no lombo do lobo areia.
 Assim que tivemos oportunidade, seguimos para a frente da casa, corremos pela lateral da casa e seguimos para dentro da mata.

– Se jake estiver em forma de lobo ele pode fugir ao ver na sua mente a minha intenção.

– Tranquilo, Bella. Sabemos no que pensar ou não pensar pra fugir quando precisamos e eu vou pensar em jogos de vídeo game ou coisas assim, fica tranquila.

Seth se afastou e voltou em forma de lobo, subi por suas costas, o caminho de musgo, lama e frio foi feito rápido, Seth era um pouco desajeitado, seu trote era estranho e me balancei muito, ele não parecia preocupado em fazer um caminho seguro e silencioso.
Quando chegamos a beira da mata que dava acesso ao penhascos, Seth bateu o focinho em meu braço, acenou para a frente e foi embora, pela lua que brilhava enorme no céu, vi a silhueta de jake, sentado na beira.
Esperei que me desse abertura para um conversa, desta forma encostei na arvore, sentando em sua raiz. Jake ainda ficou um tempo assim. Tive medo de abrir a boca e ele fugir.

– Eu só queria pensar, não vou te morder – disse virando.

Levantou e eu fiz o mesmo, seguimos para o meio da rocha e sentamos do lado do outro. Seu rosto serio, triste.

Jake... eu entendo... – ergueu o rosto confuso e assustado. – apesar de você ter fugido, eu percebi.

– Eu não quero isso pra mim, não quero ser obrigado a estar com alguém porque meu lobo escolheu.

– E não precisa jake, você pode amá-la sabia?

Virou o rosto, uma lagrima descia, corri meus dedos e o abracei. Em uma velocidade que não me atei, estava em seu colo, quase esmagada entre seus braços, Jacob me segurava e um choro crescia em ondas de tremores por seu corpo.

– Jake, eu te amo e sempre vou amar, mas foi você que me fez aceitar que não importa o que aconteça, eu sempre serei do Edward. Porque não aceita a Cindy.

– Ela pode parecer você, mas não é, Bella. Não quero prêmios de consolação.

– Escute bem, Jacob Black. Eu posso não estar completamente à vontade com o fato de ter uma irmã, mas isso não significa que a deixarei ser tratada desta forma. Cindy não é um premio de consolação. Ela é seu imprinting, a garota certa pra você.

– Eu...

– Lembra da nossa conversa, não a da promessa, eu te liberto da promessa de manter seu imprinting longe para me amar. – digo e envolvo seu rosto entre minhas mãos – Eu quero sua felicidade, jake. – encosto nossas testas – se dê essa oportunidade? Tudo bem que quando a Cindy quer, ela fala pelos cotovelos, mas ela é doce, uma garota engraçada, alem disso... ela não para de falar sobre você, ela veio arrumada para você. Sabe, é muito frustrante se produzir para um cara e ele nem aparecer no local.

– Você sabe que eu não gosto disso, nunca quis essa coisa de lobo pra mim, eu só queria que fosse normal, sem toda essa bagunça, uma vida nossa. Eu não vou ser capacho de um espírito lobo. Eu não quero esse imprinting.

– E vai viver fugindo?

– Não, mas se eu voltar, se eu voltar a vê-la, isso parece que piora, se torna cada vez mais intenso.

– Vamos fazer um trato? Deixe ela se aproximar, eu sei que ela esta interessada em você. Essa coisa de imprinting certamente não é só com os lobos, as imprinted sofrem também. Deixe que a Cindy o conquiste? Deixe ela mostrar que não é só seu lobo que a quer, que ela pode fazer esse coração se aquecer com o seu consentimento – disso tocando seu peito.

Seu coração batia acelerado, minha palma aquecida com sua temperatura. Jake me olhou por muito tempo, lagrimas eram aprisionadas em seus olhos.
Por um imensurável tempo Jacob permaneceu em silencio, para finalmente acenar confirmando. Sorri em alivio, eu sabia que se ele visse, convivesse mais com Cindy veria que não será apenas seu lobo a se apaixonar por ela.

– Como estão suas costelas?

– Bem melhores, ainda não possa dançar lambada, mas dá pra me movimentar. Seth não conseguiu rachar nenhuma em seu sacolejo. – rimos juntos.

– Certo... e você e o telepata?

Era disso que eu queria conversar, agora é a chance...

– Me interrogou e agora vai dá pra trás?

– Não é isso, é que... eu não sei como você vai reagir, eu ainda estou incrédula! – digo saindo de seu colo, só por precaução.

– O que ele fez?

– Edward me pediu em casamento. – a explosão, xingamentos ou os tremores que antecedem a transformação não vieram.

Jacob permaneceu da mesma forma, só mais paralisado. Esperei por suas palavras.

– E o que respondeu?

– Eu fiquei sem fala, depois ele me pediu pra pensar.

– Seria legal você ter dito um não a ele, mesmo que fosse por pouco tempo. – brincou.

– Eu nunca me imaginei casada, namorando ate vocês entrarem em minha vida. Apesar de nunca ter sonhado com príncipes encantados e felizes para sempre, eu acredito que casamento é coisa seria.

– Porque ele te pedia se ele não levasse a serio? E olha que ele dever ser um decrépito? Quantos séculos?

– Só um, jake.

– Então... ele deve ser do tempo de flertes, chá das cinco, namoro em que cada um fica em um cômodo da casa, essas tradições dos nossos avós! Para eles era casamento primeiro que tudo, ate que estudo... e ele te deixa estudar.

– Eu to falando serio, jake.

– E eu também. Fala serio! Eu não acredito que vai me fazer ajudar um sanguessuga, justo o leitor de mentes... Bella. Ele com toda certeza viu que a única forma de você acreditar que ele te ama é casando.

– Eu tenho medo dele me deixar novamente.

– Eu te prometo que se ele se atrever a fazer isso, eu o mato.

– Você não esta ajudando.

– Ouça bem porque eu não pretendo repetir essas palavras e se contar pra alguém que eu te apoiei, juro por tudo que te faço pagar, isso é uma desonra pra minha tribo. O Cullen te ama, esta desesperado para que o perdoe, ele a quer e não sabe mais o que fazer para que acredite nele. Ele não vai a lugar algum, a menos que você mande. O fato de você dizer não, não adiantará, ele a seguirá, será seu capacho na esperança de você reconsiderar e aceitar casar com ele, serão o casal feliz por toda a eternidade. Que foi? Perdeu a vontade de ser vampira?

– Não é sobre ser vampira, é sobre mudar minha vida por alguém que não sei se realmente me quer na dele ou mereça... – digo voltando os olhos para a lua.

– Me responda, você amo o leitor?

– Amo.

– O que te você viu nele que a fez amá-lo?

– Sua segurança, sua forma de me tratar, de demonstrar amor, o fato de sempre me apoiar, de não julgar antes de... – voltei meus olhos para jake.
Um sorriso dançava sobre seus lábios. Suas mãos correram por meu rosto, removendo o choro que lavava meu rosto sem permissão.

– Demorou um pouco pra entender, não é...

– Como eu me odeio.

Em momento algum me coloquei em seu lugar, lhe retribui tudo o que fez por mim, apenas recebi sem dar nada em troca. Apesar de sempre parecer e muitas vezes me fazerem acreditar que eu estava me arriscando e me pondo em prova a cada momento, nada disso aconteceu.
Edward provou e mostrou de varias formas o quanto me ama e sempre colocou minha segurança em primeiro lugar, quando foi minha vez de mostrar o quanto o amo, não fiz nada, nada alem de agir o contrario, de maltratá-lo, tudo o que ele queria era uma vida comigo, uma existência comigo.

– Vamos para casa, amanhã você conversa com ele.

Ajudou-me a levantar e me segurou pela mão, guiando ate sua moto, me passou o capacete e guiou de volta a sua casa.
Quando chegamos, Charlie estava na varanda conversando com Billy e foi impossível passarmos sem que ele visse a moto. Então jake apenas estacionou do lado da varanda e seguimos ate eles.

– Não sabia que você tem uma moto – disse Charlie olhando nossas mãos.

– Ganhei de aniversario...

– Que bom que voltou, filho. Valeu Bella.

– Vocês?

– Não. Só estávamos com problemas e resolvemos juntos! – disse jake passando o braço por meu ombro.

– Vamos?

Segurei sua mão e seguimos para dentro da casa, o cheiro de varias comidas invadiam o ambiente, não sabíamos ao certo quais eram, mas eram varias.
Quando entrei com jake na área em que a grande mesa estava formada Quil, Jared, Paul e Sam gritaram e vieram ate jake.
Uma forma de fazê-lo se sentir confortável com o imprinting, seus olhos correram de volta pra mim, a sobrancelha arqueada e um olhar duro, pedi desculpas e segui ate o lado de Cindy que manteve os olhos em Jacob. Sorriu envergonhada e voltou a olhar para o prato.

– Acho que não teve tempo de conhecer minha irmã Cindy, Jacob. – digo e os rapazes saem do lado dele.

Jacob anda decidido ate nos, sorri um sorriso que alcançava a alma, estendeu a mão para Cindy, esta estendeu rapidamente a mão tremula para ele.

– Prazer Cindy, sou Jacob Black. Desculpe a minha falta de educação do outro dia.

– O prazer é meu Jacob. – respondeu corando fortemente.

A partir daquele momento, Cindy fez o possível para se destacar, chamar a atenção de Jacob.
Tardiamente Charlie tomou conhecimento e começou a fechar a cara, arrumando desculpas para irmos embora antes.

– Espere, pai. eu quero falar com o senhor. – digo puxando-o ao ver que Cindy segurou o braço de Jacob de forma nada inocente.

Charlie veio a contragosto comigo, seguimos para a sala dos Black, Charlie sentou resmungando o que poderia fazer para viver em paz com as filhas e sobre capar Jacob.

– Pai, eu queria falar com você sobre Edward.

– Pensei que você e o Jacob tinham voltado, apesar dele estar muito inclinado a sua irmã.

– Não pai, somos apenas amigos. Edward conversou com você... assim como conversou comigo depois. – digo sentando ao seu lado.

– Sim, Bella. Eu não gostei nada, mas infelizmente não posso te amarrar ao pé da cama e simplesmente matar aquele garoto... se sua resposta for positiva eu vou precisar me acostumar com isso. E realmente vou precisar de tempo. Muito tempo... – disse pondo a mão no coldre.

Não acredito que ele estava armado!

– Obrigada, pai – digo o abraçando forte – eu te amo.

– Eu também, Bella. Eu também. – disse beijando minha testa.
Ficamos um tempo abraçados, Charlie mantinha os braços em volta do meu ombro. Buscando desde já aceitar o que aconteceria.

– Cindy esta gostando do Jacob, não esta? – deu ênfase a gostando.

– Quando você não estiver armado talvez eu responda – digo rindo.
...

Novamente me vi fazendo aquele caminho, desta vez com o dobro de atenção, minhas mãos não paravam de tremer e a cada metro a menos elas tremiam mais.
Começa a pensar em estacionar por aqui e ir a pé, seria mais seguro para o caso das minhas pernas falharem eu cair ajoelhada do que bater o carro em alguma arvore ao errar e não conseguir parar.
Respirei aliviada quando a grande casa envidraçada surgiu no final da curva. Segui para a varanda, Kate e Irina pareciam conversa com Tanya, esta aparentava cobrir os ouvidos, suas mãos mantidas por baixo dos cachos loiros. O rosto em uma carranca.
Estacionei com as três me olhando e Kate fez um movimento sutil com as mãos, sua palma brilhou e Tanya olhou com petulância. Desci e as três ficaram quietas, Kate sorriu confiante ao ver que eu ainda olhava para sua palma que já não brilhava.

– Edward esta?

– Ele foi caçar com Jasper e Alice. – respondeu Irina levantando – Ele não vai desistir – disse para a irmã.

– Vamos entrar, Bella – disse Tanya ignorando a irmã.

Levei um momento para entender o que acontecia, o tal vampiro que Eduard mencionou estava importunando Tanya.
Segui para dentro da casa com Tanya ao meu lado, sua forma de agir lembrando Alice e Edward, ela estava preparada para saltar sobre quem tentasse me atacar.
Sua mão poderia tocar a minha em um breve descuido, tamanha aproximação. Tanya ou as irmãs não pareciam incomodas com minha presença.
Mas diferente do que imaginei, elas não me guiaram para a sala, Tanya sutilmente guiou-me para o jardim dos fundos.

O extenso jardim estava um pouco destruído e as arvores na margem gramada foram arrancadas. Vultos se chocavam causando um estrondo, nada comparado com o barulho no jogo de beisebol que presenciei.
Emmett lutava com outro vampiro de sua altura, mas franzino se comparado a ele. Os cabelos batiam em onda na linha dos ombros, sua forma de se mover era graciosa, ele poderia estar com uma espada não mão para combater o adversário.

– Mantenha o foco, Emmett. – ouvi Eleazar.

Muitos vampiros e vampiras estavam sentados, alguns com a roupa manchada pela terra escura outros apenas sentados assistindo.
Meus olhos ficaram presos nas três mulheres que se vestiam como índias. Uma de cabelos revoltos e a outra com longos cabelos negros trançados a terceira estava  deitada no chão gramado, mas os cabelos pareciam tão negros quanto as outras, a pele com um bronzeado que garotas ficavam doentes para ter.
A de cabelos lisos voltou sua atenção em mim, corei a ser flagrada. Diferente do que esperava recebi um pequeno sorriso.
Então um grande barulho invadiu meus ouvidos me fazendo encolher, antes que eu pudesse prender um grito pavoroso fugiu por minha garganta quando um rosnado ecoou ao meu lado.
Precisei de muitos minutos para processar o que havia acontecido. Emmett estava em posição de ataque em minha frente, cobrindo meu corpo de quem tentava me atacar.

– Era disso que eu estava falando!

– Isso não é brincadeira, Garret. – Tanya rebatei com um pequeno rosnado.

– Ao menos serviu para ver que ele estava atento. Apesar de ser lento.

– Não use a Bella como exemplo – a frase mal pode ser compreendida ao ser acompanhada por outro rosnado. Emmett se endireitou, posicionando-se do meu lado.

– Prazer em conhecê-la, senhorita Swan. – o vampiro que antes lutava com Emmett estendeu a mão. Olhei para Emmett e ele revirou os olhos. – por favor, senhorita.

– Prazer.

– Eu estava apenas testando a atenção de Emmett. Espero não ter lhe assustado ao extremo.

– Só me avise antes de repetir o gesto. Meus ouvidos agradecem.

Após o acontecimento, me permiti sentar e esperar Edward, enquanto assistia aos treinos. Eram muitos vampiros e alguns dobraram a distancia entre eles e eu.
Uma movimentação na casa e um estalo alto. Como um móvel quebrando.

– Bella? – Edward surgiu, seus olhos dourados, mas continha manchas cinzas em volto dos olhos.

– Eu disse que estava tudo bem, não precisávamos sair daquela forma. – disse Alice sorrindo.

– Poderíamos ter continuado, mas preferiu cantar musicas inadequadas a todo o momento.

– Porque eu queria surpresa, Bella quer falar com você.

– Ergui e segui com Edward para a beira do rio.

– Podemos ir a outro lugar, se preferir.

– Esta bom aqui.

– Já pensou...?

– Sim. Eu levei um tempo pra entender tudo, para aceitar. Precisou que pessoas de fora dissessem para que eu enxergasse tudo o que fiz, que continuava fazendo. – digo virando em sua direção.

Edward mantinha as mãos em punho sobe a rocha que estava encostado. Sorriu suave, com passos incertos segui para sua frente. Toquei sua mão, segurando dentro das minhas.

– O medo de passar pela dor que senti quando foi embora me impedia de ver com clareza, de pensar no que você passou, esse medo me fez criar mais um casulo, um muro para impedir que tudo voltasse e a cada dia ao seu lado eu buscava uma maneira de afastá-lo e nesse meio eu fiz coisas desagraveis, que feriram a nos dois, que feriram minha família e a sua. Nos colocando onde estamos. Nas ultimas semanas eu não sabia qual era a maior parte em mim, a Bella assustada e temerosa ou a que te ama sem amarras. – as lagrimas já estavam rolando e precisei de um minuto pra fazer o que eu queria.

– Amo-te como um bicho, simplesmente.
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Ei de morrer de amar mais do que pude.

A ultima parte do poema saiu com muita dificuldade, às lagrimas e o soluços lutavam para sair antes, roubando o fôlego.
Desta forma apenas acenei em positivo, sentindo o chão fugir e seus braços a minha volta.
Sua boca tomando a minha em um beijo diferente, suas mãos se infiltraram por minha blusa, tocando minha pele. Um gemido de prazer percorreu meu corpo, causando vibrações entre minhas pernas.

Um assovio e gritos, comandados por Emmett cortaram todo o clima, Edward removei as mãos de minha pele, mas o sorriso permaneceu eu seu rosto radiante.

– Eu... – cobri seus lábios, eu não queria promessas, queria ações.

– Apenas me faça sua e seremos felizes – sussurrei o mais baixo que pude.

– Aê irmãozinho! Isso foi sexy! – Emmett gritou.

– Quando eu for uma vampira eu posso bater nele?

– Por favor, faça isso! – Edward passou seus braços por meu corpo, seguimos de volta para a casa. – você sente mesmo o que esta no poema.


– Sim, não poderia existir um melhor para me descrever. Eu te amo tanto e tão intensamente que às vezes me sinto perdida, como se não coubesse em mim o que sinto. – digo encostando em seu peito.

 Quando chegamos à porta lateral que dava acesso a sala e a biblioteca o corpo de Edward reteceu. Seus braços me apertaram com força. Voltei meu rosto para o seu e ele estava em uma mascara de dor.


– Aro decidiu. Em algumas semanas.

sábado, 22 de março de 2014

CD2 - Capítulo 4



Capítulo 4 - Mães

And everyday
There's a brand new baby born
And everyway
There's enough to keep you warm
And it's okay
And I'm glad to say
That I'm alive

And I don't care much for words of doom
If it's love you got, well I've got the room
It's a simple thing
That came to me when I found you
I'm alive
I'm alive
I wanna take all that life has got to give
All I need is someone to share it with
I've got love
And love is all I really need to live

(I’m Alive – Neil Diamond)

Peg

           
            Dois anos.
            Hoje faz dois anos que John nasceu e mudou todas as coisas a meu respeito. Existe algo muito peculiar em ser mãe, mas você não sente até que seu filho esteja em seus braços.
            Você pode sonhar com ele vividamente, mesmo sem nunca tê-lo visto, pode maravilhar-se com as possibilidades, preocupar-se constantemente e de forma doentia, mesmo enquanto ele ainda está seguro em seu ventre... Você sabe que o ama e que tudo o que está mudando em sua vida vale a pena por causa disso, mesmo que você já fosse imensamente feliz antes. Mesmo que o medo de não conseguir fazer as coisas direito seja tanto que às vezes cegue sua felicidade.
            Mas então acontece, toda espera, toda ilusão acabam, e ele finalmente está em seus braços. Você abre os olhos e o mundo é um lugar novo. Você é algo inteiramente novo. Não importa o que aconteça a partir dali, você é mãe, sempre será, isso nunca será apagado. E aquele ser com quem você vinha sonhando e que já amava sem conhecer, é definitivamente real e não mais apenas uma ideia. Você só entende isso de verdade naquele momento, quando pequenos olhos se voltam para os seus e espelham todos os dias de um futuro que você quer, mais do que tudo, ter.
            Subitamente, todas as emoções já tão difíceis de lidar se potencializam. Alegria, amor, medo e ansiedade passam a girar como bolas de vidro, lisas e potencialmente quebráveis e cortantes, dentro do seu estômago, subindo pela sua garganta e ardendo em seus olhos. E você chora. O tempo todo. É um horror!
            Talvez sejam os hormônios, talvez seja apenas o fato de que tudo gira em torno de um novo eixo, de uma parte sua que está fora de você, dependendo dos seus cuidados, mas estando totalmente fora de seu controle ao mesmo tempo. Eu não sei. Mas é furiosamente dolorido e prazeroso ao mesmo tempo. Ainda me lembro da primeira vez que aconteceu comigo, logo na primeira semana.
            Eu estava tentando amamentá-lo e doía. Embora tivesse sido lindo ver a vida fluindo de mim e nutrindo meu bebê, naquele momento eu estava sofrendo e tudo o que eu queria era que ele acabasse logo, porque a minha pele estava sensível e eu estava com medo de que rachasse. Meu filho estava se alimentando. De mim. E eu queria que ele parasse.
            Eu sou uma mãe em potencial, como um tipo de abelha rainha na minha espécie. Se não tivesse me tornado uma Alma aculturada como me tornei, eventualmente meu destino seria dar a vida para que milhares de seres como eu pudessem viver em meu lugar. É doloroso. Quase brutal. Mas Almas são abnegadas. Mães são abnegadas. Ou pelo menos deveriam ser. E lá estava eu, uma Alma, uma mãe, preocupada em evitar uma dor que garantia a subsistência do meu filho.
            Para alguém como eu, a sensação de estar sendo egoísta é algo terrível. Aciona um gatilho doloroso de angústia e culpa com o qual eu não podia lidar naquele momento. Não quando todas as minhas emoções estavam andando com pequeninos pés ensaboados nas bordas de penhascos imaginários.
            E então eu caí, direto e com gosto no Vale do Choro Convulsivo, como Melanie brincou depois quando soube. Acho que chorei por uma hora inteira talvez e, eventualmente, John começou a chorar também, o que, obviamente, me fez sentir pior. Quando Ian entrou no quarto, eu estava imersa numa onda de culpa sem sentido e num choro descontrolado que fazia coro com o do bebê que eu tentava acalmar.
            — O que aconteceu? — ele perguntou.
            O pobre homem parecia tão assustado que eu tive pena, mas eu mal conseguia falar para explicar o que estava acontecendo. Então, ele começou a conjecturar.
            — John está doente?
            Balancei a cabeça negativamente, tentando engolir as lágrimas e me controlar um pouco. Ian respirou aliviado.
            — Ele está bem — disse com voz trêmula, antes que ele começasse a pensar em outra coisa e ficasse mais preocupado.
            — Então é você que não está bem — ele concluiu.
            — Não... Sim... Eu estou! É só que... Ah, eu me sinto péssima, mas está tudo bem comigo.
            — Você está péssima, mas está bem? — assombrou-se, um vinco se formando entre suas sobrancelhas e uma pitada de divertimento escapando pelas frestas de sua preocupação. Ele também tinha um ar tão cansado que mal parecia ele mesmo, os olhos azuis repletos de um misto de sentimentos tão conflituosos quanto os meus.
            — É — confirmei hesitante. — Só estou me sentindo triste, mas estou feliz também — E com dor, mas eu não diria isso a ele! — Você entende?
            — Sim... Eu acho. Mas acho que devíamos checar com alguém que entendesse melhor, talvez... Não sei... Vou chamar Estrela. E alguém experiente... Trudy. Isso! Vou chamar a Trudy também. Acho que ela pode ajudar.
            Ian começou o movimento de sair, mas não parecia decidido como sempre. Voltou para perto de mim e me analisou, como se soubesse — e ele sempre sabia — que não era de fato algo físico, algo que Estrela pudesse resolver. Mas ele também não parecia crer que pudesse resolver aquilo ele mesmo, e isso era um tanto quanto inédito. Ian era o tipo de pessoa que via um problema à sua frente e não se encolhia assustado, simplesmente cogitava uma solução e ia em busca dela. Apenas isso.
            Eu estava tão acostumada com que as coisas fossem dessa maneira, com Ian sendo sempre forte e cheio de iniciativa, que quando ele parecia perdido eu me assustava um pouco. Foi então que percebi: chorar por ser egoísta era uma das coisas mais egoístas que eu podia fazer naquele momento.
            Quer dizer, aquilo tudo era novidade para ele também. Ian não tinha passado pela gravidez, pelas alterações hormonais nem por nada daquilo de que eu podia me queixar, mas tinha sua própria cota de coisas com que lidar. E eu acho que quando se é um homem vivendo num mundo como este, pode-se chegar facilmente à conclusão de que ser pai é algo impossível, senão inaceitável. Como você vai cuidar de um bebê? Como vai protegê-lo? É Ian é um tipo muito protetor. Para dizer o mínimo.
            E, então, ali estava ele: pai de primeira viagem do filho recém-nascido de uma alienígena completamente alterada, cercado de choro por todos os lados e sem nenhuma ideia do que fazer. Bem, é preciso reconhecer que isso não é algo que alguém enfrente todos os dias. Ou alguma vez na vida, para ser mais exata. E embora Ian fosse muito bom em se adaptar às reescritas constantes das linhas de sua vida, resiliência tinha limite, especialmente quando se estava há algumas noites sem dormir direito.
            Quando me pus na situação dele, tudo me pareceu tão surreal que tive que rir. Eu estava banhada em lágrimas, com um bebê berrando em meus braços e rindo. Ir de um extremo a outro em poucos segundos: outro bônus de um corpo inundado por hormônios bagunçados.
            Observei a expressão de Ian oscilar gradualmente entre preocupação, ultraje e divertimento. Ele me conhecia bem o suficiente, sabia que o centro da tempestade já tinha se dispersado, então simplesmente pegou John dos meus braços e disse:
            — Eu até diria que esse choro todo molhou nosso filho, mas pelo cheiro acho que é outra coisa.
            Oh, céus!, pensei. Eu sequer tinha percebido que esse era o motivo do choro de John. Acho que havia algo de seriamente errado comigo naquele dia.
            — Deixe que eu troco — pedi.
            — Não, você está cansada. Ou... er... não sei bem o que você está. Será que pode me dizer o que foi aquilo?
            Aquelas duas pessoas paradas ali não éramos nós. Ian era seguro e calmo e eu não tinha ataques de choro aleatórios. Eu não tinha ataques de choro. Fim. Conversar e contar a ele a verdade me parecia a melhor maneira de nos fazer sentir um pouco mais próximos do nosso normal, então eu contei.
            — Ah, Peg! — disse Ian me abraçando. John já tinha se acalmado e adormecido naquele momento e nós dois estávamos deitados lado a lado, concentrados um no outro, como gostávamos de fazer. Já fazia alguns dias que não conseguíamos ficar assim, e eu estava aproveitando.
            — Eu sei, eu sei. Não estou me comportando como eu mesma. Desculpe. É só que não consegui evitar. Isso tudo pode ser bem enlouquecedor às vezes.
            — Na verdade, você está se comportando exatamente como você mesma. Salvo a crise de choro, é bem do seu feitio achar que se preocupar um pouco consigo é uma tragédia — disse ele, sorrindo de um jeito insultantemente bonito e meio complacente. Ele me olhou daquele seu jeito amoroso de sempre e me beijou com carinho. — Você, literalmente, não é desse mundo, Peregrina. É o ser menos egoísta que eu já conheci, e ainda assim é capaz de achar que não está sendo abnegada o suficiente. Eu não entendo tanto assim dessas coisas de mulheres, mas acho que isso deve ser normal. Tudo o que temos que fazer é perguntar a Estrela o que fazer para melhorar sua dor e, se ela não souber, eu tenho certeza de que Trudy pode ajudar.
            — Não chame Estrela — eu disse. — Ela tem passado todo o tempo que pode aqui comigo e está cansada. Logan precisou praticamente arrastá-la para que dormisse um pouco. E eu não quero incomodar Trudy. As pessoas já estão suficientemente incomodadas com as vezes que John chora durante a noite e as acorda.
            — Isso aconteceu uma vez, não foram vezes. E ele é um bebezinho recém-nascido, pelo amor de Deus! Gente fala — alguns pelos cotovelos —, cachorros latem e bebês choram em horas impróprias. É como as coisas são. Não é como se as pessoas tivessem que acordar cedo para trabalhar o dia todo aqui, certo?
            — Mas Lacey...
            — Lacey. Não Trudy. Nem ninguém, na verdade. Só Lacey, que é quem menos trabalha por aqui e não perde uma oportunidade de nos atacar. Você tem que viver com o fato de que ela nos odeia, mas, até aí... Bom, ela odeia todo mundo com exceção de Candy e da megera da Maggie. De resto, todos têm se desdobrado em cuidados com John e você. E Trudy é nossa amiga. Ela adora você.
            Era verdade. Todos estavam sendo tão solícitos e carinhosos, que quando John não fosse mais tão novinho, eu até podia imaginar naquele momento que seu berço seria levado de quarto em quarto, algo que se confirmaria depois. Um bebê trazia vida e uma nova alegria para esse lugar outrora triste. E eu era muito grata por isso, pelo amor que as pessoas dedicavam a ele. Fosse como fosse, este sempre seria o lar dele.
            Então, mais tarde naquele dia, Trudy, Estrela e Sunny vieram conversar comigo. Eu estava tremendamente constrangida, sentindo-me uma criança imatura e despreparada. Nem uma semana havia se passado e eu já estava tendo uma crise, como se as dezenas de livros sobre maternidade que eu li não fizessem a menor diferença.
            — Ah, querida! — riu Trudy. — Você não pode estudar para ser mãe. É para isso que existem as amigas.
            Eu simplesmente não conseguia acreditar que estivesse me comportando daquela maneira. Fazia com que eu me sentisse incrivelmente frágil e dependente. E embora eu tivesse tido minha cota de ambas as sensações, primeiro quando cheguei aqui com Mel, e depois mais tarde me adaptando ao corpo de Pet, aquilo simplesmente não era confortável. Mas então alguma coisa aconteceu.
            Em algum ponto ao longo da conversa, não éramos mais três Almas e uma humana, éramos apenas mulheres que dividiam histórias. Trudy nos contou coisas sobre sua filha Rose, que tinha morrido há muito tempo, antes da invasão, de leucemia. Nós evitávamos falar sobre ela, porque sempre deixava Trudy e Geoffrey tristes, além disso, fazia com que eu me lembrasse de Walt. Eu sequer conseguia imaginar o que seria passar por tudo aquilo com uma filha e não queria pensar que coisas ruins pudessem acontecer.
            Entretanto, naquele dia, a doença, a perda e a saudade não eram o que mais importava. Naquele dia, Rose era vida e lembranças boas, e os grandes olhos escuros, iguais aos de Sunny que foram o porquê da ligação entre elas ter nascido. John era uma alegria que nos unia ainda mais, e Lindsay era um sonho bom que logo estaria aqui. Para todas nós, todo aquele amor de repente parecia apenas... natural. Como algo que sempre tinha estado ali.
            Foi quando eu aprendi que mães são sempre mães e que não importa quanta dor você possa sentir, o amor sempre vale mais. Foi quando eu entendi que todas passam pelas mesmas dúvidas, pelas mesmas incertezas, e pelo mesmo medo paralisante de que não seja permitido à balança da vida permanecer muito tempo pendendo para a felicidade absoluta de ter seu filho ao seu lado, mas que essa felicidade sempre arranja um jeito de enganar a balança, mesmo quando não parece possível.
            Pude ver isso quando Trudy falava de Rose com alegria e amor, ou quando ela acariciava os cabelos de Sunny de um jeito despreocupado enquanto contava suas histórias, trazendo-a quase inconscientemente para dentro de seu coração ferido que se reconstruía um pouco quando minha alma-irmã sorria para ela.
            Foi o que eu vi novamente quando, meses depois, Estrela teve suas próprias dúvidas e as dividiu conosco, mesmo que estivesse, assim como eu tinha estado, envergonhada de que os outros pensassem que ela não conseguia cuidar da própria filha ou fazer as coisas do jeito que diziam que era certo. No fim, cada uma de nós encontrava sua maneira e descobria a mesma coisa: medo faz parte da caminhada e você nunca vai achar que encontrou o caminho, mas continua mesmo assim, porque é o que precisa fazer.
            Então nós fizemos o que tínhamos que fazer e vivemos devagar, descobrindo os passos à medida que eles estavam sob nossos pés. Ian e eu, Estrela e Logan, meus amigos e minha família. A família que eu escolhi e que me escolheu e que agora se preocupava em decorar paredes de pedra com balões e papel colorido.
            Era meio ridículo de tão lindo.
            Você pode viver uma dezena de vidas em todos os planetas conhecidos, que nada te prepara para a avalanche de sentimentos que te invadem quando vê uma caverna decorada com motivos infantis.
            — Ei, Peg, você gostou? — disse Jamie, correndo em minha direção. — Foi Kate que fez.
            — Ficou lindo! — respondi, abraçando Kate e depois Jamie.
            Os dois estavam muito animados. Acho que todos estávamos. Eu podia ver as pessoas sorrindo e seus semblantes relaxados preenchiam a praça central. Era um mundo novo agora, erguido a partir da união que John, de certa forma, simbolizava. E dentre as tradições humanas que tinham ficado para trás, estávamos resgatando algumas que agora seriam só nossas. Estávamos construindo novas lembranças para o nosso novo mundo. Decidimos isso quando os bebês chegaram e vínhamos tentando manter com cada pessoa.
            Estrela se aproximou trazendo John e, logo atrás dela, Kyle trazia Lindsay. Quando completaram o primeiro ano eram muito pequenos para entender o que era uma festa, mas desta vez eles soltaram gritinhos de empolgação e começaram a espernear no colo dos dois, tentando se soltar. John, mais velho e um pouco mais firme nas próprias pernas, correu e passou por baixo da grande mesa improvisada, indo direto até os balões que Jeb terminava de encher.
            Ele pegou alguns e correu de volta para mim, tirando o mais bonito e colorido do bando e me oferecendo.
            — Mamãe, “pa voxê”. Vem lá de “xima tamém”.
            Ele estava se referindo ao céu. Ian dizia a ele que eu tinha vindo de lá, e John tinha verdadeira fascinação pela ideia. Ele simplesmente amava qualquer coisa que tivesse a ver com as alturas, como balões que voam com o vento, por exemplo, mas às vezes se confundia com as palavras “ir” e “vir”.
            Lindsay também tinha descido do colo de Kyle e estava correndo alvoroçada, os dois jogavam balões um para o outro sob a “supervisão” entusiasmada dos filhos de Lucina, enquanto eu olhava para o meu presente que “vinha lá de cima”: aquele balão colorido que eu segurava com carinho, impedindo de voar com o vento para todo canto. Eu teria que segurar meu filho também, quando ele quisesse voar.
            Eu amava esse mundo só nosso, mas sentia que iria para sempre me ressentir do fato de que meu filho não teria um mundo inteiro para si, o mundo que ele quisesse ter quando pudesse voar. Não enquanto quisesse ficar conosco. Nenhum de nós fazia ideia de como seria a vida lá fora para os novos humanos, esses cujos pais Almas não permitiriam que fossem hospedeiros, bebês como John e Lindsay, mas sabíamos que nós, sua família, jamais poderíamos sair daqui.
            Eu queria que ele voasse, é claro que queria! Faria qualquer coisa para que ele vivesse feliz, inclusive libertá-lo, inclusive viver longe dele. Mas ele era meu filho. Meu. Como eu poderia suportar que ele partisse?
            Não havia nada mais irritante em se ser humana do que os paradoxos perturbadores que cercam a experiência. Às vezes eu queria apenas não pensar nessas coisas e viver exclusivamente no presente, bem aqui onde meu filho é só um bebê que só sai de perto de mim para ir para o colo das pessoas que amo. Exatamente aqui, onde sou tão feliz.
            Trudy vivia me dizendo que as coisas nunca mudam, mães são sempre a mesma coisa, não importa que estejamos em um mundo totalmente diferente. E ela tinha razão. Eu sempre desejaria poder dar mais a ele do que ele tinha, e sempre me preocuparia que não fosse o suficiente. Eu seria sempre a mãe dele, por tudo quanto isso significava: o amor infinito, o medo eterno e intrínseco de que ele não fosse feliz... Tudo.
            Na balança desconhecida que equilibra nossas emoções, no entanto, eu podia dizer que a felicidade pesava mais. A vida não era perfeita. Provavelmente nunca seria. Mas eu não precisava de uma vida perfeita enquanto tivesse a minha, enquanto tivesse este mundo e estas pessoas. Porque essa era uma vida em que balões coloridos podiam ir e vir do céu.
            Mesmo que fosse apenas por agora.

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