sábado, 21 de fevereiro de 2015

ELS Capítulo 16

Capítulo 16 – Salto de Fé

Like a moth into a flame
I'm hypnotized
And like a stone
I'm paralyzed cause I can't look away

You found your way under my skin
(…)
How am I supposed to break this spell you got me under?
I'm so addicted to the pain
Got your poison running through my veins

(Break the Spell – Daughtry)

Um barulho baixo e contínuo se insinua por meus pensamentos semiconscientes. Estou alerta o suficiente para me lembrar que tenho algo a fazer, mas não o bastante para me obrigar a fazê-lo. O sono tem dessas coisas. E o que sei é que quero permanecer aqui por mais tempo, neste lugar da minha mente em que as coisas têm sua própria lógica onírica e nada me parece confuso.
Mas o barulho insistente continua. Ele puxa meus sentidos até que me lembro do nome disso. Telefone. Começo a abrir meus olhos, ficando vagamente ciente de que dormi mais do que devia e que preciso levantar rápido para ver quem quer falar comigo, porém o telefone para de tocar nesse momento.
Ao meu lado, a tela do celular se acende furiosamente no criado mudo, mas nenhum som acompanha a luz invasiva. Lembro-me vagamente de ter tirado o som antes de dormir, então vejo que há nove ligações pendentes de Paty na tela. Nove. Conclusão: é melhor eu atender à décima rapidinho!
— Alô.
— Levanta já dessa cama e vem pra cá!
Por um momento olho em volta, ainda muito sonolenta para perceber o quanto é ridícula a perspectiva de que Paty esteja no meu quarto. Mas, claro, se fosse assim ela não estaria me ligando pela décima vez, e sim me sacudindo como um tornado furioso.
— Como você sabe que eu estou... estava dormindo?
— Bom, acho que nove ligações perdidas me deram um pista, né?
— Hum...
— Dois, três, quatro! Anda, garota! Você vai se atrasar!
— Atrasar para quê? Ainda falta muito tempo para nosso horário de entrada, Paty!
— Ai, caramba. Eu sabia. Tinha certeza de que você tinha esquecido. Você não prestou a menor atenção quando o Samuel pediu para a gente estar aqui uma hora mais cedo, não é?
— Nossa! A reunião! — disse eu pulando da cama, já perfeitamente desperta pelo peso da minha irresponsabilidade.
— É, Branquinha, a reunião! O que está acontecendo com você esses dias, hein? Anda com a cabeça na lua!
A “reunião” era o jeito como estávamos nos referindo ao dia de hoje, aquele que sabíamos que ia chegar desde que as suspeitas de Paty se concretizaram e Samuel teve mesmo que vender o bar.
E pelo que Samuel chamava de “vender”, sabíamos que era para entender “entregar como pagamento pela dívida de jogo”, já que todas as informações sobre nosso novo chefe — que não estávamos nem um pouco animadas para conhecer — nos levavam a crer que ele era o tal para quem Samuel devia, o gringo que ficaria com tudo de “porteira fechada”.
Samuel tinha nos convocado uma hora antes do nosso expediente começar para nos apresentar a ele. E disse a todos para ficarmos tranquilos, porque o novo dono queria manter tudo exatamente como era. Restava apenas decidirmos se íamos querer ficar, claro.
Meus colegas, a senhora que trabalha na cozinha e seu assistente, além também dos rapazes que instalam os equipamentos de som, estão contentes de poder continuar. Lara também, eu acho. Mas eu e Paty temos nossas dúvidas, porque não sabemos até que ponto as coisas continuarão na mesma. Amamos aquele bar. Demais. E por isso mesmo não sabemos se vamos conseguir aguentar ver as coisas mudarem de um jeito que o descaracterize. Samuel pode ter seus defeitos, mas ele construiu um lugar onde nos sentimos acolhidas, e a mudança nos deixa com medo.
De qualquer forma, mesmo sem a certeza de que irei ficar, e ainda que não esteja a fim de conhecer esse homem que vem perturbar meu refúgio – sim, agora, pensando bem, refúgio é uma boa palavra para definir o que esse trabalho é para mim –, não quero que ele tenha razões para achar que sou uma funcionária ruim.
— Ai, que droga, Paty! Dormi demais e me esqueci da vida! Acho que estou na lua mesmo, como você disse. Quanto tempo eu tenho? – pergunto, olhando em volta em busca de algum relógio.
— Hmmm, acho que uns vinte minutos. O cara já deveria ter chegado, mas ligou há pouco dizendo que ia se atrasar uma meia hora. Viu? No fim das contas, acho que vocês podem se dar bem! Nenhum dos dois respeita horário — diz ela, dando uma risadinha provocadora para descontar o resto de sua irritação.
— Certo! Eu chego logo aí — respondo, ignorando a brincadeira e desligando o telefone.
Preciso correr. O caminho de carro até o bar demora de 10 a 15 minutos, dependendo do trânsito. Isso significa que tenho cerca de cinco minutos para pular dentro de meu uniforme e me fazer minimamente apresentável para conhecer esse homem.
Claro que eu acabo demorando um pouco mais que isso, e quando chego no hall vejo que o elevador está no último andar e vai demorar um tempão para chegar no meu. Calculo mentalmente se indo pelas escadas chego mais rápido, mas os saltos de minhas botas me fazem mudar de ideia rapidinho. Normalmente, eu vou para o trabalho usando tênis e só os troco pelas botas quando chego lá, mas hoje não há tempo, então decido esperar pelo elevador mesmo. Fico ali desejando ter apenas uns minutinhos para parar e pensar em tudo o que me aconteceu hoje, mas o elevador chega e me apresso para dentro dele, empurrando os pensamentos para um canto de minha mente.
Isso é o que você ganha por esquecer o despertador, dorminhoca!
“Pois é. O caso é que isso é tão atípico de mim!”
Bem, descobrir um quase-namorado-afilhado-quase-filho também pode ser chamado de atípico.
Começo a rir, não apenas pelo absurdo da situação, mas pela naturalidade bizarra com que mantenho diálogos com uma versão mais espontânea de mim mesma.
Aham, você é excêntrica. E daí?
Sim, excêntrica o suficiente para reencontrar minha zona de conforto em meio a essa maluquice toda e sentir-me quase normal novamente, com as minhas pequenas-grandes esquisitices. Essa constatação me liberta e esse senso de libertação traz de volta os pensamentos que eu tentei guardar para mais tarde.
Bem, estava na cara que não ia funcionar. Não hoje. A minha técnica de não pensar nas coisas que me aborrecem ou preocupam tem seus limites, no final da contas. Principalmente quando tudo em mim recende ao prazer de ter olhado nos olhos de meu menino, de tê-lo tido em meus braços mais uma vez, e é impossível me concentrar em qualquer sentimento menor do que esse.
Percebo finalmente — enquanto traço meu caminho pelo estacionamento e ponho meu carro em movimento, rumo ao que quer que me espere essa noite — que a felicidade e o alívio que sinto ao pensar em Caio se sobrepõem a tudo o mais. Culpa, confusão e medo são sentimentos pequenos e, de certa forma, mesquinhos perto do que significa para mim saber que ele e Marina ficaram bem, que foram felizes por todos esses anos e encontraram todo o amparo que eu gostaria de ter podido dar a eles.
Mas é ao mesmo tempo doce e amargo saber que não fiz falta. Há uma pontada de humanidade egoísta em mim que sempre se compraz quando me sinto necessária. Aquela inebriante e inevitável sensação de se sentir amada quando se é essencial a alguém. Talvez seja apenas uma ilusão, mas não importa realmente. É só a minha mais estimada fraqueza. E o que pode ser mais intrínseco à experiência humana do que nossas fragilidades?
De qualquer modo, esse é só mais um sentimento tolo que empalidece diante do alívio de saber que tudo ficou bem para eles. E para mim também, de certa forma. De algum jeito, as coisas sempre se acertam e talvez não seja imprudente ter esperança. Talvez não seja demais acreditar que tudo pode dar certo.
E como que para confirmar isso, o trânsito hoje está mais rápido do que de costume, e eu paro meu carro no estacionamento de funcionários do On the Rocks um segundo antes de ver uma imensa moto negra se aproximar pelo retrovisor. O ronco sutil de seu motor, elegante e discreto como meu velho Fusca jamais seria, combina perfeitamente com os movimentos felinos do motorista que manobra com precisão até estacionar bem ao meu lado.
Nem seria preciso ver sob o capacete negro para ter certeza de quem ele é, também não preciso olhar em volta para ver se os carros de meus colegas estão todos aqui. Nenhum de nós teria dinheiro para uma moto como aquela, e a naturalidade com que ele chegou, como se fosse dono do lugar, me diz que é exatamente isso o que ele é: o dono do lugar. Meu novo chefe.
Cogito por apenas um segundo ficar aqui dentro do carro até ele entrar, só para não ter que enfrentá-lo aqui fora sozinha e, já no primeiro “olá”, arriscar uma má impressão por estar tão atrasada. Mas tenho poucas esperanças de que ele não tenha me visto, e menos ainda de que eu consiga entrar sorrateiramente e fingir que já estava lá. Então acho que vou ter que sair e parar de fingir que ele não está parado ali, com o corpo meio apoiado na moto, provavelmente esperando para ver quem é a maluca que está usando o próprio carro como sala de espera.
Sai logo, tonta! É só um cara e não o palhaço do filme “It”. Além disso, não é como se ele também não estivesse atrasado.
“Ah, tá. Valeu por me lembrar daquele filme apavorante. Agora me sinto muito mais segura.”
Tanto faz. Só vá de uma vez. Eu já disse que é só um cara.
Então eu vou. Respiro fundo e saio do carro. E não. Definitivamente não é só um cara. Por Deus!
Acho que andei sonhando com este dia, porque é como se eu já tivesse vivido isso muitas e muitas vezes. Minha pele toda arde com a lembrança dele, de como ele ficou tatuado em mim e de como eu o imaginei infinitas vezes em todos os lugares por onde tenho andado.
Ele está um pouco diferente da última vez. Os cabelos estão mais curtos e cuidadosamente bagunçados e a sombra de uma barba por fazer lhe dá um ar mais... realista, talvez. Mas lá está ele, o homem misterioso daquela noite. E visto assim de perto, sob a luz desvanecida do crepúsculo, ele parece ainda mais bonito.
Como da última vez, ele está vestido de preto, uma camiseta simples, jaqueta de couro, jeans escuros e botas de motoqueiro. Ele parece descontraído com os pés cruzados enquanto seu corpo se apoia graciosamente na moto, e há um meio sorriso insistente em seus lábios. Mas há algo na maneira como ele me analisa, com os olhos meio cerrados e a cabeça inclinada em dúvida, que faz seu olhar parecer ligeiramente invasivo. Há algo doloroso na maneira como ele cruza os braços de um jeito tenso em frente ao peito, como se estivesse se protegendo, como se estivesse em guarda. De certa forma, isso o faz parecer um pouco mais inatingível. E enquanto ele também me observa, eu me dou conta de que seus olhos quase impenetráveis se parecem muito com os de um animal ferido.
Isso faz com que eu fique triste. Faz com que eu queira abraçá-lo.
Bem...
Minha mente maliciosa tenta me provocar, mas eu a calo a tempo.
Estou hipnotizada demais para perceber que o tempo não parou, mas acho que o silêncio entre nós começa a ficar desconfortável para ele.
— Clara, não é mesmo? Eu me lembro de você. Como está? — pergunta ele, dando um passo à frente e rompendo alguns centímetros da já pequena distância entre nós.
Eu tinha pensado que só ficar olhando para ele já seria o suficiente, mas quando sua voz calma toca meus ouvidos, desta vez livres do barulho do bar, percebo que me enganei. Quando ele fala é como o calor de um abraço no inverno.
“Por Deus, fale comigo. Fale comigo para sempre.”
Bem, gênio, para que alguém fale precisa haver um diálogo. Sabe como é... É tipo quando a outra pessoa diz alguma coisa também ao invés de ficar só olhando com cara de besta.
É uma constatação impertinente, mas verdadeira, então forço as palavras para fora de meu universo interior, porque percebo que não posso ficar aqui o contemplando como se ele fosse um quadro na parede.
— Sim, é verdade. Nós nos conhecemos na outra noite, não é? — E aqui eu devo ter soado beeem convincente ao fingir que só estava me lembrando dele agora. Tipo um passarinho tentando latir. — Tudo bem. E você?
— Melhor agora.
“Melhor agora. Sério? O que você está tentando fazer comigo? Porque se for qualquer coisa que envolva me deixar morta de vergonha está funcionando.”
Acho que ele percebe meu embaraço, porque sorri. Não, ele ri. Ri do fato de eu estar envergonhada. E eu me sinto um pouquinho magoada e muito, muito tola. Mas, bem, se ele vai fazer isso comigo, se vai fazer eu me sentir como se fosse uma menininha boba, pelo menos eu mereço saber seu nome.
— Você não me disse seu nome naquela noite. Acho que estou em desvantagem aqui. Você já sabe mais de mim do que eu de você.
— Tem razão. Vamos resolver isso então. Eric Morgan – ele diz, estendendo a mão para mim.
Eric. Eu gosto. Soa como... ele.
— Clara Felix – respondo, segurando a mão que ele me oferece. — Agora estamos devidamente apresentados.
Ele sorri de novo, só um discreto sorriso de canto, e continua segurando minha mão. Acho que o prazo socialmente aceito para cumprimentos já expirou há tempos, mas nossas mãos continuam juntas e eu não quero que ele solte, mesmo que esse simples contato deixe meu mundo de pernas para o ar.
— Vamos? — ele diz, finalmente quebrando o adorável silêncio em que permaneci trancada por seu toque. — Acho que estamos muito atrasados.
Eric se vira em direção à entrada de funcionários e me puxa atrás de si, nossos dedos ainda entrelaçados, mas eu não me movo. Ele se volta novamente para mim e nossos olhos se encontram, seguindo juntos para nossas mãos unidas.
O que está acontecendo comigo, afinal? Por que me sinto como se ele estivesse me puxando para o meio de um furacão? E a parte realmente confusa para mim é que eu quero ir.
Ele olha para nossas mãos e depois para mim, e então me solta com a mesma naturalidade com que me reteve. Continuo parada, desta vez me ressentindo pela quebra do contato entre nós.
É estranho o que ele me faz sentir e não sei ainda como reagir a isso. É como se eu estivesse ouvindo minha música preferida pela primeira vez e também pela última, tudo ao mesmo tempo.
Eric deve achar que sou maluca. Céus, eu acho que não estou bem da cabeça! Uma de suas sobrancelhas se arqueia ligeiramente, como se ele estivesse tentando me ler. E, bem, aposto que não consegue, porque, dada a minha confusão, qualquer coisa que meu rosto revele deve estar “escrito” em farsi ou algum outro idioma insondável para mim.
— Você não vem? — ele pergunta.
“Sim, vou. Para onde?”
Xiiiiiiiii!
Claro que eu sei que ele está me chamando para entrar no bar, mas há muito mais coisas acontecendo em minha cabeça e em meu coração, e há alguma coisa em Eric que o faz parecer um outro tipo inteiramente diferente de convite.
Abro minha boca para dizer que o bar ainda não está aberto e que ele não pode entrar pela entrada dos funcionários, mas então me lembro da conclusão a que tinha chegado antes, quando ele ainda não tinha me feito esquecer como é mesmo que se respira.
— Oh! — digo, surpresa. — Você é o gringo da porteira fechada?
— O quê? — ele pergunta, dessa vez rindo abertamente, nada de seus meio sorrisos misteriosos. — Sou meio irlandês, então devo ser o gringo. Mas não estou muito certo do que você quer dizer com a outra parte.
— Desculpe — respondo, morrendo de vergonha de como isso soou esquisito até para os meus padrões. — É uma expressão que minha amiga usa. Quer dizer que comprou o bar disposto a manter tudo como está. Pelo menos foi o que nos disseram. É verdade?
— Absolutamente. É um lugar interessante, não acha?
— Sim. — E acabou de ficar mais. — Todos nós gostamos muito daqui.
— Ótimo. Então espero que todos concordem em ficar.
Quando diz isso, Eric me olha incisivamente, enfatizando a palavra “todos” de um jeito que me faz sentir como se ele estivesse se referindo especialmente a mim.
— Não vejo por que não.
E estou respondendo pelos outros também, acho. Afinal, ele parece ser um cara legal.
Legal. Sei. Como se fosse essa a razão de você querer ficar aqui.
— Acho que isso significa que posso contar com você no staff?
— Claro! — digo, tentando disfarçar a empolgação.
— Bom — ele responde simplesmente.
Ok. “Bom” é bom. Eu acho.
— Então acho que é hora de você conhecer o resto da equipe — lembro a ele, porque quanto mais tempo eu fico aqui fora ao seu lado, mais difícil é imaginar que dentro em pouco ele não será mais meu homem misterioso, e sim meu novo chefe. Melhor fazer isso de uma vez.
Eric assente uma vez, sua expressão cuidadosamente neutra, e encaminha-se para a porta novamente. Eu já tinha começado a pensar no quão estranho seria eu chegar junto com ele, na cara de ódio de Lara e no interrogatório infinito de Paty, quando ele se interrompe depois de destrancar a porta.
— Diga-me uma coisa, Luz — ele pergunta sem olhar para mim, — você realmente não se lembrava de nosso último encontro?
E só então ele me olha, o irresistível sorriso de lado combinando com a expressão maldosa em seu rosto. Começo a temer e a amar esse sorriso quase na mesma medida, apenas pelo efeito que causa em mim. Felizmente, ele não espera pela resposta, por certo se apiedando da minha expressão torturada que reflete a sua de torturador. Ele abre a porta e se afasta, fazendo sinal para que eu passe.
— Pode ir na frente. Eu realmente não me importo de deixá-los esperando mais um pouco. Já ganhei o dia, de qualquer forma.
Não paro para pensar em como ele sabe que eu estou sem jeito de entrarmos juntos. Também não me pergunto o que ele quis dizer com já ter ganhado o dia. Apenas obedeço e entro rápido pela porta que ele segura para mim, meu coração se acelerando quando passo em frente a ele e capto seu cheiro, uma mistura de calor e banho tomado. Percebo neste instante, com um tipo de certeza tardia, mas inabalável, que nunca conseguirei ser indiferente à presença dele como sempre fui à de outros homens.
Tenho medo disso. Gosto disso.
O corredor de entrada está um pouco escuro, provavelmente porque quando os outros chegaram ainda podiam contar com a luz do dia, mas nem preciso acionar o interruptor, conheço bem meus passos. Eu podia andar pelo bar de olhos fechados se quisesse. Acendo a luz apenas porque sei que Eric virá logo depois e não conhece o caminho como eu conheço.
Pergunto-me se conseguiria andar por outros caminhos de olhos fechados também. Eric é um caminho escuro. Um irresistível abismo. E eu não sei como seria pular sem saber sequer onde eu atingiria o fundo. Ou se o fundo existe.
No começo de minha vida, quando eu ainda era muito jovem e minha mãe ainda estava muito confusa quanto ao nosso futuro, Alberto nos disse uma coisa que acabou virando uma espécie de mantra para nós três, uma daquelas frases que você diz fora de contexto, mas que a outra pessoa entende porque evoca milhares de conversas anteriores. Naquele dia, ele disse: “Bem, Estrela Clara, às vezes é preciso dar um salto de fé.”

Então, sim, acho que posso fechar meus olhos e pular.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Efeitos Colaterais de Ser um Escritor


por Jurema Iracy Paes de Lima

Olá, Escritor.
Sim, é com você que estou falando. Você que escreve fanfiction, você que escreve poesia, você que escreve oneshot ou songfic. Sim, sim. Você é um escritor. Pasme com a revelação, e se acostume.
Eu sei que muita gente que escreve não se considera um escritor. Porque, bem, a gente tende a pensar que escritor é só aquele cara, ou aquela cara, que publica seus livros e ganha um retorno financeiro com isso. Mas a verdade é que se você escreve por hobby ou por profissão, você é sim um escritor.
Agora que te rotulei devidamente, vamos pensar em todas as consequências de ostentar tal rótulo.
Você provavelmente nunca pensou, ou se pensou, pensou muito superficialmente, sobre os benefícios de ser um escritor. Bem, você se anima quando sua história é listada como favorito. Se ganha um review no capítulo, então, você vibra. E se vir uma recomendação no pacote, daí você surta. Sai até correndo pela casa, dando gritos de alegria parecendo uma criança que ganhou o tão sonhado brinquedo.
Acertei?
Eu sei que sim.
Isso, contudo, é só a ponta do iceberg. Já pensou em como você passa a ser alguém importante na vida daqueles que te leem? Já pensou no quanto o que você escreveu pode mudar vidas, transformar ideias e revelar novas oportunidades?
“Ah, Juh. Claro que eu já pensei.” Será?
Vamos lá. Primeiro vamos fazer você se enxergar como um leitor. Por que você admira o escritor daquele livro sensacional que você tanto ama, e até relê as partes que mais mexeram com você? Hum? Hum?
Porque a história dele modificou a sua vida. Porque você passou a ter esperança. Porque você descobriu que ama ler. Porque ele é foda na escrita. Porque, cara, ele é genial...
Ok. Só pare para pensar nesse livro que você tanto ama. E depois pare para pensar o quanto você quer ler mais, naquele mesmo estilo, e começa a procurar outros livros que o autor tenha escrito. E depois, quando você menos vê, bum, lá está você, totalmente apaixonado pelo autor.
“Ah, mas isso é só coisa dos best seller”, você vai me dizer. Será? Temos atualmente alguns autores show de bola que de escrevem tão bem que conquistaram um público fiel. Eu até citaria os nomes de todas as autoras de fanfictions que têm um público gigantesco, mas sei que se fizer isso, posso ser vista como invadindo a vida delas. Algumas podem até gostar, outras, iriam até me torturar.
Brincadeirinha.
Okei. Mas em vez de olhar para a grama alheia, que sempre parece mais verde, olhe para si mesmo, caro escritor. Você também está conquistando seu público. Suas histórias estão fazendo os seus leitores se interessarem por você. Se não fosse assim, eles não te marcariam como escritor favorito. Sabe pra que serve isso? Para que toda vez que você lançar uma história nova, ele não durma de touca, e fique sabendo, no segundo seguinte, o link para acessar e começar a degustação da leitura.
E aí é que começam os efeitos colaterais. Você é responsável direto pelos seus leitores. Você tem o poder de influenciá-los. Uma palavra mal escrita pode provocar uma revolução entre seus leitores. Se você tiver uma rixa com um colega de hobby/profissão, seus leitores podem até abraçar isso, tomar as suas dores. E se você tiver amor platônico, o efeito será idêntico.
Se você escrever sobre uma doença, você pode induzir seu fã a enxergar aquilo com novos olhos. Se ele se identificar com o personagem, pode até ver o problema da mesma forma que o personagem vê. Se você fizer seu personagem agir com tranquilidade diante de uma situação extrema, há uma parcela de leitores que podem lidar com aquilo da mesma forma que ele. Se sua história tiver como pano de fundo o sistema bancário, por exemplo, inconscientemente, você estará ensinando ao seu leitor como funcionam os bancos.
E daí que vem a importância de se pesquisar. Se você for foda na escrita, como acredito que seja, você vai escrever de forma tão crível, que seus leitores vão acreditar que aquilo é verdade. Então, se você apenas escreve sobre uma situação sem ter pesquisado, seus leitores vão pensar que aquilo é verdade.
Sabe como é, né? Mesmo que o leitor entenda que a história é ficcional, uma ou outra coisa vão parecer tão crível para ele, que ele pode trazer aquela informação para a vida real.
Quer outro exemplo? Que tal a sexualidade? Quantas mulheres passaram a lidar de forma mais natural com sua própria sexualidade depois que descobriram o mundo fanfiction? Quantas mulheres estavam sem libido e, de repente, se viram pegando fogo. O que deve ter de marido por aí que está agradecendo, não está escrito no gibi.
Um amigo meu até falou que as mulheres estão ficando mais exigentes na hora “H”. Porque de repente, elas não se contentam apenas com a penetração. Elas querem visitação bem feita em todos os seus pontos turísticos naturais. Claro que isso é um bônus para os dois. Afinal, a mulher que deixou de ter reservas contra seus próprios instintos, sabe muito bem dar prazer, e se conceder prazer, já que tudo está na sua mente. E uma mente sem preconceitos primitivos é muito mais feliz.
Esse mesmo amigo meu até disse que pretende rever Cinquenta Tons de Cinza só para aprender como agradar a mulherada. E bum, foi desmistificado o orgasmo, o prazer, o sexo.
A leitura, antes um prazer raro, está se tornando uma febre contagiante. E seu leitor está absorvendo todas as faces que você apresenta. Ele está aprendendo a sentir, a se entender, a aceitar suas próprias limitações. Mas acima de tudo ele está aceitando as limitações alheias e seus comportamentos.
E você, escritor, é responsável por plantar a paz, ou semear a guerra. Independente se sua história culmina com o “felizes para sempre” ou com uma distopia daquelas.
Caro autor, quando você escrever seu próximo capítulo, sua próxima história, pense que por mais “bobinha” que seja sua trama, você está influenciando na vida de quem for ler. E quando você for escrever na sua linha do tempo, pense no que está escrevendo. Você pode estar ou o incentivando a brigar, ou o incentivando a amar. Assim sendo, convido-os a escrever de forma consciente. O mundo está mudando.

Assim sendo, te parabenizo, caro escritor. Está em suas mãos o nosso futuro.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Resenha da Trilogia Jogos Vorazes






Anos atrás, na época em que o filme Jogos Vorazes estava para ser lançado e a popularidade dos livros era cada vez maior, lembro-me de ter lido uma resenha que dizia que essa era a franquia que viria para substituir Crepúsculo no coração dos adolescentes. É claro que o texto falava sobre popularidade e apelo, não sobre conteúdo, mas, mesmo assim, a comparação me deixou com uma impressão equivocada da trilogia escrita por Suzanne Collins: a de que tratava-se essencialmente de uma história de amor.
Nada poderia estar mais longe da verdade, porque embora haja um par romântico, Jogos Vorazes não é a história de amor entre Peeta e Katniss, mas, sim, do amor dele por ela e do dela pela irmã, Prim. Essas são as duas forças que movem todos os acontecimentos e a maneira como eles se desenrolam.
O amor de Peeta é inequívoco e incompreensível desde o começo, ao menos para nós, leitores, mas Katniss leva anos para entendê-lo e chegar perto de uma correspondência, ainda assim, não exata. Isso pode ser meio frustrante para as pessoas românticas, mas é totalmente coerente com a pessoa dura que ela precisou se tornar e com sua quase total inabilidade com sentimentos. 
Katniss é forte e habilidosa, graças aos ensinamentos de seu falecido pai e a suas atividades de caça ao lado do amigo-que-quer-ser-namorado, Gale. Ambos precisam disso para sobreviver e alimentar suas famílias, o que significa que, preocupada com coisas mais urgentes como não morrer de fome, a moça não teve muito tempo de desenvolver sua sensibilidade e habilidades sociais. Resumindo: se você é aquele tipo de pessoa que adora uma mocinha em perigo você pode gostar do Peeta, essa não é a saga para você. Mas se o seu negócio é ação, girl power e personagens fortes, senta aqui do meu lado e vamos conversar sobre uma trilogia magnificamente construída, capaz de te fazer refletir sobre opressão, diferenças sociais e a importância das coisas essenciais que, muitas vezes, tomamos como garantias.
Os livros me emocionaram, surpreenderam, alegraram, revoltaram, enterneceram e entristeceram, tudo na mesma medida. Só por isso eu já recomendaria, porque história boa tem mesmo que mexer com os recônditos de nossa alma. Quer dizer, você ama os personagens quase tanto quanto pode sentir ódio deles às vezes, mas jamais permanece indiferente ao seu destino. 
Então, sim, vale a pena cada sofrimento que me fez querer mandar uma cartinha malcriada para a Dona Collins. Cada página que quem não conhece, ou apenas assistiu aos filmes, deve ler para entender a infinidade de nuances que as versões cinematográficas deixaram escapar. E também, mas principalmente, porque são ótimos livros.

NOTA PARA OS PREGUIÇOSOS: Agora, bem, recomendação feita, vou dividir o post para os preguiçosos de plantão. Daqui para a frente, vou fazer um resumo breve da história e destacar algumas coisas que achei marcantes em cada um dos livros. Se você já está convencido, ou não está mas cansou de ler, pode parar por aqui, porque a resenha mesmo já acabou.


A história acontece em Panem, uma versão distópica da América do Norte, que se encontra dividida em 12 distritos extremamente pobres e a Capital opulenta que os controla. Panem é, na verdade, um nome bastante sugestivo: vem de Panem et Circensis ou Pão e Circo, comida para os Distritos famintos e entretenimento para a população profundamente alienada da Capital, tudo isso fornecido através dos Jogos Vorazes, espécie de reality show concebido por gente muito, muito estranha.
Anualmente, como punição por uma rebelião em que o Distrito 13 foi destruído e os demais subjugados, todos os Distritos têm que oferecer um par de Tributos. Um casal de jovens entre 12 e 18 anos que é sorteado em cada localidade e mandado para uma arena onde se enfrentam, e a outros tantos perigos, até que apenas um sobreviva. O vitorioso volta para casa com profundas sequelas emocionais honras e riquezas, além de uma ano de relativa fartura de alimentos para a população de seu Distrito de origem.
Os objetivos são claros: humilhar os Distritos e mantê-los divididos através da rivalidade nos Jogos. Dessa maneira, uma nova rebelião não se forma e a população da Capital tem sua distração, mantendo-se sempre alheia às profundas desigualdades sociais e à opressão de que os distritos são vítimas. É a fórmula perfeita, pelo menos até um fato tão corriqueiro quanto inesperado mudar as regras do jogo.
Katniss Everdeen, a tributo do 12 que se ofereceu para tomar o lugar da irmãzinha sorteada, e Peeta Melark, o garoto que se declarou apaixonado por sua companheira de distrito, geram uma comoção e um dilema: ao mesmo tempo que os telespectadores torcem por um romance entre os dois, sabem que apenas um deles pode sobreviver. Pior do que isso, a situação pode chegar a tal ponto em que só sobrem os dois numa disputa final até a morte.
Inadvertidamente, Katniss e Peeta injetam humanidade aos tributos, e a população já não consegue enxergá-los da mesma maneira. Não são gladiadores, mas, sim, adolescentes apaixonados, pessoas recém-saídas da infância e que deveriam ter um vida pela frente. Aproveitando-se disso, Haymitch (vulgo: o melhor personagem dessa bagaça), o mentor do 12, manipula as probalidades e os patrocinadores, tornando cada vez mais palpável uma vitória inimaginável (e põe inimaginável nisso!) para o frágil e empobrecido Distrito 12. Mas resta o problema: qual dos dois tributos sobreviverá? A caçadora habilidosa e determinada, ou o garoto sensível com a capacidade de influenciar multidões patrocinadores com suas palavras? May the odds be ever in your favor! (Entendedores entenderão.)
O caso é que, em meio a essa confusão toda, Katniss acaba se tornando um símbolo de união entre os Distritos, uma esperança de revolução, o Tordo. #NossoLíderOTordo Justo ela, que só queria mesmo salvar a própria pele e a das pessoas que ama. Pois é, Catnip, ninguém disse que salvar a Prim requereria podereres de super-heroína. Agora, aguenta!

Observações pertinentes:

Digamos que Katniss não é a pessoa mais fácil de se gostar. Ela é fria, desconfiada e seca. Como narradora, com tudo visto pelos olhos dela, mas ao mesmo tempo através de sua percepção rasa, tem hora que ela faz a gente se revoltar um pouco. 

Mas em Jogos Vorazes há um cena que define a personagem para mim e me faz compreendê-la e redimi-la. Já na Capital, em um de seus primeiros encontros com seu estilista Cinna (personagem adorável, aliás), ele aperta um botão e uma refeição deliciosa surge de um compartimento como mágica. Katniss fica pensando em todo o esforço que teria que fazer para conseguir uma refeição ao menos semelhante àquela, e se questiona sobre o que faria com seu tempo se não tivesse que caçar para comer e alimentar a família. Acho essa questão terrível, um tapa na cara, porque ela mostra que todos os nossos sentimentos, todos os traços mais sensíveis e complexos de nossas personalidades, só podem se desenvolver porque não temos que nos preocupar com as coisas mais basais. Resumindo, a gente só pode se preocupar com "frescuras" porque tem um teto sobre nossas cabeças e a garantia de comida sobre nossas mesas. Não consegui mais criticar a "insensibilidade" da Katniss depois disso. Ponto.



Em Chamas é o mais legal dos três. Os novos personagens são muito interessantes, em especial Johanna e Finnick. Aqui a gente consegue vizualizar a profundidade das desigualdades sociais com muito mais força, porque é quando Katniss e Peeta visitam os Distritos e frequentam a alta roda na Capital. Destaque para uma cena em que eles descobrem que um das bebidas servidas num banquete épico é, na verdade, um "esvaziador de estômago", ou seja, algo para fazer os convivas vomitarem para poderem comer mais. Quantas vezes desejarem. Quase fui eu que pus tudo para fora nessa hora, só que por uma razão diferente.



A Esperança é um livro duro com nosso emocional. Coisas terríveis e decisivas acontecem, inclusive, quase no fim, algo que fez muita gente amaldiçoar a autora. Só que eu achei totalmente coerente com a proposta. Não há um final feliz. Nem triste. Há um final. Revoltante em alguns momentos, sim. Positivamente surpreendente em outros, também. Mas verossímil até a última palavra. Não dava para Katniss sair ilesa de tudo o que passou e ir ter um final de "mulherzinha". Há sequelas físicas, emocionais e psicológicas que os personagens terão que carregar para sempre. Mas isso é apenas lógico depois de tudo o que aconteceu com eles. Então lembrem-se da palavra coerência quando estiverem afiando a faca para cortar os pulsos. Sem mais. Mentira, tem mais. Eu também queria que uma certa coisa não tivesse acontecido, mas sem isso Katniss não sofreria com tanta força o impacto que a fez agir do jeito que agiu no fim de tudo. Então sejam compreensivos e apreciem a maneira bem amarrada como tudo se desenrola.

Só mais umas coisas:
1 - Rue. Vocês vão saber do que estou falando. Ai, ai...
2 - Buttercup. Because I'm a cat person. (Besides being a dog person.)
3 - Haymitch Abernathy. Tenho um fraco por personagens de caráter ambíguo, desses que a gente ama e odeia com a mesma intensidade. São eles os únicos com o cinismo necessário para fazer o que é preciso. E não ligam de carregar o fardo de serem odiados pelos ingênuos. Amo. Haymitch é o cara. The end.

The end mesmo, na verdade. Acho que já deu. 
May the odds... é, aquela coisa toda. Boa sorte na leitura e me contem o que acharam.
Fonte: http://mairazp.blogspot.com.br/

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Starters e Enders: Mais pra mais do que pra menos




"Não se pode julgar um livro pela capa." 


Todo mundo aprende isso desde cedo, mas, honestamente, quem nunca? Eu, pelo menos, sofro de um caso crônico de desobediência literal a essa regra sagrada. E por "desobediência literal" entenda: eu saio comprando livros só porque achei a capa bonita. Então tá, pode me julgar agora, sociedade. 
Em minha defesa, contudo, posso dizer que nunca deixei de ler um livro só porque tivesse capa feia, o que me redime pacas, mas minha síndrome de "sucumbência à seducência" já me fez gastar uns bons trocados. Porque, né? É livro, minha gente. Qual parte do conceito não me atrai?
Então é isso, eu podia estar matando, podia estar roubando, mas em vez disso ando pelas livrarias da vida me deixando seduzir pela capa dos livros. O que, sendo honesta, já me rendeu uns fiascos, mas também me trouxe gratas surpresas. 

O livro Starters de Lissa Price, um dos que comprei pela capa diferente, impactante e prateada (porque, sim, eu gosto de coisas brilhantes), não é nem uma coisa nem outra. Ou seja, não é uma porcaria, nem uma belezura, mas é bacaninha o suficiente para uma resenha, considerando que chama a atenção de muitos alunos.
A história, outra distopia Young Adult (quem não sabe o que é isso, deixe pergunta nos comentários), se passa em uma sociedade em que todas as pessoas de 20 a 60 anos estão mortas graças a um vírus disseminado pelo ar, resultado de uma guerra quimíca que deixou os EUA devastados (aham, isso porque a gente não sabe o que aconteceu com o outro lado, mas tá). 
Crianças e adolescentes (os Starters) e idosos (os Enders) tinham sido vacinados, por isso não adoeceram, mas agora, os órfãos que não têm parentes Enders que se responsabilizem por eles, vivem nas ruas ou em instituições que mais se parecem com reformatórios. Todos os empregos estão reservados aos Enders, que são muitos, já que a expectativa de vida na sociedade futurista é altíssima, e, como se pode adivinhar, não há políticos e nem figuras influentes entre os Starters, então os coitados vivem como dá.
Nossa protagonista, Callie Woodland, vive em um prédio abandonado com seu amigo Michael e seu irmãozinho Tyler, mas o garoto está doente e Callie não vê muitas maneiras de ajudá-lo com as poucas coisas que ela e Michael conseguem pelas ruas. 
Ela, então, descobre a Prime Destinations, lugar comandado por uma figura sinistra, apelidada de O Velho, onde Starters podem alugar seus corpos e suas habilidades para Enders ricaços e doentios que desejam aproveitar a vida como jovens. A consciência do inquilino é inserida através de um chip implantado no cérebro do adolescente alugado, e eles tomam o comando do corpo enquanto o dono original dorme pacificamente.
Callie, que é uma excelente atiradora graças aos ensinamentos de seu pai, aluga seu corpo para uma Ender chamada Helena, que diz estar interessada em praticar tiro, mas mal sabe ela que a Ender doidona não pretende atirar em alvos de papel e que o chip em sua cabeça foi adulterado para permitir que o inquilino cometa assassinatos.
Acontece que a alteração no chip traz uns efeitos colaterais que Helena não havia previsto, como Callie acordar de vez em quando e reassumir o controle do próprio corpo e mente. De repente, então, a garota acorda vivendo uma vida de luxo, de caso com o neto de um senador e compartilhando conversas internas com uma mulher cujas intenções ela ainda não é capaz de avaliar.
Aí tudo o que se espera de um livro do tipo acontece: pessoas morrem, amizades nascem, alianças se formam e se desfazem, Callie passa por diversos perrengues e há um esboço de triângulo amoroso entre ela, Michael e o neto do senador (você não pensou que era a Helena tentando seduzir uns menores desavisados, pensou?), até chegarmos ao final que deixa, claro, um gancho bom para Enders. 
A história é bem digna em termos de reviravoltas e você consegue curtir bastante, embora não seja lá o enredo mais empolgante do mundo. A protagonista é bacana, guerreira e não muito bobinha, como muitas vezes elas são. Só que... Se você está esperando história de amor, não vai achar aqui. Uma aventura que te faz prender o fôlego? É, também não. Personagens por quem você sinta uma empatia imediata? Nah. Uma narração instigante e uma linguagem especialmente gostosa de ler? Não o tempo todo.
Minha avaliação final é a de que Starters tem um pouco de cada coisa, mas não o suficiente de qualquer uma delas. E a sensação para mim foi a de que valeu a pena, sim, não desperdicei meu tempo, mas esse não foi um livro que eu conto entre os meus preferidos. Todavia, todo adolescente que eu conheço e que leu gostou muito, então pode ser que seja só rabugice minha mesmo.

Quanto a Enders, aconteceu comigo o processo oposto ao de outros leitores. Muita gente disse que Starters é melhor, mas eu me empolguei mais com Enders. Acho que a sequência é mais dinâmica, com as coisas acontecendo mais rapidamente e com menos mimimi, embora eu desejasse que Hayden, que se revela um personagem importantíssimo, fosse trabalhado com mais cuidado.
Nesse livro encontramos Callie linda, rica e com uma tutora Ender que garante sua segurança, mas com um pequeno problema: em lugar de Helena, há agora outra voz em sua cabeça, a do Velho. Probleminha insignificante, apenas.
Acontece que o vilão quer o chip com possibilidades únicas que Callie possui, mas o negocinho estraga se for separado de seu "invólucro", o cérebro da moça. Então a solução é fugir, enquanto investiga a possibilidade de um certo ente querido estar vivo e enquanto rola também "uns teretetê" com um novo boy magia, ninguém mais ninguém menos que... Tam, tam, tam, tam! O filho do Velho. Pronto. Falei.
E como todo bom personagem que a gente shippa com as mocinhas, Hayden (aka gênio, revoltado, revolucionário e filho do vilão) é meio misterioso e não dá para saber ao certo se estamos querendo a coisa certa quando desejamos que a Callie o jogue na parede e o chame de concreto. É que eu, como gosto de personagens de caráter duvidoso e de romancinhos, gostei bastante desse detalhe.
Há, porém, uns defeitinhos a se considerar. Alguns personagens do primeiro livro são praticamente (ou totalmente) esquecidos no segundo, o que eu acho muito estranho quando você tem uma história dividida em duas partes, e o final deixa inúmeras pontas soltas. Mesmo assim, valeu a experiência. No fim, o que havia dentro da capa prateada acabou valendo meus trocados.

Fonte: http://mairazp.blogspot.com.br/

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A SÉRIE ESTILHAÇA-ME E A MARAVILHOSA TAHEREH MAFI





Olá, pessoas!

Antes de qualquer coisa, como este é o primeiro post de 2015, acho que convém começar com votos de estantes cheias, e-readers lindos e funcionais entrando em promoção e muito tempo para ler. E que tudo o mais que vocês desejam possa ao menos começar a se encaminhar.
E ano novo para muitos de nós significa mais doze meses para ler, não é verdade? O que deveria significar mais resenhas. Pensando assim, achei que nada seria mais justo do que começar 2015 com o meu preferido de 2014: o lindo, gostoso e cheiroso (admitam, vocês não estranharam esse adjetivo, porque eu sei que todo mundo aqui cheira livro) Incendeia-me.
E antes que vocês imaginem que se trata de um livro hot, deixem-me informá-los que, apesar do nome sugestivo, não é o caso. Tem até uns momentos mais intensos, mas não é nada para deixar alguém constrangido. É só lembrar daquela coisa que eu ensinei para vocês outro dia: controle remoto. Basta pular a cena em questão e pronto. O resto do livro vale muito a pena para quase todas as idades.
Entretanto, Incendeia-me não é um livro independente, mas, sim, o volume que encerra uma série que acredito que pode agradar vários tipos de leitores. São três livros narrados pela protagonista e, entre eles, dois contos narrados pelos "rolos" dela.

Infelizmente, os contos só foram lançados aqui em forma de e-book, mas, em compensação, a editora Nova Conceito disponibilizou ambos gratuitamente, é só procurar. Além disso, se alguém quiser ignorá-los e se ater apenas à trilogia-base, não vai ficar perdido (a). A linda da autora se certificou de que, mais cedo ou mais tarde, o leitor ficasse sabendo do essencial de cada um pelo ponto de vista da Juliette. Só que não sei vocês, mas eu gosto de ter uma noção mais ampla das coisas, por isso recomendo altamente a leitura da série toda. Mas, tá, agora que vocês já sabem desses detalhes, vamos começar do começo.

1- ESTILHAÇA-ME


Eis um livro com nome impactante. E não é só o nome. A mistura de premissa de HQ com uma linguagem extremamente poética (e por vezes até onírica) torna a leitura inusitada e atraente para diferentes públicos. A verdade é que não há nada como uma boa e velha história de amor, mas não dá para achar ruim quando uma autora que realmente sabe o que está fazendo encontra uma forma diferente de contá-la.
Logo no início, somos jogados na cela úmida, pequena e escura onde Juliette Ferrars, a protagonista-narradora, está presa. Ela é considerada altamente perigosa, porque um simples toque seu pode matar. Sinto cheiro de X-Men no ar.
Abandonada e rejeitada pelos próprios pais e pela sociedade em geral, Juliette está presa há 264 dias e sua única companhia é um caderno velho que lhe serve como uma espécie de diário, e cujo espaço já está acabando. É fácil perceber em sua linguagem que a coitada da garota está ficando louca, se afundando em pensamentos simultâneos e ambíguos (algo salientado pelo uso deste recurso aqui, ó, que pelo que eu saiba era inédito em livros até então), quando sua solidão é quebrada pela chegada de um lindo e tatuado companheiro de cela.
Juliette não sabe qual foi o crime que Adam Kent cometeu, ou por que o colocaram ali, onde pode ser morto por um simples esbarrar de dedos, e está apavorada com a felicidade que sente com a presença dele, apesar de todo o resto.
Um dia, sem mais nem menos, ambos são libertados e levados para uma das subdivisões do novo governo, o Setor 45. Eu ainda não contei que essa é outra distopia, portanto, o país quase destruído é agora comandado com mão de ferro por um governo chamado Restabelecimento, e seu Comandante Supremo é uma cara mau. Simples assim. Ele é mau como o capeta arriado pelo rabo. O Setor 45, por sua vez, é chefiado pela cria loura e linda do capeta em questão, o meu personagem ambíguo preferido da vez, Warner, e ele quer usar Juliette como sua arma particular. Adam, no entanto, pode atrapalhar seus planos.

1,5 - DESTRUA-ME

Narrado pelo ponto de vista de Warner, permite entender um pouco de sua personalidade, rever eventos sobre os quais Juliette teve uma impressão equivocada e ler, na companhia dele, um pouco do estranho diário dela.

2 - LIBERTA-ME

Depois de fugirem do Setor 45, Juliette, Adam e o irmãozinho dele, James, encontram refúgio em um lugar chamado Ponto Ômega. Lá, um cara com enormes poderes de telecinese, chamado Professor Xavier Castle, tenta ensinar outros mutantes jovens como Juliette a lidarem com seus poderes. Castle tem o sonho de derrubar o cruel Restabelecimento e unir os sobreviventes, humanos e mutantes, na construção de um mundo melhor. E tudo isso o mais pacificamente possível, porque ele é muito bonzinho. E, não, ele não é mesmo o Professor Xavier. Eu acho.
A melhor coisa desse livro é Kenji, um personagem que já tinha aparecido no primeiro, mas que aqui começa a ganhar o destaque que merece. A outra melhor coisa (porque eu não decidi do que gosto mais) é o triângulo amoroso de Juliette, Adam e Warner ganhando força e complexidade.
Mas, Maira, um triângulo amoroso com o vilão? (Ah, até parece que você não viu essa chegando, né?) Acontece que, até o final da série, Juliette (e muitos leitores) vão aprender uma coisinha ou outra sobre as noções maniqueístas de heróis e vilões. E, gente, fala sério. Narizes treinados sabem que Warner emana o viril e inconfundível odor de boy magia por todos os poros. Não tem nem como. Ele ser "mau" só torna tudo ainda melhor.

2,5 - FRAGMENTA-ME

Narrado por Adam, temos pela primeira vez a oportunidade de enxergá-lo não como o salvador maravilhoso e forte que Juliette vê, mas como o garoto arruinado por um pai ausente e cruel, que se vê obrigado a ser a figura paterna do irmão e o ponto de equilíbrio de uma namorada com a sanidade frágil.

3 - INCENDEIA-ME

Juliette escapou da morte. Por. Muito. Pouco. O encontro com o "supremo" resultou em uma tentativa de assassinato que ele, felizmente, acredita que foi bem-sucedida. Mas agora ela precisa ficar outra vez escondida no Setor 45, e a única pessoa em quem ela pode confiar é alguém cujas ações ela simplesmente não consegue compreender ou perdoar. Warner. Claro.
Assim que acorda e percebe que sobreviveu, no entanto, ela recebe a trágica notícia de que o mesmo não vale para todos seus amigos. A resistência parece ter sido varrida da face da Terra e ela acredita, óbvio que erroneamente, que Adam está morto. Ao invés de desmoronar e ficar cheia de mimimis como a boa e velha Juliette faria, porém, ela vai finalmente se erguer ao desafio e se tornar, por dentro, tão forte quanto por fora. Até a linguagem do livro é diferente. A narração é mais direta, os diálogos menos hesitantes e os personagens se fortalecem na tragédia. É muito interessante ver onde a evolução deles culmina e como Juliette passa a se conhecer bem e a merecer o título de protagonista.
Muitos podem estranhar o comportamento de Adam neste livro, e aqui torna-se útil a leitura de Fragmenta-me, mas é preciso lembrar que Juliette mudou. O resultado dessa mudança é que todos, inclusive Adam, passam a ser mostrados a nós com olhos mais realistas.
Obviamente não vou dizer qual foi o fim disso tudo, mas garanto que gostei. A Tahereh escreve muito bem, sua linguagem é bonita e bem lapidada, seus personagens são bem construídos e o enredo bem trabalhado. Para mim, o único defeito dessa série é ter acabado. Pronto. Falei.
Obrigada para quem leu até aqui e espero ter ganhado novos integrantes para a Mafi Máfia. Felizes leituras.
Porque eu não pude resistir ao eterno debate.
#AlwaysTeamMalvadões

Fonte: http://mairazp.blogspot.com.br/

Sobre o Filme Lucy - Especial para Carpe Librum





Esta não é uma resenha. Atendendo a pedidos do grupo Carpe Librum, trata-se de uma análise sobre o final da história e demais aspectos que possam ter ficado confusos para alguns. Esteja avisado, portanto, caro leitor, que é um texto para quem já assistiu ao filme. Se continuar a ler, está por sua conta e risco.

Dito isso, venha comigo pelos caminhos dessa história fantástica e sinta-se à vontade de deixar opiniões, críticas e fazer acréscimos à minha interpretação. Assim, teremos uma discussão interessante ao invés de um monólogo.

Para começar, esqueça por um momento a noção que você tem de Deus como um ser individual, como uma coisa discernível das outras. Pense Nele como uma força que está presente em tudo, mas em tudo mesmo, até nas coisas que você julga desagradáveis. Por exemplo (e aqui eu pego emprestada uma fala do filme Jovens Bruxas, só que adaptada, hehe): se o Bem e o Mal estivessem jogando futebol, Deus seria o estádio, a bola, os jogadores e a torcida. Lembre-se de que os mesmos tipos de átomos compõem toda matéria (o ar, a água, a terra, as plantas, as pessoas, o esgoto...). A grosso modo, é apenas uma questão de como estão arranjados. Assim, a presença de Deus é o que todas as formas da matéria (seres vivos e todo o resto) têm em comum. Pois bem, se Deus está em todas as coisas, ele é Onipresente. 

E estando em tudo, está também nas regras que regem o universo. Se Ele é o jogo, o estádio a bola e os jogadores, é também as regras desse jogo. Todas as leis da física, da quimíca, da matemática, tudo o que explica os processos que tornam a vida possível; enfim, todos os "segredos" do universo; tudo isso também é Deus, que é, portanto, Onisciente.

Acho que não é difícil, a partir daqui, concluir que Deus, estando em tudo, e conhecendo tudo, pode também fazer tudo, o que O torna Onipotente. Para Ele, não existem limites no tempo, no espaço ou em como a matéria pode ser alterada, porque tudo isso faz parte da mesma "coisa". Deus é o todo do qual somos as ínfimas partes.

Ok. e o que isso tem a ver com Lucy?

Hum... 

Bem, bem, dentro de cada um existe uma máquina maravilhosa chamada cérebro. Dizem por aí que usamos apenas 10% do potencial dessa máquina. E olha quanta coisa fomos capazes de fazer com esse pouquinho! Quanto mal, mas também quanto bem. Quanto conhecimento já desvendamos e quanto já aprendemos sobre nós mesmos. Fomos capazes de criar coisas que preenchem quase todas as lacunas do que o nosso corpo não é ainda capaz de fazer, e estamos indo cada vez mais longe. Pense na distância que percorremos desde os primeiros hominídeos. Desde o fóssil mais antigo, apelidada pelos cientistas de Lucy e participação especial no filme (a "macaquinha", para quem não percebeu), e os dias atuais, onde encontramos a nossa Lucy linda e loura. 

Quanto mais o conhecimento humano avança, maiores se tornam as possiblidades. Se fizemos tanto com 10%, dá para imaginar o que faríamos com 20, 30... 100!? Pois temos a chance de imaginar quando a droga transforma as células da Lucy e liberta, gradativamente, o potencial de seu cérebro.

A primeira coisa que acontece é que ela entende o funcionamento do próprio corpo, o resultado e o rendimento de seus movimentos, tornando-se assim uma lutadora ágil. Depois, naquela cena tão bonita em que ela liga para a mãe, as barreiras que mantêm as memórias guardadas caem, e ela se torna consciente de todas elas, de tudo o que já sentiu. Assim, ela tem uma breve noção do todo que é sua vida, e, por um momento, as partes começam a parecer irrelevantes. Como quando você se forma e todos os dias de tédio ou sacrifício não parecem tão ruins assim, porque você tem a visão do resultado deles, que é seu diploma. Só que o todo precisa de suas partes. Se você pudesse mudar ou eliminar qualquer dia de sua vida, sua experiência, seu todo, seria inteiramente diferente. Então, quando parece que Lucy não está sentindo nada, ela está é sentindo tudo de uma só vez.

Isso faz com que ela vá se tornando cada vez mais sensível em relação ao mundo ao seu redor, sua percepção aumenta e ela aprende com velocidade. À medida que o cérebro dela vai se expandindo, mais conhecimento ela absorve e fica mais próxima da onisciência. Quanto mais onisciente ela se torna, mais onipotente também, entendendo a matéria a ponto de dominá-la. (É aquele momento em que a gente acha que ela absorveu os poderes de todos os X-Men.)


Por fim, as barreiras de espaço e tempo começam a cair também, quanto mais ela chega perto dos 100%. Aquela cena bizarra dela se "desfazendo" no avião é o começo desse processo, porque é quando ela começa a entender que toda a matéria é a mesma, que tudo é composto pela mesma coisa. Nossas células mudam lentamente, conforme o tempo passa, até morrerem e nosso corpo se tornar outra coisa, outro tipo de matéria (como diria Lavoisier, "nada se cria, tudo se transforma"). Mas com Lucy o processo acontece rapidamente, e a passagem do tempo se torna ainda mais relevante para a existência dela do que pode parecer para os normais.

Ela passa a entender o tempo, ter consciência dele. E a noção do todo que ele representa permite a ela viajar através de suas partes. Nessa hora, nós a vemos em várias épocas, inclusive encontrando-se com a Lucy-ancestral, que é a versão da ciência para a Eva da Bíblia, e quase tocando-a, numa referência clara ao afresco de Miquelângelo, aquele em que Adão tenta alcançar Deus. (Adão/Eva, Deus da Cristandade/... Visualize meus dedos em L girando enquanto espero você fazer a relação.)


Seu entendimento do tempo e do espaço permite que ela controle a "irrelevância" de seu invólucro físico em um determinado ponto, até chegar ao 100% e conseguir dominar tão completamente a matéria de que é feita, que consegue transformar seu conhecimento em algo de que os cientistas podem usufruir. (Aquele "pen-drive" que resulta do "download" dos conhecimentos dela para o "computador" em que ela transforma seu cérebro.)

E então, finalmente, o momento que deixou vocês confusos: Lucy desaparece, mas não morre. Uma mensagem aparece no celular do policial onde se lê: "Estou em toda parte." E aí você ficou lá com aquela cara de "ué" e saiu do cinema dizendo que o filme é um lixo. Bem, aprenda, padawan (sim, no meu blog eu sou Jedi. Problem?), não é porque você não entendeu que o negócio é ruim. Então vamos lá entender.

Agora eu convido você a voltar ao começo longínquo deste post. Quem é o ser que é onipresente, onipotente e onisciente? Quem é que está em toda parte? É. Então. Lucy absorve todo o conhecimento que existe e se torna algo muito mais do que humano, algo divino. A metáfora é clara: Deus é conhecimento. Simples assim. Quanto mais sábios somos, mais nos afastamos das questões mundanas, de nossa condição humana, imperfeita e transitória, e mais nos aproximamos do que é divino e permanente.

Deus é o 100%. E nosso cérebro guarda esse potencial. Somos as partes, mas temos o todo dentro de nós. É por isso que aquelas células embrionárias aparecem se reproduzindo no começo do filme, representando a formação de um novo ser-humano, e, no fim, a cena se inverte, mostrando as células voltando àquela única célula inicial. É para dizer que cada parte guarda o todo dentro de si. Se você é uma pessoa de fé, é como provar que Deus mora dentro de nós. Para quem tem uma visão mais científica, acho que dá para comparar com o Big Bang. Mas eu ainda não atingi porcentagem suficiente para falar sobre isso, então fico por aqui.

"We never really die." - Lucy

PS: Assista também ao filme Sem Limites, com Bradley Cooper. É o mesmo tema, mas com uma abordagem bastante diferente. Se gostou do assunto, fica a dica.

Fonte: http://mairazp.blogspot.com.br/

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

MVA - Capítulo 13


Minha mente era limitada, mas desta vez foi comprovado ao estremo. Meu estagio de embriaguez com os toques proporcionados por Edward relatavam isso. Seus dedos percorreram a lateral das minhas pernas, apertando minha coxa, subindo por minhas carnes e apertando antes de me erguer e caminhar até a enorme cama.
Seus lábios sugavam, mordiscavam os meus, sua língua convidando a minha para uma dança de provocações deliciosas. Seu corpo viril a minha mercê roubava gemidos e choraminguei quando se afastou.
De pé em toda sua gloria Edward percorria meu corpo com seus olhos negros, ergui minhas pernas, apoiando em meus cotovelos, abri as pernas e seu olhar parou em meu centro, suas mãos apoiaram em meus joelhos, mordeu os lábios antes de gemer.
Trazendo seu corpo de encontro ao meu, ainda sem me tocar, resmungou algo antes de me devolver um olhar firme.

Quero que prometa-me, se eu a machucar, se eu usar de uma força...

Eu confio em você, meu amor. – digo enlaçando seu quadril com minhas pernas. – me faça sua mulher, me deixe levar essa lembrança para nossa eternidade – sussurrei contra seus lábios.

O beijo quente que compartilhamos parou apenas quando precisei de ar, mas sua boca refrescou toda a pele alcançada, descendo por meu peito, onde cuidadosamente e maravilhosamente sugou meus seios rijos por atenção.
Meus dedos tomaram seus fios ruivos, abri-me para seus toques quando não foi mais possível envolver seu quadril, assim como gritei ao sentir o choque de sua temperatura com meu centro fervente.
Tínhamos sorte por ele ser um vampiro, talvez se fosse tão humano quanto eu desistiria de me tomar ao ver a força usada em seus cabelos. Meu corpo arqueava e choraminguei ao sentir suas mãos tomarem minha bunda, jogando minhas pernas por seu ombro. Lutei para manter meus olhos abertos. Buscando registrar cada momento.
Seus olhos encontraram o meu e a visão de sua língua assim como o prazer que sua face demonstrava fez algo em meu centro e senti meu corpo reagir, antes que eu pudesse entender o que ocorria já havia gritado seu nome e ido as estrelas.
Piscava buscando limpar minha visão embaçada e sorri ao vê-lo atento a mim, sorrindo maravilhado. Lambeu os lábios antes de cobrir-me com seu corpo, beijando minha testa.

Você é deliciosamente suculenta – sussurrou em meu ouvido e sorri envergonhada, enlaçando seu pescoço.

Prendendo-o pelo tempo que fosse preciso até o pudor se esconder em um canto da minha mente.

Você é incrível – respondi baixinho.

Sua boca cobriu a minha, as pontas de seus dedos deslizando por minha pele, nossos sexos em contado. Movi meu quadril de encontro ao sua ereção. Mergulhados nos olhos do outro, fora desta forma que senti meu corpo se abrir ao seu. Tão lentamente que não houve dor.
Seu rosto de anjo estremeceu, seus dentes afundaram em seu lábio inferior e choramingou afastando suas mãos do meu corpo e toda a cama estremeceu. Ofegante como um maratonista Edward deitou seu corpo sobre o meu quando estávamos finalmente fundidos.
Eu jamais esquecerei essas sensações, a forma como sua masculinidade ocupada meu centro. Tudo o que sua masculinidade gelada causava em minhas carnes ferventes, como eu pude permanecer tanto anos sem isso? Sem Edward? Eram questões que não tinham respostas, mas a partir de agora eu não ficaria longe, não abriria mão. O teria e seria dele de todas as formas possíveis.
Movi meu corpo de encontro ao seu, a fricção arrancando gemidos de ambos, sorrindo puxei seus fios. Seus olhos dourados de encontro aos meus e não fora preciso mais palavras ou sinais.
Não mantínhamos um sincronismo, nossos movimentos não eram de acordo, cada um em um ritmo, mas parecia funcionar para nos. Com minhas mãos enterradas em sua nuca, puxando seus fios com certa violência que senti os primeiros tremores.
Uma pequena parte estava ciente de que não era a única a tremer, o mundo a minha volta parecia tremer com mais violência, assim como o colchão. Alguns sons acompanharam meus gritos, minhas suplicas a Edward.
Talvez tenha passada alguns minutos ou horas antes que voltasse a tona, mas meus olhos abriram para um pequeno mar de cachos cobres. Espalmei minhas mãos sobre o peito viril, estava deitada sobre seu corpo de forma confortável.

Eu desmaiei? Por quanto tempo?

Seus dedos afastaram a véu de cabelo, sua expressão me fez temer uma reprimenda e me encolhi em seus braços.

Acho que... nos surpreendemos com a força da nossa união... parecia desperta durante esse minuto que manteve os olhos fechados.

Você esta bem?

Você esta me perguntado se eu estou bem? Isabella... acaba de se entregar a um vampiro que poderia matá-la com uma simples investida e esta me perguntando se estou bem?

Sorri apoiando meu queixo sobre minhas mãos cruzadas sobre seu peito, eu não conseguia expressar em palavras o que eu queria dizer, como cada mínima parte estava em letargia pela felicidade que me domava.
Corri meus dedos por seu rosto. Meu corpo voltando a estar consciente e desejoso do seu.

O que esta pensando? – pediu tocando minha testa.

Nossos olhos se encontraram e não tive coragem de dizer, não ainda, mas inclinei meu corpo, subindo pelo seu, até estar à altura de seus lábios e toquei com os meus. Iniciando um beijo onde demonstrei tudo o que eu estava pensando.

Não esta com dor? Algum incomodo.

Estou, incomodada por estarmos longe um do outro! – digo antes de colar nossos lábios.

O colchão afagou minhas costas antes de sorrir para Edward, gemendo baixinho quando voltamos a nos unir. Sorrimos ao nos desencontramos com certa brusquidão em nossa dança. Mas em certo momento a urgência voltou, forte e sufocante, sua dança era tudo o que eu queria e ainda sim não era o bastante.
Eu precisava mais de seu corpo ao meu, mais de sua boca na minha, de suas mãos em meu corpo. Um resmungo sôfrego escapou dos meus lábios enquanto buscava me fundir em Edward.

Isabella – ouvi seu rosnado antes de tudo a minha volta explodir, os alicerces da cama protestarem.

Estava perdida em meu prazer quando senti algo em meu ventre. Desta vez mais forte, como um pequeno soco. Gelado e por um longo tempo.


Meus olhos abriram para uma pequena chuva de penas. Já não Havia um dossel, seu rosto estava coberto pelo outro braço, ainda tremia, provavelmente meu sangue aglomerou-se em meu rosto ao dar conta de toda a destruição no quarto.
A cabeceira em ferro já não existia, os travesseiros não existiam. Rastros do que antes fora o dossel e a cabeceira estavam espalhados pelo chão em uma trilha até a enorme porta de vidro aberta.
Entorpecida me ergui sentando ao seu lado, estava úmida com meus fluidos e por um breve olhar pude notar o rastro de grossos cachos cobre em sua virilidade molhados. Entendendo em fim que sensação em meu ventre nada mais era do que seu sêmen.

Edward?

Dê-me alguns minutos – suplicou.

Suspirei deitando em seu peito, infiltrando minha perna entre as suas. Não me recordo de mais nada desta noite que não fosse nossos arquejos, toques, fricções, investidas, palavras confusas, declarações e suplicas.


Meu mundo de conforto foi deturpado por uma onda de queimação, uma pequena parte da minha pele queimava e me movi desconfortável recebendo a claridade exagerada em minhas pálpebras que mesmo fechadas arderam.
Esfreguei meus olhos antes de encontrar um mar límpido e brilhante a bela visão distorcida pelos restos do que antes foi o dossel. O sol já tomava uma parte do quarto, iluminando e esquentando meus braços, assim como facetas coloridas criavam um pequeno arco-íris e girei para o corpo frio ao meu lado.
Edward permaneceu deitado de olhos fechados, como se estivesse dormindo. Apoiei-me em um braço, tocando sua testa enrugada. O movimento me fez gemer baixinho de dor, meus músculos protestaram e cada parte do meu corpo estava dolorido.
Esse pequeno ato fez Edward abrir os olhos em um estalo e me olhar minuciosamente. Seus olhos não estavam com o mesmo dourado da noite anterior. O âmbar deu lugar a uma cor suja, parecida com ferrugem, escura.

Esta ferida? – permaneci olhando-o confusa. – consegue andar até o espelho para se olhar?

Ainda mais confusa sentei na cama ouvindo minha coluna estalar em três lugares diferentes e meus músculos protestarem. Virei olhando meu reflexo no espelho no canto do quarto. Meus cabelos eriçados e em uma confusão de embaraço e penas, assim como a marca de uma mordida ocupava minha mandíbula esquerda.
Levantei cautelosa testando minhas pernas e suas mãos me firmaram, segui a passos lentos ao espelho, tentando adestrar o emaranhado em meu cabelo. Toquei sobre a mordida, já estava muito vermelha, provavelmente até anoitecer já estaria roxa.
Deslizei meus dedos por meus lábios inchados e com um pequeno corte.  Toquei meus mamilos doloridos, havia inúmeras marcas em torno e minha auréola que antes era caramelo estava intensamente vermelha.

Prometo que isso não voltará a acontecer, perdoe-me!

Sussurrou prostrado em minhas costas, o que não voltaria a acontecer? Olhei seu reflexo no espelho, seus olhos estavam no chão e parecia abalado demais, quase destrocado e isso doeu. Girei tomando suas mãos entre as minhas.

Gostaria de me lembra como consegui uma mordida e corte – digo inclinada em sua direção e se afasta – Edward?

Eu te machuquei, Bella! Sua pele esta marcada por meus dedos, eu a mordi, eu cortei sua boca, suguei seu sangue! – dizia desesperado se afastando. Edward estava furioso.

Eu não...

Por favor não trate esse comportamento com natural.

Você é um vampiro, não há natural em nosso relacionamento.

Isso não é natural! – rosnou me girando e mostrando alguns dos meus hematomas.

Sua palma em torno do meu braço, marcas marrom escuras dominavam meus ombros, pescoço, quadril e barriga, assim como a marca de sua palma em cada lado da minha bunda.

Por mim, faríamos tudo novamente nesse momento – digo firme tocando seu rosto.

Isabella. Quando senti seu sangue em minha boca, vendo o prazer do gozo em seu rosto, sentindo o meu gozo... – sacudiu a cabeça e retirou sua mão do meu braço – se não gemesse o meu nome eu a teria matado.

Você nunca faria isso.

Já não tenho tanta certeza.

Virou-me as costas, caminhando para a varanda. As mãos em concha nos fios o balançar das costas largas, acompanhado do belo traseiro visível pela calça fina do pijama me fez latejar de desejo e choraminguei, eu podia sentir o bico em meus lábios.
Isso chamou sua atenção.

Você não pode fazer isso! – eu já estava chorando e Edward olhava-me como se eu estivesse louca – não pode me negar ter você, não depois dessa noite. Você gostou tanto quanto eu ou não teria perdido esse maldito controle. – eu já estava aos gritos.

Suas mãos tomaram meu rosto, beijou minha testa – só vamos esperar até que seja imortal.

Esta de brincadeira com a minha cara, Edward? – Bati em seu peito – Eu não vou esperar droga de transformação alguma!

Bella? – estava surpreso com meu tom.

Não me venha com esse olhar surpreso, sabíamos dos riscos. Sabemos que um daria a vida pelo outro. Essas marcas vão desaparecer! Você é meu marido e vai me possuir, entendeu? – dei outro tapa em seu peito.

Girei raivosa indo ao banheiro e mesmo dolorida fiz o que pude para rebolar ao máximo. Ele que não se atreva a me evitar, não agora que sei dos prazeres que teremos. Com a porta aberta segui direto para a ducha, deixando a água fria tocar meu corpo, ainda pude ver que permaneceu parado no mesmo lugar, olhando-me abismado.
Com um pequeno pente escovei meus cabelos em baixo da ducha para remover as penas e com a ajuda do condicionador foi mais fácil.
Apesar de me esforçar as lagrimas de raiva e descrença deslizavam sem permissão e sabia que onde quer que ele estivesse poderia ouvir. Lavei meu rosto buscando de uma forma inútil remover a vermelhidão.
Com uma toalha media enxugueis meus fios, removendo o excesso de água e me enrolei em uma toalha maior seguindo de volta ao quarto. Alguns destroços foram removidos e a porta de vidro estava fechada.
Uma nova cama ocupava o centro do quarto, onde minha mala estava depositada.
Abri e busquei por roupas que escondessem os hematomas. Uma saia leve e longa acompanhada de uma blusa de tricô, um pouco transparente, mas que escondia os hematomas.
Segui pela casa, o longo corredor perfumado pelo aroma de bacon e outros temperos. Edward não estava na espaçosa cozinha. Apesar de o fogão conter uma chama acessa e os ponteiros digitais do micro-ondas diminuírem a contagem. Uma vasilha com ovos e bacon já estava sobre a bancada.
Voltei minha atenção para o barulho de passos, Edward entrava finalizando uma chamada. Em um fluente português, acredito.

– Algum problema? – minha voz soou mais dura do que esperei.

Seus olhos atentos sobre mim, antes de caminhar em direção ao micro-ondas parando o relógio e removendo uma travessa com almôndegas, o aroma fez algo em meu estomago.
Poderiam imaginar que estive trancafiada sem alimentação por semanas. Ainda me olhando Edward cuidadosamente serviu uma porção de almôndegas e arroz branco em um prato após desligar a chama do fogão.

– Fiz ovos e bacon, mas já esta passando das duas da tarde, imaginei que precisasse de mais alimento. – estendeu o prato.

– Posso comer um pouco de cada – sussurro servindo uma boa porção de ovos e um pouco de bacon para acompanhar o arroz e a carne.

Com a atenção no prato abarrotado e perfumadamente suculento em minha frente, me permiti deixar a irritação para traz e dei uma boa garfada na comida. Quando todos os condimentos tocaram cada parte de minha língua eu gemi preparando outra garfada antes mesmo de engolir e me dediquei exclusivamente a limpar o prato.
Somente quando o prato estava vazio que percebi que estava mais calma, suspirei abandonando os talheres e a pele de mármore de Edward surgiu em meu campo de visão, removendo o prato e deixando um copo de suco.
Nada disse, mas sentia sua inquietação, que formava dupla com a minha. Ele esperava por mais uma crise, por mais gritos e choro. E mesmo assim seus passos eram calculados para que sua pele não entrasse em contato com a minha. Isso fez uma pequena pontada de irritação surgir novamente.
Levantei bruscamente derrubando o banco, a imagem borrada de Edward surgiu em minha frente. Com sua agilidade ergueu o banco afastando-se para que eu tivesse passagem.
Seus olhos ainda no tom sujo de ferrugem pareciam apreensivos. Seus lábios fechados em linha, nos encaramos por um longo tempo onde, pela primeira vez, ele desviou primeiro, se afastando.
Sentia-me pesada, cansada e não era por causa do excesso de alimento, infelizmente. Reprimi um suspiro e caminhei para a entrada da casa, para uma varanda espaçosa. O dia durou o que seria uma eternidade e o clima quente não colaborava com meus nervos, Edward permanecia a uma distancia segura.
Com o mesmo olhar de cuidado e cautela.
Esta certamente não era a lua de mel que planejava, acreditei cegamente que após a nossa primeira vez ele não recusaria permanecer ao meu lado, que quando finalmente nos uníssemos, bem, viveríamos grudados.

– Bella? – chamou antes de se prostrar silencioso ao meu lado – quer... conhecer a ilha? – pude sentir a pontada de receio em sua voz.

– Qual o plano agora, alem de me ignorar? – sussurrei mantendo meus olhos no mar a nossa frente.

– Não estou lhe ignorando, só não quero voltar a...

– Eu estou viva. E há alguns pares de horas atrás eu era a pessoa mais feliz no mundo. – rebati.

Talvez tenha passado muitos minutos para que finalmente eu sentisse seu toque frio, os dedos afastavam alguns fios do meu rosto, refrescando a pele já suada. Seus braços contornaram meu corpo, um simples abraço de lado.
Sua temperatura sendo muito bem vinda, mas eu entendia perfeitamente que era só aquilo que ele me daria.

– Aconteceu alguma coisa com nossa família?

– Não, por que?

– A ligação, eu perguntei, mas você não respondeu.

– Eu só estava reajustando a data da nossa viagem.

– Já quer voltar para Forks? – desta vez olhei bem em seus olhos.

– Não. Mesmo sem saber as consequências havia planejado uma espécie de cruzeiro pelo Brasil. Passaríamos apenas a primeira noite aqui, talvez dois dias e embarcaríamos para o litoral nordestino.

– E agora?

– Deixei as passagens em aberto.

Ao menos não teria a lua de mel cancelada. Com esse pensamento permiti que me levasse em torno da praia que circulava uma parte da ilha, e quando finalmente a bola de fogo começou a desaparecer no horizonte nos sentamos na enorme pedra da ilha, vendo ao longe algumas gaivotas inquietas.
Apesar de meus olhos estarem atentos ao ambiente, minha mente trabalhava em possibilidades de vencer Edward nesse jogo sujo. Voltamos a caminhar de volta a casa quando o vento tornou-se frio e as gaivotas agitadas começaram a me assustar.

– Elas só estavam inquietas por minha presença, vou fazer seu jantar.

– Tudo bem, vou me lavar. – respondo após ser posta de volta ao chão.

Eu estava cansada, voltei em suas costas após escorregar diversas vezes. Mas minhas pernas latejando do trajeto da ida. A água morna em contato com minha pele foi um pequeno paraíso. Só quando espalhei o sabonete por meu corpo que uma ideia estalou em minha mente.
Meu coração acelerou um pouco e senti todo o sangue aglomerar em meu rosto, eu teria coragem? Acho que de primeira não. Enrolei a toalha em meu corpo e segui de volta a mala. Precisei de um tempo para perceber que as minhas compras não estavam na mala, nenhuma delas.
Virei minha mala sobre a cama, inicialmente horrorizada com a ausência de tecido naquelas peças. Aquilo só poderia ter as duas mãos de Alice. Ergui o que pensei ser uma camisa de babydoll, mas aquilo era uma camisola. O que aconteceu com as minhas camisolas?
Respirei fundo, tudo bem, não era o que eu realmente estava planejando, mas após o ocorrido eu terei que dar o braço a torcer e usar essas peças. Após escolher uma camisola verde escuro que a calcinha era uma cuequinha, a única desse formato, guardei as outras camisolas de volta na mala e deixei dentro do enorme e antigo guarda-roupa.
Arrisquei me olhar no grande espelho e fiquei impressionada com meu reflexo. Eu realmente tenho curvas e muito lindas, mas as manchas agora em um tom vinho por meu corpo atrapalhavam.
Toquei meus lábios o ferimento já estava com uma casquinha fina. Mas a marca dos dentes estava roxa em minha mandíbula.
Para Edward aquilo era um enorme “mantenha distancia”
Sem querer sentir novamente a dor da rejeição apenas empurrei a porta de vidro do quarto, ganhando acesso para a varanda e o curto gramado antes da camada de areia da praia.

– Bella? – ouvi sua voz soar alta de mais, olhei para o quarto e a porta estava sendo aberta.

– No gramado – digo voltando a olhar a faixa em um azul escuro, manchada apenas pela brilho branco da lua cheia no céu extremamente estrelado. – nem mesmo em Phoenix eu vi tantas estrelas quanto aqui, e essa lua – suspirei – é linda!

– Sim, linda.  – seus dedos tomaram minha mão. – eu já preparei o jantar, vamos.

Em silencio voltamos para a casa, removeu a pequena grade de renda que cobria meu prato encostou na bancada. – senta aqui?

Ponderou trocando olhares entre a cadeira e eu, mas caminhou sentando ao meu lado após puxar uma outra cadeira para mim, mas apenas sentei em seu colo e puxei meu prato.
Algo rangeu e estalou ao meu lado e o vi afastar um terceiro banco de metal com o encosto amassado e faltando um pedaço. Repuxei o tecido rendado da camisola pra me mover melhor em seu colo e dediquei atenção ao meu prato abarrotado, novamente reprimi um gemido, mas me contorci em seu colo.
Toda a comida estava trazendo o calor de volta, enrolei meu cabelo sentindo o suor surgir em meu rosto. Suas mãos brincaram com meu cabelo, tocando meu pescoço, rosto e nuca aliviando o calor.
Esses singelos toques despertaram meu corpo e estavam prestes a dominar meu corpo, a calcinha já esta me incomodando, o formigamento entre minhas coxas me perturbava e meus seios enrijeceram.

Afastei os talheres e o prato, mordendo minha boca para não gemer. – nos podemos conversar? – minha pergunta saiu em um gemido suplicante, afetando ambos. Seus olhos abriram mais e sentir sua virilidade me espetar sem cerimônia, me roubando o ar.

Quando a imagem se tornou nítida eu estava sendo prensada contra bancada, minhas pernas em cada lado de seu corpo viril. Vibrando em meu centro. Os olhos antes na cor suja de ferrugem se encontravam escurecendo.

– Não dá... eu preciso caçar... por favor, fique dentro da casa, portas fechadas.

Um piscar, apenas um piscar de olhos e me encontrei sozinha, sentada sobre a bancada da cozinha, coração acelerado, completamente excitada.

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