terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Resenha da Trilogia Jogos Vorazes






Anos atrás, na época em que o filme Jogos Vorazes estava para ser lançado e a popularidade dos livros era cada vez maior, lembro-me de ter lido uma resenha que dizia que essa era a franquia que viria para substituir Crepúsculo no coração dos adolescentes. É claro que o texto falava sobre popularidade e apelo, não sobre conteúdo, mas, mesmo assim, a comparação me deixou com uma impressão equivocada da trilogia escrita por Suzanne Collins: a de que tratava-se essencialmente de uma história de amor.
Nada poderia estar mais longe da verdade, porque embora haja um par romântico, Jogos Vorazes não é a história de amor entre Peeta e Katniss, mas, sim, do amor dele por ela e do dela pela irmã, Prim. Essas são as duas forças que movem todos os acontecimentos e a maneira como eles se desenrolam.
O amor de Peeta é inequívoco e incompreensível desde o começo, ao menos para nós, leitores, mas Katniss leva anos para entendê-lo e chegar perto de uma correspondência, ainda assim, não exata. Isso pode ser meio frustrante para as pessoas românticas, mas é totalmente coerente com a pessoa dura que ela precisou se tornar e com sua quase total inabilidade com sentimentos. 
Katniss é forte e habilidosa, graças aos ensinamentos de seu falecido pai e a suas atividades de caça ao lado do amigo-que-quer-ser-namorado, Gale. Ambos precisam disso para sobreviver e alimentar suas famílias, o que significa que, preocupada com coisas mais urgentes como não morrer de fome, a moça não teve muito tempo de desenvolver sua sensibilidade e habilidades sociais. Resumindo: se você é aquele tipo de pessoa que adora uma mocinha em perigo você pode gostar do Peeta, essa não é a saga para você. Mas se o seu negócio é ação, girl power e personagens fortes, senta aqui do meu lado e vamos conversar sobre uma trilogia magnificamente construída, capaz de te fazer refletir sobre opressão, diferenças sociais e a importância das coisas essenciais que, muitas vezes, tomamos como garantias.
Os livros me emocionaram, surpreenderam, alegraram, revoltaram, enterneceram e entristeceram, tudo na mesma medida. Só por isso eu já recomendaria, porque história boa tem mesmo que mexer com os recônditos de nossa alma. Quer dizer, você ama os personagens quase tanto quanto pode sentir ódio deles às vezes, mas jamais permanece indiferente ao seu destino. 
Então, sim, vale a pena cada sofrimento que me fez querer mandar uma cartinha malcriada para a Dona Collins. Cada página que quem não conhece, ou apenas assistiu aos filmes, deve ler para entender a infinidade de nuances que as versões cinematográficas deixaram escapar. E também, mas principalmente, porque são ótimos livros.

NOTA PARA OS PREGUIÇOSOS: Agora, bem, recomendação feita, vou dividir o post para os preguiçosos de plantão. Daqui para a frente, vou fazer um resumo breve da história e destacar algumas coisas que achei marcantes em cada um dos livros. Se você já está convencido, ou não está mas cansou de ler, pode parar por aqui, porque a resenha mesmo já acabou.


A história acontece em Panem, uma versão distópica da América do Norte, que se encontra dividida em 12 distritos extremamente pobres e a Capital opulenta que os controla. Panem é, na verdade, um nome bastante sugestivo: vem de Panem et Circensis ou Pão e Circo, comida para os Distritos famintos e entretenimento para a população profundamente alienada da Capital, tudo isso fornecido através dos Jogos Vorazes, espécie de reality show concebido por gente muito, muito estranha.
Anualmente, como punição por uma rebelião em que o Distrito 13 foi destruído e os demais subjugados, todos os Distritos têm que oferecer um par de Tributos. Um casal de jovens entre 12 e 18 anos que é sorteado em cada localidade e mandado para uma arena onde se enfrentam, e a outros tantos perigos, até que apenas um sobreviva. O vitorioso volta para casa com profundas sequelas emocionais honras e riquezas, além de uma ano de relativa fartura de alimentos para a população de seu Distrito de origem.
Os objetivos são claros: humilhar os Distritos e mantê-los divididos através da rivalidade nos Jogos. Dessa maneira, uma nova rebelião não se forma e a população da Capital tem sua distração, mantendo-se sempre alheia às profundas desigualdades sociais e à opressão de que os distritos são vítimas. É a fórmula perfeita, pelo menos até um fato tão corriqueiro quanto inesperado mudar as regras do jogo.
Katniss Everdeen, a tributo do 12 que se ofereceu para tomar o lugar da irmãzinha sorteada, e Peeta Melark, o garoto que se declarou apaixonado por sua companheira de distrito, geram uma comoção e um dilema: ao mesmo tempo que os telespectadores torcem por um romance entre os dois, sabem que apenas um deles pode sobreviver. Pior do que isso, a situação pode chegar a tal ponto em que só sobrem os dois numa disputa final até a morte.
Inadvertidamente, Katniss e Peeta injetam humanidade aos tributos, e a população já não consegue enxergá-los da mesma maneira. Não são gladiadores, mas, sim, adolescentes apaixonados, pessoas recém-saídas da infância e que deveriam ter um vida pela frente. Aproveitando-se disso, Haymitch (vulgo: o melhor personagem dessa bagaça), o mentor do 12, manipula as probalidades e os patrocinadores, tornando cada vez mais palpável uma vitória inimaginável (e põe inimaginável nisso!) para o frágil e empobrecido Distrito 12. Mas resta o problema: qual dos dois tributos sobreviverá? A caçadora habilidosa e determinada, ou o garoto sensível com a capacidade de influenciar multidões patrocinadores com suas palavras? May the odds be ever in your favor! (Entendedores entenderão.)
O caso é que, em meio a essa confusão toda, Katniss acaba se tornando um símbolo de união entre os Distritos, uma esperança de revolução, o Tordo. #NossoLíderOTordo Justo ela, que só queria mesmo salvar a própria pele e a das pessoas que ama. Pois é, Catnip, ninguém disse que salvar a Prim requereria podereres de super-heroína. Agora, aguenta!

Observações pertinentes:

Digamos que Katniss não é a pessoa mais fácil de se gostar. Ela é fria, desconfiada e seca. Como narradora, com tudo visto pelos olhos dela, mas ao mesmo tempo através de sua percepção rasa, tem hora que ela faz a gente se revoltar um pouco. 

Mas em Jogos Vorazes há um cena que define a personagem para mim e me faz compreendê-la e redimi-la. Já na Capital, em um de seus primeiros encontros com seu estilista Cinna (personagem adorável, aliás), ele aperta um botão e uma refeição deliciosa surge de um compartimento como mágica. Katniss fica pensando em todo o esforço que teria que fazer para conseguir uma refeição ao menos semelhante àquela, e se questiona sobre o que faria com seu tempo se não tivesse que caçar para comer e alimentar a família. Acho essa questão terrível, um tapa na cara, porque ela mostra que todos os nossos sentimentos, todos os traços mais sensíveis e complexos de nossas personalidades, só podem se desenvolver porque não temos que nos preocupar com as coisas mais basais. Resumindo, a gente só pode se preocupar com "frescuras" porque tem um teto sobre nossas cabeças e a garantia de comida sobre nossas mesas. Não consegui mais criticar a "insensibilidade" da Katniss depois disso. Ponto.



Em Chamas é o mais legal dos três. Os novos personagens são muito interessantes, em especial Johanna e Finnick. Aqui a gente consegue vizualizar a profundidade das desigualdades sociais com muito mais força, porque é quando Katniss e Peeta visitam os Distritos e frequentam a alta roda na Capital. Destaque para uma cena em que eles descobrem que um das bebidas servidas num banquete épico é, na verdade, um "esvaziador de estômago", ou seja, algo para fazer os convivas vomitarem para poderem comer mais. Quantas vezes desejarem. Quase fui eu que pus tudo para fora nessa hora, só que por uma razão diferente.



A Esperança é um livro duro com nosso emocional. Coisas terríveis e decisivas acontecem, inclusive, quase no fim, algo que fez muita gente amaldiçoar a autora. Só que eu achei totalmente coerente com a proposta. Não há um final feliz. Nem triste. Há um final. Revoltante em alguns momentos, sim. Positivamente surpreendente em outros, também. Mas verossímil até a última palavra. Não dava para Katniss sair ilesa de tudo o que passou e ir ter um final de "mulherzinha". Há sequelas físicas, emocionais e psicológicas que os personagens terão que carregar para sempre. Mas isso é apenas lógico depois de tudo o que aconteceu com eles. Então lembrem-se da palavra coerência quando estiverem afiando a faca para cortar os pulsos. Sem mais. Mentira, tem mais. Eu também queria que uma certa coisa não tivesse acontecido, mas sem isso Katniss não sofreria com tanta força o impacto que a fez agir do jeito que agiu no fim de tudo. Então sejam compreensivos e apreciem a maneira bem amarrada como tudo se desenrola.

Só mais umas coisas:
1 - Rue. Vocês vão saber do que estou falando. Ai, ai...
2 - Buttercup. Because I'm a cat person. (Besides being a dog person.)
3 - Haymitch Abernathy. Tenho um fraco por personagens de caráter ambíguo, desses que a gente ama e odeia com a mesma intensidade. São eles os únicos com o cinismo necessário para fazer o que é preciso. E não ligam de carregar o fardo de serem odiados pelos ingênuos. Amo. Haymitch é o cara. The end.

The end mesmo, na verdade. Acho que já deu. 
May the odds... é, aquela coisa toda. Boa sorte na leitura e me contem o que acharam.
Fonte: http://mairazp.blogspot.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentem e façam uma Autora Feliz!!!

Visitas ao Amigas Fanfics

Entre a Luz e as Sombras

Entre a luz e a sombras. Confira já.