quinta-feira, 23 de abril de 2015

MVA - Capítulo - 16

Fase 2: Batalhas perdidas

Quando vai? – Cindy suspirou afastando minimamente o rosto do pescoço de Jacob. – tente descobrir sem arrumar confusão.

Jacob sorriu apertando-a mais ao seu corpo. Sentando-a sobre a moto – eu vou descobrir a verdade.

Acha que papai vai insistir em procurá-los?

Não sei. Ela esta muito pálida. Charlie percebeu isso. Qualquer um com bons olhos perceberia. – afastou alguns cachos do rosto dela antes de beijar o queixo e se afastar – eu deveria ir, Charlie não gostou de me ver acelerar.

Puxou-o pelo pescoço – imagine se ele soubesse que já corri montada em um lobo maior que um cavalo, sem rédeas e arreio.

Jacob riu, vendo o carro de Laura surgir no final da rua. Ajudando-a descer da moto seguiram lentamente para a varanda.

Que bom que ainda esta aqui, Jacob. Poderia aproveitar que a casa dos Cullens é caminho para La Push e levar a mala do Ale?

Por mim já teria ido. – retrucou Charlie em voz baixa – vá ajudar Laura com a mala, Cindy. – ordenou puxando Jacob pelo ombro até a sala. – então Jacob. O que acha que a Bella tem?

Ela só esta pálida, Charlie.

Ela esta escondendo alguma coisa, acha que Edward possa... ser violento com ela?

Nem mesmo Charlie conseguia acreditar no que disse, mas nenhuma das suposições fazia algum sentido e em todo o momento que esteve com Bella não encontrou nenhum hematoma.

Não, ele é completamente apaixonado por ela, alem é claro, você é um policial – Jacob retrucou em tom de brincadeira. – conhecemos a Bells, ela falará. De uma forma ou de outra ela sempre acaba contando.

Charlie olhou em direção as escadas, suspirando e encarou Jacob – quero lhe pedir algo. Eu te vi crescer, é como um filho pra mim. Vejo sinceridade nos seus sentimentos e apesar de irritado. – suspirou novamente se dando por vencido – sei que isso acabará ao menos da mesma forma que Bells e o Cullen.

Ela também é uma Cullen agora...

Não me interrompa – ralhou – só quero lhe pedir para não afastá-la de mim. – Charlie não conseguia dizer mais do que isso.

Mas fora o suficiente para Jacob entender.
Eu jamais farei isso, Charlie. Você e meu velho não podem ficar longe dos nossos olhos e eu não sou louco de tentar levar a Cindy, ela me mataria. Ela tem verdadeira adoração por você.

Charlie meneou a cabeça, dispersando o choro e sentou em sua poltrona antes de apertar o controle e sintonizar em mais um jogo. Jacob sorriu permanecendo de pé ao ouvir Cindy sussurrar que a mala estava pronta.

Vou te esperar em La Push, vou pedir ajuda da Laura pra escapar, assim nos podemos aproveitar a gruta. – sussurrou maliciosa tocando os lábios quentes do namorado antes de enredar os dedos finos e pequenos pela nuca dele que estremeceu apertando a cintura fina e tomando-a em um beijo quente.

É melhor você ir. – sussurrou removendo a mão pequena do cós da sua calça – ou eu não responderei por mim...

Cindy sorriu mordendo os lábios de forma provocativa, piscando enquanto acariciava a ereção de Jacob que gemeu. – Guarde essa disposição para quando chegarmos à gruta, vamos precisar dela.

Antes que ele pudesse apertá-la de encontro a sua ereção, Cindy já havia se afastado e nada poderia fazer sem chamar a atenção de Charlie que andava perto da janela ainda decidindo sobre espioná-los.
Com a mala nas costas arrumou a ereção em suas calças e respirou fundo, montando na moto e seguindo a casa dos Cullen. O caminho rápido e já removia a mala das costas, entrando sem esperar que abrissem a porta, o silencio agourento sendo quebrado por dois corações que batiam saudáveis.

Como uma pequena comitiva todos os Cullen rodeavam Bella de alguma forma. Sentou após entregar as roupas ao pai do bebê.

Então, vai me contar a verdade?

Jacob via a pele clara, a tensão em cada Cullen e a forma como se moviam de acordo com Bella. Algo que o incomodava.

Jake...

Esse não é um momento, Jacob. Edward parou em frente.

Ler a mente de Jacob era fácil, ele permitia seus pensamentos escorregaram por sua mente, da mesma forma que Emmett, apenas não os verbalizava com qualquer um. Jacob via a mentira em Bella, um sorriso de escárnio escapou de seus lábios.

Mesmo? Você certamente se empenhou em transformar a Bella em uma mentirosa nessa lua de mel – debochou. – mas eu a conheço. E sabemos muito bem que a única verdade que ela disse essa manhã foi a de amar o pai.

Jake...

Seus olhos negros e sem gentileza miraram Bella, estava decidido a ter a verdade e não pararia.

Eu estou grávida.

A frase não fazia efeito em sua mente, permanecendo a olhar para Bella. Acreditava ser alguma piada para tirar o foco do assunto real, mas acompanhou a mão que deslizou pelo ventre, vendo o afago sua mente começou a trabalhar. Completamente crente de que esse filho não era de Edward. Lembrou-se da noite em que tiveram certa intimidade, não havia maneiras de ser seu.

Nos não... quer dizer... – olhou para Edward, sem conseguir manter as lembranças afastadas, mas esta não seria a primeira vez que repassava a lembrança para ele. Estava completamente confuso, não conseguia imaginar Bella traindo Edward. Ainda mais na lua de mel. – Bells...

Edward é o pai.

Sem querer ofender, Bells, mas sanguessugas não dão cria. Eles estão tecnicamente mortos.

Homens precisam apenas de sangue nas veias... Edward caçava com mais frequência.

Aos poucos os pensamentos se ordenavam, não sabia ser possível, mas o raciocínio de Isabella era plausível. Quando a compreensão do que a amiga carregava chegou ele, apenas trincou os dentes confuso por ainda não ter retirado a aberração.

E esta faltando algo para Carlisle te ajudar?

Me ajudar em que?

A tirar essa coisa.

Essa coisa é o meu bebê.

Isso é um sanguessuga, como os outros.

Não conseguia acreditar que ela tratava o que carregava no ventre como um bebê.

Não. É o meu filho.

Tá brincando, né? – o sorriso foi desaparecendo quando viu a seriedade em seu rosto.  – isso vai matar você, é um sanguessuga feito pai...

Não...

Apesar da aparência abatida, era visível o maxilar tenso, as bochechas tomando um tom rosado pela raiva, as sobrancelhas crispadas e pequenas linhas na testa, o tempo fora pouco, mas Bella já tinha a extinto correndo por suas veias. Ela já era uma mãe, uma mãe que não viveria para ver a cria. Consternado com as escolhas da amiga e completamente confuso por Edward ainda não ter resolvido o problema, se ergueu avançando sobre ele.

Que você é idiota, eu sei. Mas vai deixar isso matar a humana que diz amar, nos sabemos o que é isso... – viu o vampiro tremer, os olhos escuros e ombros caído não comoviam Jacob, na verdade o deixaram mais apreensivo sobre Bella e a criatura em seu ventre. Ignorando completamente o movimento em suas costas. – você não quer! Então tira isso dela.

Não é tão simples. – Jasper murmurou.

Isso chamou a atenção de Jacob que finalmente reparou nas posições de todos, confuso sobre Rosalie estar ao lado de Cindy em uma barreira.

Ah, qual é! A Barbie e a chamas? Por favor, somos em vários! Bella? Sai da frente.

Um pequeno brilho surgiu nas mãos de Pamela, crescendo em esfera, até alcançar o tamanho de um ovo de avestruz e quebrar, transformando-se em labaredas. Uma pequena fogueira em cada mão.

– consegue se regenerar do fogo, lobo? Estou gostando menos de você, agora. – e as chamas quase alcançaram o rosto de Jacob.

Você não é burra, Bells. Sabe que isso é um chupador de sangue que vai acabar com você.

Ao dar um passo em direção a Isabella, Jacob cometara um grande erro. Assim que Edward percebeu a intenção de Pamela apenas puxou Jacob pelo braço. Removendo-o da mira, mas antes que pudessem se recobrar, ela e Rosalie cercaram Jacob.
Ao ser encurralado Jacob se transformou, arremessando Rosalie pelo jardim. Pamela tentou novamente feri-lo com fogo, mas Edward a segurou.

Bella o amo, não faça isso. – repreendeu. – Vá, Jacob.

Jacob em sua forma lupina rosnou furioso ao ver uma parte da pata dianteira queimada. Jasper segurava Rosalie arrastando-a de volta a casa.
Todos voltaram para a sala, um longo uivo rompeu o silencio. As lembranças vinham frescas, alimentadas pela raiva e não pode parar ao ver seus companheiros compartilharem de sua mente. Os uivos surgiram, convidando a todos.
 Seu sangue fervia nas veias, ainda dominado pelo desespero e incredulidade permitia que todos assistissem suas lembranças, sentissem seu asco. As vozes faziam coros com seus sentimentos, alguns como Seth e Quil ainda permaneciam descrentes.

– Isso é algo perigoso. – Sam sussurrou na mente de todos ao surgir por detrás da pedra.
Já estavam reunidos próximos a reserva Quileute. – o que ela carrega não será humano, e não será domado.

– Eu não acredito que vou dizer isso, mas jake... talvez a Bella tenha... – Quil não teve coragem de finalizar a frase.

– Não sei o que é mais ridículo, a Swan certinha traindo um vampiro ou essa suposição descabida. Seria terrível para os humanos, caso os frios se reproduzissem. – Leah pontuou antes de se sentar a meio caminho de Sam e Jacob.

– Eles se amam, Leah. Ela não faria isso.

– Estamos falando da humana que namora um vampiro. – retrucou Paul.

– Seja como for, o que ela carrega será um perigo para a tribo, para nos e a humanidade. Precisamos exterminar.

– Serão longos meses de espera. – murmurou Jacob.

Todos voltaram os olhos para o lobo marrom avermelhado, Seth fungou abaixando a enorme cabeça, Quil se afastou, fora preciso alguns segundos para que Jacob compreendesse a natureza das palavras de Sam.

– Aquilo ainda esta nas primeiras semanas na barriga dela, nem da pra ver direito. – Jacob aproximou-se de Sam – ela é uma humana, Sam... não...

– Isabella tomou as decisões que a levaram a ser um perigo para nossos descendentes.

– Ela ainda é humana, Sam!

– Sacrifícios precisam ser feitos, como Alfa não permitirei que esse monstro nasça para levar nossa tribo e nossos amigos para a morte.

– Quando iremos atrás dela? – Leah ergueu-se de sobre suas patas traseiras.

– Avisaremos ao conselho e invadiremos o terreno dos Cullens. ordenou Sam com seu tom de Alfa.

Girou as patas, voltando a sua forma humana e seguindo pelo trilho de volta a estrada da reserva, seguido de perto pelos outros. Jacob ainda permanecia estagnado em sua forma de lobo, Seth surgiu em sua frente. O sorriso complacente fez seu cérebro estalar, ódio o dominou.

– Volte ao normal, jake. – sussurrou batendo na pata do lobo – precisamos de uma boa desculpa no conselho, cara. – sua voz quase não fora ouvida pelo lobo.

Com os músculos rígidos, Jacob precisou, pela primeira vez, forçar seu lobo a reagir, suando para voltar à forma humana. Seth apenas segurou o amigo, arrastando-o pela direção seguida por Sam e o bando.
Mesmo com diálogos sussurrados e muitas ideias, nenhuma parecia adequada para frear Sam ou ao menos permitir um segundo olhar do conselho sobre Bella e sua condição humana. Não se importava em permitir que as lagrimas molhassem seu rosto. Chorar nunca lhe foi apresentado como um ato vergonho por ser homem.
Essa era sua válvula de escape. Os dedos corriam pelo cabelo curto em desespero ao ver as costas dos companheiros. Seu corpo tremia, seu lobo chorava por Bella e por Cindy. Ao pensar em sua imprinted, o choro lhe sufocou.
Como seria olhar para Cindy sabendo que esteve presente na morte de sua irmã? Como conseguiria viver com o peso da morte de Bella? Seu primeiro amor, sua amiga, sua irmã.
Todos os olhos voltados a sua reação, Billy em momento algum disfarçou a preocupação com o filho, que mesmo de corpo presente já não ouvia as palavras do conselho. Enquanto uma votação era iniciada sobre exterminar o que crescia no ventre de Isabella no nascimento, caso ele sobreviva por muito tempo ou finalizar antes que a criatura ganhasse forças, Jacob segurava sua cabeça com ambas às mãos com certa brutalidade.

– Vamos repassar os comandos antes de seguirmos até os Cullen. – essa fora a única frase que Jacob ouviu.

Removendo-o do estupor que se encontrava, mirando em desespero os passos firmes de Sam e o bando, Quil olhou o amigo em um pedido de desculpas, Jared abaixou a cabeça envergonhado, Seth apertou os ombros do amigo que tinha como irmão e na maioria das vezes, como exemplo.

– Não quero semear a discórdia, jake. Mas você tem o poder e eu vou estar ao seu lado nisso, Black – murmurou se afastando.

Seu olhar abaixou para o pai, após sentir o toque do metal em sua perna, Billy sorriu para o filho, tocou a pequena linha que agora era a cicatriz da queimadura. – Não sei o que seria de mim caso perdesse uma de suas irmãs... Não conseguirei olhar para meu amigo sabendo que tenho culpa sobre a morte de sua única filha. Não é uma exclusividade de apenas uma geração. Todos os Black passam por provações.

Lentamente as palavras entravam por sua mente debilitada, olhou pela sala vendo que muitos do conselho observavam a conversa de pai e filho. Com passos determinados atravessou a sala, gritando por Sam.
O sol já descia o horizonte, sumindo entre as montanhas, o tom escuro acompanhado de pesadas nuvens negras cobria boa parte do céu. Não queria essa nova responsabilidade, preferindo uma conversa antes de optar por sua única alternativa.

– Sei que já foi apresentado ao conselho, mas Sam. Não precisamos matar a Bella. Podemos esperar aquilo nascer...

– Jacob, Isabella carrega a cria de um frio, ela não vai sobreviver.

– Carlisle e Edward querem aquilo fora dela, só precisamos ajudar.

– Fala serio, jake! Seus sentimentos pelas Swans te tornou cego. E amiguinho deles. – Paul gracejou em divertimento.

– Não é cego, é sensato. Podemos esperar, afinal o Carlisle é medico, obvio que sabe fazer uma cesariana. – insistiu Seth aprumando o corpo ao lado de Jacob.

– A decisão já foi tomada, você só tem que decidir em ficar aqui ou nos acompanhar para matar o que ela carrega.

– Não precisamos matar a Bella. – implorou.

Todo o calor da discussão e concentração dos demais companheiros não permitiu que prestassem atenção ao passo suave ou ouvissem a aproximação do coração humano. Mas o farfalhar das folhas amassadas pela cesta com quitutes preparados por Emily que rolaram pelo chão até os pés do bando foi o suficiente para que varias cabeças virassem.
O rosto bronzeado e angelical estava uma mascara de dor e infelicidade.
Cindy ouvira pouco da conversa, mas o suficiente para lhe tirar a paz, horrorizada voltou os olhos úmidos para Jacob. Quando passos foram dados em sua direção, apenas se afastou com a mesma quantidade.

– Jacob... eu ouvi errado?

– Droga. – resmungou Paul.

– Porque querem matar minha irmã? Jake?

– A segurança da tribo esta afetada e... – Sam tentou explicar, mas Cindy ergueu a mão, sua atenção devotada apenas para Jacob.

– Jacob? Era da minha irmã? Da Bella? – o ar desolado e expressões que denunciavam sua fraqueza e covardia diante dos fatos fez Cindy enraivecer. – justo você....

– Cindy..? Eu não quero isso.

– Então não permita!

– Não é tão simples.

Ela não via no rosto moreno alguma determinação em impedir a matilha, dor? Sim, mas a resignação dos olhos negros a decepcionou. Seus dedos correram para o bolso da saia, um dos números de acesso rápido era o de Edward, apertou a tecla e esperou que  de onde o aparelho estava Edward pudesse ouvir.

– O que minha irmã fez a vocês, porque a querem morta? Em Jacob? Justo você! – apesar do esforço feito, sua voz não alcançava o tom esperado. Mas não fora Sam ou Jacob que lhe respondeu.

– A questão Cindy, não é sua irmã, mas o que esta dentro dela. Não me diga que ela não lhe contou? Ela carrega um filhote de frio no ventre. Um monstro como os Cullen. Isso não pode viver, e como ela morrerá de toda forma... – a fala fria e o dar de ombros de Leah foi uma visão asquerosa. O afeto que ela sentia pela loba esvaiu neste momento.

– Eu não vou permitir isso, os Cullen não permitirão.

Com dedos firmes, Cindy removeu o aparelho do bolso, vendo que a chamada permanecia. – conseguiu ouvir? – o choro quebrou sua voz.

Vários olhos cresceram em sua direção, assim como rosnados. – não tocarão nela, saia daí agora, Cindy.

A voz determinada de Edward chegou aos ouvidos de todos, e em um rompante, Leah e Paul avançaram em direção á Cindy. O lobo marrom avermelhado surgiu e seus dentes afiados afundaram na carne de Paul. Arremessando o corpo ainda não completamente transformado sobre a loba branca.
Os olhos atentos de Cindy disparava por cada lobo a sua frente, os rosnados, as patas que afundavam sobre o chão pedregoso a mantinha encolhida e assustada alguns passos atrás do lobo a sua frente que virava da esquerda á direita.
Entendendo o suficiente que um derradeiro dialogo ocorria quando Sam caminhou em direção a ambos e os outros lobos se curvavam, assim como Jacob parecia iniciar o mesmo movimento.
Sem medir o perigo que poderia enfrentar, Cindy tocou os pelos de seu lobo. Jamais escondera o fascínio pelo lobo, a lembrança de adormecer entre os fios grossos e quentes, após uma calorosa noite de amor a trazia a plenitude e vê-lo encolhido, ganindo de dor a fez colar sobre o dorso que sua pequena estatura permitia.
Os músculos tensos relaxaram por segundos, antes de voltarem a se atrofiarem, as patas afundaram, sentindo o tremor que lhe percorrerá o corpo, olhou para o chão. As pequenas pedras subiam, girando e dançando na terra que tremia, afundou os dedos nos pelos com mais intensidade, ofegando ao voltar os olhos para o lobo que em sua visão parecia ter dobrado de tamanho.
O lobo rosnou, fazendo sua espinha gelar. A certeza sobre a nova altura de jake veio a o ver Sam menor que ele, a cabeça levemente inclinada. Olhando-o de baixo para cima.
            Um rosnado e um bater de cabeças, antes que o lobo marrom avermelhado virasse o tronco, apoiando as pernas de Cindy com o focinho, que subiu por seu dorso, segurando-se da forma a qual estava familiarizada.
De olhos fechados deitou sobre o dorso quente, abriu minimamente os olhos, fechando-os novamente ao ver o lobo saltar sobre o rio, derrapando ao tocar a pedra úmida do lado do terreno dos Cullen.
Antes que o lobo voltasse a trotar libertou-o do aperto, deslizando pelo dorso. Ainda estava magoada. Sem pudor o lobo deu lugar ao homem, desviou os olhos para o rio a sua frente, ao sentir o coração perder uma batida ao contemplar o corpo másculo caminhar em sua direção.
Fungou lutando contra o amor que sentia, não poderia esquecer o mal que ele parecia inclinado a exercer contra sua família.

– Não. Não se aproxime. – suplicou.

– Cindy?

– Você faria... – olhou com a vista embasada pelas lagrimas – você faria... não faria nada para detê-los se eu não ouvisse, não é?

– Estava tentando fazer com quem reconsiderassem, eu não quero o mal da Bella, não quero o seu – caminhou e mais uma vez a pequena mão se ergueu o parando.

– Eu esperava mais de você... é da minha irmã que falavam. Da... da garota que um dia você amou. Não me toca. – exigiu quando o viu finar a distancia entre eles.

Apesar de batalhar com o desejo ao sentir o corpo tocar o seu, Cindy fraquejou. A nova altura de seu lobo permitia que tombasse a cabeça em sei abdômen, sua pele bronzeada exalava um perfume que a seduzia rapidamente.

– Eu só não queria tomar a resolução que terminei tomando, não queria uma briga com o bando, ter de voltar às costas a minha família. Mas agora...

– O que quer dizer?

– Que sou um Alfa, sem matilha. Um Alfa como meu avô e meu bisavô. Não sei quando poderei voltar à reserva – murmurou tocando os fios dourados – só tenho você, por favor não se negue a mim.

– Eu jamais conseguiria, meu lobo. Por mais que eu esteja magoada com essa atitude do bando, eu não consigo ficar longe de você.

O casto tocar de lábios foi o bastante para que ambos esquecessem dos acontecimentos anteriores, de onde estavam, as línguas deslizavam pelos lábios, em toques íntimos que transformavam o sangue em suas veias em lava.  Uma pequena gota de suor deslizou da nuca até alcançar a mão firme em sua cintura.
Não havia pudor ou recato quando Jacob lhe tocava. Por isso ajudou a mão que lhe afava a barriga a ter acesso aos seios fartos, deixando-se apoiar no tronco da arvore centenária. Gemendo ao sentir a língua que a pouco lhe roubara o ar tomar seu mamilo intumescido.
Sentir o vibrar do membro ereto em sua coxa lhe fez gemer novamente, buscando espaço entre os corpos para retirar a saia, que mesmo erguida e dobrada em seu quadril, causava o mesmo desconforto que sua calcinha úmida.
Assim como em todas às vezes, Jacob tomou essa função para si. A imagem de suas mãos morenas cobrindo e desnudando a pele levemente bronzeada era inigualável. Ouvir o suspirar afetado de sua amada enquanto beijava-lhe o ventre ao descer o tecido molhado o enlouquecia e desta vez não fora diferente.
Assim como o sorriso encantado de Cindy ao ver os olhos negros tornarem-se grandes de desejo e que mesmo assim não lhe rasgara peça alguma, em nenhuma vez. Suspiraram em sincronia ao estarem unidos, para Cindy era enlouquecedor o calor, estremecendo dee prazer com o calor que cobria sua pele e seu interior.
Para Jacob era um trabalho diário manter-se ativo para lhe dar prazer quando a pele morna abrasava o calor de seu membro. Era como mergulhar em nascente. Sentindo-se vivo e completamente humano. Apenas dela e não existia nada no mundo alem deles.
Toda a situação e o turbilhão de emoções fez com que o momento fosse intenso, a nova dimensão de seus corpos fez o ato sublime ganhar novas proporções, com batimentos ainda acelerados os sons surgiam lentamente.
O êxtase do momento sumindo dos olhos dando lugar a preocupação quando os uivos ganhavam volume, cada vez mais próximo. Com pressa separaram seus corpos, a pressa em vesti-la atrapalhando o ato das quatro mãos, o barulho da terra esmagada por patas fez Jacob se afastar, dando lugar ao lobo, cobrindo a visão do corpo nu de Cindy que lutava com os botões de sua blusa e saia.
O misterioso silencio em sua mente de Alfa deu lugar as vozes familiares, as imagens surgiam, confusas. Atrapalhando sua compreensão. Quil era o mais próximo, saltou parando ao seu lado.

– Finalmente te encontrei, cara. Eu to te ouvindo? Que louco... – mas o monologo fora interrompido com o pequeno lobo areia que derrapou sobre o lodo, trombando com violência.

– Eu voltei a te ouvir, Quil?

– O que fazem aqui?

– Acha que eu ia ficar lá? O Sam é legal, mas prefiro outro Alfa. – Seth mostrou a língua presa entre os caninos.

– Fiquei preocupado com os Cullen, sua ultima visita não foi a melhor...

– Ai do nada eu parei de ouvir o bando, o Quil e agora to ouvindo os dois!

– Acho que isso significa que é o nosso Alfa – Quil não escondeu o medo que cresceu em sua mente.

A imagem da Pequena Claire correndo pela praia inundou a mente dos três lobos.

– Não sei como reverter essa situação, Quil.

– Ela é seu impreting, cara. Eles não podem impedir e jake é o Alfa por direito. Sam e a raiva dele não podem se pôr contra um lobo e sua escolhida.

Cindy, agora composta caminhou apoiando o peso do corpo sobre seu lobo, admirando o quadro a sua frente, dois lobos sentados em suas patas, atentos como dois filhotes cercando o pai. ambos moveram a cabeça em uma reverencia, antes de voltarem atenção ao Alfa.
Jacob lambeu sua mão antes de se afastar e voltar a forma humana, sorriu beijando-lhe a testa.

– Acho que tenho minha própria gangue agora, vamos para a casa dos Cullen, quando terminarmos vou levá-la.

– A picape ficou na casa da Emily...

– Ligaremos da casa dos Cullen.

O caminho feito em poucas passadas, o céu já tomara o tom escuro e uma lua cheia iluminava o caminho. Quando saltaram o caminho do rio indo ao jardim dos fundos Edward e Jasper já os esperava.

Ouça e veja, Cullen.

Vou buscar roupas para você. – foram as únicas palavras de Edward após ver cada uma das conversas em sua mente. – Bella esta dormindo, entrem em silencio.

Edward? – Jasper sentia a tensão e o ódio emanando do irmão e dos lobos.

Todos na sala, Jasper.

Disparou pelos cômodos, Bella ainda permanecia sobre os cuidados de Rosalie e Pamela. Os olhos atentos em seus passos, quando inclinou o corpo sobre Bella e lhe tocou a face corada e suada, sorriu.
A tarde havia sido tumultuada e quando estavam desistindo de conseguir alimento que permanecesse no estomago de Bella, Carlisle chegou com uma sopa de legumes e carnes. O pouco que comera foi o suficiente para lhe trazer a cor.
Beijou a testa sentindo a temperatura, voltando sua atenção ao closet do casal, pegando uma das blusas e calças de Emmett antes de voltar a sala. Seth estava relaxado em uma das poltronas com Cindy ao lado. Quil encostado em uma das paredes e reconhecendo a mente de Jacob no banheiro social.
 Toda a explicação fora feita em poucos segundos, muitos sentimentos mesclados e por alguns míseros minutos, Quil temeu por seus irmãos ao ver ódio nos olhos dourados dos vampiros em sua frente.

Essa nossa definição muda tudo, jake.

Seth tem razão, Jacob. – Carlisle adiantou – não queremos quebrar o acordo e peço desculpas pela falta das minhas filhas. Elas têm levado a ferro a proteção da Bella.

Ainda terei oportunidade de retribuir o carinho, não se preocupe por pouco! – ironizou, sorrindo debochado em direção as escadas.

Sorrindo ao ouvir o bufar de Rosalie – vai sonhando, vira-lata.

Vocês estão esquecendo que para o Sam não existe mais o trato e eu não viro as costas para uma briga...

Mas podemos evitar, assim como Carlisle conversou com Ephraim, conversaremos com Jacob. – Esme censurou Emmett que apenas deu de ombros e erguendo as duas mãos.

Jacob ainda sentia o incomodo pelos atos humanos dos Cullen. – então decide reizinho? – o deboche de Emmett lhe fez apenas girar os olhos.

Como Carlisle dizia – Edward lançou um olhar de aviso para Emmett, ele lia o desconforto em ser Alfa. – temos que rever os termos do acordo e reforçar com a tribo, com dois Alfas, as decisões precisaram ser revisadas.

Jacob olhou para Cindy que começava a mostrar sonolência, apoiando parcialmente seu peso sobre Seth.

Vou levar Cindy para casa e voltarei à reserva.

Jake?

Vocês ficam para ajudar a proteção da Bella. Ela é humana.

Tomando Cindy nos braços caminhou para fora da casa Cullen, seguido por Edward – eu os levo. Será seguro voltar à reserva sem ela.

O silencio foi o protagonista do percurso, deixando Cindy adormecida nos braços de Jacob em frente à casa de Charlie que reconheceu o som limpo do volvo, estranhando o fato e do genro apenas manobrar na rua estreita e voltar.

O que houve jake?

O pneu da picape furou e como ela dormiu no meio do caminho preferi pedir ajuda ao Cullen.

Porque Edward não entrou?

Ele não estava com a Bella no carro. – fora sua única resposta.

Sem esperar por uma aprovação, que não viria, Jacob subiu as escadas, levando e deitando-a sobre a cama, tocando o rosto suave. – jake?

Oi, minha vida?

Preciso ir à farmácia...

Já esta em casa – suas orbes sonolentas giraram em busca de foco, mas o sono ocupava sua mente e corpo.

Precisamos da pílula do dia seguinte.

Eu trago de madrugada, preciso ir antes que Charlie venha aqui. – beijou os lábios rosados, seguindo até a janela e verificando o trinco e destravando a janela.

Charlie esperava ao pé da escada com Laura ao lado, após um pequeno interrogatório conseguiu escapar ileso, seguindo pela rua até ter a certeza de estar fora do alcance dos olhos atentos e astutos de Charlie.
Caminhar de volta a La Push trouxe sentimentos que nunca estiveram com ele. Apesar de agora ser o que todos esperavam, ser um Alfa não lhe trouxe satisfação e ao seu ponto, de acordo com os sentimentos, lhe afastou de seu lar.
Neste momento sentia que entendia como um turista pensava, a ironia fez uma lagrima surgir, sacudiu enorme cabeça, vendo sua lagrima cair distancia de seu corpo. sendo esquecida, abandonada junto com seus sentimentos de homem.
O terreno Quileute surgindo, reconheceu Jared em sua forma lupina, não ouvia sua mente. Fato que perturbou o lobo que assistiu o amigo continuar sua jornada sem interferir, até ouvir a voz dos outros companheiros e disparou para alcançar Jacob.
Com uma calma desconhecida seguiu até a casa do velho Ateara, vendo-o na varanda ao lado de Sue e seu pai. A mão que lhe fora pesada sobre o ombro freou seu avanço. Sam não sabia o que poderia acontecer, mas a discussão anterior não poderia voltar, ainda sentia ser o Alfa, mas havia algo com Jacob.
Algo que desde a partida para a casa dos Cullen, Billy, Ateara e alguns do conselho entendiam como uma benção equivalente a maldição que os esperava quando a criatura nascesse.

Vamos conversar de igual para igual, Sam.

A nova reunião acontecendo na casa do Ateara, todos sabiam da nova posição de Jacob, de como Quil e Seth acidentalmente tornaram-se membros de seu pequeno bando ao tomarem a decisão de seguir Jacob até os Cullen.

Bella é humana, não sabemos sobre a criatura e que muito provavelmente ela morrerá se levar a gestação à diante, mas nossa tribo, nossos espíritos guerreiros surgiram da determinação em proteger a todos dos frios. – Sue iniciou ponderando tudo o que já foi discutido.

Como já havia dito, não seremos muito diferentes deles se invadirmos a casa para matar uma humana. – Billy reforçou as palavras de Sue.

O amanhecer surgia quando a sentença foi dada, algo que não agradou aos Black, mas era o máximo que consegui arranca por meio de uma votação justa entre o conselho, afinal seu pai, Sue e Ateara eram os conhecidos de Charlie.
Aquela era uma trégua. Estava feliz por conseguir salvar, teoricamente, Isabella. Mas sendo fria ou humana, a partir daquele momento os laços estavam com dias contados. Ela jamais o perdoaria.

Filho?

Eu só vou a farmácia, pai. E buscar os garotos.

...

Precisamos explicar para a Bella o que esta acontecendo. – Pamela retrucou pela vigésima vez.

Ela já esta sobrecarregada...

Pamela tem razão, filho.

Jacob não vai esconder nada e Cindy parece saber muita coisa.

Deixem-me a sós.

 Rosalie apenas levantou da cama para se prostrar sobre o divã em frente. Ignorando-o enquanto folheia uma revista da década de 20. Com suaves toques no rosto corado, Isabella lentamente despertava. Sorrindo em meio a um bocejo.

Bom dia!

Bom dia, esta bem?

Acho que sim.

Precisamos conversar...

Vendo os olhos âmbares tristes, aprumou o corpo, apoiando as costas sobre a cabeceira da cama.

O que aconteceu? – perguntou olhando de Edward a Rosalie.

Jacob voltou enquanto esteve dormindo.

Vocês discutiram?

Com atenção Isabella bebeu de cada palavra, sentia seu estomago embrulhar enquanto as resoluções invadiam seu ser, os dedos enredando a carne do ventre. Seu corpo balançando com os soluços, a pele a poucos minutos corada encontrava-se branca.
A ânsia veio forte, pôs a mão na boca e fechou os olhos, não conseguiria chegar ao banheiro, vomitando violentamente. Para sua surpresa o som em ecos de seu engasgo ocupou o cômodo, o corpo frio de Edward lhe amparava permitindo que se ajoelhasse em frente a privada, uma palma estrategicamente em sua nuca, enquanto Rosalie segurava os fios longos.

Sem ganas apenas deixou o corpo dolorido sobre o marido, chorando baixo. – não podem matar meu bebê...

Precisamos de ajuda...

Já exigimos demais dos nossos amigos, os Quileutes sabem como lutamos.

Não estava falando deles, Carlisle vai...

Não.

O que? – poucas eram as frases que entravam em sua mente abalada, mas persistia em compreender a conversa.

Marcus havia marcado uma reunião com um chefe de clã de cada país ou continente, por nosso histórico, Carlisle foi o escolhido para representar os Estados Unidos. Ele e Esme embarcariam dentro de alguns dias com Tanya e Peter para Volterra...

Jamais imaginei que pediria ou diria isso, Edward. Mas por favor, por nosso filho, pelo amor que sente por mim. Peça ajuda aos volturi, eu imploro.





sábado, 18 de abril de 2015

ELS - Cap 20

Capítulo 20 – Nesses braços

Baby I want you like the roses
Want the rain
You know I need you
Like a poet needs the pain
I would give anything
My blood my love my life
If you were in these arms tonight
(In these arms – Bon Jovi)

Dizem que a poesia precisa da dor[1]. Eu li isso em algum lugar ou escutei em alguma canção, mas não sei se é verdade. O que sei é que o sofrimento existe puramente, e a beleza não costuma estar entre suas companhias.
Por isso, embora a dor tenha muitas vezes estado ao meu lado ao longo do caminho, ela nunca tornou a paisagem mais bonita. Exceto por hoje.
Esta noite, estou mergulhada em ambas, uma indissolúvel da outra, e tudo é doce e amargo ao mesmo tempo.
Eu a vi. Marina. Ela esteve comigo. E eu senti tanto a falta dela! Ansiei por esse momento como um viajante anseia por seu lar. Então, quando o momento chegou, parecia mais com o fim da linha. Meu Deus, não foi nada bonito. Tanto amor em meu coração e só o que eu senti foi medo. E dor. Tanta dor.
Eu quase poderia rir da ironia disso se neste exato momento me lembrasse como, mas claro que o riso não acha o caminho até meus lábios. Risos requerem sons e os sons estão temporariamente mortos. Quase como eu me sinto.
Todos os sons de minha alma, menos um.
A Minha Canção.
Eric.
Estou nos braços dele e isso faz minha dor se encher de poesia.
Como é possível? Dentro de mim, um foco de luz nasce na escuridão de minha tristeza e eu me lembro do que decidi agora há pouco. Que eu quero ser feliz. Que eu quero isto aqui. Este momento. Ele.
Eu quero Eric. O pensamento se liberta num impulso de onde quer que esteve contido e se aninha no vazio dolorido de meu coração. E é bom.
— Ei? — ele sussurra.
Gosto de ouvir o som da voz dele quando estou encostada em seu peito. Em meio a todas as coisas de que gosto na vida, acho que tenho uma nova coisa preferida. O mundo me chega através dele e isso me faz sentir protegida. Salva. Viva de novo.
— Hmm? — eu me obrigo a responder. Não é realmente um som, mas é o máximo que posso fazer.
Não quero falar, não estou preparada para as palavras. Elas machucam e o silêncio é mais seguro. É minha punição e ao mesmo tempo meu refúgio.
— Como você está? — ele me pergunta, uma de suas mãos acariciando meu cabelo levemente e a outra esfregando a pele do meu braço, tentando me aquecer um pouco na noite que começa a ficar fria.
Estamos sentados no chão no canto mais isolado do estacionamento, onde eu tinha trazido Marina para conversar. Em algum momento que eu não registrei, ele esticou as pernas atrás de mim e me acomodou em seus braços de um jeito que eu quase estou em seu colo. Agora que o turbilhão de emoções violentas se acalmou, percebo isso e fico um pouco envergonhada, ao mesmo tempo em que nossa proximidade faz alguma coisa estranha com o ritmo das batidas de meu coração.
Exceto por isso, estou no mais completo silêncio há algum tempo, desde que parei de chorar. Primeiro meus soluços se acalmaram, sufocados no peito dele, depois as lágrimas foram aos poucos diminuindo até deixarem de cair. Eu queria ficar assim por quanto tempo pudesse, com medo de me mover ou de dizer qualquer coisa que quebrasse o encanto, mas preciso dizer algo que responda a pergunta. A voz dele é tão suave e cautelosa ao romper meu silêncio, que eu me sentiria ingrata por deixá-lo sem uma resposta.
“Péssima”, quero responder, mas na mesma hora em que a palavra se forma em minha mente sei que isso não é mais verdade. Há certos tipos de dores que ou se tornam parte de você ou te matam e, bem, eu não estou mesmo morta, estou? Embora eu esteja me sentindo assim, sei que posso, em algum momento, me levantar daqui e lidar com isso.
— Melhor — consigo dizer, e já que estou dizendo a verdade... — Porque você está aqui. Você... Isto... É bom. Obrigada.
Sinto-me ridiculamente tímida depois dessas palavras e fico grata por não estar vendo o rosto dele ou ele o meu. Ainda assim, sinto o ritmo de meus batimentos cardíacos dar outro solavanco quando ouço o sorriso na voz dele.
— Também não estou achando isto ruim. Então acho que sou eu que agradeço.
Ah, meu Deus!
Uma parte de mim quer sair por aí dando pulinhos. Sinto um impulso ridículo de ir contar tudo a Paty, como uma garota que quer dividir as coisas com a melhor amiga. O pensamento faz eu me sentir estúpida e inconsequente por estar me permitindo ter sensações tão adolescentes, sensações que não pertencem a alguém que trapaceia a idade como eu. Felizmente, a maior parte de mim ainda está, por incrível que pareça, ancorada à realidade, e eu consigo não embaraçar a mim mesma ainda mais com esses pensamentos tolos.
— Você vai me contar o que houve? — Eric questiona, mas sei que ele já conhece a resposta. Não é como se eu fosse do tipo que sai por aí divulgando os sentimentos, e ele sabe disso.
— Desculpe — digo, e espero que ele saiba que não é só por guardar a verdade para mim mesma, mas porque ele teve que me assistir desabar tão violentamente, escorada apenas na sustentação que a força dele me deu. Essa força incandescente que exala dele e que eu desejei toda para mim, para que pudesse me fazer inteira novamente.
— Um dia então, Luz. Mas quando esse dia chegar eu vou quebrar a cara de quem te machucou.
A voz dele é dura e eu me assusto com isso, porque sei que ele está falando sério. Não é uma ameaça vazia ou algo que ele esteja falando para me fazer sentir protegida. Há uma violência real e incontida por trás dessas palavras e isso faz um arrepio subir por minha coluna, como se alguém estivesse passando a ponta de uma lâmina afiada na pele de minhas costas.
— Ninguém me magoou, Eric. — Não sei o que ele pensa que aconteceu comigo, mas eu não estou disposta a deixá-lo pensando que existe outro culpado pela minha situação além de mim mesma. — Fui eu que fiz isso. Reencontrei uma amiga esta noite e tivemos que remexer em coisas dolorosas. Mas fui eu que a magoei e não o contrário.
Ele não responde e o silêncio se estende por alguns minutos antes que eu consiga sentir seu corpo relaxar novamente quando ele solta o ar, resignado.
— Bem, sweetheart, eu não me importaria de ser flagrado num canto escuro com uma mulher linda nos braços, mas você sabe que já devem ter dado pela nossa falta. Realmente não ligo, mas, de qualquer forma, não podemos mesmo ficar aqui para sempre.
Ouvir isso é como ser empurrada para fora de nossa própria bolha, aquela em que só nós dois existimos. Sei que ele está certo, mas não quero sair daqui. Não quero que este momento acabe e eu tenha que voltar a encarar o mundo longe dele. O pensamento me dá arrepios e outra vez eu desejo poder ter a força deste homem só para mim.
“Não”, eu penso enquanto tudo em mim se revolta com a perspectiva do novo rompimento. Estou de volta à sensação de queda livre de antes. Começo a tremer e me agarro a ele, prendendo seus braços ao redor de mim com minhas mãos.
— Só preciso de um minuto — digo, na esperança de que um pouco mais de tempo possa me pôr no estado de espírito para enfrentar o fim disso. Já dói tanto me separar dele que nem quero imaginar.
— Acho que você precisa de mais do que um minuto — Eric diz.
Ele me abraça apertado e acho que o sinto beijar meus cabelos, mas não tenho certeza porque o movimento é sutil demais em contraste com a força do abraço. Ainda estou tentando me conformar com a ideia de que isso vai acabar logo, quando ele toma a decisão por mim e me afasta um pouco de si, apenas para alcançar o celular no bolso de trás da calça.
— Vou levar você pra casa, ok? Vou ligar pro Samuel e dizer que você está passando mal ou algo assim e que precisa de uma carona. Paty e Lara podem dividir o seu setor por hoje. Você está precisando descansar.
Não acho justo, não quero que elas trabalhem dobrado por minha causa, mas gosto da ideia de ter mais tempo com Eric. Além do mais, a verdade é que estou mesmo precisando do sossego da minha casa. Barulho e música alta não combinam com o que...
Ai, não!
Quando penso na música finalmente me lembro de quem está cantando. Mesmo daqui, posso ouvir a voz rouca e aconchegante de Caio e não posso deixar que ele suspeite de nada. Eric ainda está sentado no chão perto de mim e uma de suas mãos ainda está enlaçada à minha cintura, mas a outra já está percorrendo a tela do celular em busca do número de Samuel.
— Não — peço num tom urgente quando seguro sua mão, tentando impedi-lo de ligar.
— Não o quê? — ele pergunta meio surpreso e parecendo nada satisfeito por eu estar tentando impedi-lo de fazer o que quer.
Eric não gosta nada disso, mesmo em relação às coisas mais simples já pude perceber que ele não gosta que digam a ele o que fazer ou que interfiram em suas ações. Embora eu reconheça que esse é um defeito dele, não me incomodo com isso e nem estou particularmente empolgada em frustrar esses planos específicos, muito menos hoje, mas preciso falar com Caio. Tenho que saber se ele sabe que os pais estiveram aqui, se Fernando foi embora também e o que disseram a ele sobre o motivo.
— Não ligue para Samuel, eu já estou bem para voltar ao trabalho. Hoje é sábado e não dá pra deixar tudo assim.
— Baby, não se ofenda, mas você começou a tremer quando eu insinuei que era hora de voltar pra dentro. Você não quer me dizer o que aconteceu, mas não me trate como se eu não soubesse que você está um trapo!
Ai.
— Não, Eric. É sério, eu estou bem. E meu amigo está tocando lá dentro, não quero sumir sem dar explicações...
— Ah, claro, o garoto.
Quando diz isso, ele não lembra em nada o homem de minutos atrás. Num instante ele já está de pé, cambaleando um pouco, provavelmente porque, como eu, ele deve estar dolorido por estar na mesma posição há muito tempo. Ele me estende a mão e me iça para cima e eu sei na mesma hora, pela expressão no rosto dele, que nosso momento acabou tão rápida e desavisadamente quanto o humor dele mudou. Sinto o desamparo da ausência dele tão forte que parece que me falta um pedaço que eu nem sabia que tinha.
— Eric... — tento dizer alguma coisa, mas ele finge que não me ouve.
— Então se você acha que já está bem para trabalhar, melhor assim.
Ele ajeita minha camiseta torta e coloca uma mecha que tinha escapado do meu rabo de cavalo atrás de minha orelha. Tento segurar a mão dele, mas não consigo, porque ele se afasta rapidamente de mim, parecendo ocupado enquanto tira a poeira das próprias roupas. Ele começa a caminhar sozinho em direção à entrada, mas há alguma coisa de instável em seus movimentos e ele para, aparentemente tentando retomar o equilíbrio. Obrigo minhas pernas a correrem até ele, puxo-o para mim e a luz de um dos postes incide em cheio em seu rosto, me assustando.
— Eric, o que foi? Você está bem?
Só agora, sob a luz, percebo que ele está mais pálido do que o normal e que seus olhos estão fundos e cansados. Ele parece por fora como eu me sinto por dentro.
— Estou bem — ele diz. — Só bebi demais esta noite.
Sei que é mentira. O cheiro dele está em minhas roupas e ainda posso sentir o calor de sua respiração em minha pele. Eu teria sabido se ele tivesse tomado uma gota de álcool que fosse. Além disso, já deu para perceber que Eric não é do tipo que fica bêbado fácil.
— Não minta para mim — disparo num impulso de ousadia. — Você não está bem. Deixa eu te ajudar...
— Não tenho nada, Clara. Já disse.
Ele diz isso como se o assunto estivesse encerrado e vai embora, enquanto fico aqui, alquebrada e envergonhada. Do jeito que vejo as coisas, Eric me deu um refúgio, um momento de beleza e paz no que deve ter sido uma das piores noites de minha vida, e eu estava tão centrada em meu próprio sofrimento que nem percebi que ele também precisava ser salvo.
Detesto ser esta pessoa que se permite não olhar em volta, detesto que ele esteja precisando de mim e eu não saiba o que fazer para ajudar. Tudo em que consigo pensar quando ele finalmente some de vista é em como eu gostaria de poder ver o que vai em seu coração, em como seria maravilhoso se ele simplesmente me deixasse entrar. Mas as coisas não tendem a ser simples assim, não é?
E agora há mais uma coisa para meu próprio coração carregar através da noite.



[1] Não sei a Clara, mas eu tirei essa frase de um verso de In These Arms do Bon Jovi, do álbum Keep The Faith de 1992.

sábado, 4 de abril de 2015

ELS Cap 19

Capítulo 19 – Salva

Hang me down...
by the riverbed
with the other dead
I will die without a sound
Save me
Save me
(Save me – 30 Seconds To Mars)

Não, meu Deus! Não! Não assim! Eu queria que Beto estivesse aqui ou que ao menos Caio já soubesse da verdade. Não posso fazer isto assim, não estou preparada. Por que o Senhor escolheu esta maneira? O que eu faço? O que eu faço?

Por apenas um momento, o mais breve de todos, tudo parece mágico. Ela me oferece uma migalha de paz na forma de um quase sorriso, mas é tão rápido que pode ter sido uma ilusão. Apenas uma miragem dolorosa que se afasta de mim à medida que caio mais e mais fundo no buraco que eu mesma cavei.
Sinto vontade de ir até ela e abraçá-la. E na mesma intensidade tenho vontade de fugir. Meu corpo está preso entre dois desejos que o partem ao meio. Por fim, não sucumbo a nenhum. Continuo onde estou e é ela quem se levanta, o rosto tão bonito, cada vez mais à medida que se aproxima, traz um olhar turvo de mágoa e confusão.
Ela para à minha frente e me examina. Sinto-me como se não estivesse ali, como se aquilo fosse um filme com uma péssima trilha sonora, composta por vozes se misturando em burburinhos indecifráveis e por alguma coisa que pulsa com força em meus ouvidos. No fundo de tudo, abafada pelo meu pânico, a voz dela:
— É mesmo você... — Não é uma pergunta, tampouco é uma afirmação. É uma acusação. Quase como um desafio, ou, antes, um pedido desesperado para que eu negue, para que diga alguma coisa que faça parar o que está acontecendo conosco neste momento.
Estou me destruindo na frente dela. A imagem que ela criou de mim se desfaz, pedaço por pedaço.
Quero dizer que houve algum engano, que ela não me conhece e que está me confundindo. Mas como posso? É inútil agora. A expressão dela é a mesma da menina assustada que acordou em meu sofá vinte anos atrás. Incompreensão. Por que estou fazendo aquilo com ela? “Quem é essa maluca e o que quer de mim?”
Do pó ao pó.
— Podemos conversar lá fora? Por favor?
Não fico para ouvir a resposta. Reúno todas as forças que tenho e sigo em direção ao estacionamento de funcionários, o lugar mais privado que vamos conseguir neste momento, sem olhar para trás. Percebo que ela está bem atrás de mim, mas meu coração dói quando concluo que, apesar de ela estar vindo comigo, seus olhos não deixam que eu me engane. Ela não vai entender. Não quer.
— Como isso é possível? — ela pergunta, antes mesmo de chegarmos ao ponto mais afastado e escuro que consigo encontrar, antes mesmo que eu possa me virar para olhar de novo para ela. — Você está exatamente igual a quando nos conhecemos! Mas... Era pra você...
— Ter quase 50 anos agora? Tenho 60, na verdade.
— Como... O que é você?
— Eu queria te contar naquela época... Eu teria te contado, mas...
— Você nos abandonou. Você foi a primeira pessoa em quem confiei de verdade na vida, e você me abandonou!
Os gritos dela, cada palavra, eram como facadas que abriam antigas feridas. A pele fina que havia se criado sobre elas esfacelava-se e era como se eu pudesse ver meu sangue jorrando através da carne aberta.
Tanta culpa, meu Deus! Tanta culpa que eu tinha mantido sufocada sob minhas boas intenções.
— Por quê? — ela exige, a voz baixa e fria, a pergunta ardendo em mim como gelo em contato com a pele.
— Porque foi preciso. Porque eu precisava voltar para vocês quando Caio estivesse preparado. Não antes. Eu fiz isso por ele.
— Como você pode dizer isso? Como você pode dizer que nos abandonou porque... porque...
— Caio e eu somos diferentes. Esta quase imortalidade que você vê, é isso o que Caio vai ter. Ele será jovem por quanto tempo quiser.
A verdade começa a escorrer descontroladamente de mim quando estamos aqui fora nos encarando. Entretanto, nada disso parece fazer sentido para ela, que me olha com o mesmo olhar paciente com que se tolera os dementes.
Eu queria que fosse diferente, que isso não fosse assim, no escuro, depois de um encontro tão desconcertante quanto um susto. Mas não há nada que eu possa dar a ela agora a não ser a verdade, por mais brusca e crua que ela seja.
— Somos anjos, Marina. Caio e eu. É isso que eu estou destinada a fazê-lo entender. E a você também. É isso que eu estava fazendo há vinte anos, cuidando de você e zelando por ele.
— O quê?
Sua voz não é mais do que um sussurro que escapa de uma garganta dolorida, mas então ela começa a rir baixinho, balançando a cabeça de um lado para o outro e sua voz soa menos estrangulada e mais confiante de repente.
— Não. Você está bêbada. Ou drogada. Você é só uma maluca que envelheceu bem demais.
— Marina...
— Eu tenho experiência com gente assim, como minha mãe, lembra? Só não imaginava que você... Não me interessa também! Você vai ficar longe. O meu filho não vai passar nenhum segundo a mais perto de gente como você.
O choque a está deixando histérica, tenho que controlá-la, mas não sei como. Assim como está, não há nada mais que eu possa dizer que ela esteja em condições de ouvir.
— Eu vim aqui... Nós viemos fazer uma surpresa para nosso filho. Vê-lo tocar e conhecer a menina por quem ele está apaixonado, mas aí...
Então ela para. Quando menciona a “menina” por quem Caio está apaixonado, ela entende que sou eu e o pânico cresce mais um pouco dentro de mim.
Ela apenas me olha, mas só isso já dói, porque os olhos dela me ferem mais do que punhos. Há coisas demais passando por eles. Tantas coisas que, mesmo na parca iluminação da noite, eu vejo. Confusão, mágoa, raiva... Nojo.
Marina sente nojo de mim e isso me transforma por dentro. Sou alguma coisa antes desse olhar e não sou mais nada depois.
Estou simplesmente parada aqui enquanto observo o chão se desfazer ao meu redor e o rosto dela se contorcer numa careta de ódio. Nunca ninguém me dirigiu esse sentimento, mas não me engano sobre ele. Eu sei. Apenas porque já vi o oposto no rosto dela. Eu já fui sua família. Já fui quase tudo o que ela tinha além de si mesma.
Ela começa a se virar para ir embora, mas muda de ideia. Lá no fundo da escuridão, uma quase esperança se acende. Não é nada. Nada. Apenas uma faísca pálida e tudo isso é apenas um segundo entre nós. Tão rápido que parece nunca ter existido. Tão rápido que...
Nem vejo quando a mão dela desce com toda força sobre meu rosto.
É rápido e explosivo como um avião que despenca do céu. E não dói. Não sinto nada porque eu toda sou um talho aberto e não há espaço para mais dor.
Marina começa a chorar. Soluços descontrolados de arrependimento e revolta que a fazem se dobrar sobre si mesma. Quero chegar perto dela e ampará-la. Quero dizer que a entendo, que a perdôo pelo que acabou de acontecer e por qualquer outra coisa que ela ainda possa fazer, mas apenas continuo parada.
Eu não choro.
Dentro de mim os sons perderam o sentido e a linguagem não tem mais razão de ser. Por isso não choro, nem digo nada. Há apenas o som da dor dela e o silêncio sepulcral sobre a minha. Estou enterrada sob camadas e mais camadas de terra que me sufocam.  Acho que estou morta.
Ela levanta os olhos em minha direção uma última vez, mas não me olha realmente. Quem sabe veja qualquer coisa além de mim. Talvez esteja fazendo uma oração silenciosa ao pé da lápide que eu imagino sobre a terra que pesa em minha dor.
Então ela se levanta e vai embora. Sai rapidamente em direção à rua com os braços em volta de si mesma e, naquele momento, ela volta a ser a menina desamparada do primeiro dia. A mulher confiante e firme que ela se tornou se esconde sob os cabelos que caem em seu rosto e se grudam em suas lágrimas. Ela desaparece e eu não consigo dizer nada.
Acabou.
Depois do fim, o mundo recomeça a girar, mas eu permaneço onde estou. Aos poucos, o frio da noite vai penetrando meus sentidos e meu corpo sucumbe ao seu peso. Sinto o chão sob meus joelhos e é como eu sei que ainda estou aqui e que a vida não fugiu pelas minhas veias expostas. Sinto a dor daquele encontro se espalhar por mim, como se tivesse sido contida por um torniquete e agora clamasse por liberdade. Vou sendo preenchida por esse sentimento como se ele estivesse substituindo meu sangue.
Ao meu redor, o mundo continua como se nunca tivesse parado e eu ouço seus sons, mesmo sentindo como se não pertencesse mais a ele. São sons de vida pulsante que ferem ainda mais meu coração partido, rasgando seu silêncio como vidro sendo estilhaçado numa sala vazia. Os carros passando lá fora, as pessoas se divertindo no bar, os acordes pesados da música que começa a tocar, o som de passos pesando sobre as pedras do chão...
Eu só quero que tudo se cale.
— Oh, shit! CLARA!!!
Eric. Eu sabia que era ele antes mesmo de ouvir sua voz. Vejo seus pés quando ele para à minha frente, sei que devo reagir, dizer alguma coisa, não posso ficar aqui no chão para sempre...
— O que aconteceu? Clara, olhe para mim!
E eu tento, juro que tento, mas não consigo me mover. Então ele se ajoelha à minha frente, tocando-me cuidadosamente, checando se estou machucada talvez, mas acho que ele não pode ver a ferida que me tornei, nem eu tenho forças de dizer a ele.  Por fim, ele segura meu rosto entre as mãos, me forçando a olhá-lo. Algo se rompe dentro de mim quando sinto sua pele, quando vejo seus olhos preocupados. Tem alguma coisa nele que derruba minhas barreiras, sempre, e finalmente eu não aguento mais. Toda a dor escorre por meus olhos, queimando meu rosto e inundando as mãos dele.
— Clara, por favor, eu não sei... Me diga o que fazer. O que você quer que eu faça?
Ele parece tão perdido! De repente, estou nadando sem rumo no oceano de seus olhos, mas ele está lá também, bem ao meu lado, precisando de uma resposta.
Então eu penso sobre isso. Na resposta e em tudo o mais. Em Eric aqui comigo me ajudando a respirar e em como me senti em todos esses dias em que ele se manteve distante, como se não quisesse ter nada a ver comigo. Penso em Marina e no olhar de desprezo dela gravado em minha memória, sendo reprisado a cada segundo diante de meus próprios olhos. Penso em Caio, feliz lá dentro, acreditando que um dia eu serei sua namorada e que ele logo vai me apresentar a seus pais, que eles vão enxergar a mesma pessoa que ele vê e, eventualmente, vão me amar como ele me ama. Que eles vão me abraçar como parte de sua família.
E quando penso nessa última imagem, quando ela se enraíza em minha cabeça, é que a compreensão me atinge. Eu quero o oposto de todas essas dores e expectativas despedaçadas. Quero nunca sentir novamente o que estou sentindo agora. Não é tão simples, eu sei, mas tampouco é impossível, é?
Talvez eu seja ingênua, mas quando você abre mão de tudo o que tem em prol de quem você é, não parece tão errado assim. Não parece algo pelo que ser odiada. Eu fiz o que fiz porque queria que Caio tivesse uma escolha, a mesma que eu tive.
Não é como se eu nunca tivesse imaginado este cenário: Marina me descobrindo sem que eu estivesse preparada para isso e as coisas dando tão errado quanto podiam dar. Mas você pode imaginar uma coisa centenas de vezes e, mesmo assim, nunca vai saber o que sentirá quando realmente acontecer.
Ver ódio nos olhos de quem você ama é como ser atingida por um trem. E não ajuda em absolutamente nada que você estivesse parada nos trilhos o tempo todo. Muito menos quando você sempre quis acreditar que o trem ia parar quando chegasse a hora, e que o maquinista ia descer para bater um papinho e saber o que te levou a ficar ali, no caminho do choque.
Eu tinha feito o que achava certo, tinha partido mesmo quando tudo o que eu queria era ficar. Eu teria contado a ela se pudesse, mas como obrigá-la a viver a vida que eu levo? E quando Caio nasceu e eu soube que ele era igual a mim, como eu poderia influenciar suas escolhas futuras através da verdade sobre quem eu era, de minhas dores e alegrias? Claro que eu podia ter me tornado humana por eles, mas eu não estava pronta. Sentia, como ainda sinto, que não era a hora. Que deixar de ajudar aqueles que estavam destinados aos meus anos futuros seria egoísta. Tanto quanto a verdade. Tanto quanto qualquer mentira.
Eu sabia que ela se sentiria amedrontada e sozinha, que sentiria minha falta, mas Marina sempre foi a pessoa mais forte que conheci. Ela sobreviveu àquela infância terrível, àquela casa, àquele desamor, e se manteve pura, limpa, boa e corajosa. Ela não precisava de mim. Nunca precisou realmente. Eu sempre soube de que barro ela era feita e que era inevitável que ela se erguesse altiva de quaisquer que fossem as cinzas.
Então eu convenci a mim mesma de que era o melhor a fazer e parti. Abri mão deles e tentei tomar a decisão menos egoísta que encontrei, mesmo que meu coração se dilacerasse no processo. Aquilo me destruiu, mas eu fiz mesmo assim, porque foi o jeito que encontrei de todos os outros ficarem bem.
Exceto que ela não ficou. Nem eu. Ou mesmo Caio, que parece tão distante e alheio ao destino pelo qual me sacrifiquei. Ela me odeia, ele não faz ideia de quem eu sou e, pela primeira vez na vida, eu sinto que o certo é a coisa mais errada que existe. Que altruísmo dói e que minha própria felicidade deveria valer alguma coisa, afinal. Que eu posso desejar que fique tudo bem para mim também.
É isso o que eu quero.
Quero saber como é ser amada e não me machucar. E quero nunca mais perder ninguém, como quem pode ser egoísta às vezes. Quero me sentir vulnerável sem sentir medo disso, porque quero alguém que cuide de mim como Eric está tentando fazer agora, enquanto enxuga minhas lágrimas com as costas da mão.
“Quero você, Eric.”
Subitamente, eu encontro minhas palavras. Ainda não sei onde está minha voz, mas por dentro estou gritando.
“Preciso de você.”
E de alguma forma, é como se ele me ouvisse, como se entendesse.
Ele desloca seu peso e está agora ao meu lado. Sinto a aspereza do jeans quando seus joelhos tocam o lado de minha coxa e, de repente, ele está mais perto do que nunca esteve. Um de seus braços enlaça minha cintura enquanto o outro está sobre meus ombros e muito devagar, como se fôssemos placas tectônicas se acomodando ao longo de milhões de anos, ele me puxa para si e eu me deixo ir, deitando a cabeça em seu ombro.
Ele apoia o queixo no topo de minha cabeça e posso sentir sua respiração esquentando meus cabelos. É entrecortada e incerta, como a de quem correu milhas demais para encontrar algum lugar, e aquele é o momento mais íntimo que eu já vivi. Sinto seus dedos me afagarem suavemente e relaxo em seus braços, afundando em seu cheiro. Quando eu faço isso, os músculos de seu peito se enrijecem bruscamente, mas logo ele relaxa também, suspirando de leve enquanto me fecha um pouco mais em seu abraço.
Ele é... Eu estou...
As palavras me fogem novamente, mas tenho a sensação de que elas seriam mesmo inúteis aqui. Meu coração canta sem som e o dele me ouve. E isso basta.
Ficamos assim por muito tempo, nem sei quanto. Mas, para mim, é como se eu tivesse encontrado o ar antes de saber que precisava respirar.

E ali, naquela noite, ele me salva.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

MVA - Capitulo - 15

                                                                                     Fase 2: Eu te amo mais

– Se acalme, Edward!

As vozes ainda distantes me puxavam para a consciência, meu corpo repousava em algo macio, mas havia o toque frio, vários na verdade.

– Carlisle? – os cabelos loiros e nariz reto foram os primeiros a entrarem em foco.

Sorriu ao me ouvir e seu braço cobriu minha visão. Senti algo ser colado em minha pele. Assim que foi liberto trouxe meu braço ao alcance dos meus olhos. Um pequeno adesivo estava colado sobre minha veia.
Voltei a olhá-lo e vários tubos com meu sangue eram guardados em um pequena caixa, que por sua vez era guardada em sua maleta. Com o balançar da cama notei que Edward se aproximava nervoso, Pamela estava encostada a parede, sorriu e retribui.

– Que bom que acordou, precisa se alimentar. Sua pressão esta baixa.

Acenei antes de forçar meu corpo a sentar, Edward já me tinha em seus braços auxiliando meu equilíbrio. Queria saber o motivo para remover essa quantidade de sangue, mas imaginei que seria melhor continuar no escuro.

Pamela chiou caminhando em nossa direção – É a saúde dela, parem com esse tipo de conversa. Ela também precisa ouvir.

– O que estavam discutindo? – pedi a Edward.

Eu ainda não podia acompanhar seus super sentidos, se havia algo, alem da gravidez, errado com minha saúde eu tenho o direito de saber.

– Nada de mais, Bella. Só pensei em comprar os equipamentos que faltam para que somente Carlisle manipule seu sangue.

– Vou pedir urgência e até esta madrugada eu terei os resultados.

– Talvez não passe de uma anemia, afinal você esta muito branca para quem esteve no Brasil! – Pamela manteve um sorriso enquanto dizia, um sorriso que eu reconheci imediatamente.

Ato que me fez corar e abaixar a cabeça, ouvi o riso suave de Edward. Era bom ouvi-lo, quanto tempo levaria para eu ver e ouvir esse sorriso?

– Bom, eu vou buscar o seu jantar que a Esme estava preparando, daqui a pouco eu volto – dizia saindo logo assim que Carlisle saiu.

– Tudo bem.

Toquei a enorme e gelada mão de meu marido quando a porta do quarto finalmente foi fechada – desculpe.

Seus lábios tocaram minha pele, arrepiando os fios em minha nuca. Mais cedo que o esperado se afastou, me encontrei sozinha na cama enquanto assisti seus passos pelo quarto.
            Respirei fundo me ajustando aos cobertores enquanto buscava por coragem, não sabia como falar, mas o correto era eu falar, não Carlisle e tenho certeza que algo será apontado nos exames.

– Edward estão todos em casa?

 Com o olhar confuso sentou ao me lado, tomando minha mão entre as suas, apertei em retribuição. – agora, somente Esme e Pamela. Os outros foram caçar.

Menos mal.

– Eu preciso te contar uma coisa. Eu demorei a perceber e provavelmente não teria percebido se não fosse o calendário no quarto do hotel – arrumou seu corpo sobre a cama, olhos atentos em meu rosto. – o ultimo dia do meu ciclo foi quatro dias antes de nos casarmos.

Sorriu beijando minha mão – não há como um atraso lhe causar esse mal estar, Bella. Eu acho.

– Não é o atraso, mas o que causou o atraso – sussurrei.

Diversas expressões passaram por seu rosto enquanto o sorriso desaparecia, até tornar-se uma mascara. Suspirei vendo, literalmente, petrificado. Com medo levei sua mão a minha barriga, sua mão espalmada em meu baixo ventre.
Muitos minutos passaram até finalmente piscar, seus olhos entraram em foco, desta vez em minha barriga, seus dedos repuxaram o tecido do vestido. Em extrema lentidão se aproximou até nossos rostos tocarem.

– Bella, eu sou um vampiro. – a seriedade em sua voz me amedrontou.

– Eu sei – sussurrei, ainda mais baixo.

– Eu não posso...

– Tenho certeza que sentiu seu sêmen em mim. – seus olhos voltaram a minha barriga.

Sabia que estaria tão confuso quanto eu, afinal ate o momento não sabíamos dessa possibilidade, tudo tão novo... ajoelhei sobre a cama, segurando em seu pescoço, enquanto esgueirava uma mão por sua calça, deslizando o zíper.
Quando vi o sorriso em seus lábios percebi que Edward não havia levado a serio minhas palavras, imaginando ser apenas um plano para seduzi-lo, forcei sua boxer libertando seu membro rígido.
Girou o rosto em direção a porta, provavelmente ouvindo a mente de Esme e Pamela, suspirei me inclinando sobre seu membro e tomado-o a boca. Gemeu alto, arrastando o som enquanto seu corpo tombou sobre a cama que segundos depois tremeu e rangeu.
Eu não estava preparada e ele se quer me informou, provavelmente tão surpreso com minha atitude e toda a conversa quanto eu estou, por isso engasguei, sem a velocidade para me afastar dos jatos gelados que banharam minha boca, escorrendo por meu queixo e molhando meu peito.
Suguei o ar por minha boca quando os inesperados jatos terminaram de descer por minha garganta, vendo a expressão chocada do meu marido. Sua mão cobriu a minha que continuava contornando seu membro, toquei sua mão com meus dedos melados com seu liquido.
Seus olhos faltavam saltar das orbes, ele estava apavorado, tocando meu queixo, removendo seu sêmen, esfregando entre seus dedos.

– O que eu fiz?! – pavor o dominava, levantou da cama encarando as mãos.

Uma pequena parte minha estava memorizando a cena de Edward encarando as mãos sujas enquanto seu membro ainda mantinha a rigidez. Levantei limpando minha boca com a costas da mão.
Sabia que Edward não estaria me ouvindo, estava claro em seu rosto. Dei mais um passo e ele se afastou.

– Me perdoe – sussurrou de olhos baixos enquanto arrumava sua roupa, fechando o zíper.

– Perdoar? – ainda confusa fui guiada para o banheiro.

Sem um novo olhar, Edward removeu minha roupa. Lavou-me com extremo cuidado, essa era a minha vez de não ter reação. Deixei-me ser cuidada com uma criancinha, quando saímos do banheiro Alice estava no quarto, fui passada para seus braços.

– Vou me limpar e estarei lá. – disse para Alice.

– O que esta acontecendo?

Alice e Edward ignoraram minha pergunta e fui a contragosto arrastada até a porta do escritório. Quando Alice abriu a porta os grandes sofás não estavam mais lá, mas sim despojados na varanda, a grande mesa estava muito próxima da estante de livros e onde ela um dia esteve havia uma parafernalha de equipamentos médicos, Carlisle terminou de mexer em um e veio ao meu encontro.
Alice apenas me libertou quando me pôs sobre a maca, saindo em seguida, Edward lhe dava passagem.

– Isso é realmente possível?

– É o que vamos descobrir – nenhum dos dois me olhavam.

Edward mantinha os olhos em Carlisle que segurava um par de luvas, um pouco tarde entendi que conversavam, já que seus lábios tremiam a cada mover de sobrancelha de Carlisle. A cada momento se tornava difícil manter meus batimentos calmos, o medo crescia me assustando.

– Preciso que retire sua peça intima, Bella. Farei uma transvaginal. – disse quando Edward cobriu minhas pernas com um lençol.

Fiz tudo o que pediu, estava incomodada vendo-o preparar o parelho que iria introduzir em mim, olhei para Edward que mantinha os olhos no grande monitor ao meu lado. Ignorei o incomodo quando começou a introduzir o aparelho, sentia meu rosto queimar. Olhei um ponto no teto, queria que todo o tormento acabasse, sabia que havia algo errado quando senti o aparelho girar em mim.

– Por quê? Tem que aparecer!

– Não, sei. Mas pelo ponto negro há algo.

Edward estava raivoso. Seus dentes começavam aparecer, Carlisle concentrado na tela enquanto girava o aparelho. Buscando entender o que acontecia também encarei a tela, não conseguia ver nada alem de uma mancha negra.

– Não deveria aparecer algum grãozinho?

– Não é humano, a bolsa se tornou um manto protetor.

Os dois trocaram olhares – o que estão discutindo?

Carlisle removeu o aparelho.

– Estava pensando sobre agulhas...

– Agulhas? Não! Isso pode machucá-lo.

– Talvez.

– Ninguém vai espetar o meu bebê.

– Não sabemos se é realmente um bebê – Carlisle retrucou tocando minha barriga exposta, apertando os lados e meu ventre.

Foi quando senti. Olhei assustada para ele, isso... – eu não fiz isso!

Como para nos provar, eu senti novamente. Voltei meus olhos para minha barriga completamente plana, sabia o suficiente de bebês para ter a certeza que se não fosse gêmeos, eu não deveria sentir o bebê mexer e eu não tinha barriga de grávida de gêmeos.
Meu bebê é forte, forte como o pai.

– Esta doendo? – Edward parecia desesperado, removendo lagrimas que não havia percebido derramar.

– Ele mexeu!

– Não há duvidas que se trata de um feto.

Eles continuavam a conversar, mas estava encantada de mais tocando meu ventre para notar, minha mente viajava em um futuro, o mesmo quadro pintado enquanto dançava com meu pai no casamento.
Ele seria vovô mais rápido que imaginava, me via carregando um bebezinho gorducho, uma miniatura de Edward.

– O mais rápido possível, eu não vou arriscar com a vida dela.

– Com a vida de quem – perguntei perdida no assunto.

– Preciso que relaxe, Carlisle vai tirar isso de você.

Demorei alguns minutos para entender que falavam do nosso bebê.

– Jamais abortaria nosso filho.

– Isso não é um bebê humano, Isabella. Se realmente for um bebê.

– É o nosso filho. – murmurei apavorada vendo-os procurar por algo.

Queria acreditar que era alguma pegadinha de mal, gosto. Edward não teria coragem de fazer isso. Mas quando o vi se aproximar com coisas metálicas na mão eu não tive duvida.
Eu não senti, mas o grito surgiu, forte, desesperador. Os dois vampiros a minha frente congelaram. Com um piscar Pamela estava ao meu lado, Alex do outro.
Escorreguei fora da maca, abraçando minha amiga e irmã.

– Me tira daqui – implorei.

– Bella? – pediu Edward se aproximando.

– Não! – choraminguem, me escondendo atrás de Pamela. – se você não o quer, eu quero.

– Da o fora, Cullen – Pamela rosnou e senti o calor.

Não precisava ver para saber que uma labareda impedia Edward de se aproximar.

– Crianças, por favor...

– Vamos, Bella. – Rosalie surgiu ao meu lado – ninguém vai tirá-lo de você.

– Parece que terei distrações antes do esperado! – Emmett invadiu o escritório com todos os outros.

Apenas me deixei ser guiada por Rosalie.

Essa era a primeira vez que entrava em seu quarto. A decoração feminina e sofisticada, o quarto para um rei e rainha. A grande cama com dossel ocupava o meio do quarto, uma enorme e rústica estante ocupava a parede maior, uma parte para livros e revistas antigas, a outro era dividida em compartimentos, onde pude ver o brilho de algumas joias.
Alex entrava pela porta de vidro da varanda com um sofá espaçoso que poderia ser uma cama.

– Não consegue disfarçar sua surpresa, magrela! Rose gosta de tudo em ordem. – Emmett comentou deslizando o braço em meu ombro. – seja bem vinda.

– Espera, eu não quero atrapalhar...

– Não estará e será mais seguro para vocês permanecerem aqui.

– Vamos cuidar de vocês. – concluiu Pamela deixando uma pequena mala sobre o sofá.

– Venha, precisa descansar, já esta tarde!

Rosalie removia as roupas de cama e após muitas objeções resolvi aceitar e me aconcheguei no colchão macio, a temperatura baixa dos lençóis me causaram arrepios, apertei o edredom por meu corpo e deslizei minha mão por meu ventre.
Libertando mais lagrimas ao lembrar das reações de Edward e Carlisle.
Quando se pensa em uma estória de amor, em um relacionamento, um casamento. Todos, e eu me incluo, pensamos que tudo será incrível, um lindo conto da Disney.
Você cresce sendo enfeitiçado pelo final feliz das animações, sorri e chora com as comedias românticas. É ensinada desde de pequena que quando encontrar o amor tudo será um eterno mar de rosas. Que nada no mundo vá atrapalhar sua felicidade e a da pessoa que ama.
Mas esqueceram de nos ensinar que, assim como os momentos felizes haverá discussões, desencontros, confusões e decepções.
Você conviverá com a pessoa que ama, mas esta pessoa poder ser o seu completo oposto. Neste momento, quando tudo der errado, quando seu príncipe agir como um sapo e você se sentir ou agir como a bruxa má que entenderá o que é amar, o que é relacionamento.
Mas acima de tudo, entender que são nos piores momentos que sabemos se é amor, que construímos um casamento.
Era assim comigo. A muito que descobri que meu príncipe, tem um sapo escondido, assim como eu posso ser pior que a bruxa má, mas nosso amor sempre foi mais forte que tudo, nos unindo.
Mas desta vez havia algo mais forte, mais intenso e fundamental para nos, assim como nosso ponto de equilíbrio. Nosso filho, meu filho.
E quanto a isso não há o que discutir.
Eu te amo, bebê!
Suspirei sentindo o novo chute, fechando meus olhos molhados de choro. Completamente decidida a ter meu bebê, mesmo que isso me custe à vida.

A claridade do ambiente foi me despertando aos poucos, meus olhos pesados de sono lutavam para voltar a se fecharem. Retirei os fios que cobriam meu rosto. Meu corpo completamente aquecido e enrolado no edredom.
Um pequeno filme dos acontecimentos de ontem passaram por minha mente, a tristeza fez meu coração latejar e perder uma batida, pisquei os olhos tentando conter as lagrimas enquanto alisava meu ventre.
Criando coragem para me erguer, um movimento em minha visão capturou minha atenção.
Edward estava sentado no sofá, em frente a mim. Serio, as mãos segurando o queixo, mas quando se mexeu em minha direção alguém cobriu minha visão.
Segundos mais tarde pude ver a silhueta de Rosalie em minha frente. Impedindo a aproximação de Edward. Ouvi o ranger de dentes quando ambos se moveram novamente.

Saia. Eu vou conversar com minha esposa - insistiu.

Se ela quiser.

Bella...

Desviei meus olhos de ambos, minha mão em meu ventre. Eu queria conversar, mas também havia o medo de que fosse apenas um truque para me levar. Olhei para seu rosto pálido, de expressões sofridas e olheiras roxas.

Rosalie bufou, me olhou e sorriu – eu vou esperar do lado de fora. – me avisou e passou batendo no ombro de Edward, que sorria. – tira esse sorriso, o quarto esta cercado.

 Acompanhei seus passos lentos, sentou próximo, mas sem me tocar. Não aguentei a força do nosso olhar e encarei minhas mãos, os minutos passavam. Meu peito se apertava sem suportar essa situação.
Suas mãos cobriram as minhas, beijando-as e se inclinando, deitando sobre minhas pernas, seu corpo sacudia levemente, como se estivesse chorando aos soluços.

Por favor, me ouça Bella? Eu te amo.

Eu te amo mais.

Entenda que não estou sendo cruel ao dizer isso, mas...

Não me peça isso, Edward – chorei.

Isso vai matá-la.

Mas é nosso filho.

Não sabemos o que pode ser, e se for mais vampiro que humano... Eu não quero te perder, Bella. Não quero voltar a passar por tudo isso.

Não vai.

Ergueu o corpo tremulo e nos uniu. – sua saúde já esta afetada... Se quiser tanto ser mãe... Nos poderíamos fazer isso! Podemos ir a um banco de doadores...

 Afastei-me olhando-o surpresa – Você prefere que eu tenha o filho de outro do que o nosso.

Eu prefiro você viva.

Eu estou viva, Edward. Como jamais pensei. Com o homem que amo, com nossas famílias, felizes. Descobrindo que posso lhe dar um filho.

Edward não me respondeu, de olhos baixos, brincando com meus dedos, beijando minha palma. Onde deixou uma pequena caixa.

Feliz aniversario. – suspirou.

Após tudo meu aniversario foi varrido da minha mente, calada abri a caixa encontrando um broxe de ouro, um leão dormindo.

É lindo, obrigada!

Seu rosnado quebrou o silencio do quarto, Edward se erguia irritado, olhos fechados e mãos em punhos. Rosalie entrou acompanhada de Pamela e Alex, os dois nervosos.

Quanto tempo? – perguntou Pamela.

10 minutos, eu fico ao lado dela. – Alice interrompeu surgindo no quarto e me estendeu a mão. – vocês não podem ficar e convenhamos, Rosalie. Seria muito estranho se você resolvesse ser à sombra da Bella.

Quem esta vindo? – pedi ao ser completamente ignorada.

Os Quileutes avisaram Charlie sobre sua volta, já que ele estará com sua irmã e a Laura aqui em 9 minutos!

Acho melhor não contarem ao Charlie... as coisas que pesquisamos não são agradáveis para humanos ouvirem.

Como?

O que o Alex quis dizer, é que não sabemos como será essa gestação, não é um bebê humano, a gestação pode ser diferente... – Alice explicou me deixando de pé.

Tudo bem, não falarei nada.

Vamos para a sala, vocês chegaram ontem o que torna seu cansaço aceitável. – avisou Alice me ajudando a caminhar no corredor. Ainda pude ouvir o rosnado de Rosalie, antes que ela passasse por nos.

Provavelmente, eu deveria ser a mais nervosa naquela sala, mas não era a realidade. Eu estava no sofá maior com Alice de um lado, sentada sobre as pernas e tocando alguns dos meus fios, enquanto Edward sentava do meu outro lado, segurando minha mão com delicadeza.
Todos estavam tensos, Esme sorriu complacente, Carlisle estava preparado para encenar sua ida ao hospital. Seus lábios se moviam rápido, até que todos pararam e olharam para a porta.

Carlisle seguiu assim que a campainha tocou. – bom, dia Charlie!

Desculpe vir assim tão cedo... – começou.

Mas ele estava se corroendo para ver a Bella. – ouvi Laura terminar.

Por favor, entrem, Bella já esta na sala.

Levantei seguindo até meu pai que parou assim que me viu.

Oi? – seus braços me apertaram com tanta força que quase reclamei, mas preferi degustar de cada segundo.

Esse poderia ser o ultimo abraço.

Senti sua falta, Bells – me permiti devolver o aperto e respirar fundo, deitando minha cabeça em seu ombro.

Eu também, papai.

Tem espaço pra mais quatro ai? – Cindy quebrou o momento.

Claro!

Cindy e Laura foram gentis e rápidas em seus abraços, mas o que me surpreendeu foi Jacob, ele estava na mesma altura de Edward agora, talvez mais o que tornava o bebê em seus braços ainda mais delicado.

Oi, príncipe! – sussurro atenta a Ale – não vai parar de crescer, Jake? – impliquei após ter Ale seguro em meus braços.

E você consegue ser mais branquela que o normal! – retrucou antes de olhar em minhas costas.

Por favor, sentem-se? – o toque frio em meu ombro e a voz de sino quebrou o contato com minha família.

A mão gordinha de Ale se atou ao meu cabelo, sua cabeleira loira estava mais densa e com fios arrepiados, quase um topete. Sorri inalando seu perfume de bebê, me acomodando no sofá novamente.
A lagrima escapou, molhando nossos dedos unidos. Não soube compreender todas as emoções que percorriam meu ser, mas ver Ale em meus braços, saber que daqui a meses poderia ser o meu filho, e que talvez eu não possa estar presente, que Pamela passa por essa dor todos os dias....
O deslizar do dedo frio em meu rosto, roubou minha atenção, Edward sorria complacente, meneando a cabeça em direção a Charlie. Meu pai mantinha as sobrancelhas crispadas, olhar confuso entre Ale e eu.

Desculpe, eu não ouvi. O que disse?

Perguntei sobre vocês? Vão morar com Carlisle e Esme ou vão esperar pelo alojamento da faculdade?

Não vamos para a faculdade, agora. – digo permitindo que Ale ficasse em pé em meu colo.

Charlie pareceu não gostar e pude sentir os olhares em mim – vocês fazem bem! Aproveitem esse primeiro ano de casados se conhecendo melhor, as faculdades não criarão pernas... – Laura ajudou ao perceber.

Bells se for pelo menino...

Não, pai. Edward nos presenteou no Brasil, e eu não quero perder os primeiros anos do Ale.

As ideias surgiam rápidas em minha mente e esperava estar filtrando adequadamente, Edward olhou-me confuso, olhando para Alice, mas eu sabia que a presença de Jacob atrapalharia.

Como assim? – pediu Cindy com olhos atentos e curiosos – qual presente?

Bem, Edward nos presenteou com um Iate, eu gostei do passeio pela costa brasileira. Seria bom passar esse tempo juntos, dar a volta no pacifico até estarmos de volta ao Brasil – Edward manteve os olhos em mim.

A compreensão vindo rápida, acenou sorrindo. Beijou minha cabeça.

Uau!

Ale ainda precisa de algumas vacinas, mas acho que Carlisle consegue – Laura foi a primeira a se recompor, estava pensativa, mas sorriu no final.

Por segurança evitei olhar para meu pai e Jacob, sabia que apesar de estar perfeitos nesse teatro que criei, Jacob não havia acredito e sentiu a tensão inicial e se fixou nela. Eu podia sentir seus olhos e seu incomodo em não poder me encurralar e arrancar toda a verdade.
Assim que toda a estória inicial se dissipou, Pamela e Laura finalmente chegaram ao tópico que, acredito eu, era o foco inicial: minha lua de mel no Brasil. Nenhuma pergunta indiscreta foi feita pois me recusei a sair da sala, levantando apenas para me sentar ao lado de Charlie quando Edward fingiu uma ida ao banheiro.
Cada Cullen usou do teatro humano para se retirar da sala, mas sabia que eles estavam conversando sobre minhas ideias, na verdade Jacob me transmitia essa certeza. Seus olhos sempre focados no corredor.

Você sempre foi, mas... não sei, Bells! Esta pálida demais.

O sol no Brasil é muito forte, pai. Saiamos mais a noite!

Sabe, eu tenho me acostumado com o pirralho. Talvez...

Eu o quero. Devo isso a Pamela e ao Alex, que espécie de madrinha eu seria se não cuidasse dele?

Foi uma manhã longa, mas que aproveite cada momento. Charlie estava feliz e apesar de seus esforços flagrei suas mãos buscando por Laura, seus olhos brilhando e fiquei em paz ao ver que era retribuído. Cindy manteve-se como a sombra de Jacob, foi divertido ver como interagiam, entre o afeto e a implicância. Laura sendo uma diplomata entre os três.

Suprimi o choro quando voltou a me abraçar – te amo, pai. – seus braços me apertaram com mais força.

Eu também, pequena. Lembre-se do que me prometeu. – engoli em seco e trinquei os dentes forçando um sorriso que escondesse a dor.

Jacob foi o ultimo da fila e seu olhar estava tenso – você não me enganou, Bells. Eu volto para saber a verdade – disse antes de se afastar.

Pode deixar que vamos arrumar algumas malas dele e traremos hoje ainda – Cindy gritou  antes de colocar o capacete.

Ela seguiu com Jacob e Charlie foi com Laura. Novas lagrimas foram derramadas quando o carro sumiu na ultima curva, voltei para dentro. – que tal vermos a mamãe? – sussurrei para Alex que mordia a própria mão – os dentinhos já estão fazendo cócegas, meu amor?

Pamela surgiu sorrindo de braços erguidos em busca do filho e lhe entreguei. Alex me abraçou em um agradecimento. Rosalie voltou a estar ao meu lado e houve uma troca de rosnados entre ela e Edward.

Que tal todos conversarmos antes do cachorro voltar?

Rose! – Esme repreendeu e preferi ignorar, Jacob dizia coisas piores.

Foi uma boa jogada, Bella. – Jasper sorriu ao lado de Alice.

Ela é tão maquiavélica que talvez seja por isso que Edward não leia a mente dela... – Emmett deu de ombros quando todos olharam para ele – o que? Edward é muito inocente. – ergueu as duas mãos.
  O importante é que manteremos Charlie longe durante esse período! – Jasper não disse gestação.

E após minutos em que conversavam notei que apenas Pamela, Alex e Rosalie tratavam minha gravidez como algo natural, enquanto os outros a muito custo diziam feto. Concentrei-me em Ale que tentava morder o próprio pé, girando sobre o sofá.
Só quando o motor da moto fez Ale se calar, percebi que todos os outros estavam quietos. Jacob entrou sem que lhe abrissem a porta. Ainda estava com a mesma roupa. Mas uma grande mochila infantil nas costas, jogando para Alex. Caminhou meneando para os Cullen, sentou rígido ao meu lado.

Então, vai me contar a verdade?

Jake...

Esse não é um momento, Jacob. Edward parou em nossa frente.

Mesmo? Você certamente se empenhou em transformara Bella em uma mentirosa nessa lua de mel – debochou. – mas eu a conheço. E sabemos muito bem que a única verdade que ela disse essa manhã foi a de amar o pai.

Jake...

Seus olhos negros me gelavam a alma. Não conseguiríamos esconder e não via problemas em lhe contar.

Eu estou grávida.

Jacob retribuiu o olhar e por um momento imaginei que ele teria alguma reação, mas permaneceu olhando.

Nos não... quer dizer... – olhou para Edward, que rosnou bufando em seguida e corei intensamente ao perceber que ele havia lembrando da noite no penhasco. – Bells...

Edward é o pai.

Sem querer ofender, Bells. Mas sanguessugas não dão cria. Eles estão tecnicamente mortos.

Homens precisam apenas de sangue nas veias... Edward caçava com mais frequência.

Eu podia ver o quanto Jacob se empenhava para raciocinar e não agir, seus dedos estalando, o maxilar trincado e seus olhos cerrados deixavam claro.

E esta faltando algo para Carlisle te ajudar?

Me ajudar em que? – esta era minha vez de ficar confusa.

A tirar essa coisa.

Essa coisa é o meu bebê.

Isso é um sanguessuga, como os outros.

Não. É o meu filho. Jacob olhou-me como se eu fosse um ser de outro mundo.

Tá brincando né? – o sorriso foi desaparecendo quando viu a seriedade em meu rosto

– isso vai matar você, é um sanguessuga feito pai...

Não...

Que você é idiota, eu sei. Mas vai deixar isso matar a humana que diz amar, nos sabemos o que é isso... – seu corpo cobria a visão de Edward. Pamela entregou Ale para Esme que se saiu da sala, enquanto ela e Rosalie faziam uma barreira em minha frente. – você não quer! Então tira isso dela.

Não é tão simples – Jasper murmurou.

Ah, qual é! A Barbie e a chamas? Por favor, somos em vários! Bella? Sai da frente.

O calor chegou ao meu corpo – consegue se regenerar do fogo, lobo? Estou gostando menos de você, agora. – e o calor aumentou.

Você não é burra, Bells. Sabe que isso é um chupador de sangue que vai acabar com você.

O que aconteceu após foi confuso, Alex cobriu meu corpo e pude ver entre os fios dourados a forma de Emmett a nossa frente, a casa tremeu e lascas de madeiras passavam por nos, a claridade invadia o ambiente, enquanto a poeira subia e cobria toda a sala.

Os Quileutes não vão gostar nada disso. – Alex retrucou olhando para o buraco na sala, um rosnado de Jacob me fez encolher.

Todos voltaram para a sala, um longo uivo rompeu o silencio. Uivo que foi respondido por outro, minutos depois outro mais longe e não gostei das expressões que dominavam a todos.

 Isso não é bom sinal – verbalizou Emmett estalando os dedos. – é melhor chamar o Carlisle o mais rápido.

Pamela afastou os fios longos do rosto e murmurou uma desculpa, virando para os outros Como era mesmo o contrato?


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