sábado, 31 de outubro de 2015

ELS - Cap 33

Capítulo 33 – A Esperança é Vermelha

When it will be right, I don´t know.
What it will be like, I don´t know.
We live in hope of deliverance
From the darkness that surrounds us.
(…)
And I wouldn´t mind knowing, knowing
That you wouldn´t mind going,
Going along with my plan.

(Hope of Deliverance – Paul Mccartney)

            Há dias que parecem não ter fim. Os minutos que deveriam preencher suas meras 24 horas têm, na verdade, ramificações que se estenderão indefinidamente no futuro. Isso é porque, para o bem ou para o mal, eles também não têm começo. Ao menos não um muito discernível. 
            O dia de hoje, por exemplo, talvez tenha começado no dia em que encontrei Marina pela primeira vez, mas o mais provável é que tenha sido em outro momento. Quem sabe no instante inidentificável em que, sem perceber, deixei-a entrar em minha alma e fiz dela e de seu filho minha família. Talvez tenha sido aí. Ou em qualquer outro dos dias felizes ou difíceis que passei ao lado deles.
            Foram novecentos e vinte e três ao todo. Eu contei. Às vezes posso ser realmente boa em me torturar. Tentei contar os outros também. Quero dizer, quanto tempo se passou desde que os deixei. Mas quando esta conta ultrapassou em muito o resultado da anterior, eu desisti. Até eu tenho meus limites. Mesmo assim, não posso desconsiderá-los. Os infinitos minutos de saudade. Talvez eu nunca saiba ao certo quanto, mas eles têm um peso enorme. E um papel em quem eu sou.
            Uma coisa que eu sei, no entanto, é que certamente os dias que não me permiti contar também me trouxeram até aqui. Para este momento em que a decisão é tomada antes mesmo de que eu tenha consciência dela.
            — Clara, você e minha mãe se conhecem? Como foi que você ficou sabendo que eu estava aqui?
            Minha boca se abre para contar uma mentira qualquer, mas é impossível. As palavras deslizam para algum canto inalcançável de minha mente, porque, em seu lugar, os infinitos minutos começam a correr de novo em minha lembrança. Passando pelo instante em que levantei os olhos do trabalho mecânico que fazia e vi Teo no palco pela primeira vez, até o dia em que descobri quem ele realmente era. E então as imagens se aceleram outra vez e meus pensamentos se congelam no momento mais assustador de minha vida.
            “Aconteceu uma coisa.”
            Por um segundo, antes de saber realmente o que essas palavras pronunciadas entre lágrimas significavam, minha mente imaginou o inimaginável.
           
            Eu perdi você, Caio. Perdi. Você.

            Não foi mais que um segundo, mas eu o vivi. A perda. O luto. O estar vazia e impotente. A noção aterradora e definitiva do nunca mais. Eu senti tudo e não posso ser a mesma depois disso. Não consigo. Simplesmente não consigo mais adiar a verdade quando me dou conta de que ela poderia jamais ter a chance de ser contada.
            — Sim, nós nos conhecemos — confesso.
            Marina adivinha minhas próximas palavras e me olha assustada.
            “Agora não”, seus olhos parecem dizer. E percebo que ela tem razão. Vê-lo recuperado é a prioridade. E ele vai precisar de todas as suas forças nos próximos dias, não pode prescindir de nada. Como posso pensar em bagunçar a vida dele justo agora? Ou a de Marina e Fernando quando eles mais precisam de paz? 
            Eu sei que não é a hora, não precisaria ser muito sensível para perceber. É só que não consigo pensar em nada bom para dizer para, mais uma vez, encobrir a verdade.
            — Você me pediu para chamá-la — Marina me socorre, lembrando do que tínhamos combinado anteriormente. — Ela e sua outra amiga, a...
            — Paty — completo quando vejo seus dedos estralando no ar nervosamente, tentando localizar na memória o nome que só mencionei uma vez.
            — Eu pedi? — ele se surpreende, mas não questiona muito. — Poxa, não estou lembrado. Na verdade, está tudo meio bagunçado na minha cabeça.
            — É normal — tento tranquilizá-lo. — As pessoas têm reações estranhas à anestesia. Sua mãe também se esquece das coisas que disse. — No dia da cesariana de Caio, ela estava muito nervosa e lhe deram um calmante. Foi o suficiente para deixá-la grogue e meio esquecida depois.
            — Como você sabe? — ele pergunta, genuinamente confuso.
            Cala a boca, Clara! Por que você não consegue fechar esta maldita boca?
            Marina me fuzila com os olhos e me dou conta tarde demais do que disse. Vou ter que ser convincente para corrigir isso. Por ela. Visto minha expressão mais desentendida e faço força para parecer imperturbável, tranquila.
            — Ela me contou. Ficamos conversando enquanto você não acordava. Quando cheguei aqui, nós percebemos que nos conhecíamos, embora eu não tivesse ligado o nome à pessoa quando você me falou dela.
            — Sério? E de onde?
            Eu sabia que ele ia perguntar isso, mas ainda estou tentando ganhar tempo, esperando meu cérebro voltar a funcionar e me dar alguma ideia brilhante. Ou pelo menos razoável. Na realidade, uma ideia estúpida já estaria boa, mas não acontece nada. Apenas fico olhando para ele, desejando não ter entrado no modo-verdade-nada-mais-que-a-verdade justo agora.  Felizmente, Marina está mais lúcida que eu.
            — É que Clara foi minha paciente anos atrás.
            Até eu me surpreendo com essa. Era mesmo a solução mais óbvia, mas isso não minimiza o quanto me parece inteligente. Caio não vai perguntar detalhe nenhum depois disso. Ele sabe que a relação entre psicólogo e paciente é tão íntima quanto privada.
            — Caramba. Quem ia imaginar? — ele diz, com os olhos arregalados. Dá para ver o quanto ele está surpreso e se mordendo por dentro de curiosidade, mas que não vai dizer mais coisa alguma com medo de ser indiscreto.
            — Pois é. A Marina me ajudou muito a lidar com a solidão que eu senti quando perdi minha mãe. Ela me fez perceber que família é sempre família, mesmo quando está longe.
            Sei que isso foi golpe baixo, mas não consegui resistir. Tenho certeza de que ela conhece todos os sentidos ocultos nessa frase e sabe que tudo é absolutamente verdadeiro, mas eu não pretendo perder qualquer oportunidade que tenha de dizer essas coisas para ela. De quebra, ainda dei algo para Caio pensar sobre os motivos que me aproximaram dela, caso ele fique se perguntando. A morte de meus pais seria motivo suficiente para procurar ajuda profissional. Nem mesmo Paty vai conjecturar a respeito. Ou fazer perguntas, o que é mais importante.
            — Eu... Ahn... Fico feliz em ter te ajudado. Eu...
            Marina se atrapalha com a resposta, mas eu sei que ela entendeu o que eu quis dizer. Sobre família. Sobre ela sempre representar isso para mim, não importa o que aconteça ou quanto tempo nos separe. Eu a amo demais para esquecê-la. Ela e Caio preencherem vazios em mim que eu nem sabia que existiam.
            — Eu sei — digo. E sorrimos uma para a outra.
            O toque de mensagem do meu celular nos interrompe.
            — Paty chegou — anuncio. — Vou encontrá-la lá fora.
            — Ai, ai. Ela vai me dar uma bronca. Certeza — diz Caio, em tom de lástima.
            — Então eu já gosto dela — provoca a mãe dele. — Porque eu mesma não tive coragem ainda, querido, mas bem que você merece.

********

            A primeira coisa que Paty faz quando vou encontrá-la na recepção é me abraçar. Bem apertado. A princípio, eu não deveria estranhar. Ela tem feito isso praticamente todos os dias desde que nos conhecemos. É só que hoje parece diferente.
            — Você chegou antes de mim — ela observa assim que nos afastamos.
            Já estou usando um crachá de visitante e, além disso, ela me viu vindo de onde ficam os quartos. Então, mesmo que eu quisesse mentir para ela não seria possível. Ainda bem que não é o caso. Eu até pretendia, para falar a verdade. Achei que seria mais confortável para todo mundo se eu fingisse que não tinha intimidade alguma com Marina e que só a tinha conhecido há poucos minutos. Mas aqui, olhando nos olhos de minha amiga, fica óbvio que eu não estava pensando direito quando considerei isso. Qualquer um que conheça Paty poderia apostar que ela não ia acreditar em algo assim quando nos visse juntas. O bom é que, de qualquer forma, agora eu tenho uma desculpa.
            — Não aguentei esperar, por causa de uma coisa que eu ainda não te contei. É que... Bom, na verdade, eu vim ver a mãe do Ca... do Teo.
            Por um instante, soa esquisito chamá-lo pelo apelido, porque isso me faz lembrar o homem feito que conheci no On The Rocks e hoje eu só consigo enxergar meu garotinho. Mesmo assim, faço o esforço mental e “mudo meu chip”, porque sempre evito me referir a ele como Caio na frente de outras pessoas, mas se essa pessoa for Paty eu me policio ainda mais. Desnecessário acrescentar ao ciúme que ela já sente de mim, mesmo sem admitir.
            — A mãe? — ela pergunta, parecendo surpresa e desconfiada.
            — Sim. Quando ela me ligou eu percebi que nos conhecíamos. Ela é psicóloga, como o Teo deve ter te contado, e eu já me tratei com ela. Eu gostava muito dela na época. Fiquei lá em casa pensando e acabei decidindo vir antes do horário de visitas, para ver se ela precisava de alguma coisa.
            — Que coincidência estranha.
            — É.
            Não sei mais o que dizer e nem ela. Paty estreita um pouco os olhos e fica me observando, como se estivesse tentando entender o que a incomoda na história que acabei de contar. Por minha parte, tento parecer impassível. Obviamente, eu já fui melhor nisso de transparecer uma segurança convincente, mas só quando podia me dar ao luxo de fingir que era uma versão mais simples de mim mesma. O caso é que quanto mais eu gosto das pessoas ao meu redor, quanto mais intimamente me envolvo com elas, mais difícil fica. E com Paty, claro, tem sido quase impossível. Por fim, ela suspira, resignando-se à história que, afinal de contas, é bem verossímil.
            — E como ele está? Você já viu o Teo, não viu?
            — Vi. Ele está bem. Está acordado e só se queixou de um pouquinho de dor. Está esperando por você, com medo de levar uma bronca.
            Rio um pouco, mas ela não me acompanha. Talvez esteja preocupada demais para se distrair com qualquer tipo de brincadeira, mas não sei dizer ao certo se é isso mesmo. Nunca vi Paty assim tão séria.
            — Vamos lá, então — ela propõe e eu começo a andar, só para perceber, um segundo depois, que ela continua parada onde estava.
            — Paty? O que foi?
            — Eu não sei como agir — ela diz, parecendo um pouco atordoada, como se admitir aquilo a estivesse incomodando mais do que previu. — Estou muito puta com ele.
            Não sei por que isso me surpreende. Afinal, o próprio Teo anteviu que o estado de espírito dela não seria dos melhores. E a verdade é que eu entendo. Ele pôs sua vida em risco, tão tola quanto desnecessariamente. Quando Paty souber na companhia de quem, então, a coisa vai piorar. Penso em contar a ela, mas acabo reconsiderando e optando por fazer isso na presença de Marina e do próprio Teo. Quem sabe a companhia de uma estranha e a visão do amigo tão fragilizado arrefeçam um pouco a irritação. Deixar que ela fique cada vez mais aborrecida não fará bem para nenhum de nós.
            — Eu entendo, mas não acho que este seja o melhor momento para...
            — Eu fiquei com medo — ela continua, como se nem tivesse me ouvido. — Droga, fiquei com muito medo! E quero dar na cara dele por isso.
            E é só então que eu finalmente entendo. A perplexidade real por trás de suas palavras me faz perceber o que ela também está começando a admitir. Que o medo que sentiu é maior do que o que se sentiria normalmente por um amigo. E o ineditismo disso a aterroriza um bocado.
            — Respira, Paty — digo, segurando seu rosto em minhas mãos. — Vai ficar tudo bem.
            Não sei exatamente o que quero dizer com isso. O amor é sempre uma coisa boa, sempre um indício de que tudo pode mesmo ficar bem, mas é também extremamente imprevisível. E agora minha melhor amiga está apaixonada pelo meu lindo menino-anjo.
            De certa forma, eu já sabia e sempre gostei da ideia. Eu me permitia sonhar com a possibilidade e ficar feliz com isso, porque o amor não pode ser ruim. De jeito nenhum. Mas nunca parei realmente para pensar no quanto isso podia ser inconsequente, embora eu não pudesse realmente fazer nada para evitar.
            Ela esta apaixonada por Caio e ele não parece pronto para corresponder. Por minha causa. Por minha culpa. Porque eu não fui hábil o suficiente para discernir meus reais sentimentos a seu respeito até ser tarde demais para frear os dele, ou o que ele acha que sente. Porque eu quis preservá-lo por mais tempo e prepará-lo devagar para a verdade que deveria ter sido dita de imediato. Porque eu é que não estava pronta e fui covarde. E quando deixar de sê-lo vou acrescentar outro empecilho à vida de Paty.
            — Vai dar tudo certo — repito, mas desta vez para mim mesma.
            O último pensamento me fez cair de novo na real. Não parece justo ver nosso dom como um empecilho. Nada nunca impediu a minha espécie de amar, a não ser nossa própria introspecção característica, e Caio não é assim. Ele sempre foi humano demais. Amável e aberto às pessoas. E Paty é do tipo que arromba os corações. Ela certamente arrombou o meu.
            Vai ficar tudo bem. De um jeito ou de outro.
            Eu a abraço e ficamos ali um pouco em silêncio. Depois, ela se separa de mim e assente, como se dissesse que está pronta, então eu a puxo pela mão e ela se deixa levar pelo longo corredor até a porta do quarto dele. Marina surge na soleira assim que bato discretamente e nos recebe com um sorriso.
            — Então você é a famosa e temível Paty — ela brinca. — Entre aqui, querida. Obrigada por ter vindo.
            Marina a cumprimenta com um beijinho no rosto e minha jovem amiga sorri timidamente. Eu nunca a tinha visto ficar tímida! É uma graça.
            — Vou deixá-los à vontade para conversar — diz minha amiga mais antiga. — Preciso ligar para meu marido.
            Marina sai do quarto depois disso e eu fico ali, pensando se invento uma desculpa e saio também, mas Paty não larga a minha mão. Ela também não chega perto da cama por iniciativa própria, então eu a levo a reboque.
            — Oi. Como você está? — ela pergunta a Caio. Sua voz soa surpreendentemente calma, considerando a mão suada que seguro na minha. Mesmo assim, a pergunta simples soa estranha vinda dela, artificial como se ela estivesse tentando entabular uma conversa cordial com um estranho.
            — Bem. — Caio também parece estranho, meio sem-graça, na verdade. —Paty...           
            — Oi?
            — Você está brava? Porque eu sei que mereço, mas não gosto quando você fica chateada, menos ainda se eu for o culpado.
            Eu sinceramente gostaria que ele não tivesse dito isso, porque acho que Paty está fazendo uma tentativa honesta de se manter, mais do que calma, um pouco distante. Não por estar realmente zangada, pelo contrário. Acho que a preocupação que o acidente a fez sentir só tornou evidente o carinho que tem por ele, porém isso não parece tão claro assim para ela. De fato, pelo que vi lá fora, os sentimentos dela estão meio bagunçados no momento, e Caio se mostrar afetuoso e arrependido pode ser um risco para a máscara atrás da qual ela decidiu se esconder. Abrir uma brecha em sua armadura para as emoções entrarem pode também fazê-las sair, e não acho que ela esteja preparada para isso agora.
            — Não estou brava. Por que estaria? Só vim mesmo fazer uma visita, ver como você está.
            — Certo. É que eu achei que... Bom, você sempre me dá bronca quando eu faço alguma besteira. E desta vez foi uma das grandes.
            É claro que eu não podia esperar que Caio percebesse o que está acontecendo. Ele acha que a secura do comportamento de Paty, tão atípica dela e que provavelmente ele nunca sentiu antes, se deve à suposta irritação pelo erro que ele cometeu. Tenho a impressão de que ele está se sentindo tão mal com isso tudo que é só o que consegue enxergar.
            — Ninguém está chateado com você, Teo — tento consolá-lo. Por mais que seja bom que ele se arrependa, já que isso me deixa mais segura de que ele não voltará a incorrer no mesmo deslize perigoso, não quero que ele sinta que estamos ressentidos e acusando-o de algo de que já está tão dolorosamente consciente por si mesmo. — É só que todos nós ficamos muito preocupados.
            — Desculpe — ele responde constrangido. — Eu sei que é até estranho para um cara da minha idade e que, ainda por cima, trabalha em bares, mas eu não estou acostumado a beber. Aí acabei perdendo a medida. Eu estava chateado e achei que não tinha problema descontrair um pouco.
            Detesto saber que sou a causa desse aborrecimento, mas as coisas que ele me disse ontem no bar deixaram isso bem claro. Toda aquela história sobre como ele tinha encontrado alguém que gostava dele, já que eu não gostava... Toda essa conversa equivocada e a mágoa dirigida a mim e a Eric não me deixaram ilusões. Nunca quis machucá-lo, só não tive como protegê-lo nesse caso. De qualquer jeito, não achei que ele reagiria assim, cedendo à influência de alguém tão claramente daninha como Esther.
            — É, mas descontrair um pouco não significa bancar o ridículo.
            Sou arrancada de meus pensamentos pelas palavras de Paty. Demorou um pouco mais do que eu imaginei, mas a armadura finalmente começou a se desmontar. Quando tem tudo sob controle, minha amiga jamais demonstra cinismo. Cuidado sim, até um pouco exagerado às vezes, mas esse tom de maldade na fala é novidade para mim. É como Marina costumava falar comigo no começo: como alguém sensível que tenta evitar ser magoado construindo muros de sarcasmo em torno de si.
            — Aí está a Paty que eu conheço — Caio atesta, e não é uma total surpresa para mim que ele esteja tão mais bem familiarizado com esse lado vulnerável dela. É até bonitinho como nenhum dos dois parece se dar conta do que ele realmente representa.
            — Foi mal — ela se desculpa.
            — Não, não foi mal. Vem aqui, por favor.
            É então que algo realmente espantoso acontece: de um jeito totalmente inesperado e espontâneo, Caio puxa Paty para um abraço e ela cede sem pensar muito no que está fazendo. Parecem duas crianças fazendo as pazes do jeito mais simples que conhecem, se dando um ao outro, se encontrando quando as palavras parecem insuficientes e pouco úteis.
            — Desculpa, Paty. De verdade. Você tem sido tão legal comigo e eu não dei à sua amizade o valor que merecia — ele diz, e logo depois a solta.
            Por mais que as palavras dele pareçam desapaixonadas e amigáveis, há uma energia unindo os dois, se desprendendo de seus corpos e isolando-os do resto como se eles fossem parte de um outro todo. É rosada no início, pacífica em sua quase brancura, mas depois vai escurecendo, como se tivesse recebido uma injeção de vermelho, e sei que o coração de ambos está se abrindo neste exato instante e, alheios aos seus donos e aos cérebros obstinados que os comandam, estão reconhecendo o inevitável. É uma das coisas mais bonitas que já vi, ainda que seja complexa demais para ser apreendida em sua grandeza.
            A névoa se rompe de súbito — resultado do desconforto físico de Caio quando tenta se acomodar na mesma posição de antes — mas não desaparece, fica pairando ao redor, voltando ao seu tom rosado inicial. Distraio um pouco meu menino ajudando-o a se recostar de novo nos travesseiros, pois sei que Paty precisa de um segundo. Daria mais a ela se pudesse, mas ele recomeça a falar:
            — E para seu governo, eu gosto quando você me chama a atenção. Me sinto importante. Não me oponho que meus amigos cuidem de mim.
            Eu sabia. Paty é o que eu chamo de cuidadora. Em todas as suas atitudes, suas ações se direcionam a fazer os outros se sentirem bem. E Caio gosta disso. Compreensivelmente. Foi por essa porta que ela entrou em meu coração também.
            — É verdade. Paty faz a gente se sentir cuidado, não é? — incito, porque quero que ele continue, quero que ela saiba o quanto nos faz bem.
            Caio entende e está prestes a continuar quando ela interrompe o momento com um pigarro falso. Talvez sejam muitos furos na armadura para um único dia.
            — Mas, bom... Você não me disse como está se sentindo.
            — Eu estou legal. Melhor agora que vocês estão aqui. É muito bom ter um pouco de companhia para a minha mãe poder relaxar um pouco, porque eu fico chateado de vê-la tão preocupada. Nunca mais vou beber nada, só pra não ter que ver ela e meu pai sofrerem desse jeito de novo. E vou ficar bem esperto com algumas pessoas também...
            Percebo no mesmo instante que ele está falando de Esther e saber que ele pretende manter distância me deixa aliviada. Porém, de um jeito estranho, sinto que o vem a seguir não vai ser agradável de ouvir.
            — Pelo menos eu não usei as outras coisas que Esther me ofereceu... — ele prossegue, confirmando minhas suspeitas. — Não que eu estivesse considerando, claro, mas ela bem que insistiu. Desculpe por não ter ouvido você, Clara. Eu não me lembro muito bem do que houve ontem, mas sei que não fui nada legal.
            E quando a conversa parecia ter voltado a andar em círculos seguros...
            Oh, céus! Oh, Pai!
            — Tudo bem — respondo, tentando fazer parecer que ele não disse nada de mais, mas o problema é que o detalhe das “outras coisas” também me pegou desprevenida, então não consigo afetar indiferença. Mesmo que isso pudesse confundir Paty, o que obviamente não seria possível.
            — Ahn, quem? Você estava com...? E ela te ofereceu...? Você. Fez. O quê?
            Se eu fosse do tipo que fala palavrão teria dito um bem feio agora.
            Puta que pariu! E daí pra pior.
            — Escuta aqui, onde você estava com a cabeça, hein? — ela esbraveja, todo controle que estava a duras penas mantendo foi para o espaço mais rápido do que eu conseguiria dizer “F...eu”!
            Tento acalmá-la, minhas duas mãos estão nos ombros dela como se para dizer que estou aqui, mas isso só piora tudo. A onda vermelha que emana dela agora tem um tom muito diferente, arroxeado. O ciúme é uma percepção violenta e Paty é bem transparente no que diz respeito a emoções passionais.
            — Eu... Só queria me divertir um pouco... Ela estava sendo legal e é tão gata. Meus amigos...
            Ai, Caio, fique em silêncio, por favor!
            — Ah, deixa eu adivinhar: seus amigos ficaram te incentivando? Acharam bonito te jogar numa cilada, né? Só pode. Ou isso ou são um bando de manés. Se algum de vocês fosse tentar comer o peixão ia sair vomitando piranha, especialmente um cara metido a bonzinho feito você. Porque deixa eu te falar uma coisa, Teo, a vadia não é para o bico de vocês, moleques tontos, não! E você vai ver o quanto ela vai ficar gata depois que eu estourar a cara dela!
            — Calma, Paty.
            — Que calma o quê, Clara! A vagabunda fica querendo pegar nossos homens agora e você fica aí pedindo calma? Já estava devendo uma peruca nova para o travesti que é meu amigo desde o dia em que aquela piranha te maltratou no On the Rocks. E vai ser hoje mesmo que eu vou providenciar uma. A Valeska vai adorar o cabelão escuro.
            Pronto, assumiu. Não posso evitar o sorriso quando percebo que ela também nota sua escolha reveladora de palavras: “nossos homens”. As coisas vão ficar interessantes depois dessa. Especialmente quando vejo a expressão surpresa e lisonjeada no rosto de Caio.
            — Menos mal — ela diz num rompante, antes de sair correndo do quarto. — Pelo menos agora você já sabe que eu estou no páreo.
            Olho para Caio e ele continua sorrindo, as bochechas adoravelmente vermelhas com um constrangimento satisfeito. Saio correndo atrás dela depois disso, porque não quero que ela vá embora sem saber o que eu percebi.
            — Paty, você está bem? — pergunto quando a alcanço lá fora.
            — Ah... Não?
            Ela quase põe as mãos na cintura quando me responde. Sinto que ela tenha parado o gesto na metade, porque seria a combinação perfeita com a expressão petulante em seu rosto. É engraçado.
            E você não deve rir da sua amiga numa hora dessas... Bom, talvez só um pouquinho para aliviar a tensão.
            — Claro. Pergunta idiota a minha. Mas, bem, se ajuda em alguma coisa, acho que ele gostou de saber.
            — Fiz um show lá dentro, não foi? — ela diz, parecendo um tanto envergonhada.
            — É, foi interessante. — Não posso negar que estou me divertindo horrores com isso. Pelo motivo certo, porém. — Mas ele estava sorrindo no final.
            — Deve ser por causa da história da peruca.
            — Sorrindo, Paty. De alegria. Não dando risada. Acho que ele não tinha percebido que você estava a fim. Se ele for um pouquinho igual a mim é meio lento para perceber essas coisas, mas agora ele vai começar a olhar tudo de outra perspectiva.
            — Não sei, Clara. Ele ainda gosta de você.
            — Confie em mim. Essa ilusão não vai durar muito. Ele vai entender logo que somos só amigos.
            — Como?
            Porque eu vou dizer a verdade para ele e fazê-lo entender o que realmente nos une.
            — A mãe dele gostou de você. Eu conheço Marina. Você tem uma aliada nela. Duas se contar comigo. — Digo isso porque preciso mudar de assunto, mas não estou mentindo. Paty me faz lembrar Marina em muitos aspectos, e sei que uma simpatizou com a outra.

            O suspiro aliviado dela me faz sorrir de novo, e logo sua animação espelha a minha. Talvez eu devesse, mas não consigo me preocupar com o que virá para os dois depois disso. Prefiro ter esperança.

domingo, 18 de outubro de 2015

AS - Capítulo 2 - final

 Não acredito! Eu perdi tudo isso? – Claire gritou ainda surpresa com tudo que contei sobre meu amasso com Jacob.  E pensar que este e só o segundo dia!
 Ele vai aprender a nunca mais me tratar feito criança, ele vai implorar pra me levar pra cama.
 Ui! vem pegar a menininha, Jake! – cantarolou.  Para onde vamos agora?
 Primeiro ao shopping, minha tia vai nos esperar por lá. Vamos comprar roupas íntimas!
Claire riu maliciosa e começou a mexer no celular após chegarmos.
 Já avisei os gatinhos!
Quando chegamos na praça de alimentação, Quil já estava lá. Claire correu para ele e eu segui devagar. Um garoto um pouco mais velho estava ao lado do casalsinho.
 Este e meu primo Seth, ele vai passar uns tempos lá em casa  respondeu quando perceberam que nos olhávamos por um tempo longo.
 Prazer!
 Também espero por muito.
...
 Ele é fofo, Claire. Satisfeita? – disse após me cansar de ouvi-la perguntar pela sétima vez.
 Sim, meu amor. Ele é um gatinho, mas Renesmee quer um monstrinho gostoso - brincou minha madrinha.
 Um lobo faminto! - Olhamos pra Claire.  O quê? Ele parece perigoso. Como um lobo faminto. – disse.
 Sim! Ele poderia me devorar como e onde quisesse!
 Calma aí, mocinha, nada de fornicar enquanto não te levar ao ginecologista!
 Podemos ir hoje, tia? Eu quero enlouquecê-lo!
 E pelo que ela contou... não dou 4 dias! – disse rindo.  Olha esta, Nesmee. Eu quero.
Passamos algumas horas comprando as mais lindas, rendadas, puras e transparentes lingeries que estivessem ao alcance. Seda, cetim, pura renda... Quando faltava pouco para a consulta, seguimos para a clínica. Claire também aproveitou para fazer suas perguntas e saímos com nossas imaginações alimentadas.
 Ele já deve estar preocupado. - comentou Claire.
 Eu liguei avisando que está comigo.  avisou tia Rose.
 Então vamos?
 Sim, vou levá-las.
Após deixarmos Claire em casa, tia Rose me deixou na entrada, seguindo para a casa dela. Assim que atravessei o portão, vi uma movimentação estranha. E um dos seguranças bloqueou minha passagem.
 O que está acontecendo?
 Desculpe, senhorita. O encanamento rompeu, algum animal está preso.
Alguns segundos mais tarde, Jake entrou em meu campo de visão. Ele segurava um embrulho. Aproximei-me e ele sorriu. Um bombeiro se aproximou com ele. Jake sentou e o segui, o bombeiro ditava uma série de cuidados e desembrulhou o montinho, deixando um gato sujo e muito arredio à mostra.
 Temos que esperar ela se acalmar para podermos dar um banho.
 Fêmea? Bem gordinha!
 Ele disse que ela está prenha.
 Eu quero ficar com ela!
 Eu já falei com Edward, ela fez um grande estrago no encanamento. Sua mãe avisou sobre você querer a gata e eles permitiram.
 Isso vai estar um inferno com obras...
 Ficaremos no meu apartamento. Sua mãe avisou sobre sua alergia.
Céus! Eu tenho a melhor mãe do mundo!
A lembrança vaga de seu pequeno e aconchegante apartamento masculino surgiu em minha mente e contive o sorriso que lutava para escapar por meus lábios. Mas o mais importante: sem câmeras e sem seguranças. Perfeito!
Gabriela, minha governanta, surgiu com minha bolsa de escola e uma bolsa com minhas roupas.
 Vamos ao veterinário primeiro? – pedi me virando para ele que acenou. – Se alguém reclamá-la, por favor, me avise, Gabriela?
 Sim, senhorita.- Seus olhos astutos foram para as bolsas em minha mão e para meus olhos, sorri com naturalidade. Meneou a cabeça em negativa e nos virou as costas.
Entrei no carro e Jake me entregou à gorduchinha, dando a volta e seguindo para o consultório veterinário onde Emily estava nos esperando. A consulta foi rápida, a gatinha não estava com problemas graves, era só dar algumas vitaminas e descanso.
 Finalmente! – exaltei quando estacionamos. Saí do carro com cuidado. Core - como eu batizei a gatinha - estava calma agora e não gostaria de irritá-la por nada.
Jake abriu a porta com dificuldade por causa das minhas malas e de tudo que compramos para minha gorduchinha.
 Temos que avisar a sua mãe que ficará comigo, já que ficar na casa não dá. – disse quando eu já estava ninando a gatinha.
 Pensei que tinha dito.
 Não, eu decidi depois de desligar, não consegui retornar a ligação. E me lembrei de como ficava quando criança.
 Vou arrumar o meu quarto para que você fique por lá, enquanto isso você arruma as coisas da gata.
 Tudo bem.
E fiz exatamente isso, deixando a cama arrumada, a caixa de areia no canto da pequena área de serviço. Coloquei também uma grade especial nas janelas para que ela não resolvesse escapar. Quando terminei, descalcei minhas botas e segui de meias até que meus pés se acostumassem com a temperatura baixa da sala.
Minhas malas não estavam mais lá, sentei no sofá macio estudando cada espaço, uma fragrância forte invadiu minhas narinas, virei tendo a visão do paraíso. Jacob entrou com os cabelos ainda úmidos, uma camiseta e calça larga. Eu vou morrer, é isso!
 Só tenho um banheiro, então espero que não se importe.
Com medo de não encontrar minha voz, preferi apenas acenar, eu não poderia gaguejar em sua frente.
 Vou... me lavar!
Minhas malas estavam sobre sua cama, busquei por meus produtos e por uma das lingeries, correndo para um banho, lavando meus cabelos, ensaboando o corpo com o dobro de cuidado. Suas toalhas eram tão macias! Perguntei-me quem cuidava disso pra ele. Enrolei-me e passei um hidratante nas pontas do meu cabelo, penteando e secando.
Após colocar a calcinha, estiquei meu pé para poder ver meu reflexo no espelho. Realmente provocativa, eu não senti uma gota de vergonha, mas sim felicidade, eu havia me produzido para o homem dos meus sonhos e ele ia gostar do que veria.
Saí do quarto da forma que estava e segui para seu guarda roupa, eu iria usar uma blusa dele, encontrei uma camiseta parecida com a que usava, mas esta era preta. Como Jake é enorme comparado comigo e qualquer outra pessoa que eu conheça, sua camiseta estava enorme em meu corpo.
Segui pelo corredor e ele não estava na sala, ouvi um estalo metálico e virei para a cozinha, Jake estava remexendo no congelador. Ele separava alguns congelados e depositava sobre a pia, me aproximei devagar e comecei a remover a embalagem.
 Eu peguei uma camiseta sua... – disse em tom baixo para não assustá-lo.
Ele se virou me olhando minuciosamente, seus olhos se demoraram em minhas coxas.
 Está curta.
 Está? Acho que está longa, bate quase no meu joelho... – provoquei erguendo um pouco a barra.
 Não que eu tenha ciúmes das minhas roupas, mas onde estão seus pijamas?
 Eles são mais curtos, uso amanhã. Gosto do seu cheiro. – declaro, colocando a massa no micro-ondas. – Eu vou fazer um molho, mudou algo de lugar?
 Não.
Eu sabia exatamente onde fica cada peça, mesmo após anos sem voltar aqui, e o fato dele não ter mudado me deixou feliz. Afinal, eu e mamãe ajudamos com sua mudança. Cortei os tomates, alguns temperos. Eu sentia seus olhos em mim, mas preferi ignorar.
Quando o micro-ondas apitou ele se mexeu, tirando o conteúdo e despejando sobre um refratário, depois aqueceu o forno e voltou a olhar o que eu fazia. Tomou a panela com o molho de minhas mãos e despejou sobre a massa, misturei um pouco para o molho penetrar na massa, espalhando folhas de manjericão e orégano.
– Perfeito, agora! – ralo um pouco de parmesão.
– Você ainda se lembra de tudo!
– Claro! – respondi roçando meu corpo na lateral do seu. – Tudo que diz respeito a você, eu sempre vou lembrar! – garanti tocando em seu braço. Sua pele se arrepiou e a minha também, meus mamilos enrijeceram. – Vou pegar um suco. – seus olhos se fixaram nos meus.
Mexi meus cabelos enquanto abria a geladeira enorme, retirei dois tipos de sucos, colocando com cuidado sobre a mesa e buscando os copos no alto dos armários. Ouvi um estalo e voltei meus olhos para Jacob. Seus olhos estavam fechados e respirava fundo.
– Está passando mal, Jake? – perguntei preocupada, esticando meu corpo na ponta dos pés, tocando em sua bochecha.
Sua pele quente sob minha mão...
Suas mãos apertaram minha cintura, o toque inesperado tirou o raciocínio e gemi rendida. Seus olhos se abriram, completamente dilatados, negros.
– Vou buscar um refrigerante. – removeu suas mãos de mim, virando e disparando para fora. Segui atrás, mas ele já estava na porta antes que eu pudesse reagir com palavras.
Suspirei, sentando no sofá já ocupado por Core, muito à vontade. Acariciei seu pelo e sua cabeça. – Oi, lindinha. Ele é medroso, mas vai ser meu.
Core nada fez além de abrir seus lindos olhos e me encarar por uma fração de segundos antes de voltar a me ignorar. Exatos 15 minutos passaram e ele chegou, trazendo uma Coca e uma Fanta. Ele se lembrou dos meus gostos!
....
 Vai continuar assim? – reclamo me pondo em pé em sua frente.
 Assim como, Nesmee?
 Me ignorando ou fugindo quando tento me aproximar.
 Eu não...
 Sim, está sim. Neste momento já está prestes a pegar impulso e ir pro outro lado da sala.
 É impressão sua, por que não dorme um pouco?
 Porque não estou com sono e você é um medroso.
 Renesmee, senta e assista ao filme ou vá para o quarto e assista lá.
 Não, nós precisamos conversar, sabe disso!
 Cansei. – resmungou se levantando.
 Ah, não, volte a sentar. – Agarrei seu pulso e forcei-o de volta ao sofá, então sentei em seu colo. – Eu sei que me quer tanto quanto eu te quero, sei que sente tudo o que eu sinto quando me toca! – sussurrei enredando meus dedos por seu abdômen.
Senti seu membro pulsar, espetando meu sexo. Como uma necessidade vital, movi meu quadril de encontro ao seu. Mordisquei a pele desprotegida de seu pescoço. Infelizmente, suas mãos apertaram meus pulsos. Com um olhar duro me afastou, uma mescla de sentimentos que me deixou confusa e com medo.
– Chega! – rosnou, segurando com força minha cintura e me atirando sobre o sofá enquanto se punha de pé. – Pare com isso, Renesmee. Você não passa de uma garota mimada, se quer tanto isso, procure um garoto da sua idade! Chega de apostas ridículas, comporte-se ou a entregarei aos cuidados de seus padrinhos. Vá para meu quarto, eu dormirei na sala.
Suas palavras me feriram, deixando-me completamente sem ação, me afastei seguindo para seu quarto com ele em minhas costas. Observei seu caminhar e depois ele abrindo o armário, e assim que obteve um lençol, cobertor e travesseiro saiu sem olhar para trás.
Deitei em sua cama, em seu travesseiro, inalando seu perfume e funguei, me esforçando para não chorar.
Não sei como consegui, mas muitas horas depois meus olhos finalmente cansaram e dormi. Algo me incomodava, sentia que deveria estar dormindo, mas a consciência voltava aos poucos, puxei as cobertas abraçando o tecido quente, mas faltava algo.
E esse algo me fez girar diversas vezes até desistir, eu sabia exatamente o que eu sentia falta. Com chinelos forrados e silenciosos segui de volta à sala. Não me permiti olhar detalhadamente o corpo seminu largado sobre o sofá, apenas deitei ao seu lado com cuidado para não despertá-lo.
A claridade e algo roncando em minha cabeça me despertaram. Imaginei que já era tarde, pois o calor que me cercava causava suor. Uma patinha gelada tocou minha bochecha, estiquei meu rosto e Core tocou meu nariz com seu focinho gelado, lambendo em seguida. Ela miou algumas vezes antes de pular do sofá e desfilar pela sala até a cozinha.
A mão quente deslizou por minha barriga, olhei a perfeição que me cobria, e a blusa que antes escondia meu corpo, estava completamente erguida e torta, permitindo que toda a pele abaixo de minha cintura e meus seios ficasse à mostra.
Sua respiração quente intumescendo meu mamilo. Arrepiando meu corpo. Respirei algumas vezes buscando a calma quando seus dedos apertaram minha pele e seus lábios rasparam por meu seio.
Minha mão coçava pelo desejo de tocar seu cabelo curto, será que ele brigaria se me encontrasse aqui? Certamente! E se eu fingisse que estava dormindo? Afinal eu estava louca para saber sua reação ao me encontrar aqui, assim, tão exposta.
Fechei os olhos e tentei relaxar, permitindo que meu coração se acalmasse e minha respiração se tornasse lenta e ritmada. O tempo foi passando e senti seu corpo mudar sobre o meu, sua mão alisou minha barriga.
 Mas o quê...? – Alguns minutos se passaram. – Eu não vou aguentar... – sussurrou com a voz rouca e minha nuca arrepiou, rezei para que esse pequeno detalhe lhe passasse despercebido.
Sua testa tocou meu ombro, meus braços arrepiaram quando seus lábios tocaram meu pescoço. Não conseguiria manter a respiração por muito tempo, não quando deslizava a ponta dos dedos pela pele entre meus seios, descendo por minha barriga, e mesmo quando o tecido se pôs entre nós, meus braços e nuca permaneciam arrepiados.
 Sedutora dos infernos... – murmurou, beijando a pele exposta a dois dedos do meu seio. – Eu sou um maldito e fodido doente. – Não entendi o que quis dizer com isso. – Ao menos tem 16 anos... – lamuriou-se tão baixo que tive dúvidas se tinha realmente dito isso.
Mas qualquer força para ter um raciocínio se esvaiu quando sua respiração quente soprou em meu seio e sua língua circulou meu mamilo para ser tomado por sua boca.
Apesar dos esforços para manter a respiração tranquila e não gemer, não pude comandar minhas mãos quando sua boca abriu tomando mais do que meu mamilo. Assim, quando a língua dançou pela pele, apenas gemi enredando meus dedos por sua nuca.
 Jake... – Seu nome escapou por meus lábios como uma súplica enquanto erguia meu corpo de encontro ao seu. Abrindo meus olhos, louca para ter essa visão.
Seu gemido fez algo com meu corpo, por todo ele, minha pele arrepiada, meu corpo quente, minha boca seca, e a calcinha úmida a ponto de incomodar. A combinação de suas mãos que percorriam por minha pele, descendo por minhas costas e tocando a calcinha fio dental de renda, com o sugar em meu seio me transportara para outro mundo.
Com seus olhos fixos nos meus, percorreu minha virilha, seu dedão tocando meu sexo.
 Por que insiste nisso, Renesmee? – choramingou.
Meu coração tornou-se pequeno, jamais quis lhe causar dor, apenas...
 Eu te amo, Jake. Desde que me entendo por gente, eu anseio ser sua, ser sua mulher. – Toquei seu queixo livre da barba de ontem, tomando seu rosto entre minhas mãos. – Não estou me referindo a casar, mas a ser sua. Eu já lhe pertenço, apenas quero ser sua por completo.
 Eu tenho idade para ser seu pai.
 Mas não é, Jake, se quiser me rechaçar terá que ser mais convincente que isso!
Ele apenas deitou sua cabeça em meu peito, seus braços me apertaram com força e toquei seus fios curtos, esperei muito tempo por uma reação, mas Jake permanecia silencioso e cogitei que estivesse dormindo. Mesmo assim, me atrevi a lhe chamar.
Olhou-me intensamente, tocando minha face, fechei os olhos aproveitando o contato. Quando voltei a abrir, meu coração atropelou algumas batidas e minha nuca se arrepiou. Seus olhos estavam em meus lábios, a poucos centímetros, e sua língua tocou meu lábio inferior.
Sua boca pressionada sobre a minha se entreabriu, dançando, conhecendo, sem pressa ou reserva, enquanto me roubava o ar e elevava as batidas do meu coração. Sentir sua língua contra a minha fez meu corpo se abrir. Eu queria mais, muito mais. Jamais esqueceria este momento.
 Jake?
 Sim?
Girei sobre seu corpo, sentando em sua ereção. – Me tome aqui? Agora?
 Vamos com calma, eu preciso me acostumar. Essa é uma decisão que mudará minha vida drasticamente...
Eu entendi ao que se referiu,
– Não pense dessa forma, não está me forçando ou ludibriando, não é meu algoz, é o homem que eu amo.
Ele permaneceu a me olhar e eu já começava a me arrepender de ter feito o pedido. Pequenas rugas formavam um caminho sólido em sua testa, afaguei a pele, dispersando-as, antes de me inclinar e beijar seus lábios.
 Eu te amo, Jacob Black, e isso nunca irá mudar. – avisei e seus olhos tornaram-se fixos ao meu olhar.
Para minha alegria, recebi um novo beijo, que, diferente do primeiro, veio acompanhado de toques íntimos, sua língua tocando a minha de forma extasiante, fazendo a umidade em meu sexo aumentar e meus seios latejarem por atenção. Mas jamais reclamaria quando seus dedos seguiram pela região que precisava de ainda mais atenção que meus seios.
Afundei minhas unhas em sua nuca, gemendo quando suas mãos escorregaram por minha calcinha, separando o tecido molhado e tocando lá. Tocando a pele molhada, puxando o tecido por minhas pernas.
Suspirei quando a renda tocou meus pés e seus dedos se ocuparam da barra de sua blusa em meu corpo, mordi meu lábio vendo seus olhos percorrerem meu corpo. Seu dedo voltou a brincar em meu sexo e rebolei de encontro a sua palma, levando minha mão pelo volume que escapava por sua calça de pijama.
Desfiz o nó, e lambi os lábios vendo o triângulo de fios negros e grossos surgir, não foi surpresa meu centro vibrar, provavelmente nossos sexos estavam na mesma sintonia, pôs foi o mesmo vibrar que senti em seu membro ao levar meus dedos por sua calça.
A pele aveludada e quente fez minha boca salivar e provei de outro beijo, sua mão cobriu a minha que deslizava por seu membro. A necessidade surgia e não sabia o que era mais forte, senti-lo me possuir ou prová-lo.
 Jake? – supliquei puxando a calça para baixo com a outra mão.
 É isso que quer, Renesmee?
 Por favor.
Jacob se afastou e terminou de tirar a calça, mordi meu dedo ao ver sua exatidão, seu corpo era a medida certa para meu delírio, minha imaginação nunca lhe foi justa. Não tive medo, pois a certeza de que nasci para ele sempre existiu em meu coração.
 Não lhe farei mal. – Sua frase me fez parar de encarar seu membro ereto.
 Eu sei – respondi me erguendo e levando minha coxa à sua cintura, fechando os olhos em satisfação quando seu membro tocou minha outra perna.
Em seu colo, seguimos para o quarto, imaginei que me sentiria nervosa, que apesar de ter imaginado e idealizado esse momento por muito tempo, eu teria algum ataque e esqueceria tudo o que planejava fazer, mas mantive a calma, não houve nervosismo ou temor pelo curto espaço entre a sala e seu quarto.
Com carinho e um beijo casto, Jake me deixou na cama e foi até seu guarda roupa, vi-o retirar algumas embalagens pretas e douradas de uma caixa e voltar em minha direção, três pacotinhos caíram ruidosos sobre o criado mudo, enquanto acompanhei a embalagem de um quarto pacote flutuar até o chão.
Seus dedos desenrolaram o preservativo por seu membro, ainda assim uma parte — que não era pequena — permaneceu sem a proteção do látex. Uma nova onda de arrepios percorreu meu corpo quando sentou-se ao meu lado, acariciando meu rosto, beijando meu pescoço.
 Vem cá. – sussurrou me erguendo em seu colo. –Vai ser melhor assim.
Não conseguiria me acostumar com essa sensação, e vendo seus olhos desejosos acompanhando meus movimentos até estarem devidamente sobre seu corpo, só pude implorar para que tudo se repetisse até minha morte.
O primeiro toque entre nossos sexos fez meus joelhos enfraquecerem, recebendo a glande em minhas carnes, me encolhi com seus dedos afundando em minha bunda. Tudo que envolvesse Jacob me exaltava e surpreendia, por isso não estranhei o fato de não haver dor quando nos unimos.
Seus toques, falas e beijos eram prazer puro e intenso. Senti as lágrimas banharem meu rosto quando nos unimos por completo. O encaixe perfeito, sem reservas, sem pudores, apreciando toda a forma de prazer que poderíamos nos proporcionar.
O sorriso não saía de meus lábios, meus olhos atentos ao seu rosto. Ainda estava no paraíso com tudo quando senti, como ainda sinto, o amanhecer começar a surgir, mas eu permanecia olhando o rosto suado e cansado ao meu lado.
Quando desviava os olhos para a bagunça da cama e de todo o quarto, a vergonha voltava com determinada força. Meus dedos tocaram a cabeceira que há alguns minutos tinha sido minha escora.
O pequeno espelho permitia ver meu estado e lembrar o brilho selvagem em meu rosto enquanto admirava a expressão voraz de Jacob ao me possuir de quatro, sorri deitando em seu peito e senti seus braços me apertarem, corando ao notar os vários pacotinhos rasgados no criado mudo.
Quatro pacotes foi pouco! Com o rosto quente pelos pensamentos, virei para olhar o rosto suado e cansado de Jake, me aconchegando em seu abraço, ganhando um beijo em minha testa antes do sono me levar.
O cheiro forte de café me despertou tempos depois, Com meus músculos doloridos e ainda com sono, levantei tirando os lençóis e as fronhas, levando-os comigo para o banheiro, meus cabelos pesados pelo suor, minha pele com o cheiro de ambos.
Vesti outra blusa sua e arrumei a cama, terminando de arrumar os travesseiros sobre o lençol quando escutei a porta bater.
 Fiz o nosso café, imaginei que não estaria muito disposta a se locomover, está sentindo alguma dor?
 Não. Só um pequeno desconforto – confessei sentando na cama ao seu lado. –, mas imagino que seja o esperado.
 Sim, eu deveria ter parado na primeira... Vamos tomar o café.
 Jake? – chamei e ele parou de preparar uma torrada com geleia. – podemos deixar pra buscar o que falta mais tarde, tipo, no final da tarde?
 Pensei que estivesse com pressa... – sorriu zombeteiro.
 Eu queria continuar com você aqui... – murmurei sorrindo e corando, enquanto ele apenas sorriu movendo a cabeça em descrença, mas acenou positivamente antes de me entregar a torrada e o copo de suco.
...
– Deixei um recado para a minha diarista... Pare de babar por essa gata! – resmungou em minhas costas.
 Mas ela está presta a parir, Jake! – tentei mais uma vez, enquanto assistia Core comer sua ração.
 Você não faltará, eu não vou deixar de dar a prova.
 Eu não ia faltar... só poderíamos esperar ela chegar!
Jake passou parte da tarde preparando a prova enquanto eu cuidei do nosso almoço, jantar e de Core. Após guardar seu material no aconchegante escritório, seguimos até minha casa para buscar meu carro e algumas roupas.
Sem opções, segui até a garagem e, cada um em seu carro, dirigimos para o colégio. Chegarmos praticamente juntos, o que já chamaria muita atenção, por isso evitamos vir no mesmo carro.
Claire estava um pouco afastada com alguns colegas da nossa turma, quando me viu esticou a sobrancelha e apenas sorri de lado. Liguei o alarme olhando rapidamente para Jake que retribuiu, seguindo em direção ao prédio dos professores.
 Conta tudo.
 Não posso contar todos os detalhes, foram muitos! – sussurrei segurando em seu braço e seguindo para a sala.
Já estávamos todos na sala quando Jake finalmente entrou, deixando seu material sobre sua mesa e retirando o bloco de provas, entregando uma quantidade em cada fileira.
Eu era privilegiada por me sentar na primeira carteira, em frente à sua mesa. Seus dedos tocaram suavemente os meus quando me entregou o bloco fino. Retirei a minha, entregando o restante para Nahuel, sentado logo atrás.
– Não tentem colar, a prova está com as mesmas perguntas em ordens diferentes e as de múltipla escolha também estão trocadas. Eu sei, eu sou bonzinho! – avisou sentando em sua mesa e mantendo o olhar na turma das últimas cadeiras.
Como fui ameaçada de não ter nenhum beijo caso minha nota fosse B, me esforcei muito e, por consequência, a matéria estava fácil. Em poucos minutos havia terminado minha prova, mas permaneci com ela em minhas mãos.
Mas não prestava atenção nela ou em qualquer lugar da sala, estava admirando os dedos grossos e grandes de Jake dobrados firmes na beira da mesa, lembrando os toques que recebi por eles.
Assustei-me ao sentir o pequeno estalo da esferográfica em minha boca, não havia percebido meu ato ou o momento em que a levei à boca. As juntas dos dedos tornaram-se brancas e olhei para Jake.
 Senhor Black “tá” de pau duro! – Nahuel sussurrou assustado em minhas costas.
Prontamente me ergui, derrubando minha mochila no processo. Puxando-a com força e jogando sobre minha carteira, estendi minha prova para Jake que já estava de pé seguindo para trás de sua mesa.
 Já terminei, professor, desculpe? – movi os lábios, voltando para minha carteira.
Preferi não olhar para os lados, não houve burburinho, ao menos enquanto tinham suas provas. Jake não permitia. Seu rosto permaneceu em uma carranca enquanto manteve a atenção em minha prova, não sabia se era um x ou um c que aplicava a cada questão, mas sabia que ele estava zangado pela força usada para rabiscar.
Meu coração ficou aos solavancos durante todo o período. Ouvia os bochichos de alguns rapazes e as meninas curiosas tentando descobrir o que aconteceu, assim como sentia Nahuel me observar.
Ele sabia que eu era a causadora e ria debochado, o que me fez encará-lo com raiva. Ele retribuía com um sorriso. Mas, diferente do que imaginei, não fez nenhum comentário ou insinuação, apenas continuou como se não tivesse presenciado nada anormal.
Quando o sinal tocou, eu estava com muito medo, tanto da reação de Jake como de Nahuel, estava com os dois pés atrás. E se era para ser chantageada, era melhor descobrir logo. Assim como eu, ele também arrumava seu material sem pressa.
Já me preparava para despejar o máximo de xingamentos e ameaças quando ele falou primeiro.
 Não sei o que esta tentando fazer, Cullen. Mas é melhor manter suas tentativas longe do colégio. Eu te conheço e não sou sacana, mas da próxima vez pode ser alguém que queira ferrar com o professor e principalmente você.
Minha boca abriu e fechou diversas vezes, mas eu não sabia o que responder, assim como notei a sutil diferença de ferrar com você para ferrar você. Acenei entendendo o recado.
 Obrigada. – respondi sobre a respiração.
Ainda permaneci na sala, esperando meu corpo parar de tremer, as palavras “ferrar você” rodopiavam em minha mente como dançarinos de tango. Por isso pulei e engasguei com o grito preso na garganta quando mãos grandes tocaram meu ombro.
 Você está bem?
 Oi, Jake, digo, estou, Professor Black. – disparei com a voz um pouco estridente olhando para a porta aberta.
 Vou precisar ficar mais uma hora por aqui. – avisou me entregando a chave da casa. – E se prepare para quando eu chegar, vai pagar pelo que me fez no primeiro tempo.
 Sim, querido professor! – sorri guardando as chaves em meu decote. – Com juros e correção monetária – sussurrei a última parte, jogando minha mochila sobre os ombros e recebendo um sorriso malicioso em troca.
 O que tem de anjo tem de sedutora! – sussurrou quando passei esfregando meu corpo ao seu.
 Até logo, professor! – sussurro piscando antes de correr para o pátio.
Ah, ele teria uma bela surpresa, e o conjunto de renda branca e asas ajudariam a completar seu desejo.

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