sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Uma Escolha Após a Morte

Uma Escolha Após a Morte

Eu estava morta. Fora rápido e nem tinha me dado conta.

Num momento, eu estava dentro de um carro com um motorista falante, minha mãe totalmente dependente e uma amiga de idade, e no outro, eu já assistia a tudo do lado de fora, quase em câmera lenta.

Nós estávamos dentro do carro, subindo por um trecho bem íngreme de uma rodovia. A vegetação nas laterais da estrada era densa, mas mesmo assim dava para notar a presença de um lago. O lago não era limpo. Era possível ver garrafas pets, pneus velhos, sacolinhas de plástico e sabe-se mais o que tinha lá. À nossa frente, um infinito asfalto que até estava em boa conservação.

Estávamos indo visitar a cidade vizinha, e também um amigo nosso. Passeios desse tipo faziam bem à minha mãe, embora para quem olhasse de fora e não a conhecesse bem, pensasse que ela não estava aproveitando nem um pouco.

O motorista tagarelava ao meu lado. Algo irritante. Eu gostava do silêncio. Ou melhor, ainda gosto, pois embora eu tenha perdido meu corpo, eu ainda poderia me manter viva. Quem diria que alma realmente existe, não é?

Não havia nada à nossa frente, a não ser uma grande subida que ocultava qualquer coisa que estivesse além dela. As faixas pintadas no asfalto deixavam claro que, quem estivesse na nossa mão, não poderia fazer qualquer tipo de ultrapassagem. Ao contrário de quem descia o mesmo trecho.

E então tudo aconteceu rapidamente.

A subida tinha nos cegado e conduzido a um grande acidente de caminhão. Esse ainda rodava na pista, como se alguém estivesse brincando de pião com o gigante à nossa frente. Outro caminhão tinha tombado no processo, espalhando pelo asfalto um líquido que eu podia jurar ser combustível.

A agitação da cena fez com que eu absorvesse cada detalhe, mesmo que tudo tenha acontecendo tão rápido.

O motorista antes tagarela, fechou sua boca, pasmo e assustado com o caminhão desgovernado que vinha ao nosso encontro. Não sobraria nada de nós quando o choque acontecesse. Percebi que em um momento de lucidez o motorista tinha trocado rápida e bruscamente a quinta marcha pela ré.

Num solavanco, agora estávamos correndo de ré e fugindo do acidente. Mas para nosso desespero, a mesma inclinação que tinha nos cegado para esse momento, também tinha cegado outro motorista que vinha logo atrás.

Não tínhamos mais como fugir. O impacto era eminente. Lembro-me de que tive tempo para pensar em abrir a porta do carro e pular para fora. Queria salvar minha vida. Minha mãe estava esquecida por mim no banco de trás.

E foi o que eu fiz. Com rapidez, abri meu cinto de segurança e logo em seguida a porta. Atirei-me contra o asfalto e saí rolando e me machucando no processo. A velocidade fez com que eu adentrasse a vegetação verde. Meu corpo ficou meio imerso na água suja, enquanto eu acompanhava o resto, escorada no barranco lamacento.

Vi quase em câmera lenta quando o caminhão desgovernado atingiu o carro. Este começou a ser comprimido de um modo quase impossível, até que tudo era apenas chamas e ferragem. O fogo explodiu em todas as direções, suas chamas subindo rumo ao céu.

O som de tudo era ensurdecedor.

Quando finalmente as chamas cederam, eu me aproximei do carro. Meu intuito era ver se alguém estava vivo e, se estivesse, então eu o ajudaria a sair do carro.

Assim que cheguei, a senhora de idade, amiga nossa, tentava se soltar das ferragens. Ela estava desesperada. Mas não me importei realmente com ela. Fui direto onde minha mãe estava.

O corpo dela não estava preso por nenhum metal, e ela incrivelmente parecia bem, sem queimaduras. Com muito esforço a ajudei a sair do carro. Ela não tinha locomoção. Os três AVCs que ela havia sofrido durante a vida a tinham tornado totalmente dependente dos outros, tal como um bebê de colo é dependente de seus pais. E ela só tinha a mim, a ninguém mais.

Carreguei minha mãe até perto do barranco em que outrora eu estava. Quando cheguei até lá, de alguma forma tinha aparecido uma cadeira. Isso era providencial, tendo em vista que sustentar o corpo de minha mãe estava custando alto para o meu corpo machucado.

Quando me virei, um homem me encarava. Ele era lindo e de estatura mediana. Os cabelos curtos eram grisalhos, e seus olhos pareciam de um azul acinzentado Suas roupas não pareciam ser da minha época, embora estivessem intactas e limpas.

Ele não se apresentou para mim. Simplesmente começou a falar.

— Você andou aprontando muito, nos últimos anos. — Seu tom de voz era terno. Não havia nenhuma acusação implícita em seu comentário. Era apenas uma verdade.

Em minha mente, me veio uma cena. Ou melhor, algumas cenas. Por incrível que pareça, eu sabia do que ele estava falando. Eu sabia que ele se referia às vezes em que eu tinha tentado suicídio e fracassado miseravelmente.

Não me senti culpada ou envergonhada, no entanto. De alguma forma, aquele homem à minha frente me confortava, acalmava meu coração, me inundava de paz.

Eu tinha tentado suicídio por quatro vezes há alguns anos. A sensação que eu tinha era de que o mundo seria um lugar melhor sem a minha presença nele. Parece um pensamento egocêntrico — afinal, pensar que a ausência de uma única pessoa fosse melhorar o mundo é algo muito egoísta — mas era o que eu sentia.

Sentia.

Não estava sentido mais.

E então a realidade me abateu. E eu não tive medo dela.

— Eu estou morta? — Perguntei tranquilamente ao homem bondoso à minha frente.

— Sim. — Ele confirmou e eu movi minha cabeça em compreensão. — Mas fique tranquila. Tenho uma casa para ti. — Ele me garantiu.

Nesse momento minha mãe me abraçou apertado. Ela não queria me deixar partir. De algum modo, eu também sabia que ela tinha morrido. Afinal, ela conseguiu se levantar, mover os braços livremente, e ainda murmurar audivelmente para que eu resistisse.

Afastei-me dela com dificuldade — eu desejava abraçar a minha morte, e olhei para o homem. Ele me estendeu a mão e, então, tudo estava muito claro à minha frente. A luz cegava meus olhos e eu não vi nada.

A luminosidade se normalizou. Eu estava diante de muitas pessoas que faziam exposições sobre o céu. E outras tantas que esperavam em qual daquelas exposições elas acreditavam para poder segui-los sem problema.

— Aqueles que acreditam que o céu é um local tão caótico como a terra, me acompanhe. — Um homem falou.

Algumas pessoas começaram a segui-lo, estiquei minha cabeça para acompanhar o movimento, mas logo os perdi de vista.

Eu não o segui. Não acreditava que o céu fosse caótico como a terra.

Outro homem apareceu. Dessa vez ele mostrava, como se fosse um filme projetado à nossa frente, um mundo cheio de florestas verdes e intactas, águas límpidas... Uma perfeita descrição do Jardim do Éden, percebi.

— Aqueles que esperam do céu um paraíso como esse, me acompanhem, por favor.

Olhei rapidamente para o homem que estava ao meu lado. Ele apenas meneou a cabeça me incentivando. Sorri para ele e acompanhei o homem da exposição do Éden, caminhando junto a algumas pessoas até que estivéssemos dentro de uma espécie de ônibus. Mas então eles começaram a falar coisas que eu achei banais demais. Ridículas demais.

— Quando chegarmos lá, temos que cumprimentar as árvores. Elas têm sentimentos. — Uma senhora comentou enquanto tricotava algo.

Levantei minhas sobrancelhas estranhando aquele papo.

— Eu também acho que devíamos fazer amizade com as pedras. Elas são bonitas, não são? — Um homem jovem comentou.

Balancei a cabeça negativamente. Que absurdo eu estava ouvindo!

E então o homem que tinha me cumprimentado e me feito entender o que tinha acontecido comigo, estava ao meu lado.

— Acho que você não concorda com eles. — Ele afirmou. Eu acenei com a cabeça.

— É um absurdo. — Enfatizei.

— Talvez você devesse tentar outro grupo de pessoas. — Ele sugeriu.

— Por favor.

E então eu estava de novo diante daquele cenário de exposições. Mas ao invés de ficar ali e ver com qual exposição eu concordava, eu fui dirigida para dentro. Era como se fosse uma casa com vários quartos.

Novamente todos estavam divididos por grupos.

— Fique à vontade. Procure uma casa com a qual você se identifique. — Orientou o homem de cabelos grisalhos.

— Obrigada. — Agradeci, e comecei a olhar de quarto em quarto e, vendo diversos grupos que tinham em comum sua visão de vida, sua visão do que era o céu.

Mas logo me desanimei. O corredor era muito comprido, e se estendia à minha frente até as duas paredes darem a impressão de se unirem no infinito.

Não era homogêneo. Cada casa tinha sua característica principal. Umas eram desbotadas, outras eram vividamente coloridas. Umas portas eram granfinas, e outras eram humildes. Havia casas que pareciam serem feitas de madeira, outras de alvenaria. Algumas tinham apenas uma cortina que servia de porta; e outras, nem isso, tinham. Algumas paredes eram retas, outras paredes eram tortas com seu pé-direito inclinado ou para dentro, ou para fora.

— Nunca que eu vou conseguir ver todas as casas. — Choraminguei.

— Você não precisa ver todas. — O homem me explicou. — Veja apenas uma com que você se identifique. — Ele aconselhou.

Pressionei meus lábios, uma curiosidade estava coçando minha língua.

— Fale. — Ele falou em tom terno.

Respirei fundo e fiz a pergunta que gostaria de saber.

— Você conhece todas as casas? — Perguntei a ele, me sentindo uma idiota por fazê-lo.

Ele sorriu ternamente para mim e começou a caminhar ao meu lado. Eu o segui, não queria ficar sozinha. Embora estivesse aceitando tudo muito facilmente, isso não excluía o fato de que tudo aquilo era desconhecido por mim, e como tal, era um pouco apavorante.

— Meu pai e eu construímos tudo aqui. Procuramos respeitar as opiniões diversas. — Arregalei meus olhos. Eu estava ao lado de Cristo? O filho de Deus? Ele olhou para mim e sorriu como se soubesse o que eu estava pensando, mas não disse nada, apenas continuou caminhando. — Então, sim. Acho que conheço todas as casas. É incrível, mas muitos criaram sua realidade e não aceitam outra coisa. Então respeitamos e, com o tempo e muita instrução, eles vão vendo a verdade absoluta e vão aceitando. Aí sim, eles são conduzidos para o local certo.

Mordi meus lábios, outras perguntas estavam querendo escapar por eles. Ele não falava nada. Mantinha um sorriso terno nos lábios, olhando sempre a frente. Esse fato aliado à forma como ele andava me davam a certeza de que eu poderia falar qualquer coisa, e não seria recriminada por nada.

— Então, nada aqui é real?

Ele sorriu mais ainda, a ternura em cada traço. Não havia sinal algum em suas feições que me indicasse que ele me considerava alguém idiota ou tola.

— Ao contrário. Tudo aqui é extremamente real. — Ele respondeu. — Pense nesse lugar como uma escola. Você é inserido na sua própria realidade, e vai aprendendo outras realidades.

— E não tem como simplesmente pular etapas? Tipo, ir direto para a verdade? — Perguntei a ele um pouco estressada. Em vida, bom, eu ainda estava viva, mas quando eu tinha corpo, eu sempre preferi ir direto ao ponto ao invés de ficar de lenga-lenga.

Ele balançou a cabeça negativamente, novamente, nenhuma recriminação em sua face.

— Tem muitos aqui que se forem colocados direto na realidade, não irão aceitá-la. — Ele explicou.

— Mas realidade é realidade. Não tem o que aceitar. A verdade sempre se impõe. — Disse.

Ele sorriu amigavelmente para mim, olhando em meus olhos. E então ele parou diante de uma porta azul e pegou minha mão. Na porta estava uma placa escrita “céu”. Ergui a sobrancelha e olhei para ele, esperando por algo.

— Vai ser mais fácil te mostrar que explicar. Entre.

Mordendo a parte interna da bochecha, eu abri a porta. Dentro era tudo azul. Um azul que eu nunca tinha visto. Era claro, mas era intenso. Era quase como se fosse um azul fluorescente. Lá dentro havia muitas pessoas que seguravam um livro junto ao peito. Percebi se tratar da Bíblia.

O homem ao meu lado me empurrou para dentro e eu entrei. Observei tudo e escutei pasma.

— O Senhor Deus virá no juízo final e ressuscitará todos que crerem nele. — Bradava um homem segurando firmemente a Bíblia junto ao peito.

— Aquele que tiver vergonha do filho de Deus será queimado no fogo do inferno, e nunca será reconhecido pelo Senhor Salvador. — Proclamava uma mulher com uma saia que ia à altura dos joelhos. Ela também segurava a Bíblia como se aquilo fosse sua tábua de salvação.

Olhei para todos os lados e muitos faziam isso. Outros tantos ficavam falando algo estranho. Pareciam bêbados.

— O que aquele está falando? — Perguntei apontando para um garoto jovem que estendia sua Bíblia sobre a cabeça de uma mulher, que estava ajoelhada à sua frente.

O homem sorriu para o jovem. Fiquei pasma por ele também não recriminar aquele garoto e nem o julgar. Eu mesma já estava julgando o jovem de doido para cima.

— Ele pensa que está falando a língua dos anjos. — O homem explicou.

— E está? — Questionei em duvida.

Ele sorriu novamente.

— Não. Mas ele ainda não está preparado para ver a verdade. E se alguém disser a ele que tudo o que ele está fazendo é murmurar palavras sem sentido, ele vai se revoltar contra a pessoa e vai fazer de tudo para obrigar a pessoa a ver o mundo da forma como ele vê. Seria uma perda de tempo e um gasto de energia à toa.

Abri e fechei minha boca algumas vezes, absorvendo a informação. E então engoli em seco e perguntei.

— Algum dia ele vai ver a verdade?

— Sim. Mas no tempo certo e na hora certa. Como você disse, a verdade se impõe. — E então ele olhou para mim e me conduziu para fora daquela casa. — Vamos? — Ele estendeu a mão à frente e recomeçamos a caminhar.

Fiquei pensando naquilo da casa chamada céu. Que loucura. Era óbvio que ele não aceitaria outra verdade. A expressão facial de todos ali dentro deixava claro que eles acreditavam veementemente na verdade que eles inventaram.

— Demora muito para eles verem a verdade? — Perguntei me referindo aos que moravam na casa chamada céu.

— Não mais que um ano. — Ele garantiu.

E então, quando menos vi, paramos em frente à outra porta. A porta era de madeira rústica, lembrando portas de escritório. A plaquinha ali dizia que aquela casa se chamava “família”.

— Aqui é um pouco diferente. — O homem falou meditando nas palavras e entortando a cabeça.

— Como diferente?

— Tem pessoas que acham que sua missão é continuar cuidando de seus entes queridos mesmo quando não estão mais presentes. Sua verdade é tão cruel sobre eles, que eles continuam carregando essa carga mesmo aqui, onde tudo deveria ser leve.

— E como eles fazem isso? Como que cuidam de suas famílias?

— Ah, eles não fazem. — Garantiu-me. — Mas pensam que sim. Mas eles ficam ocupados e preocupados o dia todo. Esses são os mais difíceis de fazer ver a verdade. — Ele disse mais para si mesmo que para mim. Sua face estava triste quando ele explicou o fato. — Mas vamos. Você verá por si mesma.

Acenei com a cabeça e tomando a iniciativa, abri a porta.

Dentro tinha vários guichês. Em cada um, as placas se encarregavam que discriminar a função de cada pessoa ali. Essa casa estava abarrotada de gente. Era como um grande formigueiro.

— Você tem que ficar de olho no seu filho. Ele está prestes a se envolver com más amizades. — Gritava um homem careca e corpulento. — Tome uma atitude.

— Si-sim, senhor. — Gaguejava outro.

— Você. — O homem corpulento apontou para outro que corria com um monte de folhas na mão. O homem parou e o olhou com atenção. — Não ouviu sua família pedindo para você resolver o problema de saúde da sua sobrinha? Ela tem câncer. Não vai fazer nada?

— Ouvi, sim, Senhor. — O cara respondeu com orgulho. — Mas ainda estou tentando curá-la do câncer. Não tive grande sucesso, mas é só questão de tempo. — Ele garantiu.

De repente, uma voz feminina e estridente rompeu o local. Ninguém se abalou e isso me revelou que eles já estavam adaptados aquilo.

— Sebastian, onde já se viu. Eu falei para você. Eu falei. Como você pôde deixar o marido da sua filhar ser morto? Por que você não impediu a bala de atravessar o coração dele? Justo agora que a menina estava grávida. O que você estava fazendo, hein? Por que não fez nada?

O homem loiro, percebi, se levantou no meio de um mundaréu de gente e com voz firme respondeu.

— E você pensa que eu não tentei? Mas quem disse que eu consegui?! Eu não tenho poder para isso. Ninguém aqui tem poder para salvar, curar, precaver ou cuidar da família. Vocês ainda não perceberam? — O homem falava indignado, seu rosto ficava vermelho à medida que seus olhos se enchiam de lágrimas. Muitos balançavam a cabeça o recriminando. Era fácil ouvir os murmúrios de uns e outros dizendo que ele que não tinha se dedicado o suficiente.

O homem grisalho ao meu lado me cutucou em camaradagem. Sua feição agora era cúmplice.

— Esse está preparado para a verdade. Levou apenas dois anos. — Confidenciou-me.

— Dois anos? — Repeti com alarme. E ele ainda falava como se fosse um tempo curto? O homem balançou a cabeça afirmando e sorrindo alegremente para o tal de Sebastian. E então fiz a pergunta relevante. — Quanto tempo leva para essas pessoas verem a verdade?

Ele colocou um dedo embaixo do queixo e ficou olhando para o teto, pensando. Por fim, ele declarou.

— Tem gente aqui que está há duzentos anos. — Ele respondeu para si mesmo, e eu arregalei os olhos para a resposta. — Mas em geral, com cinquenta anos eles veem a verdade. — Ele terminou com pesar, me olhando nos olhos. Mas logo sua face se iluminou ao olhar para o homem loiro. — Esse aí foi o segundo mais rápido desse ano.

— E quem foi o primeiro?

— Foi um homem negro chamado José. Lembro-me como hoje. Com dez meses ele conseguiu enxergar a verdade.

E então a sala se iluminou até nos cegar. Não durou muito. E quando tudo voltou ao normal, Sebastian já não estava ali.

— Cadê ele?

— Foi para a verdadeira casa. — O homem respondeu me conduzindo para fora daquela sala, onde todos continuavam com sua missão falida como se nada tivesse acontecido.

— O que uma pessoa faz por duzentos anos? Tipo, de quem ela acha que tem que cuidar?

— De netos, bisnetos, tataranetos. Agregados. As opções são infinitas. — Ele falou dando de ombros, como se fosse cansativo demais enumerar todas as desculpas esfarrapadas que aquelas almas davam a si mesmas para continuarem com seu trabalho infundado.

Caminhamos pelo corredor, e eu mesma parei dessa vez, numa casa sem porta, embora no umbral tivesse uma escrita chamada “Inferno”.

Apontei para dentro e perguntei.

— Inferno? Pensei que tudo deveria ser céu.

O homem ficou ainda mais triste agora. E também olhou para dentro onde a pintura era vermelha vivida. Pessoas nuas andavam lá dentro, outras apanhavam. Uns tinham suas vísceras arrancadas sem piedade, outros era espetados e chamuscados. A cena causava repulsa.

— Aqui não é o céu e nem o inferno. — O homem começou a explicar com tristeza. — Aqui é o ideal que as pessoas constroem para si. Infelizmente, muitos acreditam que mereçam o inferno.

— Pessoas que querem sofrer por livre e espontânea vontade? — Questionei alarmada.

— Sim. — Ele falou com um suspiro. — Mas por sorte, elas mesmas chegam à conclusão de quando já sofreram o suficiente, e então, elas são conduzidas para verdade e compreendem que existe compaixão e não há condenação aqui.

— E demora muito? — Questionei com pesar.

— Às vezes sim. Às vezes não. Tudo depende da forma como essas pessoas se enxergam. Tem gente que acredita que por ter atropelado um gato mereça o inferno, outros acreditam que por matar vinte pessoas mereçam apenas o purgatório...

Antes dele terminar, perguntei alarmada.

— Existe purgatório?

— Existe de tudo aqui, menina.

— E essas pessoas que mataram gente... Elas... Sei lá... Não deveriam ser condenadas?

O homem me olhou espantado. Pela primeira vez, senti como se estivesse falando realmente uma grande besteira para ele. Mas então sua face se suavizou, embora ainda se mantivesse triste.

— Há muitos motivos que levam uma pessoa ao ato extremo. Alguns motivos são nobres, outros motivos são terríveis. Mas tente entender que a maldade só existe quando a infelicidade existe. Há pessoas infelizes que querem dar o que elas não têm a outros. E há pessoas infelizes que querem dar a infelicidade a quem estiver por perto. Há aqueles que foram provocados e depois de muito resistirem, comentem o ato extremo. Há ainda aqueles que nem resistiram, mas se arrependeram logo em seguida. Se a pessoa conseguir invocar dentro de si a felicidade, como ela poderá ser ruim? — Disse ele balançando a cabeça, perdido nos próprios pensamentos. — A felicidade verdadeira está nas mãos de cada pessoa, e você não tem ideia do quanto ela é libertadora. Mas infelizmente, há uma certa crendice que a felicidade sempre está nas mãos dos outros, quando na verdade, está nas nossas próprias.

Aquiesci para ele e continuamos a caminhada comigo meditando sobre a felicidade estar em nossas mãos. Não sei se eu concordava com essa parte em especifico. Será que não conta o fato de que muitos problemas que nos tornam infelizes geralmente são proporcionado por terceiros? Ou será que ele quis dizer que dependia de mim e de cada um enxergar o problema com naturalidade e fazer dele um ponto a nosso favor? Seja o que fosse, eu ainda questionava a validade da felicidade depender única e exclusivamente de cada pessoa.

Andamos mais dessa vez, e então paramos algumas portas depois, num local um tanto quanto estranho. Não tinha placa alguma.

— Que local é esse?

— Aqui são aqueles que querem voltar para o corpo deles independente do preço que terão que pagar. — Explicou-me. — Veja por si mesma.

E então eu tomei coragem e abri a porta.

Era como se eu estivesse entrando num grande tribunal com direito a réu, juiz e promotor. Tinha uma fila de pessoas esperando para fazerem sua apelação. E diante deles, um homem que mais agia com ponderação do que com condenação.

— Eu tenho que voltar para minha vida. — Uma mulher de cabelos longos dizia. Ela me parecia uma indiana. — Minha família, filhos e marido precisam de mim. Eu sou a única que consegue fazer a comida que ele gosta. Ninguém mais consegue acertar no tempero. — A mulher insistia desesperada.

— Senhora, eu entendo. Só quero que compreenda o preço que vai estar pagando ao voltar para seu corpo. Ele não tem mais condição de aceitá-la com dignidade. O acidente na autoestrada mutilou muitos órgãos, e seu corpo perdeu as pernas e um braço. Entende o preço que isso custa a senhora e aos que estarão convivendo contigo?

— Eu entendo, e mesmo assim quero. — A mulher insistia. — Se não tenho braços ou mãos, posso muito bem orientar. De qualquer modo, serei eu que estarei no comando da cozinha e da casa.

— Se quer. — O “juiz” respondeu com pesar. Um clarão tomou o local, e ela já não estava mais lá.

Respirei fundo por aquela mulher. Será que ela não via que ao invés de estar ajudado voltando ao comando da cozinha e da casa, ela estaria deixando todos loucos tendo que cuidar dela e ainda por cima recebendo ordens?

Claro que eu tinha bons motivos para me colocar na pele daqueles que iriam cuidar dela. Essa era a minha vida até então. Quantas vezes eu sentia vontade de arrancar meus cabelos sem saber se eu acudia a casa ou se cuidava da minha mãe? Quantas vezes eu me desesperava porque minha mãe ordenava que uma coisa fosse feita, sem entender todas as questões complexas envolvidas por trás daquela ação?

Como da vez que ela queria que eu providenciasse a nossa mudança para outra cidade, sem se atentar ao fato que mudanças geram gastos e necessitasse de muitos braços e eu só podia contar com o meu. Além da nossa finança estar muito comprometida para simplesmente fazer uma mudança desnecessária e que acarretarias mais gastos que benefícios.

Logo em seguida, um homem se levantou. Parecia ser alguém rico e de influência.

— Tenho negócios para finalizar. Ainda essa semana tenho que acertar um acordo bilionário. Não posso deixar no meio as coisas. Meus filhos são imaturos e não sabem valorizar o império que construí. Tenho que voltar. E tenho que voltar agora.

— O seu corpo sofreu um grande derrame. Os danos cerebrais impedem que você tenha capacidade de falar, andar, ou até mesmo absorver os acontecimentos externos como antigamente você fazia. Mesmo que você volte, entenda que você não conseguirá fechar esse negócio. Você sequer será dono se si mesmo.

— Você mente para mim. Eu sei muito bem do que sou capaz e do que não sou. Tenho certeza de que conseguirei me recuperar. Meu dinheiro pode pagar os melhores médicos e em tempo recorde, estarei deixando muita gente de boca aberta.

Novamente o homem estava pesaroso, e com um suspiro, o clarão tomou conta do local, levando consigo o homem de negócios.

— Fico pensando... — O homem grisalho ao meu lado meditou em voz alta. — Você não gostaria de voltar?

Olhei para ele demoradamente.

Eu sabia bem o preço que se paga. Minha mãe tinha voltado milagrosamente de três AVCs nos quais ela deveria ter morrido, segundo o médico. Vendo o que acabara de ver, podia até visualizar minha mãe negociando sua volta alegando que eu era filha única, tios ausentes e pai alcoólatra, e que necessitava da presença dela.

O detalhe foi que nós duas pagamos o preço. Eu não pude seguir com minha vida como todos os jovens fazem. Fiquei presa dentro de casa cuidado dela do mesmo modo que se cuida de um bebê. Durante anos, minha compaixão tinha sido o suficiente para que eu enxergasse a dificuldade que ela enfrentava, bem como a humilhação por depender de outros, e isso era colocado em primeiro lugar. Acima até da minha felicidade. Mas no último ano, minha compaixão já não era suficiente. O fardo estava pesado demais. E mesmo que meu lado racional dissesse que eu deveria me manter calma, meu lado emocional gritava e não aceitava mais aquela situação. Eu estava desejosa de alçar voo: sair, namorar, me divertir.

Então, não. Eu não queria voltar. Eu não queria pagar aquele preço e nem fazer ninguém pagar junto comigo. Eu não queria a humilhação de depender de outros para comer, escovar os dentes, pentear o cabelo ou até mesmo secar minha urina ou me limpar depois que eu evacuasse.

— Não. Muito obrigada. — Falei ao homem com voz azeda pela proposta que, aos meus ouvidos, soava indecente.

— Você é jovem, não é? — Acenei com a cabeça concordando, ainda relutante por causa da proposta recém-feita. — E mesmo assim, não quer voltar? — Neguei com a cabeça. — Seu corpo não sofreu tanto dano. Nesse momento, paramédicos ainda estão tentando reanimar seu corpo que se encontra perto do barranco. Com um pouco de fisioterapia, em um ano você estará bem novamente.

Pensei sobre aquilo. E compreendi que o fato de não querer dar trabalho aos outros era apenas um detalhe na grande equação.

— Não tem nada me esperando lá. Não tenho marido ou filho. Já estava cansada demais para continuar vivendo e lutando.

— Mas pode ser que você ainda consiga ser feliz. Talvez consiga filhos, um esposo amoroso. Talvez ainda tenha tudo que sempre sonhou. — Ele me garantiu.

— Talvez?

— Na terra tudo se conquista. O que vem de graça não tem valor.

Eu concordei com um movimento da cabeça. As pessoas tendiam a não valorizar aquilo que vinha facilmente nas mãos delas.

— Preciso pensar. — Respondi com hesitação.

— Temos ainda algum tempo. Quer conhecer mais uma casa? — Ele propôs.

Acenei com a cabeça.

E então passamos por quase dez portas, até que paramos numa que me assustou. Casa dos Suicidas.

A porta era na verdade uma cortina de miçanga. Dentro dela eu vi pessoas com pulsos cortados, outras com furos pelo corpo, e outras trêmulas. Não precisava ser um gênio para saber que todas ali tinham encontrando um modo inusitado de tirar a vida.

Parte do meu cérebro se perguntou o que aquelas pessoas que estavam suplicando para voltar aos seus corpos, mesmo pagando muito caro, diriam sobre esses que tinham feito de tudo para tirar a vida.

Ninguém falava naquela sala. Todos estavam com o olhar desiludido. A falta de esperança estava em cada face, em cada postura. Aquilo estava me deixando abatida. Um flash back, agora amargo, vinha à minha mente. Saí daquela casa sem nem mesmo olhar para trás. À minha frente, havia outra casa. Novamente sem nome.

Mas era nítido que ali havia um hospital. Muitos médicos transitavam ali entre as camas, e ministravam remédios e diziam palavras de conforto. Não precisei falar nada, apenas olhei para o homem grisalho com uma pergunta em minha feição.

— Aqueles que sofreram muita doença em vida, como aqueles que vão sofrer ao voltar para seus corpos, precisam de um tempo aqui. Precisam se recuperar para depois seguirem seu caminho. Como sua mãe. — Respirei fundo. E então sua face era urgente ao se dirigir a mim. — Está na hora. Qual a sua decisão?

Uma pergunta nublou meu pensamento. Conforme a resposta fosse dada, a minha decisão seria formada. Dessa resposta dependia minha escolha.

— Existe reencarnação e carma?

Ele me olhou profundamente antes de responder.

— Existe reencarnação. Mas não carma. Os sofrimentos e as alegrias são fruto da sua decisão, da sua atitude e também da decisão e da atitude dos que estão à sua volta. Ninguém é isolado. Do mesmo modo que sua decisão afeta a vida de pessoas, a decisão de outras pessoas pode afetar a sua.

Então eu realmente não iria querer voltar. Os sofrimentos que eu tinha enfrentado na vida por causa dos outros, e por cuidar da minha mãe, ainda estavam entranhados dentro de mim. Só em pensar em voltar, um grande cansaço emocional me atingia. Eu simplesmente não estava preparada para enfrentar seja lá o que fosse que me esperava na vida da terra. Não estava preparada nem para lutar para ser feliz.

Se havia reencarnação, eu podia deixar lá para frente. Em outra era, outro tempo, para poder voltar. Quem sabe até lá eu não estivesse bem para voltar e tentar algo, ainda mais agora sabendo que eu não seria obrigada a passar por tudo para poder ajustar alguma conta de sofrimento ou felicidade como se reza a crendice do carma.

— Vou ficar aqui. — Respondi com firmeza.

— Viu alguma casa que lhe agradasse? — Perguntou ele sem criticar a minha escolha de não lutar pela vida, mesmo sabendo que com um pouco de fisioterapia em um ano eu ficaria perfeita.

Balancei a cabeça negativamente.

— Eu nunca acreditei realmente em algo depois da morte. Sempre respeitei, mas nunca acreditei nessas teorias e crendices. E não vi nenhuma casa que se encaixasse na minha visão de vida. — Dei de ombros.

Ele sorriu para mim.

— Tenho então um bom local para você.

E então era como se o corredor estivesse andando debaixo dos nossos pés. As paredes corriam ao nosso lado. Não demorou mais que dois segundos, e então eu parei numa porta simples. Algumas pessoas estavam lá dentro com um homem vestido de branco. Ele parecia um professor. Mas ele não falava muito. Alguns liam livros, outros jornais, outros ainda ficavam fitando o nada.

Procurei pelo nome da casa e li a palavra agnóstico.

Sorri.

Era perfeito para mim e me descrevia bem. Claro que também isso revelava que como os outros, eu não estava preparada para ver a verdadeira verdade. E isso fez com que eu pensasse se tudo que eu tinha visto até agora não era apenas uma crendice da verdade que eu inventei sem perceber.

— Fique à vontade. Quando você estiver preparada virei buscá-la. Aquele homem é um mentor. Qualquer dúvida, ele irá ajudá-la a esclarecer tudo.

— Obrigada por ficar todo esse tempo comigo. Sei que não fui a única que morreu naquele local...

Ele sorriu para mim, como se estivesse curtindo uma piada interna. E depois vendo minha confusão, ele explicou.

— Essa é a maravilha de ser onipresente. Posso orientar mais de um filho ao mesmo tempo.

Acenei em compreensão.

— Posso te perguntar uma coisa? — Perguntei indecisa.

— Claro.

— Qual o seu nome?

— Não tenho nome. — Ele respondeu e se apressou em continuar quando eu fiquei confusa. — Tem gente que me chama de Cristo. Mas na verdade Eu Sou Quem Sou. Apenas isso. — Levantei apenas uma sobrancelha para ele, devido a explicação embolada. — Nem definição sexual eu tenho. — Ele falou dando de ombros. Abri bem os meus olhos para a última parte. — Eu apareci nessa forma, porque você sempre sentiu falta de uma figura paterna. Para alguns, nesse momento, sou uma mulher negra, para outros sou asiático. — E depois ele riu um pouco. — Para um homem que acaba de morrer, sou uma vaca. — Ele falou rindo alto do fato que ele acabara de dizer.

E então com um sorriso, ele tinha sumido. Entrei na casa dos agnósticos e logo me senti como se realmente estivesse em casa. Eu tinha tomado a minha decisão. Eu tinha feito a minha escolha.




Carta ao Leitor

Caro Leitor,
Essa obra é totalmente ficcional criada a parti de um sonho. Desejo que aquele que ler compreenda que não há nenhuma intenção de criticar, denegrir ou difamar nenhuma religião ou visão mística. Bem como não há nenhuma intenção doutrinar ninguém em crença alguma. Aos que conhecem minha vida, sim, a história baseia-se no período mais doloroso dela. Muita da minha realidade está mesclada com a parte ficcional. Então recomendo que não tire conclusões precipitadas.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

O “difícil” equilíbrio entre a amizade e o profissionalismo



Na minha última postagem citei um fato interessante. Passamos mais tempo com as pessoas do trabalho que com a própria família. Em alguns casos, eles chegam a ser tornar mais significativos e presentes que nossos entes queridos.
Não é falta de humanidade essa ocorrência, muito menos uma priorização distorcida. A verdade é que estamos em uma era que está nos ensinando a agregar, unir.
Engatinhando como bebês nessa onda milenar de conectividade e globalização, temos que aprender que tudo faz parte do todo. E claro, antes de vir o equilíbrio, experimentamos os extremos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Meu Príncipe Encantado é Gay

Eu estava perplexa. Na verdade, eu nem sabia se perplexa era a palavra que conseguia abraçar plenamente o meu estado agora. Nesse momento, não existem pessoas ao meu lado. O meu príncipe encantando não parece estar na minha frente. E muito menos a música da Lady Gaga está cantando alto no meu ouvido.
— Querida, por favor, não fique assim. — Pedia Diego segurando a minha mão. — Eu só achei que não dava mais. — Choramingou. — Fale alguma coisa. Diz que me odeia, sei lá. Bate em mim, mas não faz assim.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Romance no ambiente profissional: uma grande dor de cabeça ou uma conseqüência?


“Onde se ganha o pão não se come a carne”.
Eita ditado antigo. E um dos melhores que já vi até hoje. O detalhe é que poucas pessoas tem o real conhecimento do significado por trás dessas sábias palavras.
Talvez você, querido leitor, em sua precipitação primária irá dizer em pensamentos bem irônicos para a minha pessoa, que a tradução dele é simples: não tenha um relacionamento no seu ambiente de trabalho. E eu te digo, que você está certo. Sim, certo. Você estará certo desde que não tenha um pensamento maduro ou se envolva com alguém sem um pingo de maturidade.
Lamento te informar, mas você VAI encontrar alguém que te desperte o coração e os desejos exatamente no ambiente que você MAIS frequentar. Se você é como a média das pessoas que conheço, deve trabalhar boa parte do seu dia, ir na academia (esse habito geralmente é para os heróis, seres quase raros), e ter um churrasco esporádico com os amigos. Traduzindo: ou você irá encontrar alguém no seu serviço, ou na academia, ou entre algum convidado penetra que seu amigo levar para o churrasco.
Percebam que não estou contabilizando as tão famigeradas baladas.
Gente, preconceitos a parte, e exceções mais a parte ainda, dificilmente o amor da sua vida estará lá. As baladas de hoje em dia resumem-se ao desejo primário. Aquela sede que se mata com algo superficial. Você não conhece a pessoa, seus pensamentos, seus ideais, seus medos e traumas, suas reações diante da vitória e principalmente diante da derrota. Você não conhece essa pessoa que você paquerou, beijou, levou para cama.
“Mas o meu caso virou namoro. Acabou, mas virou!”
Aí eu te pergunto: Porque acabou?
Nem precisa responder. Vocês em algum momento descobriram que são diferentes demais e não puderam suportar isso, ou constataram que não valia a pena investir numa relação tão discrepante. Certo?
A você, que a relação foi longe e está durante até hoje, eu digo, parabéns. Seu cúpido deve ser um SEAL.
Relacionamento de verdade, aquela que não é apenas um passatempo para seus tios pararem de cobrar de você sua solteirice, é construída aos poucos. É como uma semente: você planta, rega, cuida, vê crescendo e se você se dedicar bastante, irá colher frutos. Como cada pessoa tem seu tempo, a colheita vai depender de cada um.
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Isso me remete a outro ditado:
“Quem come a carne, rói o osso”.
Você tem todo direito em escolher alguém pelos lindos olhos, pela altura, pelas posses financeiras, pelo tom de pele, pela forma como se veste, pelo cheiro... E por aí vai sua gama de fatores na escolha do par ideal.
Mas depois da escolha da carne, virá o osso. As vezes essa pessoa é perfeita, mas adora ir em todas as festas da cidade. E poxa, você ama ficar em casa. Que coisa, não? O osso está ficando pouco saboroso?
As vezes a pessoa tem o cheiro que te enlouquece, mas odeia trabalhar ou só trabalha porque a sociedade o obriga. Mas se você for acompanhar ele no dia-a-dia a única coisa que ele quer saber é de Netflix e vídeo game. Que osso, não?
A pessoa tem posses financeiras a torto e a direito, mas trata todo mundo como se fossem lixo, incluindo você. Tem certeza que isso é um osso? Está quase me parecendo um esqueleto inteiro!!!
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Você é o perfil certinho: pensa antes de fazer, planeja, executa. Trabalha pelo dia de amanhã, luta pelos ideais. Daí escolhe uma novinha toda linda, loira dos olhos verdes, corpo impecável, mas que só quer saber de um dia de cada vez. Que carne! Que osso!
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Entende o porquê estou dizendo que infelizmente você não vai encontrar o amor da sua vida numa balada? Entende porque eu digo que muito provavelmente você vai encontrar o amor da sua vida no trabalho? Sim, meu anjo. No trabalho.
Uma vez uma amiga minha disse que o trabalho é uma segunda família. Ela se referia ao fato que passamos mais tempo com a pessoa com que trabalhamos que com nossos familiares.
E é nessa história de passar mais tempo com a pessoa do seu trabalho, que eu afirmo que você irá encontrar o amor da sua vida no trabalho. É lá que você vai encontrar alguém e ter tempo de observar essa pessoa. É lá que na despretensão de estar apenas trabalhando você irá identificar tudo aquilo que realmente você quer para a sua vida.
Não vou dizer que exista carne sem osso. Isso é mentira. Mas existe osso que você não vai se incomoda tanto em roer. Você pode encontrar alguém que desperte todos os seus sentidos, onde sua presença faça surgir borboletas no seu estômago e uma corrente elétrica pelo seu corpo que tire toda a sua coordenação motora. Mas você não vai gostar da mania dele de pôr panos quentes em tudo, embora seja algo tolerável e até te ensine a ser menos impulsiva.
A carne será do jeito que mexe contigo, mas o osso, não. Claro que cada pessoa se incomoda com alguma coisa diferente. O que é osso para mim, pode ser carne para você. Acontece que existe osso que te ensina a ser alguém melhor e existe osso que machuca: em seus princípios, em seu jeito de viver.
E nenhum lugar melhor para conhecer alguém, para avaliar não apenas a carne, como o osso, como aquele que te consome praticamente todo seu tempo. Está na escola? Você provavelmente vai encontrar lá. Está na faculdade? Adivinhe? Trabalhar o dia todo? Passa muito tempo na academia?
Só que aí vem a maturidade e finalmente voltamos ao ditado inicial:
“Onde se ganha o pão não se come a carne”.
É preciso maturidade para entender que independente das emoções, você precisa ter comprometimento. Foi no trabalho que você encontrou aquela pessoa que mexe contigo? Saiba que há hora para trabalhar e hora para estreitar relações. Foram para a cama, mas a química não fluiu? Tenha maturidade em não denegrir a imagem do outro com comentários pejorativos sobre o desempenho, tamanho ou iniciativa. A relação está fluindo? Que bom. Assumir publicamente é o próximo passo. Como diria Luan Santana: “Amar não é pecado”.



Assumir a relação não significa ficar se pegando na hora do serviço, ou se ignorarem como completos desconhecidos. É saber que vocês têm que ser profissionais na hora de ser pão e tem que ser um casal na hora da carne.
Esse é o real sentido desse belo ditado. Onde se ganha o pão, não é hora de se comer a carne. Mas isso não significa que você não vá conhecer a carne lá. E muito menos que vocês não devam se permitir estreitar a relação. Desde que não seja no local onde se ganha o pão.
Salomão também criou um ditado: Há hora para tudo.
No caso, há hora para ganhar pão, há hora de se comer a carne.
E mesmo se a relação acabar, é preciso ter maturidade para além de não comentar com os colegas de serviço os “defeitos/osso” do outro, continuar sendo profissional. Sabe aquela história de terminar o relacionamento e continuar a amizade? Ela é um ideal lindo e traduz toda a maturidade de uma pessoa. E mais que maturidade, é o caráter. Por mais que não tenha dado certo, por algum tempo te fez feliz. E a felicidade deve ser tratada com o maior grau de gratidão possível, incluindo preservar a imagem moral da pessoa que esteve contigo por um período.
Agora, se você ou a pessoa que está mexendo contigo não tem maturidade de saber assumir e manter a discrição da intimidade de vocês, realmente, continue interpretado o ditado como você sempre fez. Do contrário, abra sua mente e permita-se viver.
Se me permite engatar mais um ditado, eu te digo: “O cavalo arreado não passa duas vezes”. Talvez você esteja tão apegado a uma visão de vida, que esteja deixando sua felicidade passar. No caso, boa sorte para você. Não se esqueça que tudo que se planta, colher. E a gente sempre se deita na cama que arruma.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

CD2 Cap 37


Capítulo 37 - Um tempo para nós
Well I found a woman, stronger
Than anyone I know
She shares my dreams
I hope that someday I'll share her home
I found a love, to carry
More than just my secrets
To carry love, to carry
children of our own
We are still kids
But we're so in love
Fighting against all odds
I know we'll be alright this time
Darling, just hold my hand
Be my girl, I'll be your man
I see my future in your eyes
(Perfect – Ed Sheeran)

Visitas ao Amigas Fanfics

Entre a Luz e as Sombras

Entre a luz e a sombras. Confira já.