sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Sobre o Filme Lucy - Especial para Carpe Librum





Esta não é uma resenha. Atendendo a pedidos do grupo Carpe Librum, trata-se de uma análise sobre o final da história e demais aspectos que possam ter ficado confusos para alguns. Esteja avisado, portanto, caro leitor, que é um texto para quem já assistiu ao filme. Se continuar a ler, está por sua conta e risco.

Dito isso, venha comigo pelos caminhos dessa história fantástica e sinta-se à vontade de deixar opiniões, críticas e fazer acréscimos à minha interpretação. Assim, teremos uma discussão interessante ao invés de um monólogo.

Para começar, esqueça por um momento a noção que você tem de Deus como um ser individual, como uma coisa discernível das outras. Pense Nele como uma força que está presente em tudo, mas em tudo mesmo, até nas coisas que você julga desagradáveis. Por exemplo (e aqui eu pego emprestada uma fala do filme Jovens Bruxas, só que adaptada, hehe): se o Bem e o Mal estivessem jogando futebol, Deus seria o estádio, a bola, os jogadores e a torcida. Lembre-se de que os mesmos tipos de átomos compõem toda matéria (o ar, a água, a terra, as plantas, as pessoas, o esgoto...). A grosso modo, é apenas uma questão de como estão arranjados. Assim, a presença de Deus é o que todas as formas da matéria (seres vivos e todo o resto) têm em comum. Pois bem, se Deus está em todas as coisas, ele é Onipresente. 

E estando em tudo, está também nas regras que regem o universo. Se Ele é o jogo, o estádio a bola e os jogadores, é também as regras desse jogo. Todas as leis da física, da quimíca, da matemática, tudo o que explica os processos que tornam a vida possível; enfim, todos os "segredos" do universo; tudo isso também é Deus, que é, portanto, Onisciente.

Acho que não é difícil, a partir daqui, concluir que Deus, estando em tudo, e conhecendo tudo, pode também fazer tudo, o que O torna Onipotente. Para Ele, não existem limites no tempo, no espaço ou em como a matéria pode ser alterada, porque tudo isso faz parte da mesma "coisa". Deus é o todo do qual somos as ínfimas partes.

Ok. e o que isso tem a ver com Lucy?

Hum... 

Bem, bem, dentro de cada um existe uma máquina maravilhosa chamada cérebro. Dizem por aí que usamos apenas 10% do potencial dessa máquina. E olha quanta coisa fomos capazes de fazer com esse pouquinho! Quanto mal, mas também quanto bem. Quanto conhecimento já desvendamos e quanto já aprendemos sobre nós mesmos. Fomos capazes de criar coisas que preenchem quase todas as lacunas do que o nosso corpo não é ainda capaz de fazer, e estamos indo cada vez mais longe. Pense na distância que percorremos desde os primeiros hominídeos. Desde o fóssil mais antigo, apelidada pelos cientistas de Lucy e participação especial no filme (a "macaquinha", para quem não percebeu), e os dias atuais, onde encontramos a nossa Lucy linda e loura. 

Quanto mais o conhecimento humano avança, maiores se tornam as possiblidades. Se fizemos tanto com 10%, dá para imaginar o que faríamos com 20, 30... 100!? Pois temos a chance de imaginar quando a droga transforma as células da Lucy e liberta, gradativamente, o potencial de seu cérebro.

A primeira coisa que acontece é que ela entende o funcionamento do próprio corpo, o resultado e o rendimento de seus movimentos, tornando-se assim uma lutadora ágil. Depois, naquela cena tão bonita em que ela liga para a mãe, as barreiras que mantêm as memórias guardadas caem, e ela se torna consciente de todas elas, de tudo o que já sentiu. Assim, ela tem uma breve noção do todo que é sua vida, e, por um momento, as partes começam a parecer irrelevantes. Como quando você se forma e todos os dias de tédio ou sacrifício não parecem tão ruins assim, porque você tem a visão do resultado deles, que é seu diploma. Só que o todo precisa de suas partes. Se você pudesse mudar ou eliminar qualquer dia de sua vida, sua experiência, seu todo, seria inteiramente diferente. Então, quando parece que Lucy não está sentindo nada, ela está é sentindo tudo de uma só vez.

Isso faz com que ela vá se tornando cada vez mais sensível em relação ao mundo ao seu redor, sua percepção aumenta e ela aprende com velocidade. À medida que o cérebro dela vai se expandindo, mais conhecimento ela absorve e fica mais próxima da onisciência. Quanto mais onisciente ela se torna, mais onipotente também, entendendo a matéria a ponto de dominá-la. (É aquele momento em que a gente acha que ela absorveu os poderes de todos os X-Men.)


Por fim, as barreiras de espaço e tempo começam a cair também, quanto mais ela chega perto dos 100%. Aquela cena bizarra dela se "desfazendo" no avião é o começo desse processo, porque é quando ela começa a entender que toda a matéria é a mesma, que tudo é composto pela mesma coisa. Nossas células mudam lentamente, conforme o tempo passa, até morrerem e nosso corpo se tornar outra coisa, outro tipo de matéria (como diria Lavoisier, "nada se cria, tudo se transforma"). Mas com Lucy o processo acontece rapidamente, e a passagem do tempo se torna ainda mais relevante para a existência dela do que pode parecer para os normais.

Ela passa a entender o tempo, ter consciência dele. E a noção do todo que ele representa permite a ela viajar através de suas partes. Nessa hora, nós a vemos em várias épocas, inclusive encontrando-se com a Lucy-ancestral, que é a versão da ciência para a Eva da Bíblia, e quase tocando-a, numa referência clara ao afresco de Miquelângelo, aquele em que Adão tenta alcançar Deus. (Adão/Eva, Deus da Cristandade/... Visualize meus dedos em L girando enquanto espero você fazer a relação.)


Seu entendimento do tempo e do espaço permite que ela controle a "irrelevância" de seu invólucro físico em um determinado ponto, até chegar ao 100% e conseguir dominar tão completamente a matéria de que é feita, que consegue transformar seu conhecimento em algo de que os cientistas podem usufruir. (Aquele "pen-drive" que resulta do "download" dos conhecimentos dela para o "computador" em que ela transforma seu cérebro.)

E então, finalmente, o momento que deixou vocês confusos: Lucy desaparece, mas não morre. Uma mensagem aparece no celular do policial onde se lê: "Estou em toda parte." E aí você ficou lá com aquela cara de "ué" e saiu do cinema dizendo que o filme é um lixo. Bem, aprenda, padawan (sim, no meu blog eu sou Jedi. Problem?), não é porque você não entendeu que o negócio é ruim. Então vamos lá entender.

Agora eu convido você a voltar ao começo longínquo deste post. Quem é o ser que é onipresente, onipotente e onisciente? Quem é que está em toda parte? É. Então. Lucy absorve todo o conhecimento que existe e se torna algo muito mais do que humano, algo divino. A metáfora é clara: Deus é conhecimento. Simples assim. Quanto mais sábios somos, mais nos afastamos das questões mundanas, de nossa condição humana, imperfeita e transitória, e mais nos aproximamos do que é divino e permanente.

Deus é o 100%. E nosso cérebro guarda esse potencial. Somos as partes, mas temos o todo dentro de nós. É por isso que aquelas células embrionárias aparecem se reproduzindo no começo do filme, representando a formação de um novo ser-humano, e, no fim, a cena se inverte, mostrando as células voltando àquela única célula inicial. É para dizer que cada parte guarda o todo dentro de si. Se você é uma pessoa de fé, é como provar que Deus mora dentro de nós. Para quem tem uma visão mais científica, acho que dá para comparar com o Big Bang. Mas eu ainda não atingi porcentagem suficiente para falar sobre isso, então fico por aqui.

"We never really die." - Lucy

PS: Assista também ao filme Sem Limites, com Bradley Cooper. É o mesmo tema, mas com uma abordagem bastante diferente. Se gostou do assunto, fica a dica.

Fonte: http://mairazp.blogspot.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentem e façam uma Autora Feliz!!!

Visitas ao Amigas Fanfics

Entre a Luz e as Sombras

Entre a luz e a sombras. Confira já.