sexta-feira, 8 de março de 2019

CD2 Cap 38


Capítulo 38 – Contra Todas as Probabilidades
How can I just let you walk away
Just let you leave without a trace?
When I stand here taking every breath with you, ooh ooh
You're the only one who really knew me at all

How can you just walk away from me
When all I can do is watch you leave?
'Cause we've shared the laughter and the pain
And even shared the tears
You're the only one who really knew me at all

So take a look at me now
Well there's just an empty space
And there's nothing left here to remind me
Just the memory of your face
Ooh, take a look at me now
Well there's just an empty space
And you coming back to me is against the odds
And that's what I've got to face
(Against All Odds – Phil Collins)
Peg

A conversa na fila do escorregador parecia animada e, pelo jeito, o responsável pelas risadas era meu menino, já que as outras crianças se reuniam em torno dele. John era assim, “um bom O’Shea”, como diria Kyle, o tio babão. Por onde passava, seu carisma cativava amizades instantâneas.
Aparentemente chegando a algum tipo de combinação estimulante, ele estendeu a mão para o alto recebendo vários toques em sua palma, num cumprimento que tinha aprendido com Jamie e que eles chamavam de “high five”.
— Mãe, mamãe — chamou, correndo até o banco do parque onde eu o esperava. — Podemos comprar um sabor diferente de sorvete pra cada um dos meus amigos? Vamos juntar tudo e fazer um piquenique!
— Claro! — respondi, checando com minha visão periférica o homem sentado ao meu lado fingindo não prestar atenção. — Mas vou precisar que pelo menos alguns de vocês venham comigo até o sorveteiro. Ou não vai dar pra carregarmos... quatro, cinco...
— Sete sorvetes — o homem completou, dirigindo-nos um sorriso discreto. — Eu posso ajudar, se quiserem.
— Legal! O senhor também vai querer participar do piquenique de sorvete? E você, mamãe?
Esperei que o homem respondesse ao convite antes de mim. O azul muito escuro dos olhos dele adquiriu um brilho divertido.
— Obrigado, amigo. Mas estou indo trabalhar na limpeza do bairro daqui a pouco. De qualquer jeito, acho que por agora você tem amigos o bastante com quem dividir.
— Nããão! — John negou veementemente, estendendo o som para acentuar o protesto. — Sempre cabe mais gente. 
O homem gargalhou e seu rosto ganhou um ar jovial que reconheci com súbita ternura, satisfeita em perceber que, apesar do jeito sério acentuado pelos fartos cabelos grisalhos, sua expressão jamais parecia manter-se austera. A simpatia que ele me despertava era inegável e imediata cada vez que sorria, mas evitei pensar nisso, da mesma forma que tentava evitar qualquer antecipação ultimamente. Se eu podia contar em ter aprendido alguma coisa, era que tudo seguia seu próprio fluxo, alheio a previsões.
Depois de dizer que aceitaríamos a ajuda do “estranho” gentil, nós três atravessamos até a outra calçada do parque, onde estava o sorveteiro. Sorrateiramente, lancei um olhar para o furgão estacionado próximo, mas Ian não estava em nenhum lugar visível, então apenas me concentrei na tarefa presente, tentando manter a cabeça fria.
— Vou esperar o papai chegar para tomar o meu sorvete — disse a John. — Ele vai querer companhia para tomar o dele, não acha?
— Aham, sim. Você acha que meus amigos esperam?
— Não precisam. Ou o de vocês vai derreter.
— Com certeza — nosso novo amigo confirmou, lambendo um pingo que tinha escorrido pelas costas de sua mão.
Com um gesto amplo, ele sinalizou para que o seguíssemos e, quando chegamos ao banco onde estivéramos sentados, as crianças estavam todas à espera e se dispersaram rapidamente com risinhos e agradecimentos, indo se sentar em círculo sob uma árvore próxima, passando os cones de sorvete de mão em mão.
— Você tem uma criança adorável — elogiou. — E acho que apesar do ritmo acelerado, deve ser estimulante acompanhar — acrescentou segundos depois, rindo do fato de que John já tinha entregado o sorvete pela metade para um amigo e corrido para o escorregador de novo.
— John me faz sentir sortuda por tê-lo.
— Imagino. Todas as mães e pais com quem converso têm esse mesmo ar de deslumbre — disse de modo espirituoso. — Acho que compensa as preocupações, não é?
Assenti, sorrindo.
— As preocupações também são grandes. Mas não é nada comparado ao amor, certamente. O “ar de deslumbre” se justifica.
A resposta dele veio em um leve curvar de lábios apenas. Em seguida, os olhos de meu novo amigo fitaram o chão para, por fim, se desviarem dos meus, o brilho prateado fugidio seguindo o movimento de pessoas ao longe. Parecia que o assunto tinha se encerrado subitamente, mas resolvi me arriscar mais.
— Você tem filhos?
— Não — ele respondeu de pronto. Uns poucos instantes se passaram antes que completasse, ainda sem olhar para mim: — Ele tinha dois, meu hospedeiro. Mas faz muitos anos que não os vejo — falou, finalmente voltando a me encarar com uma expressão séria que não dava a entender muita coisa.
— Muitos laços familiares se romperam quando chegamos. Não houve identificação entre as Almas, então elas simplesmente... — Dei de ombros, tentando aparentar alguma impassibilidade. — Cada um foi para um canto, acho. Foi o que ouvi dizer.
— Hum — ele concordou concisamente. Quer dizer, era tão lacônico que mal dava para saber se era concordância, mas deduzi que sim, da mesma forma que ficou claro que o assunto tinha chegado a outro beco sem saída.
Decidi por uma abordagem mais direta.
— Eu me chamo Peregrina. Qual é o seu nome?
Com um sorriso de lado que emoldurava sua beleza madura, o homem me respondeu, parecendo ligeiramente envergonhado e divertido ao mesmo tempo.
— Seu nome diz muito sobre você, viajante. Acho que esse é o propósito, afinal. Eu era do Planeta dos Ursos e quase todos que conheço que vieram de lá mantiveram alguma relação com a palavra gelo em seus nomes. Tem uma sonoridade bonita nesta língua[1]. Mas a única coisa que me vinha à mente quando eu tentava pensar em algo era o apelido pelo qual todos me chamavam quando cheguei. Você sabe, eu sou de uma das primeiras levas...
— E logo no começo, alguns tiveram que passar por seus hospedeiros — completei.
— Sim — ele confirmou meio constrangido. Então me estendeu a mão em cumprimento. — Pode me chamar de Paddy.
— Muito prazer, Paddy. — Sorri.
Ele voltou a observar as crianças, distraído, e deixei o momento passar, tentando não apressar nada, mas isso custou aos meus nervos. Talvez eu tenha imaginado esta parte, mas quase pude sentir o olhar de Ian às minhas costas, questionando em que passo eu conduziria as coisas agora. Ou quem sabe fosse minha própria ansiedade que eu tentava controlar.
— Sabe, meu companheiro, o pai de John, vinha muito aqui quando era criança. Os pais o traziam com o irmão. O lugar preferido dele também era o escorregador gigante.
O perfil de Paddy se alterou ligeiramente. O breve sorriso que ele tinha nos lábios quando comecei a contar a história se desfez e sua testa se franziu um pouco. Ele me olhou nos olhos sem dizer nada, depois olhou para John. A risada alta do meu garoto preencheu nossos ouvidos enquanto ele corria com as outras crianças e então ele parou e apoiou as duas mãos nos joelhos, tomando fôlego. Exatamente como Ian fazia quando brincavam de pega-pega.
— Não — ele soltou um riso de desdém, balançando a cabeça. — Estou imaginando coisas.
Mesmo assim, diante da própria negação, seu corpo se virou inteiro para mim, prestando atenção total, como se não fosse uma afirmação, mas uma pergunta que ele me fazia. Senti que precisava responder sem rodeios, por mais que tivesse lutado para ser cuidadosa até aqui.
— Não, Paddy, você não está imaginando coisas — respondi séria, ousando colocar minha mão sobre a dele. — Trago notícias.
Espantado, ele olhou do meu rosto para nossas mãos, e depois de volta aos meus olhos.
— Quando ouvi dizer o que faziam com hospedeiros resistentes... — a expressão dele era comovida, à beira das lágrimas. — Eles fugiram e eu tive medo porque nunca voltaram. Se tivessem se tornado Almas, acho que teriam voltado. Então me perguntei se teriam conseguido sobreviver. Mas eu não sabia. Eu não sabia. Apenas fiquei esperando eles voltarem. — As palavras se despejavam fora de controle. Então ele virou a palma da mão para cima e apertou a minha. — Eles sobreviveram.
— Sim, eles sobreviveram. São humanos.
Uma lágrima fujona escorreu pelo rosto de Paddy antes que ele a secasse com a manga da camisa. E eu quase pude ver um peso invisível abandonar seus ombros enquanto ele assentia com a cabeça, sem a menor preocupação em disfarçar o alívio.
— Aquela criança — disse, apontando John com o queixo. — Ele tem os olhos de Alice.
— Assim como o pai dele — concordei. — Os de Kyle se parecem mais com os seus.
Ele sorriu por um instante, quase perdido em meio ao turbilhão, então finalmente pareceu colocar os pensamentos em alguma ordem.
— Onde eles estão? Onde estiveram esse tempo todo?
— Moramos no Arizona. Eles encontraram uma comunidade de humanos lá, logo no começo da ocupação. Foi assim que nos conhecemos. Eu cheguei até lá atrás da família de minha hospedeira, então encontrei meu lar em Ian. Não sou mais uma viajante, Paddy.
Ele sorriu à menção de seu comentário anterior e me analisou por breves segundos.
— Ian sempre foi o mais cuidadoso. O mais compreensivo e diplomático. Não me espanta que ele tenha pedido a você que viesse.
No primeiro instante, os elogios a Ian pareceram inocentes, mas o sorriso que Paddy me lançou em retribuição ao meu não lhe subia aos olhos. Então entendi as implicações do que ele dizia.
Justamente o que tínhamos previsto. E exatamente o que queríamos evitar.
— Paddy, eu não estou aqui como negociadora. Não vim pedir, de Alma para Alma, que você se submeta às retiradas. — Enquanto falava, percebi que meu toque parecia estranho, então soltei sua mão e ele a recolheu cuidadosamente, como se para não me insultar. Era quase como se estivesse desconfiado agora, me sondando inseguro sobre se aquilo era algum tipo de hábito humano que deveria aprender. Endireitei o corpo, numa postura mais familiar às Almas e ele imitou meu gesto. — Vim porque Ian e Kyle decidiram que não querem te pressionar de nenhum modo. Eles queriam saber de você e também queriam que soubesse que estão bem, mas não vão se impor. Se você não quiser vê-los, se preferir deixar tudo como sempre foi, eles vão respeitar sua decisão.
Paddy me ouviu com uma atenção lúcida e respeitosa, mas a última frase pareceu tirá-lo da espécie de transe não responsivo em que tinha entrado.
— Eles estão aqui!? Ian e Kyle vieram com você? — perguntou, olhando freneticamente ao redor.
— Ian virá se eu chamar — expliquei, omitindo o fato de que Ian estava a poucos metros, esperando no furgão, porque tive medo de que a proximidade inquietasse Paddy ainda mais. Eu ainda não sabia se ele estava com medo ou ansioso, mas de qualquer jeito, era importante que ficasse calmo. — Kyle está em missão de paz no Kansas, mas ele e Sunny virão para Portland se você quiser vê-lo.
— Kyle faz parte dos esforços de paz! — ele exclamou, surpreso e admirado quando confirmei. — E quem é Sunny?
— Luz do Sol Através do Gelo, a esposa de Kyle.
— Ele se casou com uma Alma!?
— Paddy — chamei pacientemente, pousando a mão em seu ombro desta vez. — Muita coisa mudou, os garotos de que você se lembra são homens maduros agora.
— Não tenho dúvidas disso, mas... — ele parou, deixando a frase pela metade. Então pegou minha mão em seu ombro e a segurou entre as dele. — Não estou fazendo um pré-julgamento. E preciso que vocês entendam que quero muito vê-los. Não tenho medo... Quer dizer, eu acho que não tenho medo do que isso me custaria. Só sei que não conseguiria me levantar daqui e ir pra casa sabendo que rejeitei a aproximação dos filhos de Patrick, porque... Eu sempre quis, sempre sonhei com isso. Mas não entendo como posso ser o suficiente.
Eu entendia. Dentre as Almas em nossa família, incluindo eu mesma, Paddy não era o primeiro e provavelmente não seria o último a lidar com essa sensação.
— Você se lembra de Jodi? — questionei.
—Jodi... — repetiu, franzindo o cenho. — Sim, eu me lembro. Era a namorada de Kyle. Há anos não pensava nela, mas Patrick gostava bastante da garota. O que houve com ela?
— O mesmo que houve com todos os outros humanos na vida dele, exceto por Ian — falei, e Paddy assentiu, compreendendo. — Anos atrás, quando Kyle descobriu que era possível retirar uma Alma de seu hospedeiro, ele raptou Sunny e a colocou em um criotanque enquanto esperava Jodi acordar.
— Céus! — ele murmurou, empalidecendo um pouco.
— Mas ela não acordou. E Kyle sofre a perda dela pela segunda vez. Isso quase o destruiu. Pelo menos até Sunny ser devolvida ao corpo.
— Entendo. Então ele ficou com Sunny para remediar a falta de Jodi?
— Não, é aí que eu queria chegar. Kyle se apaixonou por Sunny de verdade. A lembrança de Jodi se mantém, há muito amor e respeito por ela entre os dois, mas eles têm sua própria história agora. Sunny não é uma substituta, nem você seria.
De repente, o peso de nossa conversa parecia grande demais para carregar, e Paddy voltou a fugir dela concentrando-se nas crianças do parque. Deixei-o a sós com seus pensamentos por um instante excepcionalmente longo, durante o qual pude sentir uma aproximação familiar. Ian estava a alguns passos de nós e, virando o rosto para observá-lo, percebi a intensidade de sua expressão emocionada, dos olhos safira que brilhavam com lágrimas nascentes.
— Senti falta deles todos os dias — Paddy continuou sem perceber que tínhamos companhia. — Mas não tenho ilusões. Eles estão em todas as lembranças que guardo e que este lugar me desperta, mas eu não estou nas deles. É Patrick quem ocupa esse lugar de direito. E sei que eles foram embora por medo e fizeram muito bem em partir, mas fizeram isso porque amavam tanto o pai e o conheciam tão bem que nunca o enxergaram em mim.  Posso ser eu mesmo, como Sunny, e ter minha própria história. Minhas próprias lembranças. Mas temo que isso só faria bem para mim. Se já aprenderam a lidar com a dor da ausência de Patrick, se já seguiram adiante, não tem sentido serem lembrados o tempo todo de quem eu não sou.
Eu queria dizer que ele estava errado, que precisava dar a Ian e Kyle o direito de decidirem o que lhes traria mais dor, porque na verdade eles já haviam feito isso. Mas acabei guardando tudo em meu peito, porque agora Ian poderia dizer por si mesmo. Contudo, havia uma última coisa que eu precisava perguntar antes que ele assumisse a conversa, por isso fiz sinal para que esperasse.
— Essa forma de colocar o interesse deles acima dos seus é familiar para você, não é, Paddy? Não é a primeira vez que você age como pai.
— O que quer dizer?
— Você ficou dias convivendo com Ian e Kyle, tempo o bastante para chamar Curandeiros que ajudassem com a inserção, como mandava o protocolo. E quando eles finalmente fugiram, os Buscadores podiam tê-los alcançado se você tivesse feito o alerta nas primeiras horas da manhã. Mas você deu a eles tempo para ganhar distância, não foi? — arrematei, externando minhas suspeitas pela primeira vez, desde que Ian me contou melhor os detalhes e me mostrou o caminho percorrido por Portland. O Escritório Central dos Buscadores ocupava uma posição estratégica de saída para a rodovia. Segundo Logan me explicara, era praxe no começo das ocupações, justamente para facilitar a mobilidade.
— Eu me levantei mais tarde naquele dia... — disse Paddy, mas foi interrompido pelo sobressalto de uma voz que lhe devia ser familiar.
— Você fez isso? — perguntou Ian, contornando o banco e sentando-se ao meu lado, perto o bastante de Paddy para poder olhá-lo nos olhos, longe o suficiente para se proteger da intensidade das emoções dos dois. — Você nos ajudou a fugir?
— Não sei — o outro respondeu com uma expressão que misturava angústia, surpresa e ternura. — Pensei muito nisso, mas não tenho uma reposta.
— Teria sido mais fácil para você chamar os Buscadores. Era o que esperavam que fizesse, certo? — Ian insistiu e Paddy confirmou assentindo. — Você não teria ficado sozinho.
— Eu só dormi um pouco mais, demorei para perceber a ausência de vocês. Isso também é verdade.
Também é verdade — Ian repetiu, sorrindo. — Eu sinto muito, Paddy — disse, pronunciando o nome devagar, testando a dificuldade de chamar aquele corpo de outra coisa que não fosse “pai”.
— Sente muito? Mas pelo quê?
—Por ter fugido e deixado você sozinho. Por ter sido motivo de preocupação. Pela falta que você disse ter sentido ao longo dos anos.
Paddy hesitou, sem saber ao certo o quanto Ian tinha escutado.
— Vocês tinham que fazer isso — falou, resignado. — Não podia ser de outra maneira.
— Não, não podia. Mesmo assim, eu sinto muito. Você merecia ter tido uma família.
Paddy controlou a respiração, estudando a calma calculada de Ian como se soubesse tão bem quanto eu que aquele pedido estranho de desculpas era tão sincero quanto difícil.
— Nunca culpei vocês. Fui eu que nunca consegui me desligar. Apenas... fico feliz em saber que estiveram seguros todo esse tempo. E que são felizes.
— Kyle sempre quis vir atrás de você, mas eu tive medo. Não era seguro.
— Eu entendo.
— Eu devia ter vindo. Sempre me perguntei se você sentia nossa falta e, de algum jeito, sempre soube que a resposta era sim. Mas nós não estávamos prontos. Você entende isso, Paddy? Nunca foi sobre não ser capaz de gostar de você.
— Peregrina me contou sobre Jodi e Sunny. Está tudo bem, Ian.
Eu podia sentir o calor que o corpo de Ian emanava enquanto Paddy o encarava com olhos marejados e lhe assegurava com voz falha. Aquele era um momento difícil de mensurar ou definir, mas me parecia impossível que alguém pudesse passar por ele como se nada tivesse mudado. Por isso soava quase redundante o pedido que Ian fez em seguida.
—Kyle e eu conversamos muito e sabemos que não temos garantias de que não haverá sofrimentos. Mas temos certeza de que podemos amar você. No fim, a vida não é nada se a gente não se arriscar. Então eu peço, se você puder fazer isso, se for possível, que abra um espaço para nós em sua vida. Será que você pode?
Paddy ensaiou uma resposta, mas ela não veio de imediato. A voz parecia parada em sua garganta, estrangulada.
— Eu nunca... — esforçou-se para dizer. — Nunca achei que...
A frase ficou incompleta quando John se aproximou, barulhento e animado, saltando no colo de Ian.
— Papai, papai!
Então Paddy explodiu num choro silencioso, escondendo o rosto entre as mãos. Ian cochichou algo no ouvido de John e o colocou em meu colo, para então passar os braços em torno dos ombros que um dia haviam lhe amparado também, na figura de seu próprio pai.
Atrás de nós, um carro conhecido estacionou próximo ao meio-fio. Kyle saiu primeiro e Sunny apareceu logo depois, contornando rápido a partir do lugar do motorista para estar ao lado do homem que amava. Eu não sabia que eles estavam a caminho, mas devia ter previsto que Kyle não conseguiria esperar por um sinal positivo. De todo jeito, suspirei aliviada e feliz pela presença deles e sorri para ambos, tocando levemente o braço de Ian para que os notasse.
Como se já soubesse, Ian apenas encarou Kyle por sobre o ombro de Paddy e eles se comunicaram em sua linguagem silenciosa de irmãos e cúmplices. Eu me levantei dando a mão a John e fui até meu cunhado, tocando-lhe o ombro em um leve incentivo. Sunny segurou a outra mãozinha de John e, sorrindo uma para outra, fomos buscar outro sorvete enquanto Kyle se sentava do outro lado de Paddy e o acercava em um longo e esperado abraço.







[1] Em inglês, idioma originalmente falado pelos personagens do livro, a palavra gelo é “ice” (pronuncia-se “aice”). Não sei você, mas, particularmente, concordo com o amigo de Peg e gosto do som.

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