É
incrível como as pessoas não conseguem lidar com a solidão. E não digo nem a
própria solidão. Mas a solidão alheia. Logo que veem alguém solteiro lá vem com
uma lista de pessoas para apresentar, como se o ser humano fosse um item de um
imenso cardápio. Tratam o outro como se fosse um objeto e não como se tivesse
sua individualidade, seu caráter, seus sonhos, anseios, lados negros e lados de
luz. Resumem a pessoa pela sua fisionomia, sua estrutura corpórea, cor dos
cabelos e dos olhos, profissão, nome, hobbys, perfume, posses, etc...
“Quero
te apresentar um amigo. Ele vai amar te conhecer. Eu só de olhar acho que vocês
foram feitos uma para o outro. Daria certinho. Ele trabalha com isso... Adora
tal bicho. Você precisa ver a cor dos olhos dele...
Às
vezes eu tenho a sensação que a pessoa está tentando me vender uma televisão.
Ou uma geladeira. Talvez uma máquina de lavar. Ou muito provavelmente uma
TekPix. (E por falar nela, alguém chegou a comprar essa câmara mesmo?)
Outras
vezes me sinto conversando com alguém que quer me converter para sua religião.
Nada contra qualquer tipo de religião. Mas poxa, crenças é algo tão individual
e pessoal, que não tem nada mais chato que alguém tentando provar que seu modo
de ver é o certo. Tentar explicar para mim que de acordo com os seus conceitos o fulano é minha alma gêmea, é tão pedante quanto
uma tentativa de conversão. Além de ser algo deselegante: ignorar todos os meus
conceitos pessoais do que é belo, charmoso, tolerável (quando digo tolerável,
me refiro aos defeitos, ok? Porque se os defeitos forem demais para você, ele
pode ser um Deus Grego, que mesmo assim não vai descer pela goela; quem dirá
ter acesso a pepeka).
Outra
coisa irritante é essa mania de achar que a felicidade nossa está na mão do
outro. Ou que se ele namorar com a fulana, vai acabar com a crise existencial
dele. Gente, pelamor de Dios: Ninguém
é centro de reabilitação, não (procure um amigo, ou apresente um AMIGO. Ou
um terapeuta!!!). Você não pode criar expectativa sobre uma pessoa e jogar
no colo dela toda a responsabilidade pelo seu
bem-estar. Claro que o outro da relação pode ou não te apoiar. Mas isso é
uma decisão dele. E se você não
gostar da decisão dele, o problema é
seu. Mova-se. Mude. Procure algo que
te agrade. Ao invés de esperar e tentar
converter o outro a ter a mesma ideia de bem-estar que a sua. Livre
arbítrio, lembra? Ou as palavras liberdade e direito de escolha soam estranhas
demais para você quando elas vão contra a sua
vontade?
E
mais uma coisa: a solteira em questão quer namorar? Ela quer conhecer alguém?
Será que ela não está fechada para balanço? Ou até mesmo já teve o resultado do
balanço e resolveu decretar falência. Já pensou nisso?
O
fato que ser solteira não deve ser visto como algo ruim. Deve ser sim um tempo
que a pessoa tem que usar para se amar, se respeitar, se entender. Se você não
consegue aguentar a própria companhia, como pode querer que outra pessoa
aguente? Se você está numa crise existencial, como pode querer impor esse fardo
para outra pessoa?
Pessoas
que não suportam ficar só, precisam de terapia e não de um relacionamento. Se
não consegue ser um bom ímpar, como pretende ser um bom par?
E
o principal: Quando alguém quer namorar, ela mesma vai pedir ajuda. Ela mesma
vai sair à caça. E se ela tem a mania de resumir o outro a um cardápio, ela mesma vai baixar o Tinder. Não precisa de ninguém fazendo isso por ela. Não precisa de
ninguém caçar, matar, mastigar e dar na sua boca. O que essa pessoa precisa,
homem ou mulher, é de amizade. Gente que ri, se diverti, brinca. Um solteiro
precisa descobrir sua identidade, seu potencial, seus deveres enquanto dono e
senhor de si mesmo. Para que quando entrar em um relacionamento não despeje
sobre o outro a responsabilidade da sua felicidade, das suas tarefas diárias.
Você
olha um pouco para o lado e vê solteiros engatando relacionamento um atrás do
outro sem assumirem o dever de apoiar, conquistar, ser autêntico, de dar e ter
liberdade. Pessoas que jogam no colo do outro, deveres que são dele, e que não
sabem lidar com a individualidade e personalidade do outrem. Daí vem o ciúme, a
insegurança, as brigas. Solteiros que não aguentam ficar duas horas na própria
companhia em silencio. E tem pessoas que estão solteiras, mas que não tem nada
a oferecer, porque morreram em vida. Não tem mais sonhos, não tem paciência. Estão individualistas, apegados ao seu ritmo de vida, hora
que acorda, hora de trabalho, lista de prioridades que não tem como encaixar
outra pessoa nessa equação.
No
primeiro caso, talvez a terapia ainda resolva, mas no segundo, ela tornou-se
seu próprio relacionamento. E não cabe ao tio, ao amigo, ao vizinho impor uma
pessoa. Como se o outro não tivesse sentimento. Ou como se fosse obrigatório
ter um namorado, um relacionamento.
Claro
que todo solteiro, e eu me incluo nessa lista, quer ter um relacionamento. Quer
algo real, sólido, um "conto de fadas" da vida real. Mas as vezes esse solteirão
compreendeu que isso não deve ser uma busca insana, desesperada. E sim que é
algo que acontece. Uma hora vai aparecer alguém que vai rolar. Uma pessoa que
não é a minha metade. Porque eu sou uma pessoa inteira. E você deve se sentir
uma pessoa inteira, também. Mas uma pessoa que tem seu caráter, seus sonhos,
ideais.
Uma
pessoa que tem todo um jeito de ver a vida, talvez até diferente do meu, mas
que tem propósito, pés no chão. Que tem ciência que ele tem que ser ele, eu
tenho que ser eu. E nós dois juntos temos que ser um casal que ambos entendem
que devem se apoiar, lutar pelos projetos juntos, que o relacionamento será um
constante ceder das duas partes, procurando o equilíbrio sempre. E o principal,
que ambos entendem que conto de fadas, não existe. Que a vida é feita de
momentos bons, momentos ruins, de prosperidade e de fracassos. Mas o mais
importante: sabe que a felicidade não está na mão do outro, mas na própria mão.
Portanto,
respeitem esse momento. Respeitem seus conhecidos. Trate todos como humanos e
não como um cardápio, ou um objeto. E ofereçam momentos agráveis para que esse
período de solteirice seja para autoconhecimento e não um suplício por não
estar cumprindo alguma regra secreta de que as pessoas precisam ter um
namorado, um marido, filhos e tudo mais. Porque pensa numa coisa que esgota é
você conhecer um, não dar certo. Conhecer outro, e achar ele louco. Conhecer outro
e ser a louca. E chegar num ponto onde você parece que está em Matrix desviando
de balas.
Então,
queridos tios, amigos, conhecidos eu lhe digo: Sou solteira, não nego. Namoro quando puder!
Tchau,
obrigada.
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