quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Por Trás dos Sonhos Capítulo 4

Quando Susan chegou em casa, por volta de dez horas da noite, eu ainda estava do mesmo jeito que ela havia me deixado: aos prantos, com a cabeça enfiada no meu travesseiro para abafar os altos soluços que agora não estavam mais presos na garganta. Susan me abraçou forte, mas não falou nada. Eu me dei conta de que ela estava chorando, apenas quando levantei um pouco a cabeça e fitei os seus olhos azuis.

― Vai ficar tudo bem. Eu vou cuidar de você da melhor forma que puder, eu prometo ― foi com essas palavras que Susan quebrou o silêncio, e nem ela nem eu falamos mais nada depois disso.
Eu consegui adormecer por poucas horas, e quando acordei, Susan estava recostada à cabeceira da minha cama, me olhando. Havia marcas em seus olhos que a denunciavam: ela não havia dormido nenhum instante sequer.
― Vá tomar um banho, Bellaa. Se vista e desça para comer alguma coisa, ok? Se apresse, já está quase na hora do... você sabe ― meus olhos encheram-se de lágrimas quando Susan disse suas últimas palavras. Então apenas afirmei com a cabeça.
Tomei banho e me vesti, mas não consegui comer nada. Fomos em silêncio até o cemitério da cidade. Os parentes de Phil já estavam lá e vieram me cumprimentar. Eu não consegui falar, pois os nós na minha garganta doíam e atrapalhavam muito. Eu apenas sussurrava um obrigada.
Quando todos chegaram para a cerimônia fúnebre, poucos minutos antes de fecharem os caixões, decidi que era hora de ver meus pais uma última vez. Eu me aproximei do caixão de Renée. Ela estava tão bonita que nem parecia estar... naquela situação. Eu me recusava em pensar na palavra que definia meus pais agora. Eu passei os dedos pelos seus cabelos, e por sua pele que era sempre tão quente e acolhedora, mas que agora estava fria e indiferente ao meu toque. Após alguns minutos fitando-a incansavelmente, eu me aproximei de Phil. Ele estava diferente. Sua pele tinha muitas cicatrizes e ele apresentava inchaço. Observei-o até quando ouvi um doce sussurro familiar.
― Chega, Bella. Está na hora de eles descansarem de verdade ― Susan disse com um leve sorriso no canto esquerdo de seus lábios, mas ele não estava em seus olhos, nem em sua voz, apenas em seus lábios.
Nós caminhamos até o local onde meus pais seriam sepultados, um ao lado do outro. Meu choro estava contido, por leves soluços, porque eu não tinha forças para um choro histérico.
Após o enterro, Susan e eu voltamos para casa, onde até o dia anterior, eu vivia com Renée e Phil.
― É melhor você ir descansar, o dia hoje não foi fácil para você ― Susan disse, assim que entramos em casa.
Eu a abracei bem forte e disse: ― Como eu vou viver agora sem os meus pais, tia Susan?
― Não tem com o que se preocupar, meu bem. A partir de agora você está sob minha responsabilidade ― seus dedos passeavam por meus cabelos enquanto ela falava. ― Eu já planejei tudo. Você vai morar comigo. Eu sei que você gosta daqui; você tem seus amigos, a escola, sua vida e... sol todos os dias...
― Quando vamos? Eu não quero mais ficar aqui.
― Eu pensei que você fosse se opor, mas se é assim... vamos dentro de três dias. Eu só tenho que ajeitar a sua situação na escola, acho que isso não vai demorar mais que esse tempo.
Concordei com um aceno de cabeça, torcendo para que Susan tivesse razão. Eu me apertei a ela, querendo espantar o vazio de ser uma órfã, agora. Eu não queria mais viver ali, naquela casa onde meus pais viveram. Não quando isso significa ter apenas a lembrança, e nunca a presença deles.

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