Eu ainda estou digerindo o que aconteceu com a Pan, como
aquela cobra teve coragem de mencionar aborto. Pamela tem pavor de qualquer
pessoa que seja a favor desta... Prática. Só consegui completar a ligação
agora!
– Finalmente mãe, eu te amo, mas eu quero falar é com a
Pamela!
– Nossa quanto amor! Vou chamá-la.
– Bells?
– Eu queria tanto estar ai, como vocês estão?
– Estamos bem e finalmente seguros, meu avô mandou um
advogado e ele vai me auxiliar com o pedido de emancipação! Oh céus! Eu estou
tão feliz de ter um pedaço do Alex crescendo em mim! – dizia chorosa e risonha
ao mesmo tempo.
– Seus hormônios já estão desregulados? – brinco.
– É melhor se acostumar, precisarei de você comadre!
– Sério?
– Seriíssimo! Eu só preciso encontrar outro lugar pra mim,
não quero ficar empacando sua mãe – sussurrou a ultima parte.
– Pensei que ficaria com minha mãe – digo confusa, se ficar
com minha mãe, eu posso vê-la quando bem entender, agora se preferir mudar,
sabe-se lá Deus quando a verei – eu não quero ficar longe de vocês!
– E não vai Bells! Eu ainda estou pensando em um lugar, mas
não será longe de Jacksonville ou Forks. Quero você e a tia Renée por perto! –
pensa rápido Bella!
– Já sei! Não precisa se mudar ok? Eu vou dar um jeito
nisso, primeiro sua emancipação, depois a mudança!
– Bells...
– Não esquenta ok? Alguma vez eu te deixei na mão?
– Não.
– Então fica calma, você e meu afilhado não viverão longe de
mim!
– Ok! Agora eu vou dormir um pouco, estou com muito sono.
– Tudo bem! Boa noite.
Agora o problema era meu pai! Como falar com ele? Andei de
um lado para o outro em meu quarto, precisava dar um jeito nisso. Tomei um
banho, lavando meus cabelos com meu shampoo de morangos e vi que esta na hora
de cortar meu cabelos, quase na base das costas, isso seria bom, preciso mudar
um pouco, ser menos a Bella dele e voltar a ser a Swan!
Desci para fazer o jantar, deixei a carne assando e segui
para a sala. Charlie assistia um dos jogos da segunda divisão, eu acho. Me
preparei mentalmente para falar, Charlie não tinha jeito com crianças, digo por
experiência própria, ele sempre me segurou com braços feito armadilha pra urso,
me atando a ele de forma a me impedir de cair, por sorte nunca me machucou.
– Então... – comecei – eu queria pedir algo ao senhor! –
digo e vejo seu rosto se virar. Ele me estudava atentamente – eu... é sobre a
Pan!
– Alguma novidade?
– Depende do senhor!
– Então diga.
– A... Pamela me convidou para ser a madrinha do bebê e eu
aceitei.
– Sabe que isso é uma grande responsabilidade? Que se algo
acontecer, e mesmo sem acontecer, ele também será sua responsabilidade?
– Sei pai e por isso quero sua ajuda.
– Então diga.
– Pamela está pensando em se mudar, para não atrapalhar a
mamãe e o Phil! Ela quer morar em outro lugar pra ter o bebê e eu não quero me
afastar!
– E onde eu entro nisso?
– Ela poderia vir pra cá – ele levanta com o semblante
fechado.
– Não, não e não, Bella! Isso é impossível
– Seria o melhor. Principalmente durante a gestação!
– Bella é muita responsabilidade, nem sabemos se ela ganhará
a emancipação!
– Por favor pai, eu não posso abandoná-la! Eu sei que a casa
é pequena...
– Exatamente Bella!
– Eu me ocupo dela, ela fica no meu quarto!
– Isabella é muita responsabilidade, não é uma amiga que vem
passar uns dias.
– Eu sei que é grande pai...
– Ela será uma gestante, adolescente, sozinha em uma cidade
pequena. Já imaginou o que pode acontecer, o que as pessoas falarão dela e pra
ela? Forks não é o ideal parar ela, converse com Renée!
– Eu vou cuidar dela pai, prometo! Eu não vou abandoná-la, se
ela não pode morar conosco, eu vou com ela pra onde ela escolher!
– Isso é um absurdo Isabella! Como vocês irão se sustentar?
Como irão arrumar um lugar descente e seguro?
– Foi por isso que lhe pedi pra ela vir pra cá! Eu já perdi
de mais – sussurrei – ela já perdeu de mais – digo um pouco mais alto.
Charlie permaneceu mudo por um tempo, olhando para todos os
lados menos para mim, suas mãos bagunçavam os pequenos cachos sobreviventes da
inicial calvície. Girou me encarando e tentei fazer a cara de cachorro que caiu
da mudança – tudo bem Isabella, vou pedir para Renée me avisar sobre a
documentação para que eu possa matricula-la, podemos mantê-la na escola por
alguns meses! Eu conversarei com o diretor!
– Obrigada papai! – digo o abraçando e ele suspirou alto.
Jantamos sem conversas adicionais, Charlie não gosta de ser
vencido em uma discussão. Sabia que ele ainda está digerindo tudo, pensando e
pesando os prós e os contras. Eu não abriria mão de Pamela, talvez essa fosse
minha tábua de salvação. Estarei ocupada de mais cuidando dela e do bebê para
pensar em minha dor. Limpei os talheres e subi.
Estar em meu quarto fez tudo o que evitei voltar com força
total, saber que ele não estaria ali, que não entraria por minha janela, que
não cantaria minha canção de ninar... Em um ato de estrema burrice busquei pelo
CD jogado em minha gaveta e coloquei para tocar. Rapidamente a melodia ocupou
todo o quarto e diminuiu a dor do silencio, da ausência.
Demorei a dormir, suas frases ainda bailavam frescas em meus
ouvidos, nossas lembranças se agitando por minhas pálpebras fortemente
fechadas. Não sei quanto tempo se passou, acredito que muito, até que o sono me
brindou com sonhos perturbadores.
Estava em uma floresta, a mesma parte em que estive quando
minhas pernas cansados me levaram, tudo estava escuro, não via, não sentia,
apenas ouvia. Sua voz áspera, raivosa esfregando em minha cara, em minha alma e
meu amor que não sou o bastante, que nunca serei, que não passei de um
capricho, um passatempo. Uma perda de tempo.
Acordei aos gritos com Charlie puxando meus braços, eu
estava tremendo, sufocada em uma onda de dor. Só percebi que estava gelada por
sentir meu pai quente de mais, eu não disse nada e ele também não, apenas me
abraçou, me balançando em seu colo. Tão apavorado com meu surto quanto eu
estou. Olhei por minha janela fechada, o dia já estava amanhecendo.
Me sentia cansada, grogue pela dor, mas o sono? Nada, ele
não me fazia efeito, mesmo após passar mais tempo acordada do que dormindo essa
noite. Após ver que eu não chorava e não gritaria mais, Charlie me deixou
enroscada no edredom. Seus olhos preocupados e preferi levantar, precisava me
ocupar o quanto antes e assim evitaria mostrar para ele o tamanho da minha dor.
Cheguei alguns minutos atrasada no colégio, não falei com
ninguém, Lauren manteve distância. Após a saída permaneci no colégio e ajudei
na biblioteca, muitos livros empoeirados e gastos precisando de uma capa
plástica transparente. Já passava das 17h quando sai do colégio. Segui para
casa sem pressa, peguei um pouco do dinheiro em minha bolsa escondida no canto
do guarda roupa e segui para Seattle.
Mudaria meu cabelo hoje mesmo e dirigir me cansaria o baste
para ter uma noite de sono tranquila, pelo menos é o que eu espero. Havia
muitos salões espalhados pela cidade com funcionamento noturno para as pessoas
que não tinham tempo durante o dia. Dirigi-me para o primeiro que encontrei.
Após algumas horas entre hidratações, realinhamento e tintura ele foi cortado.
Negros, tão negros quanto meu coração.
(...)
– Ela já esta aqui, não se preocupe Billy, obrigado –
Charlie falava nervoso e quando passei com a intenção de ir para o banho e
desmaiar em minha cama ele me segura com força – onde esteve? Que cara é essa?
– Eu fui para Seattle, fui cortar o cabelo, estava
precisando!
– E não poderia ter avisado? Você aparenta ter saído de uma
guerra – comecei a subir as escadas -Isabella? – virei – você dirigiu nesse
estado?
–Eu estou com sono pai, deixa pra me dar bronca amanhã? –
ele suspirou e me deixou subir.
– Avise da próxima vez, por favor?
– Sim, desculpe por isso?
– Ok, boa noite Bells! Eu pedi pizza caso esteja com fome! –
sorri e segui para o banheiro.
Me olhei no espelho antes de seguir para o box, meus cabelos
estavam um pouco acima do meio das costas, com volume. Trazendo meus cachos de
volta. Aconcheguei-me em minhas cobertas e edredons, o frio em Forks só aumenta
com a chegada do inverno. Meu corpo clamava por descanso e agradeci por sentir
minhas pálpebras pesarem assim que me acomodei no travesseiro, mas isso não
durou muito, tudo voltou e novamente meu sono foi violentado pela dor, pelas
frases raivosas e humilhantes.
E me vejo novamente sendo acudida por meu pai, infelizmente
nessas horas eu não poderia fazer nada, não tenho controle dos meu sonhos. Após
me acalmar, Charlie seguiu para o seu sono e eu fiquei acordada, demorando a
achar o meu próprio. Com medo de tudo voltar. Como poderia viver se assim que
fecho meus olhos tudo volta?
O dia amanheceu e eu continuei acordada, na mesma posição em
que meu pai me deixou. Com esforço me levantei, sentindo meus músculos
protestarem pelo tempo sem uso. Segui para um banho quente e me arrumei sem
pressa para mais um dia de aula, precisei caprichar na maquiagem para disfarças
as duas noites mal dormidas, arrumei cuidadosamente meu cabelo e segui para meu
inferno.
Quando desci da picape vários olhares me seguiram, alguns
assobiaram, algumas cantadas sutis pelo caminho até a sala, as meninas me parabenizaram
pelo penteado e cor de cabelo e só, nada de muito íntimo, eu não deixava
brechas. No intervalo, eu estava com uma pequena bandeja com uma maça, iogurte
e uva. Tentava empurrar a comida garganta a baixo. Quando recebi a ligação da
Pan, avisando que o papel da emancipação havia saído e que a juíza já estava
ciente do que os pais queriam fazer com o bebê, acudiu a causa da Pamela no
mesmo dia.
No final da tarde voltei para casa feliz, estava grata por
ter Pan aqui comigo, logo. Talvez assim nós pudéssemos nos ajudar. Eu precisava
ter com o que me ocupar, e ela precisava de alguém que a apoiasse, seríamos a
dupla perfeita.
Com muito custo, convenci meu pai de que teria que buscar
minha moto em Phoenix. Já fazia muito tempo que ela estava lá, e eu precisava
voltar a viver. Apesar de contrariado, Charlie acabou ficando feliz com minha
nova conduta. Ele não me proibia de fazer muitas coisas, talvez por medo que eu
me entregasse ao sofrimento novamente.
_ Pan, eu estou indo no final de semana ok? – eu falei
animada, assim que ela atendeu o telefone.
_ Você não precisa sair daí Bells, tia Renée vai me levar...
– ela disse com a voz grogue de sono.
_ Credo Pan, você só pensa em dormir? Está cedo ainda... –
eu falei rindo – E nem adianta reclamar, vou passar na casa dos pais de Alex
para buscar minha moto. Nos encontramos no sábado ok?
_ Buscar a moto? Parece que tem alguém desabrochando por aí?
– ela debochou um pouco, sem perder o tom sonolento, o que fez tudo ficar ainda
mais engraçado.
_ Tudo bem Bela Adormecida, volte para a cama. – eu disse
desligando.
(...)
O sábado não demorou a chegar. Apesar de monótonos, meus
dias tinham ganhado um novo colorido depois que Pan resolveu vir para Forks.
Eu já conseguia me olhar no espelho e ver menos a garota do
Cullen. Parece que eu estava voltando a tomar o controle da minha vida. Com
exceção dos pesadelos, que infelizmente eu não conseguia evitar.
Charlie já tinha conseguido fazer a matrícula de Pan, e a
escola já estava vibrante com a idéia de uma nova estudante. O que me exigia
uma boa dose de paciência extra.
Temia pelo que Pan iria passar. Eu sabia que quando queriam,
as pessoas faziam da nossa vida um verdadeiro inferno nessa cidade. Mas eu estaria
aqui por Pan. Se consegui os calar uma vez, certamente, faria duas...
Quando dei por mim, o Avião pousava em Phoenix. Era estranho
estar de volta a cidade, sabendo que as coisas estavam tão diferentes de quando
a deixei. Definitivamente, eu não era a mesma pessoa.
Segui pelo caminho tão conhecido. Quantas vezes nós tínhamos
passado felizes por ali mesmo? Por que nossas vidas estavam tão complicadas
agora? Meu estômago revirou com a resposta, que de certa forma se resumia a uma
pessoa... Edward Cullen.
Chamei no portão, e logo a mãe de Alex apareceu para me
atender.
_ Bella, quanto tempo querida... Você sumiu... – ela me
abraçou com os olhos marejados.
Me senti culpada por não ter voltado mais aqui.
_ Me desculpe Sra. Margaret por não ter vindo antes. Acho
que foram tempos difíceis para todos nós. – eu falei sorrindo fraco.
Eu tinha tantas lembranças boas daquele lugar... A mãe de
Alex continuou me olhando com lágrimas nos olhos, tentei imaginar a dor que
cortava seu peito.
Novamente o sentimento de culpa me dominou. Eu podia
diminuir sua dor. Era só dizer a verdade, Alex estava vivo. Mas eu não podia, e
isso era mesmo culpa de quem?
_ Alex estaria muito feliz em saber da gravidez de Pamela, e
mais ainda em saber que ela pode contar com você. Obrigada por isso Bella. –
ela disse finalmente deixando as lágrimas escaparem, e sem me conter a abracei
ternamente, transmitindo a ela o pouco de força que me restava.
Conversamos mais um pouco, relembrando o passado antes de ir
embora com minha moto. Infelizmente não poderia ficar mais tempo, Pan me
esperava.
Montei na minha bebê e saí apressada rumo a Jacksonville.
Seria um caminho longo! A tanto tempo não sentia a liberdade de ser dona da
minha vida. Sentir o vento batendo em meu rosto, acariciando meus cabelos,
levando embora minha dor.
Por quanto tempo eu me submeti a ser apenas a garota dele,
as vontades dele, a vida dele. Fiquei feliz em me lembrar de que eu, Isabella
Swan, ainda existia, e que esse seria o início da minha nova velha vida.
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