quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DA - Capítulo 9

~ 09 ~

Robert

— Então você realmente está dispensando minha agradável companhia? — Susan inquiriu numa voz manhosa.

Susan e eu tivemos um affair nos tempos da faculdade, mas não chegou a ser um compromisso, ou algo parecido a isso. Na verdade, nós denominávamos nosso relacionamento como uma ‘amizade com benefícios’ — algo que Linda já havia descartado entre nós, diga-se de passagem. Com belos cabelos ruivos permanentemente cortados acima de seus ombros e um belo e provocante sorriso, Susan tinha o poder de arrebatar corações por onde quer que passasse.

Ela tampouco costumava se apegar às suas conquistas, mas parecia muito interessada em fazê-lo comigo. Bom, eu poderia aproveitar esse interesse por algumas noites. Agora que Susan havia se mudado para Itália, eu não precisaria me preocupar em ter que dispensá-la. Ela seguiria seu próprio rumo assim que terminasse de resolver suas pendências nos Estados Unidos.

Contudo, esta noite eu precisava ver Linda.

Duas semanas já haviam se passado desde a noite em que eu tive que ir até seu apartamento com um pedido de desculpas e, desde então, Linda sempre encontrou uma forma de recusar a meus convites para sair.

Em toda a vida, eu nunca precisei me empenhar tanto para conquistar alguém, e Linda não estava nem perto de me deixar tocá-la de forma mais íntima! É fato que eu nunca fui muito bom com bajulações, mas com Linda eu precisava sê-lo! Caso contrário, quais eram as chances?

Quinze dias!

Quinze dias tendo que demonstrar falso interesse, sem que ela me retribuísse! Não houve mais beijos depois daquela noite fatídica em que ela me deixou plantado em meio à rua, apesar de eu ter que admitir que o inesperado também me causa boas sensações... às vezes! Mas isso não era importante. Não se eu levasse em consideração que os dias estavam correndo, e que eu nem mesmo havia conseguido estabelecer um compromisso com Linda. Como, então, eu conseguiria tomá-la como esposa?

— Já disse que tenho um compromisso inadiável, Susan. Sem dramas, por favor! — adverti.

— E se nós nos encontrássemos depois do seu compromisso? — Susan inquiriu sugestivamente.

Era uma ideia a se considerar, se este compromisso de hoje não consistisse em deixar Linda rendida a mim. Esta não estava se mostrando uma tarefa nada fácil, porque Linda insistia em não ter as reações que eu esperava. As reações que eu queria que ela tivesse.

Soltei um suspiro, exausto.

Eu precisava progredir no meu relacionamento com Linda ainda esta noite. Quinze longos dias já haviam se passado e, agora, eu tinha apenas dois meses e meio para conseguir deslizar uma aliança de casamento por seu dedo anelar.

E eu iria fazê-lo. Eu me vingaria de Frederick, deixaria Paige sem tudo o que ela sempre quis, preservaria a memória de minha mãe e, é claro, mostraria para o mundo, uma vez mais, que Robert Blackwell simplesmente não aceita ‘não’ como resposta.

***

Lancei uma olhadela para o meu relógio de pulso, ciente de que aquela reunião estava demorando mais do que deveria.

Droga!

A essa altura, provavelmente, Linda já teria ido embora! Afinal, o que ela faria na empresa às 7h47min? Se eu ao menos tivesse podido falar com ela durante o horário de almoço!... Mas essas reuniões infindáveis estavam se mostrando além de maçantes, um empecilho para os meus planos futuros.

— ... por que nós não...?

— Encerramos essa reunião e marcamos para um dia em que suas ideias estejam mais claras? — sugiro de forma irônica, interrompendo quem quer que fosse que estivesse falando.

Encarei os cinco rostos perplexos logo à minha frente, com minha irritação que ia muito além do que pode ser classificado como perceptível.

Sem mais delongas, eu me retirei da sala de reuniões, rumando meu escritório.

Aquele dia estava completamente errado, desde o momento em que me despertei naquela manhã. Nenhum dos meus planos estava seguindo o curso certo, o que só fazia com que meu humor ficasse mil vezes pior.

Uma batida na porta acabou por me tirar de meus pensamentos.

Poderia ser Rosalie... se eu não a tivesse liberado antes da maldita e inútil reunião da qual acabei de me livrar. Nesse caso, será que Linda estava à minha procura? Sorri com o pensamento, afinal, nem tudo estava perdido.

— Entre — comandei tentando fazer com que minha voz soasse o mais branda possível.

Eu definitivamente esperava ver Linda junto à porta, mas quando me virei para encarar minha companhia, acabei me deparando com uma Christine sorridente, encarando-me.

— Senhor Blackwell — ela pronunciou em reconhecimento, tentando soar provocante.

Talvez tivesse funcionado, se eu não estivesse realmente louco para ter minhas mãos ao redor do pescoço de alguém, quitando-lhe o ar.

— O que quer aqui? — inquiri rispidamente.

— Eu vim trazer alguns balancetes do setor contábil, senhor — informou-me num sorriso, sem se deixar abalar por meus métodos nada polidos.

— Pelo que sei, David Harris é o responsável pelo setor contábil, senhorita. Esse é o trabalho dele, não o seu!

— David teve um imprevisto — ela falou mordendo o lábio, num flerte ridiculamente explícito. — Então, eu me ofereci para vir até aqui — deu de ombros.

— David? — repeti arqueando uma sobrancelha.

— Bem, Linda não é a única a receber tratamento diferenciado de um dos superiores.

Eu travei meu maxilar ao constatar os planos de Christine, e o que a incentivava a tal.

— Está um pouco tarde, não acha? Seu expediente já deveria ter sido encerrado há no mínimo duas horas.

— Não se preocupe com isso — disse-me lubricamente. — Eu não me importo em realizar algumas tarefas extras e não remuneradas.

Eu me permiti sorrir.

De fato, coisas inacreditáveis tendem a acontecer quando o dia decide dar errado.

Caminhei lentamente até Christine, pegando o envelope pardo que ela segurava, para logo em seguida depositá-lo sobre minha mesa.

Mulheres como Christine não costumam esperar muitas demonstrações de interesse. Na verdade, elas agem rápido, ávidas por obterem o que querem e, ao mesmo tempo, assegurarem que as coisas saiam como planejaram.

— Eu não acredito que você tenha ficado aqui por tanto tempo, apenas para prestar um favor a David — disse-lhe finalmente.

Christine caminhou até mim, então pude ver que suas pernas estavam quase completamente à mostra. Definitivamente, aqueles trajes não estavam dentro dos padrões da empresa.

— Talvez haja algum outro motivo — Christine murmurou numa voz rouca, aproximando seu rosto do meu.

— Que seria? — encorajei-a.

— Você — sussurrou num sorriso.

Eu lhe sorri de volta.

— Sabe... — comecei sugestivamente. — Acho que esse é o momento em que eu digo que realmente, você acaba de se colocar em minhas mãos.

— Então acho que cumpri meu propósito, porque quero muito sentir suas mãos em mim, Robert — falou sem o menor pudor, mantendo seu sorriso.

A voz de Christine era baixa, rouca, maliciosa e repleta de desejo. Mas ela definitivamente não me agradava. Ela não era feia, mas... também não era suficientemente interessante para despertar meu interesse. Talvez o fosse para David Harris, mas não para mim.

Fitando os olhos de Christine, e a carga de desejo presente neles, eu realmente precisei sorrir. Joguei a cabeça para trás, sorrindo e, logo em seguida rindo, de forma desdenhosa.

Quando meus olhos caíram sobre Christine novamente, seu semblante sedutor havia dado lugar a uma expressão confusa, fortemente evidenciada por suas sobrancelhas franzidas.

— Para algumas pessoas há uma grande distância entre ‘querer’ e ‘obter’ algo, Christine... — ela piscou aturdida algumas vezes. — O que a faz pensar que eu seria uma presa, hã? O fato de David Harris ter caído nos seus encantos facilmente? Você não deveria me comparar a ele! — alertei.

— Mas...

— Não há ‘mas’ nesse quesito — cortei-a abruptamente. — Coloque-se no seu lugar, senhorita, e ponha um fim em todas as fantasias de envolver-se comigo, porque elas não se tornarão realidade — adverti.

— Eu não quis... eu pensei que...

— Pensou o quê? — apressei-me em perguntar, cortando suas desculpas gaguejadas.

— Linda — balbuciou. — Ela... o senhor... quer dizer, vocês dois...

— Entendi — declarei num sorriso presunçoso. — Você pensou que, como Linda e eu nos tornamos amigos e saímos juntos eventualmente, poderia ocorrer o mesmo entre nós dois! Você e eu, certo? — Christine meneou a cabeça prontamente, de modo afirmativo. — Isso soa muito ridículo — debochei. — Você não é a Linda, Christine... eu nunca demonstrei o mais remoto interesse, então, por que diabos você teve que vir me importunar?

— Sinto muito, senhor Blackwell, mas... eu pensei que... quer dizer, Linda é tão fechada, e ela parece nunca relaxar, mesmo com todas as suas investidas! Pensei que talvez eu pudesse ser uma companhia menos complicada! — ela praticamente atropelou as palavras.

— Eu achei que vocês fossem amigas... ou quase isso!

— E somos...

— Mas você está aqui! — acusei.

Como isso poderia ser possível? Se ela e Linda são amigas, como ela tem a coragem de vir até aqui e praticamente me convidar para uma noite de sexo?

— Acontece que Linda sempre diz que vocês são apenas amigos e, bem... ela não deveria se importar, tecnicamente... não é como se isso fosse romper-lhe o coração! — tagarelou.

— Não? — testei. Christine arregalou os olhos, então me dei conta de que meu tom de voz não era nem um pouco amigável. Muito pelo contrário. — Por que não diz exatamente o que pensa? — pedi tentando manter a calma. E falhando, obviamente.

— Se Linda estivesse apaixonada, eu não acho que ela estaria me escondendo isso.

— Ela é muito reservada, talvez não confie em você o bastante a ponto de se abrir sobre algo assim. E, convenhamos, ela faz bem em não confiar — concluí num sorriso irônico.

— De qualquer modo, eu acho que...

— Você não tem que achar nada! — berrei para Christine enfurecidamente. — Na verdade, deveria ser demitida!

— Não! — Christine implorou num grito desesperado. — Por favor, senhor Blackwell, eu não quis...

— Calada! — ordenei de forma impaciente. — Apesar da cena ridícula que acaba de protagonizar, eu serei compreensivo e não a punirei da forma que merece...

— Obrigada, eu...

— Se... — interrompi-a enfatizando que haveria condições. — Você conseguir fazer com que Linda se abra e lhe conte o que sente por mim.

— E por que um homem como o senhor iria querer que eu fizesse algo assim? — inquiriu numa expressão confusa.

— Digamos que eu não queira ser vítima de surpresas desagradáveis.

— Mas o senhor sabe que qualquer mulher se renderia aos seus caprichos.

— Linda não é qualquer mulher... — eu a lembrei. Ela concordou com um leve aceno.

— Ainda assim... ela não pode resistir por muito mais tempo — opinou. — Mas eu me pergunto o porquê de você — Christine paralisou mediante meu olhar acusador. — O senhor — retomou. — Não entendo por que despender tantos esforços por uma única noite de prazer, quando pode ter muito mais do que isso tão facilmente.

— Esse é um assunto que diz respeito a mim — retorqui num tom azedo. — Sua função é fazer o que eu mando, e não ficar especulando. Mas se acha isso tão difícil...

Minhas palavras pairaram no ar por alguns segundos, até a percepção chegar até Christine.

— Claro que não — balbuciou. — Eu posso muito bem fazer isso.

— Ótimo!... Agora saia!

— Como quiser — Christine concordou prontamente, caminhando para fora de minha sala de forma rápida e desajeitada.

Em passos lânguidos me encaminhei até minha poltrona de couro negro, afundando-me ali. Suspirei pesadamente e esfreguei os olhos com uma das mãos.

Um dia terrível, só tinha a tendência de ficar ainda mais terrível.

A visita nada agradável de Christine havia implantado insegurança em mim. Mulheres não costumam falar de suas paixões umas com as outras? Então, por que Linda afirmava de forma tão veemente que não tínhamos absolutamente nada um com o outro? Por que ela jamais se permitiu um único suspiro ao falar de mim com Christine? Será mesmo que ela não tinha o mínimo interesse em manter uma relação amorosa comigo? Por que ela tinha que ser a mulher ideal, e também a mais difícil?

Eu não tinha certeza sobre muitas coisas acerca de Linda, mas estava seguro de que nós não faríamos progresso algum esta noite. Minhas forças para hoje já haviam sido esgotadas, e eu não me lançaria numa batalha perdida.

Tateei meus bolsos a procura do meu Blackberry, retornando à chamada que havia recebido pela manhã, e sendo atendido ao segundo toque.

— A que devo o prazer de tê-lo ligando para mim, querido? — a voz provocante soou do outro lado da linha.

— Eu quero ver você — retorqui sem rodeios.

— Enfim concordamos em alguma coisa — Susan murmurou numa leve risada. — Estou feliz que tenha mudado de ideia, porque preciso do seu corpo quente para me aquecer.

— Você sabe que só o terá por algumas horas, não vou despertar ao seu lado — alertei-a.

— Nunca vou me cansar de tentar, Robert — retorquiu sugestivamente. — Você ainda vai ficar por uma noite completa... muitas delas, eu garanto.

— Vejo você no hotel dentro de uma hora, Susan — contestei num sorriso desafiador. — Fique irresistível para mim, você sabe como fazer isso.

Eu não esperei por uma resposta. Não havia necessidade.

Eu tomaria um bom whisky, e então partiria em direção ao hotel onde Susan sempre se hospeda quando está no país. Ela era uma mulher eficiente o bastante, e me faria esquecer meus problemas.

Frederick, Linda, Christine... todos eles ficariam trancados no meu subconsciente, assim que minha pele entrasse em contato com a de Susan.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentem e façam uma Autora Feliz!!!

Visitas ao Amigas Fanfics

Entre a Luz e as Sombras

Entre a luz e a sombras. Confira já.