sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Doce Amargo Capítulo 19

~ 19 ~

Robert

“Às vezes, ter o que se quer muda a coisa querida. O meu desejo fere. Não desejá-la, no entanto, seria ilógico e impossível. Eu só quero que ela tenha o futuro que eu não mereço lhe dar.”

 Maira Zamproni Pereira

Eu não estava totalmente certo sobre estar fazendo aquilo como deveria ser feito, porque estava concentrado demais nas mãos de Linda se embrenhando em meus cabelos. Em circunstâncias normais, aquele beijo já deveria ter nos levado a algo um pouco mais íntimo, mas eu agarrei a cintura de Linda com força, no intuito de refrear o desejo de tocá-la em todos os lugares que pudesse alcançar.

Suas pernas que descansavam sobre minhas cochas se enrolaram em minha cintura, rompendo os poucos centímetros de distância que restavam entre nós e fazendo-a arquejar de prazer contra os meus lábios, obrigando o ar a entrar em seus pulmões. Uma de suas mãos desceu pelo colarinho da minha camisa e alcançou o primeiro botão, tentando abri-lo.

― Linda ― eu chamei seu nome em advertência. Aquilo estava tomando um rumo perigoso, eu não poderia permitir que continuasse.

― Humm... ― ela praticamente ronronou, levando seus beijos para a minha mandíbula e então para o meu pescoço. Sua mão que permanecia nos meus cabelos acariciou a minha nuca e Linda passou suas unhas levemente pela região, fazendo com que um arrepio prazeroso percorresse meu corpo.

Aquilo precisava mesmo parar, ou não teria mais volta.

Minhas mãos buscaram afastar Linda de mim gentilmente, mas o gesto não foi entendido por ela. Por alguma razão, minhas mãos em seus cabelos incentivaram-na a mordiscar minha pele, e um gemido frustrado saiu dos meus lábios. Frustrado porque eu gostava daquilo. Era extremamente bom e eu estava interrompendo, porque ainda havia resquícios de caráter e racionalidade dentro de mim.

― Linda, não! ― eu articulei um pouco mais alto, empregando mais firmeza em minha voz.

Ela abriu seus olhos para mim e enquanto eu os fitava, me dei conta de que jamais tinha visto orbes tão negros quanto os dela, o que não tinha muito a ver com a cor de suas íris. As pupilas de Linda estavam dilatadas como nunca estiveram antes, e aquela constatação fez com que o desejo de tomá-la para mim voltasse com força total. Fechei os olhos, evitando que eles se prendessem à imagem excitada e excitável de Linda.

― Por que não? ― ela falou através de sua respiração ofegante. ― Eu não posso beijar você?

Eu sorri incredulamente, abrindo meus olhos para uma Linda pouco satisfeita, que realmente esperava uma resposta vinda de mim.

― É claro que pode, mas isso... ― procurei pelas palavras, testando cada uma delas em minha mente, contudo elas pareciam não querer colaborar. ― Isso está indo rápido demais ― articulei por fim.

Assisti enquanto Linda absorvia minhas palavras e seus olhos se estreitavam, buscando entender melhor o que eu dizia, no entanto não era para mim que ela olhava. Na verdade ela não olhava para um ponto em específico, nem mesmo quando uma expressão de descrença se apossou de seu rosto e ela meneou a cabeça, como se quisesse dissipar seus pensamentos.

― Você entende que nós vamos nos casar, certo? ― ela arriscou ainda sem fixar seus olhos em mim. ― Quer dizer... você disse sim, então por que nós não... ― Linda se deteve, fechando seus olhos com força.

Por que nós não podemos transar agora mesmo, é o que você quer dizer? Seria até romântico se levarmos em conta o piano e o pedido de casamento! ― eu cuspi mentalmente.

― Eu sei que disse sim ― soltei num suspiro cansado, tomando o rosto dela em minhas mãos, impelindo-a a me olhar. ― Só que isso não quer dizer que sua primeira vez precise ser um momento fugaz de explosões hormonais ― tentei gracejar. Sem muito sucesso. ― Linda, primeiras vezes não são esse poço de romantismo que você deve ter lido nos livros ― murmurei para ela, fazendo suas bochechas enrubescerem em tom escarlate. ― Se nós continuássemos com isso, seria bom apenas pra mim, não pra você.

― Você não entende ― ela objetou, contrariada. ― Eu quero você! Quero pertencer a você.

― Você já pertence...

― Mas eu quero sentir que pertenço! ― devolveu. ― É o que eu quero, Robert. Por favor, não me faça implorar por isso.

Isso de longe era a última coisa que eu gostaria de presenciar: Linda implorando para que pudéssemos fazer sexo. Quer dizer, por quanto tempo ela teria que argumentar antes de eu calá-la com um beijo e fazer o que ela queria? O que eu queria.

― Não estou tentando fazer com que você implore ― argumentei.

― Mas está quase conseguindo ― ela gemeu em desgosto.

Eu suspirei, passando minhas mãos por meus cabelos num gesto de desespero, ciente de que precisaria ser mais convincente do que estava realmente sendo.

― Linda ― eu a chamei calmamente, trazendo sua atenção para mim. ― Nós vamos nos casar, independe se você vai se entregar a mim agora ou quando estivermos casados.

― Então por que não agora? ― ela insistiu com seus olhos brilhando em minha direção. De onde saiu todo aquele desejo que eu via ali?

Inspirei profundamente. Como eu poderia esclarecer meu ponto? Como dizer a Linda que, na verdade, eu não estava tentando adiar sua primeira vez, senão tentando fazer com que ela não fosse comigo? Eu não poderia jogar tão sujo com ela, porque quando nosso casamento alcançasse o fim inevitável, Linda não deveria se arrepender de nada que não pudesse contornar. Eu devia isso a ela.

― Porque você não é como as outras mulheres que eu já tive ― disse-lhe entre dentes, pois no fim de tudo, aquilo era mesmo verdade. Ela não era como as outras e jamais seria, e isso era o que eu mais amava nela. ― Eu já disse isso, Linda, mas eu vou repetir pra que entenda: isso aqui ― eu falei gesticulando com o indicador entre mim ela ― não é sobre sexo. Você vai ser minha esposa, não uma amante descartável, e é por isso que eu quero fazer as coisas do jeito certo, à moda antiga.

Então eu esperei, torcendo para ter saído convincente, e assisti enquanto Linda me observava e a compreensão parecia alcançá-la.

― Você está insinuando... ― ela começou, contudo se deteve depressa, sua boca formando um perfeito “O”. ― Está insinuando que não vai tocar em mim até que estejamos casados?

― Se você estiver usando “tocar” com a conotação que eu imagino, então é isso mesmo.

― Mas não faz sentido, Robert! ― ela protestou. ― Ter que esperar tanto tempo...

― Como assim, esperar tanto tempo? ― inquiri estreitando meus olhos em sua direção. Eu não tinha muito tempo. ― Você acha que é assim? Me pede em casamento e então fica me cozinhando por meses? Talvez anos? ― eu articulei em falso ultraje. ― Não, Linda. Você me pediu em casamento, então eu espero que já tenha uma data em vista ― alertei erguendo uma de minhas sobrancelhas para ela.

Sua respiração ficou descompassada e Linda engoliu em seco antes de finalmente conseguir me dizer algo.

― Eu não pensei numa data ― admitiu. ― Quer dizer, eu não... Robert! ― ela se exasperou, corando. Seu rosto adquirindo uma expressão que não condizia com o aspecto lascivo que carregava há pouco. ― De qualquer forma, eu já fiz o pedido. Acho que você pode se encarregar da data, não? ― ela testou num sorriso tímido.

― Esteja livre daqui a trinta dias, Linda. Vou precisar de você pra ser minha esposa ― sorri-lhe.

Ela arregalou os olhos em surpresa, e eu me perguntei se estava soando muito absurdo aos ouvidos dela.

― M-mas... já? ― ela gaguejou de volta para mim. ― Isso é... quer dizer, nós não estamos indo rápido demais? ― questionou em confusão. ― Um mês, Robert! Um mês passa num piscar de olhos! ― alertou-me. ― Há quanto tempo estamos juntos? Há quanto tempo você me conhece? ― instigou.

O esboço de um sorriso tomou os meus lábios e eu segurei o rosto de Linda em minhas mãos. Como ela conseguia ser tão dúbia?

― Veja que paradoxo perfeito nós somos ― eu murmurei para ela. ― Eu querendo agilizar nosso casamento, e você tentando me convencer de que o mais sensato é fazermos amor, porque nos conhecemos há muito pouco tempo pra nos casarmos tão depressa.

Linda suspirou, acariciando minhas mãos, que ainda estavam sobre seu rosto.

― Eu só quero que você me conheça, sabe? Antes de nos casarmos... Eu quero que você saiba quem eu sou.

― Você fala como se soubesse mais coisas sobre mim do que eu sei sobre você, Linda, quando na verdade tivemos o mesmo intervalo de tempo pra conhecer um ao outro ¯ eu a adverti.

Linda abriu a boca para dizer algo, mas logo desistiu, soltando todo o ar que prendia pelo nariz. Seus olhos não deixaram os meus, e era como se eles me dissessem algo de suma importância, que faria toda a diferença na minha vida e na vida de Linda. No entanto, eu não era bom em interpretar essas confissões mudas e permaneci na ignorância, porque ainda que eu quisesse realmente saber o que Linda havia silenciado, talvez fosse perigoso demais.

― Acho que nós precisamos entrar num consenso quanto à data ― ela se decidiu por dizer. ― Talvez se nós deixássemos pra pensar nisso com mais calma, dentro de alguns dias...

― Não há o que pensar ― eu a cortei abruptamente. Aquele não era um ponto discutível. ― Agilizar o casamento é a solução de todos os nossos dilemas, porque então eu vou ter o que quero e, consequentemente... ― hesitei, sabendo que talvez não fosse justo me comprometer a algo daquele tipo, em especial quando não pretendia cumprir. ― Consequentemente você vai ter o que quer, Linda.

― Isso é coerção ― ela protestou num murmúrio.

― Isso é um homem lutando pelo que almeja ― eu a corrigi.

Selei os lábios de Linda com os meus num gesto terno, dando-lhe algum tempo para assimilar minhas palavras, pesá-las e, quem sabe com alguma sorte, me dar razão.

― Como você faz isso? ― ela inquiriu passando seus braços pelo meu pescoço.

― Isso o quê?

― Você me afasta com tanta facilidade, como se... ― titubeou. ― Como se não me desejasse. Então você argumenta tentando apressar o nosso casamento, fazendo parecer com que cada instante que passamos longe um do outro é perda de tempo...

― Porque é perda de tempo ― anuí.

― Então pare de me afastar de você tão facilmente ― pediu.

Facilmente? Será que ela não via que eu a afastava para o meu próprio bem, uma vez que eu tinha necessidade de sempre me manter no controle? E com Linda não era assim. Nunca era.

― Se você soubesse como é difícil ter que te dizer “não”, Linda ― eu sorri amargamente.

― Bom, você faz isso muito bem ― reclamou. ― Mas talvez eu só esteja comparando nós dois, quer dizer... eu jamais conseguiria afastar você, porque... ― Linda se deteve, engolindo a saliva com dificuldade.

― Por quê? ― encorajei.

― Porque... eu desejo estar com você ― confessou enrubescendo, mas sem desviar seu olhar do meu. ― Eu te desejo, Robert. É algo que eu não sei explicar, eu apenas... apenas sinto.

O efeito que essas palavras tiveram em mim foi aterrador, já que eu me sentia exatamente igual a Linda. Eu não sabia explicar o que acontecia comigo, sabia apenas que não era fácil estar com ela e não tocá-la, não beijá-la e não fazê-la minha de uma vez, como nós dois queríamos. Sabia também que, se não o fazia, era porque estava tentando ser suficientemente sensato por nós dois.

Apoiei minha mão esquerda na nuca de Linda, e com a direita eu segurei sua mandíbula.

― Acha que eu não desejo você? ― testei num tom que beirou o escárnio, entretanto mais parecia frustração, porque seria tudo bem mais fácil se eu não a desejasse, ou se ela não fosse boa demais para mim.

Então eu a beijei. Meus lábios tomando os de Linda quase com violência, sem de fato me preocupar se eu poderia machucá-la, ou machucar a nós dois, independentemente do tipo de feridas às quais eu estivesse me referindo. Eu apenas queria beijá-la, senti-la entre meus braços sem a preocupação de precisar refrear meus instintos, porque eles eram muito difíceis de controlar quando Linda estava por perto.

― Você vê agora como eu também desejo você? ― sussurrei contra os seus lábios, sentindo sua respiração ofegante bater contra os meus. ― E acredite: é muito, mas muito difícil ter que dizer “não” quando o meu corpo diz “sim” ― admiti. ― Portanto colabore comigo e tente não me enlouquecer, está bem?

Ela apertou seus braços ao meu redor e eu espelhei seu gesto, ao passo em que Linda apoiava sua cabeça em meu ombro.

― Você é um paradoxo ― ela sussurrou aninhada a mim. ― Mas eu amo isso também ― suspirou. ― Um marido paradoxal, a essa altura do campeonato, era tudo o que eu pedia a Deus ― emendou num riso fraco.

Todavia eu não achei divertimento algum ali, visto que eu não conseguia deixar de me perguntar por onde perambulava o marido que Deus supostamente preparou para Linda, de quem eu a estava roubando descaradamente, porque eu sabia: Linda havia sido feita para um homem que pudesse amá-la sem reservas, e dar a ela toda a felicidade que ela merecia. Eu sabia que nem mesmo em outra vida ela poderia ter sido feita para mim, e a constatação não era nenhum pouco agradável.

***

― Eu disse que ela gostava de você de verdade! ― Elizabeth me lembrou no seu tom presunçoso. Eu girei meus olhos teatralmente para ela, ignorando seu comentário. ― Não faça essa cara para mim, Robert Blackwell ― fingiu ralhar.

― Humph! ― bufei para ela em desdém enquanto caminhava em direção a Linda e Sofie, sentadas numa toalha florida que Elizabeth havia colocado sobre a grama de seu jardim.

― Você está ranzinza demais para um homem que acaba de ser pedido em casamento! ― Elizabeth provocou ao meu encalço.

Parei de caminhar, me virando na direção de Elizabeth, pronto para dizer algo que tirasse aquele sorriso arrogante e idiota que ela tinha no rosto desde o momento em que Linda e eu anunciamos que iríamos nos casar.

― Tio Rooobert! ― Sofie me interrompeu, prolongando as sílabas do meu nome e acenando furtivamente para que eu fosse até ela. Em seu rosto havia um sorriso amplo, bem como no de Linda, que me olhava em expectativa.

― O que foi, princesa? ― instiguei, sentando-me ao seu lado, desistindo de provocar Elizabeth.

― O senhor pediu a tia Linda em casamento, não foi? ― ela perguntou com seus perscrutadores olhos azuis fixos nos meus, e eu me permiti olhar Linda de relance, assistindo-a morder o lábio inferior e vestir sua melhor expressão de “Por favor, apenas diga que sim e nos poupe da parte em que eu te disse não, e depois tive que pedi-lo em casamento para emendar”.

― Isso mesmo ― confirmei. ― Ela e eu vamos nos casar... logo ― enfatizei, analisando a expressão de Linda de soslaio, buscando saber se ela havia entendido para quem exatamente estava indo a “ênfase”. ― Você não gosta da ideia? ― indaguei franzindo minhas sobrancelhas.

Os olhos azuis de Sofie se arregalaram em espanto.

― Gosto! Gosto muito, tio Robert! ― apressou-se em dizer. ― O que eu quero mesmo é perguntar se... o senhor... de repente... ― ela apertou os lábios, olhando para Linda com as bochechas coradas. ― Tia Linda, me ajuda aqui ― ela suplicou num fio de voz.

Linda sorriu para ela de modo condescendente e acariciou as maçãs de seu rosto, trazendo seu olhar para mim.

― Sofie quer saber se ela pode tocar uma música pra dançarmos juntos, durante a recepção ― ela explicou.

― Hummm ― eu murmurei em compreensão. ― E o que você acha? ― perguntei a Linda, deliberadamente agindo como se Sofie não estivesse ouvindo tudo, e me divertimento com sua expressão apreensiva enquanto olhava de mim para Linda.

― Bom, ela ganhou um piano de cauda do tio favorito dela ― ela deu de ombros, em falsa indiferença, aderindo ao jogo “Vamos-fingir-que-Sofie-não-está-presente”. ― Acho que esse é o momento ideal para colocá-lo pra funcionar.

Eu olhei para Sofie, que me encarava atenciosamente com seus olhinhos muito bem abertos.

― E então? ― Sofie se precipitou.

― É claro que você pode tocar, princesa ― eu lhe disse apertando seu nariz entre meu indicador e polegar. ― Quantas canções quiser.

Ela sorriu amplamente para mim e então para Linda.

― Ouviu isso, mamãe? ― ela questionou Elizabeth, que permanecia praticamente grudada a mim, porém de pé. ― Tio Robert me deixou tocar no casamento dele com a tia Linda.

― Eu ouvi, sim ― Elizabeth anuiu e, apesar de não ver sua expressão, eu podia perceber o sorriso em sua voz. ― Se eu fosse você, já começaria a praticar.

Sofie assentiu prontamente, depositando um beijo estalado no rosto de Linda, e então no meu. Mais que depressa, ela se levantou, correndo pelo jardim em direção à casa.

― Obrigada ― Elizabeth agradeceu, fazendo com que eu buscasse focalizar seu rosto.

― Você não tem que agradecer! ― Linda assegurou, sua voz soando como se a gratidão de Elizabeth fosse um absurdo sem fim.

― Não apenas por isso ― minha irmã retrucou, revirando seus olhos, num gesto quase impaciente. ― Obrigada porque agora eu sinto que somos mesmo uma família! Irmão, cunhada, esposo e... filhos ― ela pontuou, acentuando o plural e mordendo o lábio ao passo em que uma de suas mãos pousava tranquilamente sobre seu ventre.

Meu queixo caiu, numa expressão de perplexidade, e escutei o riso baixo de Linda logo atrás de mim, ao mesmo tempo em que Lizzy caminhava para longe de nós.

***

― Não, não, não! Eu quero fazer isso! ― Linda protestou pela enésima vez.

Eu sorvi um gole generoso do suco à minha frente e meus dedos tamborilaram sobre a madeira da mesa que estava entre mim e Linda.

― Isso é trabalhoso. E chato! ― apontei, erguendo uma de minhas sobrancelhas em sua direção, incentivando-a a concordar comigo.

― Não, não é! ― ela me assegurou. ― O problema é que você é... homem ― ela murmurou numa careta, e então sorriu, me levando junto.

Eu gostava de vê-la feliz. Gostava de seu riso fácil, e de como seus olhos se estreitavam quando ele vinha à tona.

― Certo. Culpemos a testosterona, então! ― ironizei antes de tomar o último gole da minha bebida.

― Bom, se ela é a responsável por homens não terem paciência de escolher flores ou qualquer outra coisa que exija alguma sensibilidade, então tudo bem ― ela deu de ombros, analisando uma das tantas revistas que vinha folheando nos últimos dias.

Por que ela não poderia simplesmente deixar que eu contratasse alguém que pudesse cuidar de todos esses detalhes enfadonhos por ela? Oh, certo! Porque ela é Linda!

― Achei que Elizabeth tivesse se oferecido pra ajudar.

O rosto de Linda se iluminou, e ela interrompeu o que estava fazendo para me fitar.

― Ela já está ocupada o bastante com a chegada do bebê! ― ela me lembrou. ― E além do mais, eu só vou me casar uma única vez. Eu sei que pra você tudo isso é bem mais prático, só que eu já estou fazendo tudo do jeito que você achou melhor ― murmurou com uma ponta de tristeza na voz, contrastando com a alegria que demonstrava. ― Quero poder fazer uma ou outra coisa do meu jeito. Não é pedir muito, é?

Linda tombou a cabeça para o seu lado direito, esperando genuinamente por uma resposta.

Eu já sabia que aquilo seria difícil. Um casamento tão rápido exigia que sacrifícios fossem feitos, e Linda foi a única a sacrificar algo aqui. Como um casamento na igreja com um vestido deslumbrante, véu e grinalda. Ela tinha se conformado com uma cerimônia simples no cartório, mesmo que sua expressão dissesse que aquilo era a última coisa que ela esperava de um dia com tamanho significado para ela.

Foi assim que Lizzy ofereceu sua casa para que pudéssemos realizar uma cerimônia não tão impessoal e, nesse caso, Linda e eu diríamos sim um ao outro em frente a um juiz no jardim da casa de Elizabeth. Não era exatamente como ela tinha imaginado, mas Linda aceitou a ideia, porque eu lhe disse que um casamento na igreja seria algo que exigiria muito tempo e pompa. Eu a convenci de que o melhor para nós dois seria algo mais intimista, com poucos convidados, pois o que realmente importava era que estaríamos nos casando. Essa última frase foi o que trouxe um sorriso à sua expressão triste, e agora ali estava ela, tentando pôr suas mãos nos mínimos detalhes, porque um casamento como o nosso não exigia muito preparo e Linda precisava sentir que estava subindo ao altar, ainda que não o estivesse de fato.

― Não ― eu suspirei. ― Não é pedir muito ― consenti.

― Obrigada ― ela falou logo após respirar mais aliviada, e desviou sua atenção para a revista à sua frente.

Eu me perguntei como seria se ela e eu tivéssemos a chance de um casamento na igreja. Estava certo de que ela ficaria deslumbrante num vestido de noiva, e assisti-la caminhar em minha direção para recebermos a bênção consistiria numa bela vista.

Será que era isso o que eu deveria proporcionar a Linda? Dizer a ela agora que poderia cancelar os planos de um vestido simplório e um casamento no jardim, porque estávamos indo tirar suas medidas para um lindo vestido de noiva e logo em seguida, agendaríamos nosso casamento numa igreja elegante?

Espantei o pensamento, empurrando-o para o fundo da minha mente e trancando-o lá.

Aquela não era a coisa certa a se fazer. Não era.

“E além do mais, eu só vou me casar uma única vez.” ― suas palavras ecoaram em meus pensamentos.

Não, Linda ― era o que eu queria lhe advertir. ― Você ainda vai se casar de novo. Na igreja, com um lindo vestido, véu e grinalda, e dessa vez vai ser um casamento de verdade, com alguém que se aproxime de você pela pessoa maravilhosa que você é por dentro, e não por um maldito testamento.

Alguém que não carregue toda a sujeira impregnada no sobrenome Blackwell. Alguém que não se pareça comigo.

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