Ainda estava em dúvida se era ou não um sonho, estava na
clareira com Alex, seus olhos dourados e felizes me deixando em paz por ter
sido a culpada por sua transformação – ele tentou me salvar de James, mas
acabou sendo mordido e Edward e os Cullen não conseguiram chegar a tempo de
remover o veneno, ele morreria se fizessem isso – e sempre levarei essa culpa,
ria feliz me abraçando.
_ Não acredito que estão conversando e nem me esperaram? –
disse Pamela, molhada e de biquíni – você deveria experimentar Be!
_ E morrer congelada? Não prefiro continuar aqui! Como
chegou a cachoeira? – sorriu se aproximando de nós e então entendi porque ela
conseguia suportar a temperatura da água, sua pele bronzeada estava mais
reluzente nas sombras, mas agora com os raios do sol a tocando, pude ver os
milhares arco-íris a cobrirem, Pamela também é uma vampira, seus olhos tão
dourados quanto os de Alex, e me pergunto como não vi este detalhe assim que
ela entrou na campina?
_Eu posso esquentar um pouquinho – disse e sua mão começou a
brilhar, uma bola de fogo crescia em sua palma, antes que eu pudesse responder
algo ou me assustar ao constatar que uma das minhas melhores amigas tinha um
poder, fui hipnotizada pela voz do meu anjo.
Edward adentrava a campina sem pressa, mesmo em dúvida se
era ou não um sonho, fiquei feliz e ansiosa em vê-lo, meus nervos conscientes de
sua presença, veio até o meu lado e me abraçou pegando em minha mão, ouço mais
uma voz e me viro. Era uma outra vampira, loira com os olhos dourados. Quase da
minha altura e muito linda, ela desfilava até nós e um vento caminhava junto
com ela, as árvores se modificavam, cresciam mais e algumas cresciam fortes
entre o espaço da campina. As flores mudavam também, as que antes eram
violetas, agora eram azuis, amarelas e rosas e só então reparei na senhora que
estava um pouco a sua frente.Poderiam se passar décadas e eu jamais me
esqueceria dela, era vovó. Só assim me dei conta de que era um sonho.
Sem me importar corri até ela e me espantei em ver que ela
corria igual a mim, vovó era de idade avançada, não conseguiria correr assim,
mais uma prova de que era um sonho... Eu queria fazer tantas perguntas, saber
por onde ela esteve durantes esses últimos seis anos, se encontrou vovô, mas
quando abri a boca ela vez o mesmo e parei, ela também sorriu hesitante.
_ Bella? – chamou Edward e então entrei em pânico, como
explicar a minha avó? Não se preocupe vovó, brilhar é algo natural para meu
namorado, é de família! Voltei meu olhar assustado para ela, temerosa, e então
a mulher vampira que se aproximou e tocou seu ombro, senti alguem tocar os meus
e lá estava a mesma vampira, sorriu para mim e deu um sorriso melado demais
para o meu Edward, minha cara se fechou na hora.
_ Feliz aniversario Bella! – disse com uma voz de sino e com
um sorriso sincero. Edward ergueu minha mão e vi minha pele enrugada. Olho para
minha avó, e a mesma vampira estava com o braço em volta dela e só então me dou
conta de uma moldura linda de madeira e com pedras talhadas em volta, quem a
segurava era Pamela.Com medo, ergui meu dedo até vovó e tudo que toquei foi um
vidro frio, aquele era meu reflexo, eu era a velha.
Alex e Pamela caminhavam até mim de mãos dadas, a vampira
caminhou até Edward e se aconchegou em seu peito, isso me irritou muito e antes
que eu falasse algo senti meu peito latejar ao vê-lo corresponder ao abraço e
beijá-la na testa.Todos estavam intocados pelo tempo, na flor da idade e
ficariam assim por toda a eternidade,enquanto eu estava velha, enrugada,
acabada pela idade avançada. Ainda mais próxima da morte.
Com um guincho de dor e entre soluços acordei! Meu rosto
estava banhado em lágrimas, minha cabeça latejando. Busquei repetir a todos os
instantes que era um maldito pesadelo e para me ajudar a acreditar em minhas
palavras o espelho do banheiro mostrou minha pele perfeita, que só teria um ou
duas ruguinhas de expressão se eu forçasse os olhos.
Tomei um banho demorado em uma água escaldante para relaxar
os músculos e me acalmar a mente. Forcei um copo de leite e uma maçã, mas
procurei não demorar nisso, Charlie estava no banho e depois dessa merda de
pesadelo, não queria saber de nada sobre aniversários, entrei rápido na picape.
Assim que entrei no perímetro do estacionamento pude ver meu
Deus grego encostado em seu Volvo, Alice estava de frente para ele, em suas
mãos um embrulho verde e prata. Me arrastei para fora da picape batendo a porta
com uma força exagerada, minha capa de chuva sendo deixada para trás, o frio
que estava pior. Seu sorriso me fez esquecer esse detalhe e me refrescar a
mente com o verão mais maravilho e inesquecível que eu poderia ter – apesar de
ter sido o mais chuvoso da península olímpica e o mais quente do Arizona. Após
voltar da casa da Pan não desgrudei de Edward, sempre estavamos juntos, só nos
separavamos durante as refeiçoes e meu banho – completamente perfeito com seus
beijos, com sua presença.
Caminhei lentamente e Alice saltitou até meu lado e me
abraçou:
_ Feliz aniversário!
_ Shiuuuu – não queria chamar atenção e não queria saber do
meu aniversário, não depois desse sonho.
_ Meu presente! Você vai adorar e vai usá-lo hoje a noite,
lá em casa! – disse me entregando o embrulho. Merda! Esqueci que dei carta
branca para Alice fazer uma reuniãozinha na casa deles. Hoje seria meu encontro
oficial com Alex! Pamela não poderia vir, estava passando mal, uma virose ou
algo do tipo.
_ Ok Alice, mas não quero saber de mais uma palavra sobre
meu aniversário! – digo tentando ser ameaçadora.
– Não sabia que tinha aversão a aniversários... – perguntou
quando já estávamos ao lado de Edward.
– Eu não tenho, mas tive uma noite horrível! E por isso não
quero saber de comemoração.
– Quer cancelar a festa? – perguntou meu anjo ao abrir os
braços pra mim e me deixar afundar em seu perfume.
– Não, não cancelará nada – disse Alice ameaçadoramente.
– Podemos fazer amanhã?
– Sem problemas Edward, podemos fazer hoje. Minha nova
aversão não irá desaparecer – pelo menos até que me transforme!
Alice saiu nos deixando sozinhos, me apertei mais a Edward.
Eu queria esquecer aquele sonho, mais assim que senti seus braços em minha
volta lembrei dela, eu queria perguntar algo, mas não queria mostrar fraqueza e
muito menos farei uma crise de ciúmes por causa de uma vampira que nem sei se
realmente existe!
_ O que houve em sua noite?
_ Pesadelo.
_ Quer falar?
_ Não.
_ Não precisa ficar com raiva de aniversários por causa de
um pesadelo.
_ Não é só isso, eu estou mais velha.
_ Essa é a lógica dos aniversários.
_ Estou mais velha que você.
_ Só um ano Bella, Esme é três anos mais velha que Carlisle
– disse acariciando minha bochecha, deixando minha pele formigando.
_ Eu quero um presente.
_ Peça.
_ Me transforme? – Edward se remexeu, ficando mais rígido em
meus braços.
_ Isso não é um assunto para resolvermos aqui, e nem
acontecerá de qualquer forma – fiquei irritada pra caramba com essa aversão a
me transformar, minha língua coçando pra xingar e soltar palavras das quais me
arrependeria, e também não queria dar um show no estacionamento. Segurei em sua
mão e segui para o prédio, Edward me puxou e me beijou, com delicadeza demais,
seu hálito me embriagando, minhas pernas ficando bambas e o ar se esvaindo.–
Não fique chateada – disse roçando nossos lábios – é seu aniversario – tentei
não me estressar, isso só estava piorando a dor de cabeça. Maneei a cabeça em
concordância e seguimos para as aulas chatas (que já não eram tão chatas assim,
Edward tinha quase todas as aulas comigo).
O dia passou rápido, as aulas me entreteram o suficiente para
isso. Algumas pessoas se lembraram do meu aniversário e vieram me cumprimentar,
é claro que o mau humor não tinha passado (e nem ia passar), mas fiz o possível
para não desagradar ninguém. Só era difícil segurar minha língua quando alguém
vinha com o comentário “ficando mais velha”, isso já era demais.
Saímos da escola e fomos direto para minha casa.
_ Você vai ficar até a hora de irmos para a festa, né? –
falei fazendo uma careta na palavra final.
_ Tudo para darmos um fim nessa sua nova aversão... – ele
disse acariciando minha bochecha – O que quer fazer?
_ Ver filme... O que acha?
_ Ótima idéia... – ele disse colando nossos lábios
brevemente.
Romeu e Julieta era realmente lindo, principalmente quando
você passava a se identificar com a história de certa forma...Eu estava deitada
sobre o peito de Edward, seus dedos repousavam em minha cabeça e ele citava
todas as falas de Romeu em meu ouvido, não tinha nada mais perfeito do que
aquilo.
_ Eu realmente invejo ele nesse momento. – Edward disse na
cena em que Romeu se suicida, era impossível entender seu ponto de vista, então
perguntei depois de alguns minutos tentando:
_ Inveja? O que exatamente?
_ O suicídio em si. – ele disse como se fosse a coisa mais
natural do mundo – É muito fácil para um humano morrer, tudo que ele precisa é
engolir um extrato de planta.
_ E por que diabos você precisaria pensar nisso? – eu disse
já visivelmente alterada com o rumo da conversa.
_ Eu já tive que pensar uma vez, quando você foi quase
morta, eu temi não chegar a tempo, temi viver num mundo sem você, e não é uma
coisa tão simples assim para um vampiro... – ele disse calmamente, o que me
irritou ainda mais. – O único jeito, já que eu não poderia pedir a ninguém que
me ajudasse, seria provocar os Volturi.
_ Quem são os Volturi? – eu perguntei nervosa.
_ Eles são a “família real vampira”, destinados a guardar
nosso segredo, e exterminam aqueles que deixam ele escapar de alguma forma.
Meu corpo estremeceu em pensar na possibilidade de um mundo
sem Edward, isso seria terrível demais, improvável, inconcebível.
_ Independente do que aconteça comigo Edward, você nunca
mais deve pensar nisso. Você vai continuar com sua vida, exatamente como antes
de eu aparecer para complicar tudo. – eu esbravejei, ele fez menção de
responder, mas eu fui mais rápida. – Essa conversa se encerra aqui, eu vou me
arrumar.
Saí pisando duro, ainda nervosa pelos pensamentos insanos de
Edward. Tomei meu banho, me vesti com o vestido que Alice tinha me dado, e me
maquiei. Quando cheguei na parte de baixo, meu pai já estava em casa, e Edward
o fazia companhia na sala.
_ Feliz aniversário Bells. – meu pai disse me abraçando
apertado, me entregando uma caixa azul. Abri.
_ Obrigada pai. É legal ter alguma coisa para registrar os
momentos importantes. – balancei a câmera em minhas mãos. – Se você não se
importar, eu vou para a casa do Edward, insistência de Alice... – eu disse me
desculpando.
_ Tudo bem, hoje tem jogo, eu não seria uma boa companhia
para a aniversariante.
Seguimos para a casa de Edward, para minha surpresa, tinha
mais carros parados na porta. Nessa hora eu tive um pouco de medo de Alice ter
exagerado. As escadas estavam enfeitadas com velas e flores, eu podia ouvir uma
música do lado de dentro e as luzes acesas, algumas lamparinas iluminando o
caminho até a entrada da casa. Eu tinha certeza que Alice tinha exagerado.
Antes que eu pudesse alcançar a entrada Edward puxou meu
braço, me fazendo olhar para ele:
_ Lembre-se de que isso é uma festa. Tente se divertir, eles
estão muito empolgados, já faz um bom tempo que não comemoramos um aniversário
por aqui. – ele disse me abraçando.
_ Tudo bem, eu vou me comportar. – disse em tom de zombaria.
Entramos, e tudo estava perfeitamente decorado, Alice não
tinha esquecido um detalhe se quer. O chão estava todo adornado com velas e
flores, iguais as da escada, havia também uma grande mesa no centro, forrada de
branco e um bolo rosa no centro, ladeado por grandes arranjos lindos. Algumas
taças e pratos num canto (muitos, já que a única que comia ou bebia aqui era
eu). Pude notar também alguns embrulhos no canto da sala, definitivamente eles
tinham se empenhado. Tudo perfeito.
_ Feliz aniversário Bella. – Alice me abraçou ansiosamente.
– Espero que tenha gostado.
_ Está perfeito Alie... – eu disse verdadeiramente.
_ Você precisa abrir seus presentes. Vamos logo. – ela disse
me puxando.
No curto caminho até os presentes, recebi parabéns e abraços
de todos, conheci também alguns amigos da família, os Denali. Kate, Irina,
Carmem e Eleazar eram ótimos. Eles disseram ter mais uma irmã, que chegaria
mais tarde, estava caçando, não me importei, provavelmente seria tão agradável
quanto os outros.
Realmente eu não tinha imaginado me divertir tanto numa
festa que eu passei o dia relutando em aceitar. Alex também estava lá, e eu
fiquei muito feliz em vê-lo. Ele já tinha se acostumado muito bem com sua nova
vida, parecia gostar bastante, estar feliz. Conversamos sobre amenidades,
relembrando o passado, Edward adorou saber mais um pouco sobre mim, riu
bastante das nossas histórias.
Às vezes eu podia sentir que alguém estava um pouco
incomodado na minha presença, afinal de contas meu cheiro deveria ser uma
tortura para eles, mesmo estando habituados a ficar perto de humanos, aquela proximidade
era excessiva. Alex e Jasper, eram os mais tentados, mas se saíam muito bem, só
percebia que não respiravam ao meu lado.
Esquecemos dos presentes por um tempo, mas é claro que Alice
não deixaria passar em branco. Quando vi, estava novamente esperando ao lado
das infinitas caixas. Abri uma a uma, ganhei várias coisas, roupas, sapatos,
duas passagens para visitar minha mãe (que eu adorei), alguns livros...Quando
terminamos todo o ritual, Edward me puxou para uma sala mais a frente, ela
estava vazia, mas ainda podíamos ver os outros na sala ao lado, eu segurava
minha taça de suco nas mãos, e sem ter onde coloca-la, permaneci com ela. Não
ousaria apoiá-la no piano, não sabendo que aquilo ela dele e certamente tinha
quase um século ou mais.
_ Apenas roubando a aniversariante um pouco... – ele disse
em meu ouvido, seu hálito gelado em contato com minha pele, me fazendo
estremecer - consegui curá-la da aversão?
– Hum? – estava embreagada com seu perfume - Conseguirá se
me trans...formar– minha voz quebrando na ultima palavra ao sentir meu corpo
vibrar com seus beijos em meu pescoço.
Quando finalmente recobrei todos os meus sentidos, vi alguém
chegar, sabia que era a irmã que faltava, ela era realmente linda. Porém quando
seus olhos encontraram os meus, eu os reconheci, era ela, a mulher do meu
sonho. E como se ainda não fosse suficiente, ela olhou para Edward e deu o
sorriso mais doce que poderia existir.
– Esta é a famosa Bella?– sorriu docemente para mim - Prazer
em conhecê-la – disse estendendo a mão. Tentei ser cordial e esquecer do
pesadelo, mas isso não impediu do meu ciúme falar mais alto.
– Se conhecem a... quantas décadas?– perguntei olhando para
Edward, este que me olhava interrogativo, Jasper! Claro que ele sentia meu
nervocismo e ciúmes.
– Mais de cinco! Tanya é nossa prima!– meu olhar estava nela
e vi uma pontada de dor nos olhos dourados quando ele disse prima. Obviamente
ela queria e já tentou mais que isso!
Sem me dar conta da burrice que estava prestes a cometer,
apertei a taça em minhas mãos com tanta força que ela se partiu, fazendo todo o
líquido escorrer pelo chão.
Olhei com medo para baixo, rezando para que eu não tivesse
me cortado, porém era tarde demais, o sangue escorria pelo meu braço e eu tinha
certeza de que todos já estavam me olhando.
Antes que eu percebesse, Jasper e Alex pulavam em minha
direção. Edward me empurrou para trás, me fazendo cair em cima da mesa de
centro, partindo mais um vidro, e mais sangue sendo derramado, dessa vez o
corte era em meu braço, rente ao ombro.
Pude ver Emmet, Rosalie, e as irmãs Denalli segurando os
dois, eles estavam descontrolados, suas presas a mostra, seus olhos sem vida,
apenas com a intenção de se saciar. Alice tentava acalmar Jasper, mas todos os
seus esforços pareciam em vão. Ela chorava, enquanto eles os levavam para fora
da casa. Edward permanecia agachado em minha frente, claramente numa posição de
ataque.
Carlisle e Esme, desaparecidos até então, voltaram trazendo
uma maleta e alguns panos e produtos de limpeza.
_ Edward, precisamos leva-la para a mesa da cozinha. –
Carlisle dizia apressado, ele era o único que não parecia se afetar com o
cheiro do sangue.
Edward me carregou até onde ele tinha pedido, eu sabia que
ele não estava respirando, e sabia também que aquele cheiro o incomodava mais
do que a todos, afinal eu era sua droga.
_ Você pode ir Edward. Carlisle vai cuidar de mim agora. –
eu disse olhando em seus olhos.
_ Não Bella, eu vou ficar. – ele respondeu depois de ver meu
rosto de fechar em dor.
_ Edward ela tem razão, é melhor você ir. Eu vou anestesiar
o local, Bella não vai sentir dor alguma. – Carlisle tentava o convencer.
Alice entrou chorando pela porta.
_ Me desculpem por isso. Quando eu percebi o que eles iam
fazer já era tarde demais, foi uma decisão de última hora, eles resistiram até
o fim. – ela dizia com a voz embargado no choro de vampiro.
_ Não é sua culpa Alie. Onde estão Jasper e Alex? – eu perguntei
preocupada.
_ Alex foi embora depois de se controlar, pediu desculpas
pelo transtorno. E Jasper, ele prefere ficar sozinho, deve estar na mata. – ela
dizia triste, ainda tentando camuflar os sentimentos.
_ Você deveria ir falar com ele Edward, provavelmente é o
único que ele irá ouvir agora. – Carlisle disse.
_ Carlisle tem razão, vá falar com Jasper. E por favor, diga
que eu não estou chateada, nem um pouco. – eu disse.Edward pareceu concordar e
saiu com Alice, eu tinha certeza que ele estava se culpando por tudo, nós
precisaríamos conversar sobre isso.
Carlisle retirava os pedaços de vidro que ainda estavam na
ferida. Como ele disse, eu não sentia dor, apenas uma pequena aflição no local,
e uma grande náusea pelo cheiro de sangue. Foquei minha atenção nele, era
incrível seu auto controle, ele parecia mais calmo do que eu.
_ Como você consegue?
_ Anos de prática. – ele respondeu sorrindo.
_ Sabe, você não precisava fazer isso. Tentar se redimir
pelo que houve com você. Você não teve culpa... – eu disse meio sem pensar.
_ Eu não estou me redimindo Bella. Apenas escolhi o melhor
caminho a seguir, com tudo que me foi dado. – sua calma transparecia em todas
as palavras e automaticamente dominava o ambiente.
_ Mas por que você escolheu esse caminho, e não o mais
óbvio?
_ Eu penso que tem que existir um propósito maior na vida, e
apesar de já estarmos amaldiçoados, eu gosto de acreditar que nós teremos algum
tipo de crédito apenas por tentar.
Eu me surpreendi com sua resposta, nunca pensei que pudesse
ter uma explicação religiosa por trás das escolhas dos Cullen. Chegava a ser
bizarro, o vampiro falando de fé, mas tocou meu coração de uma forma
inexplicável. _ E todos concordam com você quanto a isso?
_ Edward acredita na existência de Deus, mas acha que nós
somos almas perdidas, fadadas a viver nessa viva para sempre, sem direito a
nada, além disso. – ele pareceu entender que minha curiosidade estava limitada
ao que Edward pensava, e eu pude entender porque ele era tão contra a minha
transformação.
_ Esse é o problema, não é? Por isso ele se nega tanto a me
transformar?
_ Sim, e pense por um breve momento. Se acreditasse no que
ele acredita, você seria capaz de arriscar a alma dele?
Aquela pergunta cortou meu peito. Eu arriscaria minha alma
por ele, eu não tinha dúvidas disso. Mas seria eu capaz de arriscar a alma dele
para satisfazer um capricho meu? Não, eu não seria.
Nesse momento ele entrou pela sala, e só então eu percebi
que Carlisle já tinha terminado todo o procedimento e os curativos. Sua
expressão era vazia, seus olhos estavam vazios, eu podia sentir sua angustia,
sua dor. Tinha certeza que ele se culpava por tudo que aconteceu ali, o que era
ridículo. Eu precisava dizer isso a ele, mas agora não seria o momento certo.
Deixei que ele me levasse até o carro, e aproveitei esse
momento para enterrar meu nariz na dobra de seu pescoço, eu podia sentir que
alguma coisa estava muito errada, e eu não tinha bons pressentimentos quanto a
isso.O caminho para casa foi silencioso. Minha mente lutava em busca de uma
forma de começar a conversa, mas estava tudo em branco. Quando senti que o
carro parou, me virei para ele.
_ Você vai passar a noite certo?
_ Eu ainda tenho que te dar meu presente. Te encontro no seu
quarto. – ele disse acariciando meus cabelos, e aquilo por mais que eu
quisesse, não acalmou meu coração.
Me troquei no banheiro, vesti uma roupa confortável, escovei
meus dentes e me olhei mais uma vez no espelho, criando coragem para entrar no
quarto. O encontrei espalhado em minha cama, com um embrulho lilás nas mãos.
Ele sorriu para mim e me entregou, depois de constatar que eu não poderia abrir
com a mão enfaixada, ele pegou novamente e abriu para mim. Era um CD. Olhei para
ele com uma cara de dúvida, e ele apenas colocou para tocar.
Minha canção de ninar começou a ecoar pelo quarto, e meus
olhos se encheram de lágrimas.
_ Isso é lindo Edward. É perfeito. – eu disse o abraçando.
_ São minhas composições, para você ter uma lembrança de
tudo. – ele disse colando nossos lábios, e o beijo se tornou urgente e
profundo, diferente de todos que ele já tinha me dado, parecia uma despedida,
tinha um quê de sofrimento, dor, angustia. Tive medo de nos separar. Mas era
inevitável.
Eu não tinha mais o que falar, sabia que se conversássemos
agora ele não me deixaria explicar nada e eu sabia que nesse momento nada
poderia mudar a situação, então me aninhei em seus braços e deixei que suas
canções me ninassem, rezando para que o dia nunca amanhecesse.
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