sábado, 22 de junho de 2013

ADV - Capítulo 12

As cavernas normalmente eram um porto-seguro para ela, um lugar onde poderia ter uma vida normal e completamente sua. Algo que ela nunca havia tido antes em nenhum dos planetas em que viveu. Ali sentia-se em casa, entre os que ela amava profundamente. Todos, até mesmo Sharon, eram para ela, parte de sua família. Eles eram tudo o que ela tinha de mais caro.


Entristecia-se com as recentes mudanças de comportamento dos membros da comunidade humana. Foi fácil fazer amizade até mesmo com a recém-chegada Jodi, mas mesmo ela agora, havia mudado completamente. Todos a evitavam, fingiam não olhar para ela, sussurravam, seus amigos a tratavam com um cuidado que normalmente seria delegado a uma criança. Faziam de tudo para distraí-la.

Não perceberia nada disso se não fosse pela recente conversa, ou melhor, pelo quase monólogo da Sharon. Ela havia atraído sua atenção para fatos que já tinha percebido e que no entanto, deliberadamente havia ignorado.

Algo acontecia e era escondido dela. Será que não a consideravam de confiança? Todos sabiam de algo e não dividiam com ela. Seria menos doloroso se Ian não estivesse envolvido nisso. O que poderia estar acontecendo para até mesmo Ian voltar-se contra ela?

Tinha que fazer algo. Precisava procurar alguém e pressionar até saber o que acontecia. Pelo o que Sharon disse, ela corria perigo e Ian a havia usado. Nisso ela não queria e não poderia acreditar, então precisaria de respostas.

Decidiu esperar Ian no quarto deles, enquanto isso refletia sobre o que acontecia e as possibilidades que tinha de se defender naquele corpo pequeno e frágil. Tudo parecia mais fácil quando estava no corpo da Mel. Pensar nela também era triste, ela era sua irmã, a amava muito e agora ela agia como uma estranha.

Ela ficou mergulhada em conjecturas e achismos, procurando uma solução para algo que ainda não sabia exatamente o que era.

Precisava de Ian e da segurança que somente ele poderia lhe dar.

Ian também estava preocupado, não gostava do rumo que as coisas haviam tomado, precisava proteger Peg e ao mesmo tempo não acreditava numa solução diferente da que a comunidade humana havia tomado. Ele também preocupava-se com a espécie humana e queria tornar o mundo um lugar seguro para as próximas gerações.

Pensando em Peg entrou no quarto, ela estava no escuro e esperando por ele. Estava triste e Ian sentiu seu coração pesar ao pensar que ele contribuía para aquela tristeza.

__ Precisamos conversar Ian.

Precisavam, mas aquele não era o momento, antes ele e Kyle tinham que planejar um meio de manter as almas amigas em segurança.

__ O que foi amor?

Peg ouviu ao mesmo tempo em que sentiu a carícia de Ian em seu rosto. Conhecia-o tão bem, sabia exatamente o que sucederia aquele carinho.

__ Sei que algo está acontecendo. Estão escondendo algo de mim e não me agrada pensar que não sou digna de confiança.

Ela havia desconfiado e ele sabia que todos faziam o possível para mantê-la distraída. Alguém havia enchido a cabeça de Peg com desconfianças.

__ Quem lhe disse algo tão absurdo?

__ Nâo sou idiota Ian, consigo perceber as coisas sozinha. __ Não poderia dizer que Sharon havia procurado-a para espicaçar os seu sentimentos.

__ Nada acontece amor, pelo menos nada relacionado a você.

__ O que quer dizer com isso?

__Estamos com problemas relacionados as incursões e isso não tem nada a ver com você. Está se preocupando à toa.

Como ela poderia esclarecer suas dúvidas sem denunciar Sharon? Não que ela achasse que Sharon merecia alguma consideração, sua benevolência era dirigida a Doc. Não gostava de vê-lo constrangido com as atitudes dela.

__ Ian eu.....

__ Shhhhhh... Amor, quer mesmo ficar discutindo suas ideias fantasiosas de conspiração? Tem certeza que não quer fazer nada melhor e mais produtivo.

Enquanto ele falava ia distribuindo beijinhos pelo seu rosto, pescoço e ombros. Aquilo mexia muito com ela, era difícil pensar com o homem que amava seduzindo-a de maneira tão maravilhosa. Em pouco tempo já estavam completamente absorvidos um pelo outro e Peg deixou suas preocupações para outra hora.

Ela tentaria com outra pessoa. Nem todo mundo tinha uma arma tão eficiente de distração quanto Ian.

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Ela acordou sozinha mais uma vez. A rotina agora era essa: dormiam juntos, ele saía antes dela acordar, ela ia para cozinha e era mimada. Mantinham-na ocupada com assuntos rotineiros e de pouca importância. Sorriam para ela, mas ela sabia que tinha algo por trás de tudo aquilo. Estranhamente Kyle parecia o único que a tratava do mesmo jeito. Com o passar do tempo haviam criado certa tolerância um em relação ao outro e agora já poderia dizer que eram amigos. Desde que Sunny havia entrado na vida dele, sua atitude com as almas mudara muito e isso fazia dele era um bom alvo para seu interrogatório.

Agora ela tinha um plano viável de interação. Procuraria Kyle e faria com que ele lhe contasse o que estava acontecendo.

Ao chegar na cozinha para o café da manhã encontrou um cenário ligeiramente diverso do de costume. Ian, Kyle e Sunny não estavam ali, isso era estranho, sentavam-se sempre juntos e começavam o dia com uma conversa animada. Eles deveriam ter acordado muito antes dela para terem comido tão rápido.

Ela olhou em volta, Melanie estava sentada ao fundo. Qualquer um diria que ela estava se escondendo. Peg franziu o cenho, não achava que Mel se esconderia.

Caminhou em direção a amiga sem se importar com o café da manhã e formulando mentalmente seu interrogatório. No caminho passou por Sharon, Lacey e Maggie. Se olhares fossem mortíferos, teria sido seu fim. Sharon foi a única que a olhou diferente, com escárnio, ela sorriu mandando-lhe um beijo.

Tentou não dar importância a tanta maldade e ódio. No fundo gostaria de ser amiga delas.

Melanie percebeu que seria abordada e tentou sair da cozinha dando a volta pelo o outro lado das mesas. Peg percebeu o movimento e interceptou a amiga antes que ela fugisse.

__ Nem vem, Peg. Já sei que sua cabeça está cheia de minhoca e não vou contribuir com isso, mas pode deixar que faço Sharon pagar depois.

Ela sorriu, estava acostumada a intensidade de Melanie.

__ O que Ian lhe disse? E por que você acha que foi a Sharon que me contou o que anda acontecendo.

__ Ian falou comigo mais cedo sobre suas desconfianças.

__ É, pelo jeito ele madrugou.

__ Nem tanto. Você que acordou tarde.

Mentira, ainda era super cedo.

__ E quanto ao que Sharon me contou?

__ Nem adianta tentar essa comigo. Sharon fez terrorismo com você, ela não lhe contou nada porque não há nada para contar.

Peregrina ficaria naquele jogo com Melanie por um bom tempo se pudesse, seus diálogos eram divertidos e ela gostava de brincar com a amiga. Naquele dia, porém, ela não se daria ao luxo de um joguinho de palavras.

__ Mel.__ Ela usou seu tom mais sério.__Sei que está acontecendo alguma coisa e sei que todos foram instruídos a não me contar. Você mais que ninguém aqui sabe que isso não é necessário. Eu nunca faria nada que ferisse, arriscasse ou magoasse algum de vocês. A única pessoa em desvantagem aqui sou eu.

Parou de falar e olhou para sua melhor amiga. Melanie parecia vacilar, internamente lutava entre manter a promessa de deixar Peg fora daquilo tudo e ajudar a amiga.

__ Mel, por favor, você já dividiu a mente comigo. Sabe como sou. Se acontece algo do qual preciso me defender, tenho o direito de saber.

Melanie respirou fundo. Tinha que admitir que Peg estava certa e que precisava fazer algo em defesa da amiga. Sentia-se impotente diante dos fatos, talvez ajudar Peg deixa-se sua consciência mais tranquila.

__ Vamos para outro lugar. Tem gente demais prestando atenção em nós duas.

As duas olharam para trás e viram a tríade do mal em alerta. Lacey cochichou algo para Sharon e esta levantou indo em direção das duas. Parecia furiosa e pronta para uma discussão típica dela. Maggie olhou com desprezo na sua direção e ficou de costas.

Quanto a prima de Melanie chegou, Peg fez um esforço para manter-se firme e quieta. Sharon estava pronta para um escândalo e isso só faria as coisas piorarem. Ela não precisava de um humano fazendo-se de vítima agora.

__ Sabia que não podia confiar em você. Aposto que alertou a parasita e colocou todo mundo em risco. Assim que você virar as costas ela vai sair correndo daqui e buscar ajuda da espécie dela.

__ Você julga todos segundo seus próprios padrões, prima. Não é porque você faria algo assim, que Peg vai ter a mesma atitude.

__ Deixamos de ser primas há muito tempo. Você me acusa de possivelmente trair todo mundo, quando ela é mais capaz disso do que eu.

__ Peg jamais nos trairia.

__ E por que não? Traiu os de sua própria espécie.

Ela preferiu ficar quieta e deixar a discussão com Melanie, mas aquela última fala de Sharon havia deixado sua melhor amiga sem reação. Sharon ficou com uma expressão presunçosa de quem vencia uma batalha, enquanto Melanie tinha as faces vermelhas. Ela não saberia dizer se o vermelho era de vergonha ou raiva.

__ Fiz isso Sharon, para devolver Mel à vocês.

O ar presunçoso abandonou Sharon imediatamente. Ela virou e voltou a sentar perto das outras duas.

Mel a puxou pelo braço e levou em direção ao quarto que ela dividia com Jared. Peg estava tão compenetrada que nem percebeu quando chegaram.

__ Bom. Acho que depois do que Sharon falou, tentar esconder de você é inútil.

__ Por que ela usou a palavra “alertou”?

Aquilo não saia de sua cabeça. Por que ela deveria ser alertada?

__ Peg, tente nos entender antes de julgar. O que vou contar agora está sendo mantido em segredo de você, Cal e Sunny. Acho melhor você se sentar.

Segredo até mesmo de Cal. Nate deveria estar nisso também.

Assim que ela se sentou, Mel deu início as explicações:

__ Quando você nos ensinou a fazer uma extração, nos mostrou também uma luz no fim do túnel. Entendemos que algumas vidas humanas não são perdidas para sempre e que algo pode ser feito. Você nos deu esperança de acabar com tudo isso e voltar a ter tudo como era antes. Podemos retomar nosso planeta e nossas vidas.

__ E qual é a parte em que preciso estar alerta? __ Peg perguntou sabendo a resposta. Não podiam retomar o planeta se as almas ainda estivessem ali.

__ Pense, Peg. O que acontecerá quando as almas que mandamos embora acordarem em outro mundo com as lembranças daqui e do que aconteceu a elas? Nós, os humanos, chegamos a conclusão de que elas voltarão ou alertarão outras almas. O que no final vai dar na mesma, uma ofensiva contra nós. A raça humana vai se extinguir e não vai sobrar nada da nossa cultura. Sei que para vocês somos uma civilização bárbara que cultua violência, mas nem todos nós somos maus ou pouco civilizados. Estamos aprendendo para evoluir, como todas as espécies aprendem e evoluem. Temos esse direito.

Peg continha o fôlego, temia o que via em sua mente. Instantaneamente lembrou do dia em que entrou no consultório de Doc e viu seus irmãos jogados, mortos na mesa, esquartejados sem nenhuma piedade. Alguns, bebês ainda.

__ Nâo me olhe assim. Não concordo com os outros, nenhum dos seus amigos concorda, mas não conseguimos um meio de deter os outros. Já está tudo decidido.

__ O que está decidido?

__ Alguns da célula de Nate desenvolveram um meio de se infiltrar entre os seus, quando infiltrados serão feitas extrações e nenhuma alma será poupada. O plano é exterminar a sua espécie da mesma maneira em que conquistaram a nossa, silenciosamente.

Então era isso que Sharon quis dizer, ela realmente havia traído os seu, fornecendo aos humanos uma arma eficiente de extermínio. Eles sempre tinham vantagem sobre as outras espécies, que não poriam em risco um dos seus numa extração, quando não sabiam o que fazer, mas ela ensinou os humanos e colocou em risco seus irmãos.

Precisava fazer algo ou seria responsável por um genocídio.

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