C - Capítulo 2

Sem o peso do mundo nos ombros pela primeira vez em anos, Phoebe levantou-se e, pé ante pé, saiu do quarto. Seus passos seguiram adiante, mas seus olhos não, o que resultou em uma topada com um vaso ao lado da porta.


“Isso é o que dá não olhar para frente!”

Se fosse no solar, poderia andar até de olhos fechado, mas ainda não estava acostumada com a disposição das coisas em seu novo lar. Assim como também não estava acostumada a acordar e não estar sob o mesmo teto que suas irmãs. Bem, na verdade, essa era a menor das estranhezas no momento. Olhou de volta para o quarto, ainda sem acreditar que podia viver aquele sentimento livremente.

Tinha tentado levantar em silêncio e achou que o barulho da topada arruinaria esse esforço, mas Coop nem sequer se movera na cama.

“Não sabia que cupidos tinham sono tão pesado!”

Esse pensamento lhe provocou uma risada que ela conteve com as mãos. Afinal, de fato essa não era a única coisa que ela não sabia sobre cupidos. Embora esse não tenha sido o primeiro cupido que passou por sua vida, a verdade é que, além do fato de que eles não eram anjinhos gorduchos e nus, não sabia nada sobre eles. Felizmente, ela teria bastante tempo para descobrir todos os detalhes a respeito deste.

Pela primeira vez em muitos anos, ela sentia uma sensação de amparo, de que não estava sozinha. Sentir-se sozinha era um sentimento estranho para quem tinha laços familiares tão profundos quanto os dela. Mas quando Prue se foi, ela havia se apoiado tão fortemente no amor de Cole, que quando tudo acabou daquela forma...

Foi o amor que sentia por ele que fez com que ela não desmoronasse quando a tragédia se abateu sobre sua família e quase destruiu o Poder das Três. Foi o amor que a ajudou a restaurá-lo, trazendo Paige para o seio da família, lutando contra a resistência e o desolamento de Piper... O amor a manteve inteira para reconquistar a integridade de sua família.

Quando tudo acabou de forma tão sofrida, ela quase se perdeu completamente. Deixar esse amor para trás foi a coisa mais difícil que já fez. Até hoje evitava voltar a pensar nele, pois não sabia nomear o sentimento que ainda tinha, mas hoje conseguia pensar nisso sem sofrer.

Hoje, era tudo diferente: nada da turbulência que eram seus sentimentos por Cole, nada do vazio das relações que tivera depois dele, tudo era paz e plenitude. Com Coop, pela primeira vez deixara de se sentir intrinsecamente só. Agora, não importava se em um cômodo vazio ou no centro da maior das multidões, ela não estava mais sozinha, seu coração estava preenchido pelo amor, pelas possibilidades...

De volta ao quarto, tocou de leve a mão dele e quando ele abriu os olhos e olhou os dela, foi como se um trovão “tocasse” seu peito. Teve uma premonição. Viu-se por dentro.

E havia Vida.