Capítulo 1 – Lagartos de Fogo, Aí vou eu!
Um raio percorreu a noite de céu estrelado.
Mira estava furiosa. Estava
novamente perdida – fato que acontecia com uma frequência maior do que a garota
gostava de admitir. Possuia diversas habilidades, entretanto, sua orientação
era algo que deixava, em muito, a
desejar. Sua boca exalava bufadas
ruidosas, somente silenciadas pelo barulho de trovão ressoando por cima da copa
das árvores.
- A culpa é sua Tails! Quem
mandou você sair correndo atrás daquele coelho?! Agora estamos aqui: perdidas e
com fome! A raposa olhou para sua dona, simplesmente pensando: - Não me lembro
do que você está reclamando (embora realmente estivesse pensando que aquele era
um coelho bastante rechonchudo e rápido. Bem rápido).
Mira esticou as pernas
e ficou fitando o céu estrelado. Será que faltava muito para chegar em Milth? Estava
acostumada a encarar semanas na estrada, mas viajar sozinha – apenas com a
companhia de Tails – era algo monótono. A menina gostava de ter gente por
perto, além de que, sempre que viajava sozinha, a viagem se prolongava além do
necessário, parte da culpa devido ao talento nato para desorientação.
Não estava frio
ainda, mas o clima já havia ficado diferente de um tempo para cá. O inverno
estava chegando. Mira olhava, quase cobiçando, a pelagem branca e com contornos
em azul de Tails. Pensou consigo mesmo na imagem ridícula de ver a raposa
tosada e caiu na gargalhada sozinha. Tails, que estava imersa em um sonho leve,
acabou por despertar, e sem entender nada, aninhou-se sobre a barriga de sua
dona, adormecendo ambas.
Auron estava
pendurado de cabeça para baixo em uma mangueira fazia duas horas. Embora
reclamasse, de maneira frequente, sobre os treinamentos impostos por Pharos,
jamais deixava de fazer o que era ordenado. Desconfiava que aquele treino
ridículo era somente uma, das muitas, brincadeiras do mago. O velho havia
prometido a Auron, que se ele conseguisse ficar pendurado até o amanhecer, ele
poderia caçar Lagartos de Fogo sozinho na próxima semana.
Lagartos de fogo eram
criaturas grandes que habitavam charcos e pântanos próximos. O simples toque em sua pele causavam fortes
queimaduras e sua saliva continham um forte veneno, capaz de matar uma ovelha
ou um cachorro em questão de minutos.
(Pendurado na árvore)
- Nossa, já faz 12 anos que
conheço o velho! Ele ainda não me deixa caçar nenhum lagarto depois daquele
acidente! E eu só tinha 6 anos!!! – resmungou de cabeça para baixo.
Aconteceu um ano depois da
chegada de Auron na casa de Pharos. O menino
passara o veneno no rosto, pensando
se tratar de tinta para imitar pinturas de guerra iguais a que ele via nos
livros de Pharos. Aquilo, que normalmente mataria uma criança, causou uma certa
irritação na pele de Auron e seus olhos ficaram inchados por mais de uma
semana, mas fora isso – nada havia acontecido. O fato é que Pharos era um
Feiticeiro de Fogo, e estava treinando Auron para o mesmo destino.
A casa era pequena se comparada a
casa de outros feiticeiros e magos da cidade de Conodrian. Haviam apenas dois
quartos e um escritório, atulhado de livros e pergaminhos. A verdade é que a
ausência de uma alma feminina na casa, tornava-a bagunçada e totalmente ausente
de qualquer quesito de moda. Típica casa de Feiticeiros.
Foi naquela casa que Auron
passara sua infância, lendo, treinando, fazendo brincadeiras com o mestre.
Estava lá desde os 5 anos e muito pouco se lembrara antes de ir morar
ali,afinal, sempre estava em alguma aventura com Pharos – dessa maneira,
conhecendo diversas cidades e lugares – muitos deles estranhos e inusitados.
Certa vez, foram ajudar uma
pequena vila de Golls, pequenas criaturas – que não medem mais de meio metro de
comprimento e que possuem orelhas peludas e enfeitam os ralos cabelos com ossos
de aves ainda menores. Vivem em tocas nas planícies de Krasandor. Apesar de
tudo, adoram festas e são bastante carinhosos desde que você não tente roubar um
de seus ossos.
Entretanto, Pharos não deixava
Auron ir caçar os Lagartos de Fogo. Falava que seu aprendiz era um idiota e que
provavelmente morreria na tentativa – o que acabaria por frustrar o próprio
feiticeiro por ter perdido tempo em ensinar alguém tão teimoso quanto Auron.
- Mas hoje, isso irá mudar!
Consegui ficar a noite toda pendurado de cabeça para baixo na mangueira e
aquele velho terá que cumprir sua palavra. Assim que eu encontrar aquele velho
tarado, saio para caçar um lagarto bem grande e forte, e irei torná-lo meu animal
de estimação – O que era uma grande mentira, pois primeiro: Lagartos de fogo
não podem se tornar animais de estimação (provavelmente iriam matar seus donos,
fora que eram extremamentes difíceis de alimentar) e segundo: Auron não iria a
lugar nenhum, estava com os músculos totalmente doloridos e a cabeça não parava
de girar devido as horas em que ficara pendurado.
Pharos estava totalmente
concentrado em alguma coisa que não conseguia mais se lembrar. Havia se
distraido devido a duas jovens que passavam ao longe. O velho era conhecido
pelo seu conhecimento e capacidade de controlar o fogo, entretanto, também era
conhecido pela sua maior fraqueza: Mulheres bonitas.
- No que eu estava pensando
mesmo? Huum.... Acho que tinha alguma coisa a ver com Lagartixas... Ahhh Sim!
Aquele pirralho vai querer ir caçar os Lagartos, só porque passou a noite
pendurado de cabeça pra baixo. Na idade dele, meu mestre mandava eu ficar uma
semana pendurado, e fazendo abdominais ainda! Mas promessa é promessa. Isso vai
dar tempo para fazer os preparativos de minha viagem.
Auron já havia separado os
materiais que iria levar para caçar. Apesar de usar bastante uma espada curta
de lâmina curva, presente de Pharos, normalmente não utilizava arma nenhuma
para caçar, pois suas magias eram o suficiente na maioria dos casos. Entretanto, como Lagartos de Fogo tem a pele
muito dura, além de estarem intimamente associados ao elemento de fogo, magias
dessa natureza não eram muito eficazes, fazendo pouco mais do que cócegas nos
enormes animais. Por isso, estava levando uma rede para capturará-lo, afinal, não
iria matar, e sim, torná-lo seu animal de estimação.
(Auron) : - Velho, você tem
certeza de que não vem? Podemos passar em Milth depois. É apenas um dia de
viagem. Você tem trabalho muito ultimamente no Conselho.
(Pharos): - Velho era o senhor,
meu Mestre – retrucou Pharos. Tenho trabalhado e ainda irei trabalhar nos
próximos dias. Depois que as pessoas perderam o medo de usar magia, parece que
o trabalho de feiticeiros tem triplicado! Vá e me traga uma dúzia de lagartos
para eu comer assado!
(Auron): - Você sabe que eu não
os mato! Somente irei capturar um para se tornar nosso animal. Mesmo que você
me fazendo passar fome, ainda não estou desesperado ao ponto de comer meu
futuro amigo! Tendo dito isso, Auron fechou a porta, escutando o estalo de
dedos – o que provavelmente significava alguma labareda indo em direção a
porta.
Pharos ficou pensando sobre a
última palavra do garoto. Auron era um garoto teimoso, com certeza era, mas
também era um discípulo fiel. Apesar de ser engraçado e bem humorado, o jovem
não tinha amigos, pois somente a pouco tempo feiticeiros começaram a serem
aceitos pelas cidades, ainda encontrando resistência em muitas pessoas que
acreditavam que magia era uma coisa maligna. Além disso, estavam sempre
viajando e embora fizessem algumas amizades pelas estradas, o caminho da magia
era algo difícil e, muitas vezes, solitário. O velho feiticeiro passou a mão
pela cabeça careca e coçou a vista, acendendo seu cachimbo. – Nossa, que corpo
tinha aquela jovem que vi ontem!
Fim do Capítulo 1
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