Prólogo
O sol já abandonara a linha do
horizonte a algum tempo, e sobre um céu preenchido por estrelas, Arghos estava
em frente a Igreja segurando um archote na mão. O calor oriundo das chamas não
era responsável pela sensação de desconforto que se passava dentro do Guardião
do Templo, pois devido a seu treinamento na cidade de Midghar, Arghos já não se
incomodava com o calor, nem sequer com a brisa gelada da noite anunciando a
chegada do Inverno. Não. Não era isso. Era algo a mais.
Aquela fora a primeira Igreja cujo
o guardião jurou proteger com seu sangue e vida. Tantas histórias e lembranças
ressoavam dentro das paredes brancas –
algumas histórias nas quais o próprio Guardião havia participado, bem
como histórias de muitos anos, séculos atrás. Aquilo era como sua casa, aliás,
por muitos tempo fora realmente sua casa. Sua, dos discípulos e do próprio
Padre Ivan. Arghos lembrou do rosto de cada um no qual dividiu o pão, a água, o
teto e o amor de irmão. Os cabelos pretos e encaracolados de Matheus, as roupas
de Marcos que sempre precisavam ser costuradas, o sorriso de Gary. Todos bons
meninos. Todas essas lembranças.
O guardião entrou pela igreja e foi
caminhando em direção ao altar. Branco, feito do mais puro mármore e lapidado
pelas mãos habilidosas dos ferreiros do Rei, para que nenhum único detalhe não
parecesse imperfeito. A igreja por dentro não era menos deslumbrante: Quadros
pintados a óleo contavam histórias de personagens famosos desde muitas eras
passadas. A batalha de Jhairo, o
Destemido contra o dragão Klhar no vale da Perdição. A flauta de Loiraine, capaz de receber auxílio de
qualquer animal na natureza, entre tantas outras lendas. Arghos conhecia cada
detalhe, cada personagem daquele universo.
O imenso guardião continuava com o archote
aceso quando se ajoelhou perante ao altar da igreja. Fechou lentamente os olhos
castanhos e fez uma rápida prece. Agradeceu por tudo que ali lhe fora
concebido, assim como por todos que conheceu embaixo daquele teto. O que está
feito,está feito – pensou. Se essa era a vontade de Deus, que assim seja.
Levantou-se e saiu pela mesma porta que entrou. A noite havia ficado mais
gelada, pesada. Arghos segurou sua
respiração por um curto período de tempo – e quando finalmente soltou, também
soltou o archote aceso perto das pilhas de palha seca que se encontravam do
lado de fora. O guardião não levantou os olhos nenhum segundo sequer para ver a
Igreja, que prometera proteger com seu sangue e sua vida, queimar. Mas estava
feito. Essa era a vontade de Deus.
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