Capítulo 6 - No Abismo
Send away for a priceless gift
One not subtle, one not on the list
Send away for a perfect world
One not simply, so absurd
In these times of doing what you're
told
You keep these feelings, no one knows
What ever happened to the young man's
heart
Swallowed by pain, as he slowly fell
apart
And I'm staring down the barrel of a
45,
Swimming through the ashes of another
life
No real reason to accept the way
things have changed
Staring down the barrel of a 45
(45 – Shinedown)
Logan
Ele
não estava lá quando ela fechou os olhos...
—
Mas o que diabos aconteceu!?
— Ele começou a sentir dor... E
então... De repente desmaiou.
...mas
sabia que ela tinha morrido bem antes disso.
— Qual é o quadro?
— Lábios cianóticos. Parte interna da
pálpebra sem coloração. A respiração está normal e pude ouvir o coração, mas
quase não consegui detectar pulsação. Está muito, muito fraca.
E
foi quando ele soube o quanto doía não poder controlar as coisas.
— Vai dar tudo certo, cara. Só fique
calmo.
Eu tive uma irmã. Ele... o Logan humano, teve uma irmã. Não eram
irmãos de verdade, de sangue, mas era tudo o que ele tinha. Ela era o líquido vermelho que corria em suas
veias. Então a pneumonia chegou e ela não morreu em seus braços, mesmo que ele imaginasse
às vezes que tinha sido assim. Mesmo que fosse sua lembrança mais dolorosa.
Ela
morreu numa ambulância. Sobre a superfície esterilizada de uma maca. Enquanto
eu... ele se agarrava aos lençóis sujos e molhados de suor. Em vez dele, um
paramédico chamado Jim estava ao lado dela. Mas era simplesmente tarde demais,
e talvez Jim soubesse disso quando olhou seu desespero mudo e assustado e
prometeu:
—
Vai dar tudo certo, campeão. Só fique calmo, ok? Você precisa deixar eu e minha
colega Pam levarmos sua amiguinha pro hospital, tudo bem?Você fez o melhor que
pôde, campeão — disse ele removendo os panos molhados que coloquei na testa
dela, como tinha visto nos filmes, e cavando seu caminho através dos cobertores
empoeirados com que eu tinha tentado aquecê-la do frio causado pela febre. Mesmo
um menino de seis anos sabia que não se usava cobertores no verão de Phoenix,
mas ela tinha frio e as coisas estavam muito, muito erradas. — Você fez o melhor que pôde, mas agora é com
a gente.
Então
Jim a levou e aquela foi a última vez em que a vi.
Eu
não estava lá quando ela fechou os olhos para sempre, mas sabia que ela estava
morta muito antes disso. Quando olhei para ela e não nos reconhecemos, embora
tivéssemos nos visto todos os dias desde que eu era capaz de me lembrar. Quando
minhas palavras eram apenas palavras e mais nada, porque as respostas que ela
me dava deixavam claro que ela não estava mais ali. Quando tudo o que ela tinha
para contar era com outra criança tão assustada quanto ela.
“Negligência”,
aprendi o nome daquela dor mais tarde. Apenas o nome, porque eu sabia o que era
senti-la, embora isso não significasse nada. Aquela era apenas nossa vida de
sempre, as coisas como as conhecíamos. E mesmo que eu soubesse que Lindsay
precisava de ajuda, não tinha muita certeza de onde ela deveria vir. Eu devia
ter dito alguma coisa, mas não sabia que podia, estava acostumado demais a
cuidar de nós dois para perceber que eu não podia fazer isso sozinho. Não sabia
que Jim e Pam existiam e que adultos podiam ajudar. Não sabia. Apenas não
sabia.
—
Ela foi para um lugar melhor — disse a assistente social que me levou, primeiro
para um orfanato, depois para outro lar adotivo. Ela também devia ter
percebido. Mas eu nem sabia que ela podia. — Lindsay agora é um anjinho do
Senhor.
Eu
não queria que minha amiga fosse um anjinho. Eu já os tinha visto em desenhos e
estátuas e sabia o que eram, mas as pessoas que a gente ama deveriam ser sempre
pessoas. Anjos são apenas belas coisas invisíveis. Bonitas, mas distantes. Intocáveis.
E eu precisava da minha família. Só queria poder vê-la, pelo menos mais uma
vez.
Queria
desfazer as coisas. Queria que tudo fosse diferente e que nós tivéssemos uma
bicicleta, sanduíches às 3 da tarde e uma mãe. Uma de verdade. Queria ser uma
daquelas crianças que eu via lá fora, pela janela do carro. Queria que Lindsay
fosse aquela menina que vi correndo pela rua, com os cabelos longos e loiros de
uma boneca que ela segurava pelas pernas pendendo do ombro do homem grande que
a pegou no colo e a levou para casa, apesar de seus protestos de criança
malcriada. Uma casa que devia ser limpa e segura. Uma casa onde menininhas não
morriam.
Queria
ter podido salvá-la, mas simplesmente não consegui.
E foi quando eu soube o quanto doía não
poder controlar as coisas. Pouco antes de enterrar tudo dentro de mim e fazer
uma promessa tão solene quanto inarticulada de que jamais me sentiria indefeso
e impotente novamente.
Não fui eu que fiz aquela promessa.
Não era minha vida de verdade. Mas eram minhas memórias agora, e isso tornava
tudo suficientemente verdadeiro para mim. E assim, diante daquele catre, eu via
minha promessa sendo quebrada. E era assim que era. Perder o controle de meu
mundo.
Uma das partes mais importantes
dele, meu melhor amigo, estava deitado imóvel à minha frente. Mesmo por entre
as mãos preocupadas de Estrela e Doc, sob a luz branca da lanterna enorme
posicionada em um canto conveniente, eu podia ver que Jeb não parecia ele
mesmo. Eu nunca o tinha visto daquele jeito antes: parecendo tão frágil, tão
pequeno, tão... quebrável!
E, como quando era criança, eu não
podia fazer nada. Estava apenas parado ali, vendo os outros tomarem decisões
tão razoáveis quanto inúteis, enquanto me dava conta de que não haveria um novo
hospedeiro para ele. Nem para Jeb, nem para nenhum outro humano com o qual eu
me importava. A morte era ainda mais incontrolável do que a vida, e eu era nada
diante dela.
Eu era nada quando Estrela tomou
Lindsay dos meus braços e acalmou nossa filha chorosa e assustada, pedindo a
Mel que a levasse até Sunny. Eu era nada quando Jared determinou que ele, Ian e
eu carregaríamos Jeb até o hospital, onde Doc estava dormindo depois de outra
discussão sem sentido com Sharon. Ainda era nada quando o levantei sozinho,
ignorando qualquer racionalização de que o peso era muito para mim. E
continuava me sentindo assim agora, enquanto observava Estrela e Doc
discutindo, tentando chegar a um diagnóstico.
— Eu devia ter percebido, todas as
vezes em que ele parecia tão cansado... Achei que fosse só um pouco de anemia.
— Doc resmungou, balançando a cabeça nervosamente. — Eu devia ter insistido em
examiná-lo, mas ele nunca dá o braço a torcer de que não está bem. Maldito
velho teimoso!
— Não se martirize, Doc — disse
Estrela. — Eu também notei a fadiga, mas atribuí ao calor. Como ele nunca se
queixa de nada... Vamos ter que trabalhar com os sintomas que temos agora. O
que você acha?
— Bem, a pulsação está muito fraca
ainda, mas de fato conseguimos ouvir o coração batendo aceleradamente. Você disse
que a dor antes do desmaio foi na região cardíaca. Isso somado à anormalidade
dos batimentos elevados e da pulsação baixa, eu diria que uma das válvulas não
está fazendo seu trabalho direito. O que aconteceu quando ele desmaiou?
— Nada — Ian respondeu. — Nós
estávamos indo para os quartos, Jeb estava ao meu lado, então ele parou um
pouco e quando percebi e olhei para ele, parecia que estava branco como cera.
Ele se apoiou em mim e ficou segurando o peito com uma cara de dor. Ainda falou
com a gente, perguntou alguma coisa, sei lá. Nada de mais. Aí então ele caiu
inconsciente.
— Estranho. Dado o quadro dele,
seria de se pensar que algum tipo de estresse tivesse liberado adrenalina e
aumentado a pressão. Isso explicaria o desmaio, porque a válvula não daria
conta de bombear o sangue...
— Mesmo assim é o que tudo indica —
argumentou Estrela. — Nós não sabemos há quanto tempo ele vem escondendo os
sintomas. Talvez o quadro esteja agravado o suficiente para que qualquer
aumento de pressão desencadeie um colapso.
— Sim, sim. Você tem razão. Espere.
— Doc espetou o indicador de Jeb com uma agulha grossa e, junto com Estrela,
observou atentamente o sangue que saiu. — E então, qual delas, bicúspide ou
mitral?
— Se fosse a bicúspide o sangue
estaria de um vermelho mais intenso que o normal. Então o problema é na mitral.
Ian, Jared e eu nos entreolhamos. Eu
não tinha certeza do quanto eles estavam entendendo do diálogo entre Doc e
Estrela, mas sabia que, assim como para mim, aquilo não lhes soava bem.
Eu estava me sentindo entorpecido,
como se a consciência das coisas demorasse mais a chegar e eu pudesse olhá-las
como se elas não doessem. Talvez fosse resultado da luta que meu cérebro estava
empreendendo para tentar me manter minimamente racional, mas, de alguma forma,
não parecia ser suficiente.
Lentamente, as emoções assustadoras
foram penetrando pelas frestas de minha armadura ferida e eu não pude evitar o
medo que me paralisou no lugar, a confusão que me fazia sentir estúpido diante
daquela discussão cujas repercussões eu não conseguia entender, e o egoísmo. Eu
não pude evitar o asqueroso egoísmo que tomou conta de mim, porque percebi que eu queria que as coisas se resolvessem.
Por mim. Porque simplesmente não conseguia me ver confrontado com a possibilidade
da perda. Não de novo.
Eu só queria de volta o momento
antes. Aquele último minuto antes de tudo mudar. Quando eu era apenas um homem
que ninava sua filha. Um homem que dormiria uma noite tranquila ao lado da
mulher que amava, e acordaria no dia seguinte, disposto e descansado para
trabalhar ao lado dos amigos.
Parado ali, eu conseguia imaginar
todo o meu dia seguinte se desenrolando como um filme meio chato e muito
familiar, apenas mais um dia na linha sucessiva de minutos que eu nunca tinha
precisado me preocupar que se esgotassem.
Eu ocuparia boa parte da manhã com a
limpeza dos espelhos. Depois aproveitaria o almoço com mais prazer do que de
costume, porque seria o turno se Sunny na cozinha e isso sempre me animava. Eu
pediria a ela que fizesse macarrão com queijo um dia destes, porque era meu
prato preferido e porque eu queria provocar Kyle. Ele morderia a isca e
brigaria comigo, me insultando e dizendo para fazer minha “maldita comida” eu
mesmo, porque a mulher dele não era minha empregada. Então eu diria uma coisa
qualquer para retrucar, mas não me importaria muito em ter a última palavra,
porque já tinha conseguido o que queria. O idiota era incapaz de notar, mas
Sunny se iluminava quando ele a chamava de “minha mulher”.
À
tarde, eu assumiria os cuidados de Lindsay para que Estrela pudesse se dedicar
à sua obrigação do dia. Desde que tínhamos decidido que os humanos deviam estar
devidamente instruídos sobre a dinâmica da sociedade das Almas, cada um de nós
se dedicava a uma parte dessa instrução. Jamie tinha apelidado carinhosamente a
parte de Estrela de “Ciências Alienígenas Módulo 2.0” , e amanhã seria dia de
“curso”.
Enquanto isso, eu passaria a tarde
com Lindsay, Peg e John, rindo do quanto Peregrina ficava vermelha e cansada
acompanhando a correria dos pequenos. Depois Ian assumiria o lugar dela, e eu
ficaria um pouco enciumado do quanto as crianças pareciam se divertir mais com
ele do que comigo. Então riria de mim mesmo, porque odiava o fato de ele ser
tão “gostável” que mesmo eu não conseguia evitar gostar dele, por mais que eu
tivesse tentado me manter distante no começo.
Nós faríamos as mesmas coisas de
todos os dias. Jantaríamos, conversaríamos no fim da noite. Jeb tentaria me
ensinar a jogar pôquer ou algum outro jogo de cartas, e eu me esforçaria para
aprender, embora não gostasse daquilo, apenas porque era um tempo que eu podia
passar com meu amigo. Duas pessoas jogando conversa fora. Matando o tempo.
E
agora o tempo parecia se esgotar.
Quando ele começa a correr, quando o
tempo deixa de ser apenas tempo e passa a ser uma sentença, é como a sensação
de encarar uma arma apontada para você. Eu sabia agora que era a mesma sensação
de saber que a vida que você conhece vai desaparecer. A mesma de minhas
lembranças. Aquela que meu hospedeiro teve ao enfrentar, ainda criança, o pior
que podia acontecer a ele naquela época. A mesma que ele tantas vezes tentou
emular dispensando as metáforas, sozinho na madrugada com uma garrafa de uísque
e sua 9mm, convencendo a si mesmo que era ele, em vez de alguma maldita
circunstância, quem tinha o controle.
A vida toda guardando as coisas para
si, agindo como se não doesse, fingindo que suas emoções e lembranças dolorosas
eram uma espécie de roleta russa. “Você tem 5 chances em 6 de não precisar
encarar o tiro”. Por quantas rodadas a sorte me acompanhasse, eu podia fingir
que nada me importava, que nada me atingia. Mas, eventualmente, sempre chegava
o momento do qual eu não conseguia fugir: “Esta é sua vida, Logan. É o máximo
que há para você. Você a quer de qualquer maneira? Então engula sua dor e aja
como se merecesse estar aqui.”
Um arrepio me percorreu. Eu não
gostava daquelas lembranças. Apesar de fazerem parte dele, elas eram sombrias
demais, e eu estava lidando mal o suficiente com a realidade para me permitir
imergir naquela dor. Eu precisava me
recompor e tentar entender o que podia ser feito, como eu poderia ajudar, se é
que podia. E se eu queria fazer alguma coisa, retomar o mínimo de controle
sobre aquela situação, o medo que me paralisava precisava ser engolido,
colocado em algum lugar onde ficasse sufocado até que, sem ser alimentado,
acabasse por perecer. Aparentemente, sempre fui bom em asfixiar emoções, e
precisava dessa habilidade agora.
Inspirei o ar lentamente, tentando
me concentrar de novo no caos à minha volta, ao invés de ficar preso ao meu
próprio. Compartimentalizar. Era esse o segredo. Sempre foi o que me manteve
são. Jeb não era Lindsay. Eu não era o Logan humano. E eu não estava fazendo
favor nenhum a mim mesmo deixando as lembranças se misturarem com a realidade.
Eu podia lidar com toda essa maluquice mais tarde. Agora havia questões mais
prementes a resolver.
Olhei para Estrela e percebi que ela
tinha parado de falar e estava me observando, sondando meus sentimentos com
aquele olhar perscrutador que ela sempre teve, e que tão bem tinha apurado ultimamente.
Por um segundo tive vergonha. Não queria assustá-la e não gostava que ninguém,
nem mesmo ela, me visse desmoronando. Mas a verdade é que não importava. Minha
tristeza. Minha vergonha. Meu total e completo abandono ao pavor. Nada disso
importava.
De súbito, acabei por me dar conta
de que, em meu desespero, tinha deixado de dar atenção à conversa entre Doc e
minha mulher. Uma conversa que parecia ter chegado rápido demais a um fim
inevitável e nada satisfatório. Jeb continuava deitado no catre, inconsciente.
No entanto, nem a Curandeira nem o médico estavam tentando fazer qualquer coisa
por ele além do que já tinham feito.
Tentei me focar no porquê disso,
tentando reencontrar as palavras que tinham me fugido como se eu não
reconhecesse mais a importância de falar, quando Mel e Kyle entraram no
hospital.
Assim como eu, ela estava lutando
para manter uma expressão composta, mas seus olhos vermelhos a denunciavam.
Havia lágrimas fujonas se acumulando nos cantos deles, apenas pequenos sinais
traiçoeiros do quanto ela também estava assustada. Ela as limpou com as costas
das mãos rapidamente, firmando os dedos na borda do catre em seguida, não antes
de eu registrar vagamente que suas mãos estavam trêmulas e que essa
possivelmente era a razão de ela as estar mantendo seguras em alguma coisa.
Jared postou-se atrás dela e acariciou
seus ombros num gesto de apoio. Ele ficou ali com as mãos subindo e descendo
sem parar como se dissesse que não ia embora, e ela sorriu só um pouco, outra
lágrima sorrateira traindo sua compostura forçada. Mel pareceu fraquejar um
pouco sob o toque dele, desmanchando um pouco a fachada que tentava ostentar,
mas aquela era Melanie Stryder e, como Jeb dizia, a garota sabia aguentar um
baque. Nenhum dos dois disse uma palavra. Eles não precisavam. Mas Mel não
estava satisfeita com o silêncio dos outros, porém.
— Desembuchem — ela demandou com a
voz mais firme que conseguiu. E aquela garota nunca me pareceu mais com uma
Stryder em todo o tempo em que eu a conhecia.
Simples. Direta. Precisa.
“Vamos direto ao ponto. Como
resolvemos isso?” Era o que sua postura resoluta e sua palavra franca pareciam
exigir. Era impossível não admirar alguém que conseguia esse efeito, a despeito
do medo que provavelmente sentia da resposta, mas Melanie era capaz disso.
Sempre fora.
Doc e Estrela, porém, não
responderam prontamente. Ao invés disso, hesitaram, entreolhando-se como se
estivessem decidindo, numa conversa muda, quem entregaria a bomba em nosso
colo. Por fim, foi minha Estrela quem acabou dando o passo adiante:
— Não há nada que possamos fazer,
Mel. Não aqui. — Ela olhou para mim quando disse a última parte. Seu rosto
carregando a expressão mais séria que eu já tinha visto.
— O quê!? — Melanie protestou. —
Como assim “não dá pra fazer nada”? Nós temos remédios, podemos buscar outros
se precisar...
— Não é apenas...
— O que vocês estão dizendo? —
interrompi. Eu sentia como se não falasse há horas, minha voz parecia alheia a
mim. — Estrela — chamei e ela veio ao meu encontro, segurando minhas mãos. —
Por que você disse que não podem fazer nada aqui?
— Uma das válvulas do coração dele
não está mais funcionando. Na medicina humana ela seria substituída, mas nós
tempos como regenerá-la. Um dos nossos remédios faria isso em cerca de vinte
minutos. Nós teríamos que fazer uma cirurgia, mas isso não seria problema.
— E qual seria o problema então? —
perguntou Jared, adivinhando que havia alguma coisa quando Estrela parou de falar.
— Nós não temos o remédio — disse
Estrela. — Além disso, enquanto a válvula estivesse se regenerando, por menor
que seja o tempo, seria preciso uma máquina de circulação externa para fazer o
trabalho do coração.
— Certo — Ian interferiu, balançando
a cabeça para si mesmo. — A coisa é complicada, já entendi. Mas vocês
conseguem, não é? Nós só precisamos traçar um plano para roubar o equipamento e
o remédio que vocês precisam.
— Não é simples assim. — Doc parecia
muito cansado ao falar. Como se saber de coisas que não sabíamos cobrasse um
preço alto demais sobre sua sanidade. — É uma cirurgia cardíaca. Com tecnologia
alienígena, o que a torna mais simples, rápida e eficiente, mas ainda assim é
algo de grande porte. Não dá para montar a estrutura que precisamos aqui.
Estamos em cavernas no meio do deserto, pelo amor de Deus!
Ele soltou o corpo pesadamente em
sua cadeira, afundando a cabeça nas mãos. Mal dava para vê-lo por trás da
bagunça de livros espalhados sobre a mesa em que apoiava os cotovelos.
— Ah, sim. Então nós não fazemos
nada. Deixamos ele morrer. É isso? — ironizou Mel, revoltada.
Mas então algo curioso aconteceu,
enquanto ela perdia as estribeiras, uma calma estranha me invadiu. Eu estava me
sentindo como eu mesmo novamente. E, como sempre, eu tinha um plano.
— Então nós o levamos para fora
daqui — disse, porque agora não havia meio de eu ver outra coisa em minha
frente que não fosse a solução.
— Escuta aqui — retrucou Kyle,
manifestando-se pela primeira vez. — Eu sempre soube que você não era bom da
cabeça. E ninguém quer que Jeb... Bom, você sabe. Mas, cara, mesmo sabendo a
resposta, eu preciso perguntar, porque talvez você não tenha percebido o
absurdo que falou. Então só pra constar... Você está falando em levar o Jeb
para um hospital de Almas?
— Se o procedimento não pode ser
feito aqui, então vamos levá-lo para onde seja possível.
Todos os olhos se voltaram para mim,
carregados com graus diferentes de surpresa. Como sempre, foi Kyle quem
traduziu o pensamento deles, com toda a sutileza que lhe era peculiar.
— Você. Ficou. Doido?
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