segunda-feira, 15 de junho de 2015

CD2 - Cap 15

Capítulo 15 – Irrevogavelmente Fundidos

Am I brave enough?
Am I strong enough?
To follow the desire
That burns from within
To push away my fear

To stand where I'm afraid
I am through with this
Cuz I am more than this
I promise to myself
(…)

I am the fire
I am burning brighter

(I Am The Fire – Halestorm)

Estrela

            Foram os tremores que me fizeram despertar. Mas, então, ainda sem abrir os olhos, percebi confusa que não estava frio o suficiente para isso. Tampouco estava calor, mas a camiseta que eu vestia grudava-se ao meu corpo, úmida pelo suor. Tudo em mim parecia tomado por um incômodo que eu não sabia definir, por uma sensação densa e opressora que me puxava bruscamente do torpor do sono.
            Por um instante muito breve, imaginei-me na Instalação de Cura, em outra vida, quando o corpo de Peg me castigava com lembranças que não me pertenciam. Eu sabia, porém, que isso não podia ser verdade. Não fazia sentido. Quando finalmente a consciência conseguiu penetrar por meus pensamentos sonolentos, percebi por quê. Eu realmente não estava na Instalação de Cura. Não estava sonhando com nenhuma lembrança roubada. E não era meu corpo que tremia.
            Oh, não! De novo, não!
            — Logan? Amor?
            Tentei me virar em seus braços, mas eles me estreitaram mais contra a pele nua de seu peito, tornando o movimento impossível. Estendi meu braço para trás e toquei seu rosto, deixando meus dedos deslizarem por sua nuca e afagarem seus cabelos com uma urgência que não consegui controlar. Tudo o que eu menos queria era que ele se sobressaltasse, que acordasse assustado e desnorteado, mas foi exatamente isso que aconteceu depois que um murmúrio abafado saiu de seus lábios.
            Os braços dele se afrouxaram ao meu redor, então eu me virei e o abracei, tentando fazê-lo relaxar com a cabeça aconchegada em meu peito, afagando sua pele úmida pela transpiração em todas as partes que podia alcançar. Eu sabia que qualquer palavra seria inútil neste momento, então fiquei calada, esperando. Era só o que eu fazia e para ele parecia bastar. Embora nunca fosse o bastante para mim.
            Eu queria fazer mais do que consolá-lo, queria poder entendê-lo e dividir com ele o que o afligia, mas Logan me negava o direito de protegê-lo. Ele não me queria dentro de suas lembranças dolorosas e eu estava dividida.
            Quando ele se abria, nas poucas vezes em que isso acontecia, cada palavra me parecia um açoite, ferindo-me ao imaginar o quanto cada coisa doía nele como se estivesse acontecendo de novo, porque era assim que nos sentíamos. Eu me lembrava bem disso. Dos pesadelos. Embora as lembranças de Peg não fossem, nem de longe, tão dolorosas para mim quanto as do Logan humano eram para o meu. E eu era como uma esponja, absorvendo aquela dor e ficando embebida com ela, sentindo-a deslizar para dentro de mim até quase chegar em meus ossos. Não era nada agradável. Especialmente porque isso só fazia potencializar o que ele sentia.
            Por outro lado, ele era meu companheiro, meu parceiro em todos os aspectos desta vida que escolhemos. Eu não podia admitir que houvesse coisas que não compartilhássemos ou palavras das quais ele achava que devia me proteger, quando quem devia cuidar dele neste momento era eu. Isso não devia ser sobre o quanto eu era capaz de suportar as imagens tristes que se desenhavam em minha cabeça, e sim sobre como eu queria — e podia — ser forte por ele.
            Eu tinha pedido a Sunny que ficasse com Lindsay esta noite, porque muitas vezes ela acordava junto com o pai durante os pesadelos. Disse a ela e Kyle que Logan estava tendo problemas para dormir desde o episódio com Jeb, o que era parte da verdade, mas não entrei em detalhes, e eles também não perguntaram. Por isso, naquele momento, eu podia me preocupar apenas com Logan. Estava disposta a esperar a noite toda, se fosse preciso, para que ele finalmente se abrisse comigo. E a suportar a frustração caso ele não o fizesse. Tudo o que eu queria era estar ali para ele. E queria que ele soubesse disso, mas não estava certa sobre como me expressar.
            — Eu amo você, Logan. Amo você. — Foi o que consegui dizer, as mesmas palavras que eu já havia dito tantas vezes antes, mas de alguma forma pareceu bastar.
            Senti-o se aconchegar mais a mim, os pelos da barba crescida fazendo cócegas na base de meu pescoço enquanto seus lábios deslizavam por minha pele. Num instante ele estava sobre mim, mordendo meu seio por cima do tecido da blusa com uma pressão exatamente calculada para me arrepiar, a necessidade de seu corpo pelo meu evidente na rigidez que eu podia sentir contra minha coxa. Meu corpo reagiu imediatamente, mas minha cabeça não estava tão pronta para deixar suas preocupações de lado e, diante desse conflito, abri minha boca para articular alguma coisa, mas fui calada imediatamente pelos lábios dele, por sua língua quente e firme provocando a minha.
            — Logan... — consegui sussurrar numa tentativa que eu já reconhecia como vã. Os dentes dele prenderam meu mamilo outra vez, e seus dedos deslizaram para baixo da camiseta, levantando-a. O arrepio foi instantâneo quando suas mãos, sempre tão mais quentes que minha pele, tocaram minha barriga. — Você... Ah!
            Desta vez, sem nenhum tecido entre nós, ele deixou que sua língua brincasse sobre meu seio, sugando-o de leve em seguida. Quase desisti do que quer que eu estivesse tentando dizer quando sua mão começou a massagear o outro no mesmo ritmo. Mesmo assim, forcei minha mente a se focar e segurei o rosto de Logan para que ele pudesse me olhar nos olhos, embora eles ainda não estivessem suficientemente acostumados à escuridão da noite.
            — Você está bem?    
            Ele se abaixou e me beijou na boca outra vez, os lábios quentes correndo depois pela linha de meu maxilar até pararem perto de meu ouvido.
            — Vou ficar — ele disse, a voz embargada de desejo urgente. — Com você. Preciso de você, Estrela. Preciso saber, com cada parte de mim, que você está aqui.
            Minha sanidade parou por ali, em algum ponto entre o reconhecimento dessa necessidade em meu próprio ventre e o momento em que a rouquidão daquele apelo primitivo instalou o calor entre minhas pernas. Meu próprio desejo assumiu o controle e percebi, já a meio caminho, minha mão deslizar sob o elástico da calça de tecido fino que ele usava — e que certamente não deixava muito para a imaginação — e pousar na carne rija, macia e quente em que meus dedos deslizaram. Primeiro devagar, depois tão rápido quanto eu consegui quando ele tombou para o lado, me dando um acesso melhor.
            Ouvi-o arfar em meu ouvido e capturar meu lóbulo com os lábios, lambendo um ponto especialmente sensível atrás de minha orelha. Precisei de todo meu controle para não perder o foco do que estava fazendo, e ficou pior quando ele começou a se contorcer ligeiramente, nitidamente às portas do clímax.
            — Ainda não — provoquei, diminuindo o ritmo para uma lentidão torturante que o fez gemer, num misto de frustração e prazer.
            Quando senti sua respiração se acalmar, me levantei e me despi deliberadamente devagar, tirando primeiro a camiseta e depois a calcinha. Então brinquei um pouco comigo mesma, para que ele visse. Eu sabia que aquilo o deixava louco. E tão certo como as manhãs seguem as noites, aquela expressão que eu conhecia tão bem apareceu em seu rosto.
            — Você é uma mulher muito, muito má, amor.
            — Mas posso ser boazinha se você se mantiver obediente.
            — E o que devo fazer? — Ele se ajoelhou diante de mim e beijou minha barriga, deixando claras suas intenções de descer até onde eu realmente precisava dele. — Antes de tomar posse dessa brincadeira eu mesmo?
            — Comece por se livrar dessa calça, eu quero ver você.
            Talvez eu não devesse ter pedido isso, porque meus olhos já estavam adaptados às sombras do quarto, e assim que ele me atendeu ficou difícil não pensar apenas no quão fácil seria para mim chegar ao auge enquanto o observava, mas eu tinha começado uma coisa e pretendia concluí-la, então voltei para a cama e o puxei para mim, obrigando-o a se deitar ao meu lado novamente. Inclinei-me sobre ele e continuei o que estava fazendo, mas desta vez não fui devagar. Eu gostava da sensação de tê-lo em minhas mãos e de como seu coração se acelerava enquanto eu ditava o ritmo, antecipando ou adiando seu orgasmo até chegar no ponto em que nada mais poderia retardá-lo, que era onde ele tinha chegado agora.
            Ele apertou meu mamilo entre os dedos e gemeu, enterrando o rosto em meus cabelos. Senti-o se derramar sobre mim enquanto beijava seu pescoço, saboreando seu prazer e acariciando seus músculos retesados. Ainda continuei por um tempo, acariciando-o muito mais lentamente agora, apreciando a sensação do calor que escorria por meu pulso e seu corpo trêmulo voltando ao normal. Eu estava em chamas, mas tinha valido a pena. Poder dominá-lo ao mesmo tempo em que dava o que ele queria me fazia sentir fenomenal.
            Ficamos parados por um tempo, envoltos em gestos de amor e palavras não ditas, abraçados um ao outro e às sensações que não queríamos que desvanecessem. Os minutos correram suaves e eu pensei que talvez pudéssemos adormecer de novo, mas ele me afastou com cuidado e se levantou. Preguiçosamente, observei-o umedecer uma toalha e cuidar primeiro de mim, depois de si mesmo. E pelo olhar em seu rosto enquanto o fazia, me contemplando sem no entanto me encarar de verdade, percebi que nem todas as sombras tinham se afastado de sua cabeça, tampouco as questões da minha.
            — Estava sonhando com sua irmã outra vez? — perguntei suavemente. Os pesadelos envolvendo a morte da menina eram os que mais o afetavam, por isso imaginei que se tratasse disso.
            Logan balançou a cabeça de um lado para outro, ainda sem me olhar. Quando não havia mais como fingir que estava ocupado, ele voltou a se deitar em nossa cama, de frente para mim. Por um segundo, ele me olhou como se estivesse tentando se decidir sobre o que dizer, então suspirou e resolveu ceder ao meu olhar inquisitivo.
            — Foi uma lembrança minha dessa vez.
            Aquilo me desconcertou. Logan tinha sempre vivido na segurança do mundo das Almas antes de me conhecer, alheio a qualquer emoção que não pudesse rechaçar e a quase todas as ações que não tivessem a ver com o cumprimento de seu dever. Na verdade, nada muito além de patrulhas e mapeamento de territórios depois que as inserções acabaram e nossa espécie se instalou plenamente no planeta.
            — Uma lembrança sua? Mas... Você parecia... Parecia algo realmente ruim — afirmei, sem achar necessário elaborar uma pergunta de fato, como se essas palavras entrecortadas formassem um pensamento completo e perfeitamente compreensível para ele.
            — Peg — ele disse simplesmente, e eu soube no mesmo instante que ele estava falando da noite do tiroteio. Daquela madrugada longínqua e brutal em que tudo começou.
            Nós quase nunca falávamos sobre isso. Não parecia sábio revolver os sofrimentos do passado quando o presente que resultou dele era tão pleno de amor, amizade e perdão. Entretanto, aquele dia jamais se tornaria uma lembrança amena e distante para nós. A primeira coisa que senti quando vim a este planeta foi a dor emocional e física daquele acontecimento. E por isso eu sabia que aquilo jamais seria esquecido por nenhum de nós envolvidos.
            — Você não pode se culpar por isso, amor. Só estava fazendo o que achava certo. Você mesmo disse isso — falei, acariciando seu rosto e tentando transmitir a convicção que de fato sentia.
            — E eu não me culpo. Esse é o problema. Eu não senti nada quando fiz aquilo, Estrela. Nada. Depois de todo mal que tinha sido feito a ele, ao Logan humano, eu devia ser mais capaz de compaixão. Era o que devia prevalecer sendo eu uma Alma.
            — Você sabia que ela não ia morrer. Não estava simplesmente eliminando Peg, atirando para matar como se não se importasse. Estava cumprindo uma missão que acreditava ser a serviço de nossa espécie, até mesmo da própria Peregrina.
            — Eu quis atirar nela. Podia tê-la deixado fugir, podia ter esperado por meus companheiros e continuado a persegui-los. Mas eu sequer considerei outra possibilidade que não fosse eliminar o problema.
            — Não diga isso...
            — E atirei em Ian depois.
            — Ele ia te matar.
            — Eu me importava menos com isso do que com deixá-los fugir.
            — Logan...
            — Eu odiava os humanos, Estrela, achava que eles eram um tipo de praga que deveria ser eliminada. Foi isso o que eu fiz com os sentimentos que herdei do humano que estava aqui antes, enchi meu coração de desprezo pela espécie e pelo mundo dele, pela própria vida que eu levava em seu lugar. Não vou me culpar por sermos quem somos. Somos Almas e precisamos de hospedeiros. Mas muito embora eu não estivesse preparado para o que este me fez sentir, mesmo que o Mundo Cantor nunca tenha exigido que eu carregasse o peso que veio com este corpo, acho que eu devia honrá-lo, melhorá-lo, corrigir o que havia de quebrado dentro dele. Mas eu não fiz isso. Acho que nunca serei capaz de fazer.
            Então eu entendi. Quer dizer, era infinitamente mais complexo do que eu tinha imaginado de início, mas eu entendi. Logan estava com medo. Estava apavorado com a raiva, com a dor, com a frieza calculada que tinha herdado do outro, mas que não conseguia mais afetar. Estava com medo de não ser capaz de lidar com os sentimentos desencadeados pelas lembranças com que vinha sonhando.
            — Quem é você? — questionei num rompante.
            — O quê? — Logan perguntou com a sobrancelha arqueada e um meio sorriso que refletia um misto de confusão e divertimento.
            — Responda. Diga a primeira coisa que te vem à cabeça — incitei, beijando seu queixo, seus lábios, seus olhos. Ele riu baixinho, mas parecia intrigado e sabia que só ia entender aonde eu queria chegar se me respondesse.
            — Tudo bem... Eu sou seu marido. E pai da Lindsay. Essas são as coisas mais importantes em que consigo pensar.
            A resposta aqueceu meu coração. Eu não precisava ouvir mais nada, mas ainda queria que ele compreendesse certas coisas.
            — Sim — confirmei, beijando seu nariz. — E é o melhor marido e o melhor pai que suas meninas poderiam querer. Mas o que mais? Isso é muito, mas você não é só isso.
            — Sou um ex-Buscador.
            — E o que isso significava e continua significando para você?
            — Eu protejo. Essa é minha função. É o que eu sempre vivi para fazer.
            — Você faz isso muito bem. Estamos tendo esta conversa justamente por isso. Porque você protegeu seu melhor amigo, salvou a vida dele. Sequer pestanejou quando precisou fazê-lo. Mesmo que houvesse o risco de pagar um preço. Suas lembranças, seus questionamentos são o preço que você pagou por aquele dia, mas você jamais trabalharia para esquecê-los. Você quer proteger a memória do Logan humano tanto quanto quis proteger Jeb.
            — O que isso quer dizer?
            — Diga-me o seu nome.
            — Estrela, eu... — Mantive meu olhar firme, de um jeito que o deixava saber que eu não desistiria da pergunta. — Tudo bem. Meu nome é Logan Smith.
            — Só isso? Diga-me o seu nome. Diga quem você é. Quem sempre foi e quem se tornou.
            Minha mão passeou por todo o lado de seu corpo, percorrendo a perna entrelaçada à minha, esperando o momento em que, presumivelmente, a confusão em seu rosto seria substituída por entendimento. Por fim, aconteceu:
            — Meu nome é Canção Noturna. Eu sou uma Alma. Eu protejo meus semelhantes porque sempre foi minha natureza, mesmo antes de chegar aqui. E sou um humano também. Um pai, um marido, um amigo. Meu nome é Logan Smith. Também.
            — Sim, você é todas essas coisas. E isso te faz forte. Você é uma Alma, e é um homem bom. O Logan Smith que primeiro usou esse coração também era, mas, como você mesmo disse, ele estava quebrado por dentro. Você não. Você honrou o coração e a vida dele ao preenchê-los com amor. E é por isso que eu sei que você não precisa temer conhecê-lo, não precisa temer o quanto isso pode te transformar, porque não importa quanto dele você carregue em si, vocês não são iguais. Ele fez o melhor que pôde, mas você é mais forte.  E não está sozinho. Nunca vai estar enquanto for capaz de amar.
            Logan me olhou nos olhos e tantas coisas passaram por seu semblante que eu jamais conseguiria definir racionalmente, mas eu senti. Foi isso que realmente me importou. Ele segurou meu rosto entre as mãos e me beijou. Com carinho. Amor. Devoção. Tudo o que eu sentia por ele, mas não conseguia expressar com meu corpo com a facilidade com que ele conseguia. Apenas, talvez, com minhas palavras.
            — Eu amo você, Logan. Um pouco mais a cada dia que passo ao seu lado. Muito mais a cada parte de si que você me dá a conhecer. O passado não vai mudar. Nada do que aconteceu com o Logan humano ou o quanto ele foi triste, nada do que aconteceu com você ou o jeito como lidou com essas coisas antes. Mas você mudou. E continua mudando todos os dias. Para melhor. Se eu precisasse de uma razão para te amar, escolheria essa.
            — Você me ama porque é extraordinária — ele disse, beijando minha testa e me olhando ainda mais de perto, colando nossos rostos. — Porque sempre foi capaz de ver o que eu deveria ser ao invés do que eu era e continua fazendo isso. E eu continuo acordando todos os dias para merecer esse amor, para ser o homem que você precisa até o fim.
            — Você é. Sempre foi. Mesmo quando nenhum de nós dois tinha percebido isso — falei e ele riu. Um gesto suave e aliviado que o deixou ainda mais bonito do que era.
            — Você pelo menos tinha um desculpa. Os sentimentos de Peg estavam te deixando confusa, mas eu só estava sendo teimoso mesmo. Tentando me convencer de que só passava o dia todo ao seu lado porque tinha uma missão a cumprir.
            — Mas você tinha. E eu dificultava ao máximo sua vida. Acho que a teimosia foi o traço em comum que nos uniu.
            — Não, não foi isso. — Ele riu outra vez, depois começou a afagar meus cabelos e o sorriso foi substituído por uma expressão terna e pensativa. — Por mais adorável que fosse sua teimosia, foi a forma como você me deixava perdido. Esse misto de fragilidade e fortaleza que me deixava sem saber como reagir a você. Até hoje eu não sei bem.
            — Você sabe, sim.
            — Ainda tento proteger você de tudo... — confessou parecendo um pouco envergonhado, como se soubesse que eu nem sempre precisava ser cuidada, mas que agir assim fosse algo que ele não pudesse evitar.
            — E não creio que isso vá mudar — disse eu, porque era uma conclusão muito simples. Essa era sua natureza, a maneira como ele se relacionava com o mundo. Uma característica que era tão forte nele quanto tinha sido em seu hospedeiro e da qual eu jamais me ressentiria. Como eu poderia não amar algo que o definia? — Mas eu não quero mesmo que mude, porque eu gosto desse seu jeito. Só não me proteja de você. Preciso que você fale comigo. Quero compartilhar as coisas com meu marido.
            — Eu entendi. Desculpe por ter demorado. Posso ser meio cabeça dura às vezes.
            — Às vezes? — provoquei, e isso fez com que ele desse outra de suas risadas adoráveis e em seguida me “atacasse”, prendendo meu corpo sob o dele e me enchendo de beijos que provocavam cócegas e me faziam rir também.
            Aos poucos, porém, as carícias foram ficando mais sérias, mais intensas e meu corpo reagiu tão rápido que era como se não tivéssemos parado o que tínhamos começado antes.
            — Eu também te amo, Estrela — ele disse, enquanto acariciava meus braços, colocando-os acima de minha cabeça. Uma das mãos segurou meus pulsos e a outra correu displicentemente por meu corpo. — Do mesmo jeito e com a mesma loucura desde que parei de lutar contra mim mesmo. Nunca vou te dar menos do que tudo de mim.
            A mão que me acariciava desceu devagar por minha barriga e um dedo ágil me penetrou de repente, explorando com delicadeza meu interior. Um segundo dedo veio em seguida e o polegar passou a estimular meu ponto mais sensível de forma quase enlouquecedora. Todos os meus sentidos estavam em alerta, na proporção inversa em que meu raciocínio se perdia em devaneios agradáveis. Os dedos dele faziam círculos dentro de mim e comecei a me mover de encontro a eles, querendo-os mais fundo. O tempo todo, Logan não desviava os olhos dos meus e o quanto ele parecia gostar disso era quase tão bom quanto seu toque lascivo. Quase.
            — Se você quer que compartilhemos tudo, assim será — ele disse. — Começando por te mostrar o quanto sou louco por você.
            Arfei quando seus dedos deslizaram lentamente para fora, sentindo-me subitamente vazia. Mas então eram seus lábios que estavam lá, sugando, alternando-se com a língua que me explorava habilmente. E a barba. Céus! A barba tinha sido uma excelente ideia. Eu queria que ele fosse mais rápido, mais fundo, e enterrei meus dedos em seus cabelos macios, inclinando meu quadril em sua direção. Minha necessidade desesperada foi prontamente atendida e senti a febre dentro de mim aumentar até uma urgência dolorosa.
            Suas mãos se infiltraram sob meus quadris, contornando minha bunda com firmeza, e quando ele empurrou minhas pernas para trás, deixando-me mais aberta para receber sua boca, eu soube instintivamente o quanto o que eu desejava era iminente. Segurei os cabelos dele com mais força quando a ponta de sua língua provocou meu ponto sensível, circulando-o com vigor e precisão.
            Quando Logan levantou os olhos para mim só havia luxúria neles, e embora sua boca continuasse trabalhando, senti um sorriso de quem planejava o golpe de misericórdia. Embora eu não pudesse ver, percebi o movimento. Ele estava dando prazer a si mesmo enquanto antevia meu orgasmo e isso fez com que este viesse com mais força, como se todos os processos químicos capazes de provocar explosões estivessem acontecendo entre minhas pernas.
            Todo meu corpo gritava porque eu o queria dentro de mim, queria seu cheiro embriagando minha boca, sua voz arranhando minha pele, a visão de seus músculos salpicados de suor sob minha língua. E queria seu coração também, as palavras doces e as afiadas. Eu queria tudo. Assim como ele disse que me daria.
            — Eu quero...
            — Eu sei.
            Como se eu não pesasse nada, seus braços hábeis me viraram e me puseram de joelhos, uma de suas mãos acariciou minhas costas, empurrando-me para a posição em que ele me queria enquanto a outra explorava minha bunda. Meus sentidos estavam aguçados e minha pele quente recebeu com prazer inusitado uma palmada brincalhona, o som e o leve ardor me distraindo por um segundo, longo apenas o suficiente para que ele me preenchesse enfim.
            Eu sempre recebia esse momento como um choque bem-vindo, não importava o quanto estivesse preparada e ansiando por ele, e isso só colaborava ainda mais que as sensações recentes se encadeassem às presentes, gerando uma expectativa avassaladora. De repente, eu estava perto de novo, escalando rumo ao ápice, como se o orgasmo anterior não tivesse realmente chegado a acabar. E acho que não tinha mesmo. Naquele momento, eu não tinha mais certeza de nada além da iminência esmagadora de um novo prazer.
            Logan segurava a minha cintura com força, puxando meus quadris de encontro aos dele, mantendo um ritmo firme e constante que não tinha mais nada da delicadeza normal de seus carinhos amorosos. Quando estávamos entregues um ao outro éramos diferentes, mais primitivos, menos cuidadosos. E era exatamente isso que eu queria, do que eu gostava.
            Tentei isolar as sensações. Suas mãos ásperas e fortes aferradas à minha pele febril. Suas coxas rígidas contra a parte de trás das minhas. Seu silêncio obstinado e contido, quebrado apenas pela respiração ritmadamente acelerada. A rigidez quase colérica que se movia dentro de mim. Rápida, forte, mais e mais fundo.
            E então eu estava lá novamente, na beira do abismo, segurando a respiração porque o próximo movimento, ou o outro ainda, ou o seguinte, me faria cair. E sem dor alguma eu atingiria o chão e sentiria meu corpo se despedaçar ao redor do dele, refazendo-se em seguida para não perder a nova onda prestes a quebrar contra estas pedras em que me choquei. E quando eu não tinha mais forças para me desfazer de novo, tombei para trás com as costas contra seu peito, minha cabeça pendendo em seu ombro.
            Mas ele não parou.
            Prosseguiu com seu domínio implacável sobre o corpo que eu não controlava mais e que era dele para fazer o que quisesse. Até que ele mesmo se desfez, como deve ser, inevitável, abraçando-se a mim com abandono e desespero, gemendo baixo em meu ouvido, em minha boca que se virou para engolir seu som.
            Nossos corpos permaneceram unidos por um tempo cuja noção eu perdi. Abraçados. Irrevogavelmente fundidos. Eventualmente nos deitamos. E quando nos entregamos ao sono, exaustos como estávamos, talvez nossas mãos tenham se separado. Mas nossas almas, não. Quem nós éramos, quem tínhamos nos tornado nesta Terra, existiria sempre como um só.
                       


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentem e façam uma Autora Feliz!!!

Visitas ao Amigas Fanfics

Entre a Luz e as Sombras

Entre a luz e a sombras. Confira já.