Capítulo
Três
Principados
Alice
Brandon morava a menos de três semanas ao lado da família de Charlie. Ela era
um dos muitos anjos que vivem entre os humanos; não por opção própria, mas por
causa de sua hierarquia: Os Principados.
Ela
tinha sido alistada por Jasper que queria cercar Bella de todos os cuidados
possíveis e necessários. Alice como todo Principado tinha como função seguir a
ordem de seu superior, Potestade, e
manter as ordem natural das coisas e principalmente afastar as ameaças quando
necessária.
Nesse
momento ela se encontrava em posição de sentido
aguardando o momento que Jasper soltaria todos os cachorros em cima de sua
pessoa, por não ter evitado a confusão que sucedera no dia anterior com os pais
de Renée.
Mas
essa não era a intenção de Jasper que apena a observava com um prazer secreto.
O que se passara era algo corriqueiro e de nada tinha haver com a condição
única e estranha da criança na casa ao lado.
—
Relaxe, Alice. Também não foi para tanto. — Disse Jasper se desencostando da
parede da jovem para ir até a geladeira ver o que tinha para comer.
Esse
era o problema de viver entre os humanos: se habituar fácil demais ao hábito de
comer e com isso desenvolver o famoso bichinho do roi-roi que mesmo quando a pessoa não está com fome o faz comer
apenas para se distrair.
Alice
acompanhou Jasper com o olhar, sem relaxar da sua posição. Franziu o cenho
estranhando por não ter levado uma bronca daquela,
como sempre ocorria quando ela cometia o menor dos deslizes.
Jasper
fora seu professor na escola de Anjos Principados. Ele, um Potestade, sempre
fora extremamente rigoroso e parecia ter uma implicância especial com ela. Era
ela se distrair por um momento — as vezes até para reparar no movimento do anjo
ao lado e aprender a fazer correto — e lá vinha ele brigando com ela e dizendo
que ela devia prestar atenção nele. Somente
nele. Isso tinha rendido muitos resmungos de Alice, mas com o passar de
dezessete milênios, ela tinha se conformado e se habituado com o jeito ranzinza
e implicante de seu orientador que não largava do seu pé por nada.
Então,
como Jasper poderia estar assim... Tão tranquilo e ainda por cima atacando a
sua geladeira? E nossa! Como ele ficava lindo comendo um pedaço de chocolate.
Alice
balançou a cabeça para afastar o pensamento da direção que estava tomando antes
que seu instrutor lesse sua mente e finalmente encontrasse algum motivo para
briga.
Jasper
levantou a cabeça, levando outro pedaço de chocolate a boca; e vendo que Alice
ainda permanecia na mesma posição, se irritou.
—
Não vai se sentar, não?
Pronto.
Aí estava o Jasper que ela conhecia, falando de forma rude e implicando até
quando ela fazia as coisas certas.
—
Vou. Claro. — Disse Alice obediente, caminhando para a geladeira, encostando-se
quase ao corpo imenso de seu instrutor que se sobrepunha ao seu minúsculo
tamanho, para poder pegar um copo e enche-lo de água.
Alice
sentou-se na mesa e observou Jasper que agora estava recostado na sua pia, com
as pernas e os braços cruzados. Seus molares se mexiam conforme ele mastigava o
ultimo pedaço de chocolate. Inibida pelo olhar intenso de Jasper, Alice sorveu
um gole do copo de água calmamente.
Ela
não estava com sede, mas sabia que se não fizesse nada levaria outro esporro.
Como o silencio reinava na minúscula cozinha, a anja de estatura amiúde,
cabelos negros e olhos na cor mel, sentiu-se compelida a puxar algum assunto.
—
Como anda as coisas? — Perguntou como se na sua frente não estivesse seu chefe
e sim um dos muitos humanos que se sentiam compelidos a conversar com a mulher
de beleza suave.
Jasper
passou a língua pelos lábios e engoliu a saliva doce, resquício da delicatesse que ele tinha mastigado.
Ignorando a pergunta feita, ele foi direto ao assunto.
—
A menina terá que estudar em algum momento. Li na mente de uma mulher da rua
que ela pretende ainda essa semana conversar com Charlie e Renée sobre isso. Já
estou infiltrado na delegacia. Então quero que se infiltre na escola daqui.
Preciso de olhos na criança lá também.
—
Ah. — Suspirou Alice entendendo que o que levara Jasper a sua “casa” não era um
esporro, mas sim um redirecionamento da missão. Já que enquanto Jasper ficava
de olho no avoado anjo da guarda Charlie, ela deveria manter-se atenta a mãe e
a criança. — Tudo bem.
Aceitou,
mas então levou o dedo indicador a ponta do nariz e tocando nele repetidas
vezes, fez uma careta. Ela não entendia nada de educação de humanos. Muito
menos de educação de crianças. Se ela não se enganasse, ainda tinha divisão de
matérias. Quais matérias seriam? Será que era igual as matérias dos anjos? Será
que crianças humanas aprendiam a lutar? Ou aprendiam a como ler aura? Será que
aprendiam como realizar curas leves e uso
dos altos poderes da magia branca? Não, claro que não. Se assim fosse, elas
não seriam humanas e sim anjos.
—
Algum problema? — A voz de Jasper soou profunda.
Alice
não tinha percebido, mas enquanto ela pensava na parte objetiva de sua próxima
missão, seu instrutor desencostara-se da pia e ainda de pé, se inclinara
apoiando o corpo nos cotovelos apoiados na mesa. Alice o olhou com olhos
arregalados sentindo, por algum motivo desconhecido, sua boca seca. Sorte dela
que seu copo de água — que ainda estava em suas mãos — estava praticamente
cheio. Alice sorveu num gole só toda a água. E lembrando-se que lhe fora feita
uma pergunta e que se ela não respondesse levaria uma pisa, ela respondeu:
—
Não, só estava pensando nas partes práticas. — Respondeu Alice. — Você sabe
alguma coisa sobre educação infantil? — Questionou com inocência, para logo em
seguida se arrepender.
—
Isso é da sua conta. — Respondeu Jasper de forma ríspida. — Trate do seu
trabalho que eu trato do meu. — Afastou-se da mesa, estufou o peito musculoso,
caminhou para a porta do fundo da casa e antes de sair por ela, virou-se para a
anja. — E me faça o favor de fazer bem feito o seu trabalho. Não quero saber de
você sendo demitida por incompetência. Te treinei para mais que isso.
Alice
fitou a porta que acabou de ser fechada com a boca aberta.
—
Argh. Odeio ele. — Resmungou Alice depositando o copo de vidro sobre a mesa com
força desnecessária.
Sorte
que não quebrou. Anjos não tinham dinheiro para dar-se ao luxo de renovar as utilidades da casa.
Do
lado de fora, Jasper gritou:
—
Eu ouvi isso. — Falou olhando para a porta com um sorriso imenso nos lábios e
um olhar doce que ele nunca se permitia dar na frente da jovem.
(...)
Charlie
chegou a sua casa como de costume às seis da tarde. Renée já o aguardava com o
jantar que naquele dia tinha ervilhas, almondegas ao molho e batata cozida.
Bella
o esperava ansiosa para lhe mostra a recente aprendizagem dela de copo realizar
uma simples magia de mover os objetos, fazendo-os flutuar. Jasper não tinha
começado as aulas de defesa corporal e ataque, mas já estava introduzindo a
criança ao domínio dos baixos poderes da
magia branca — domínio de todos os anjos, embora em níveis e capacidades
diferentes.
Depois
de Charlie quase ser derrubado por Bella que correu em sua direção, ele a
pegou, plantando um beijo nas bochechas rosadas.
—
Pai, preciso te mostrar uma coisa. — Disse Bella eufórica, já vestida com seu
pijama azul.
—
Calma aí, meu bem. Cadê a mamãe? — Perguntou Charlie colocando a pequena no
chão e finalmente retirando seu coldre e descarregando sua arma.
Logo
atrás dele, adentrou Jasper que estava de folga aquele dia. Jasper adentrou a
casa com um sorriso bobo nos lábios e um olhar doce que até fez Charlie erguer
a sobrancelha em questionamento.
—
A mamãe tá na cozinha. — Disse Bella já agarrando a mão do pai e fazendo força
para puxá-lo na direção de sua mãe.
A
mesa estava posta com os quatro costumeiros lugares. Bella subiu em sua cadeira
e dava pulos, esperando seu pai dar a devida atenção a ela para que a pequena
pudesse mostrar algo interessante. Charlie primeiro abraçou Renée por trás e
lhe plantou um beijos na nuca fazendo Renée soltar um riso e se encolher toda
para não denunciar o arrepio que lhe passou pelo corpo.
—
Como foi o trabalho, amor? — Perguntou Renée se virando para o marido e
enlaçando seu pescoço com os braços delgados.
Charlie
começou a contar brevemente o seu dia a esposa e de como tinha sido pego em mais
uma mentirinha social que ele tanto
detestava. Enquanto isso, Jasper tentava repreender Bella para que a mesma
parasse de pular na cadeira e assim evitasse uma hora cair no chão e se
machucar.
—
Dá para acreditar nisso? — Disse Charlie indignado, fazendo a esposa o olhar
com um misto de carinho e pena. Era muito difícil para Charlie entender a
complexidade dos intercâmbios humanos. — Ele tinha falado para mim: “Passa lá
em casa”. O que eu poderia fazer? — Disse Charlie puxando a cadeira da
cabeceira e se sentando. — Fui à casa dele. E adivinhe, Jasper. — Falou o
policial se virando para o amigo que tinha agarrado Bella e a segurava como uma
bola de beisebol para que a mesma sossegasse. — Quando cheguei lá ele ficou me
olhando como se eu fosse louco. Aí eu me virei para ele e falei que estava ali
a pedido dele. E ele ainda por cima riu da minha cara dizendo que eu devia
estar confundindo as coisas. Vê se pode. — Disse Charlie bufando. — Quando eu
disse para ele que ele mesmo que tinha dito: “Passe lá em casa”, ele caiu na
gargalhada e virou para mim e disse... — Charlie envergou o corpo para imitar o
homem sacana e afinou um pouco a voz. — “Deixe disso cara. Isso é só algo a se
dizer numa despedida. Em que mundo você vive, cara?” — Dito isso Charlie se sentou
de novo na mesa e fechando a cara, completou. — E depois para finalizar, riu da
minha cara. Riu. Vê se pode isso. E
depois foi chamando todos os vizinhos para contar o acontecido e adivinhem.
Todos riram. Todos.
Charlie
estava inconformado. Renée apenas o escutava compreendendo que para o anjo,
mesmo vivendo como homem há algum tempo, devia ser difícil essas comunicações
decodificada da sociedade moderna.
Eles
almoçaram com Charlie ainda narrado o momento de vexame quando a campainha
tocou. Jasper lendo os pensamentos da mulher lá fora, fechou a cara e olhou
para Bella de um modo que ela soube que deveria agir como uma criança normal
que fala errado e se comporta como se não estivesse recebendo educação de bons
modos algum.
Renée
trocou um olhar com o marido que deu de ombros, resmungando:
“Tenho certeza que não disso passe lá em casa
para ninguém.”
Assim
que Renée abriu a porta uma senhora de estatura alta e corpo magro adentrou a
casa sem nem esperar convite. E pelo cheiro, seguiu para a cozinha onde todos
ainda jantavam, se sentando na cadeira disponível.
—
Deseja alguma coisa, Senhora Stanley? — Questionou Renée dando passos
apressando para acompanhar a entrona de sua casa.
—
Ah, que delícia. Almondegas com batatas. Há quanto tempo não como essa iguaria.
— Disse a mulher revirando a panela com a concha. — Não vai me servir um
pranto, não, querida? — Questionou a mulher se endireitando na mesa para ser
servida.
Renée
com um suspiro infeliz, caminhou para o armário e de lá tirou um prato, e
depois da gaveta, os talheres. Colocou-os na frente da mulher que se serviu sem
cerimonias. Todos estavam mudos diante da ousadia da mulher. Charlie até havia
esquecido seu infortúnio da tarde.
—
Delicioso. Se bem que minha mãe fazia com cominho
e alecrim. Nossa, ficava muito melhor que esse aqui. Mas está bom de
qualquer forma. — Disse a Stanley olhando para algo e franzindo o cenho. — Não
tem suco, não, querida?
Renée
ficou lívida, mas se levantou da mesa e pegou um copo e estendeu na frente da
mulher. Depois abriu a geladeira e de lá tirou o suco de limão que tinha feito
para ser tomado antes de todos dormirem.
Bella
estava odiando com todas as forças aquela mulher intrometida. Como ela tinha
aprendido a dominar a magia mais básica,
ela se concentrou e fez flutuar atrás da cabeça da mulher um abajur. Jasper
olhou Bella com fúria e Renée disfarçadamente correu pegando a luminária no ar.
Charlie olhou para a filha com orgulho, sabendo que ela tinha aprendido a fazer
aquilo numa única tarde.
A
refeição se seguiu com Stanley falando que era hora de Renée colocar a filha na
escolinha tendo em vista que a menina completara ontem seu terceiro aniversário
correspondente ao ensino Jardim I e
para aproveitar que estavam abertas as matriculas para o inicio do ano letivo.
Charlie
achou que era muito cedo. Renée ponderou sobre aqui com temor. Sua filha não
era lá uma criança muito normal. Tinha medo que algo lhe acontecesse como
aconteceu com os filhos de Elisa há milênios atrás.
Por
fim, Jasper intercedeu dizendo que era bom para a menina ir à escola mesmo.
Stanley ficou intrigada. Como aquele estranho podia dar ordem na família do
amigo como se fosse membro da mesma? Mas Jasper vendo a direção dos pensamentos
da mulher tratou logo de distraí-la falando de algo que muito a interessava: a
fofoca da vizinhança.
Meia
hora depois, Stanley se retirava daquela casa com o estomago cheio e dando mil
palpites sobre a educação de Bella, que novamente se sentiu tentada a acertar a
cabeça da mulher com algo bem duro e pesado, mas fora repreendida discretamente
por Jasper.
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