Capítulo Quatro
Educação Infantil
—
Que situação. — Disse Alice para si mesma.
Remexeu-se
desconfortável na cadeira e olhou a sua volta, tentando se distrair até que o
diretor viesse para lhe entrevistar.
As
paredes eram coloridas em amarelo claro, verde desbotado, azul celeste e rosa
envelhecido. Na parte superior da parede havia duas carreiras diferentes de
formato de letra na ordem crescente. Uma era na letra de forma e a outra na letra de mão.
Cada letra era de uma cor diferente ostentando um brilho diferente. Na outra
parede, números de um a zero também estavam colados com cores e brilhos
distintos.
O
chão era coberto por uma espécie de grande quebra-cabeça de EVA.
A
sala era extremamente colorida, observou Alice, questionando se isso era
relevante no aprendizado infantil. Em busca de mais distração, ela já estava
levando as mãos para pegar uma pasta em cima da mesa. Foi quando o diretor
adentrou pela porta, fazendo-a guardar suas mãos em seu colo.
O
homem era alto e extremamente magro. Parecia ser feito de pele e osso. Os olhos
claros somados aos cabelos quase brancos de tão loiro lhe davam uma aparência
desconfortável.
“Coitado. Acho que está faltando comida na
casa dele.” Pensou Alice fitando o homem que calmamente sentou-se à mesa e
cruzou as mãos em cima da mesa.
—
Olá, eu sou Carlisle Cullen, diretor da escola. — Disse Carlisle com um sorriso
amistoso, Alice sorriu de volta e acenou a cabeça, concordando com ele. — Pois
bem, em que posso ajuda-la, senhorita? — Disse ele com um olhar curioso.
—
Bem, eu conversei com a sua esposa, Esme, não é? — Começou Alice gesticulando
com a mão. — Eu acabei de me mudar e só tenho experiência em educação infantil.
— Falou recriminando-se por dentro por estar mentindo, embora fosse necessária.
— E queria ver se tem uma vaga aqui. — No mesmo momento que disse isso,
Carlisle comprimiu os lábios em pesar.
—
Nossa, que pena. O nosso quadro de professores já está completo há três meses.
— Falou encolhendo os ombros e estampando em sua feição a solidariedade.
Alice
engoliu em seco. Ela até podia visualizar a bronca que levaria de Jasper quando
dissesse que não conseguiu o emprego porque as vagas estavam todas ocupadas.
Claro, que aquele ranzinza não aceitaria a explicação simples.
Alice
resolveu fazer um pouco de drama, para quem sabe assim conseguir algo.
—
Minha nossa, não me diga isso, Senhor Cullen. Mudei-me tem pouco tempo, preciso
de um emprego para me sustentar.
O
drama tinha um fundo de verdade. Não era porque Alice era uma anjo principado
que ela tinha dinheiro a la vontè, ou
que encontraria seu sustento dentro da boca dos peixes; isso era algo que só o
Cristo conseguiu na sua breve estadia pela Terra há dois milênios. Alice sempre
teve que trabalhar e disso ela conseguia o dinheiro para viver entre os humanos
e se passar por uma.
Carlisle
tinha se simpatizado com a jovem a sua frente. A cara de coitada que ela
estampava era realmente comovente. Fora a estatura amiúde que a deixava com uma
aparência ainda mais frágil e que motivava, mesmo que inconscientemente, a
proteção.
—
Não posso te garantir nada... — Começou Carlisle. — Mas porque você não deixa
seu curriculum aqui. Sempre precisamos de um professor substituto para casos de
emergência. — Disse ele pensando em encaminhar o curriculum dela para a outra
escola e torcendo para que lá tivesse vaga.
Alice
observou o homem de aparência esquelética a sua frente. Era uma pena que ela
por sua condição de Principada não tivesse o dom das Potestades de ler a mente,
algo que nem anjo de guarda conseguia fazer. Esse dom viria a calhar agora para
ela saber em que pé estava e se tinha realmente alguma chance de se instalar
ali.
—
Tudo bem. — Aceitou Alice, já pensando em algo que ela pudesse fazer para
evitar levar uma bronca. Alice tremia só de pensar em levar mais uma bronca
daquele anjo filho de uma figa. — —Eu
pelo menos posso dar uma olhada na escola? — Pediu Alice abrindo um sorriso tão
encantador que ela conseguiria até acalmar um leão voraz.
Carlisle
se levantou da sua mesa e conduziu Alice para ver as dependências da escola.
Todas as salas eram ricamente coloridas e cheias de informações pregadas na
parede. Quando não era informações sobre letras e números, eram diferença de
marcas, projetos de meio ambiente, instruções de higiene correta e até
orientação de primeiro socorros.
A
cabeça de Alice trabalhava a mil tentando encontrar uma solução. Deus a
livrasse da ira de Jasper se ela não conseguisse aquele emprego. Ela mal ouvia
o que o diretor lhe falava sobre os professores e alunos. Foi só quando ele
começou a contar a história de uma professora que tinha enfim voltado a
trabalhar, depois de passar um longo tempo de repouso devido a bacia quebrada;
que Alice teve a ideia. Não era algo digno.
Mas para evitar um esporro, valia qualquer coisa.
Ela
só precisou escolher a vitima.
Saindo
de lá, ela aguardou a mulher de corpo robusto que pedalava uma bicicleta passar
na esquina que dava para a rua, e benzendo-se para ser perdoada pelo que iria
fazer, ela concentrou-se. O vento soprou mais forte, as folhas das árvores
começaram a se agitar. Alice se concentrou até que um galho partisse e
controlando seu peso, ela deixou que o mesmo caísse na professora.
—
Que Deus me perdoe. — Suplicou Alice olhando para o céu e providenciando o resgate de sua vitima.
(...)
—
Como é que é? Repeti. Acho que não ouvi direito. — Gritou Jasper envergando seu
corpo na direção de Alice que muito bravamente se mantinha em posição de sentido.
—
Ou era isso, ou não conseguiria o emprego. — Sussurrou Alice com a voz
alquebrada.
—
Claro. Vamos quebrar as pernas te todas as pessoas da Terra. Extra, extra! Está
aberta a época de caça aos humanos. — Disse Jasper com ironia. — Afinal, temos
que alcançar nossos objetivos. — Alice revirou os olhos. Ela sabia que se não
fizesse nada levaria uma bronca e se fizesse algo também levaria um esporro.
Então entre não fazer e fazer, era melhor pecar por excesso. — E não revire os
olhos para mim. Que foi? Perdeu o respeito? Ou quer que eu arranque suas asas?
Tenho certeza que esperar dez anos até que elas cresçam de novo, será um tempo
bem proveitoso. — Acrescentou o Potestade com sarcasmo. — Pelo menos me diga se
você conseguiu a... — Jasper iria falar um palavrão, mas no ultimo minuto,
mordeu a ponta da língua e respirou fundo. — Me diga que conseguiu o bendito emprego.
—
Sim. — Anunciou Alice sorrindo abertamente, mas diante do olhar feroz que
Jasper lhe lançou, seu sorriso morreu. — Semana que vem começam as aulas e
então eu começo a trabalhar.
—
Faz um favor para mim? — Jasper disse com um sorriso amistoso nos lábios. Alice
até sorriu com aquilo.
—
Sim.
—
Vê se não comete mais nenhuma... maravilha,
okei? — Disse fechando a cara para deixar claro que não estava contente com sua
instruída. Alice bufou, mas forçou um sorriso amistoso nos lábios e acenou com
a cabeça. — E guarda esses dentes. Quem sorri a toa é cavalo. — Replicou Jasper
com mau humor.
Alice
o olhou, incrédula.
—
Qual o seu problema? — Questionou pela primeira vez em milênios.
—
Explique-se.
—
Porque pega tanto no meu pé? Porque briga tanto comigo? Acho que se colocar na
ponta do lápis de todos os Principados, eu devo ser a mais aplicada.
Jasper
pensou em responder: “Porque eu te amo e
se eu me permiti viver esse amor, vai dar merda como deu com o Anthony e a
Elizabeth que além de terem um filho, Edward, tiveram que o abandoná-lo a
própria sorte no mundo dos humanos e hoje ele é um dos muitos Amaldiçoados de
Sinais.” Mas pensando melhor, Jasper viu que a melhor saída para a pergunta
capciosa era pegar ainda mais no pé da bela anja a sua frente.
—
Eu não tenho problema algum. Já você, deveria parar de prestar atenção na forma
que eu trato os outros Principados e se dedicasse a cumprir as suas missões. Ou
será que a anjinha aí tem tanta falta de cacife quanto falta de altura. — Disse
Jasper com um tom implicante, colocando a mão em cima da cabeça de Alice para
enfatizar a baixa estatura da moça.
—
Argh. — Rosnou Alice dando um safanão na mão de Jasper e se afastou dele
pisando duro no chão. Quando estava a certa distancia, ela se virou para trás,
a face transtornada em raiva e disse: — Essa é a ultima missão. Está me ouvindo
bem? A última missão que faço sobre suas ordens. Já aguentei demais sua
implicância comigo. Depois disso acabado, eu juro, e você sabe muito bem que
quando eu juro, eu cumpro. Eu juro que vou pedir para ser redirecionada a outro
Potestade. E se você recorrer a sua memória, saberá que convite não me faltou
nesses milênios todos. — Alice o olhou de forma gélida, o nariz estufado de
raiva. — E passe bem, Senhor Jasper.
Terminado
de falar, ela se virou e foi embora, permitindo que suas asas de luz se
abrissem, batessem e a resumissem a um ponto de luz que logo desapareceu.
Jasper
deixou seu sorriso implicante morrer e na sua face podia se notar a dor que as
palavras de Alice tinham aberto em seu peito. Uma lágrima de luz se formou no
canto interno de seu olho e escorreu pela sua face, deixando um rastro luminoso
pelo caminho. Talvez ele estivesse pegando pesado demais, mesmo. Mas ou era
isso ou era admitir que a amava e lutar por ela. Se bem que ela já tinha dado
várias dicas que não interpretava bem essa implicância constante e isso poderia
significar que há muito tempo ele tenha perdido qualquer chance com ela. E ele
realmente sabia que quando ela jurava, ela cumpria. E agora? O que ele faria?
Se ela fosse direcionada a outro Potestade, ela seria retirada da sua falange e nunca mais ele a veria. No
máximo ele teria acesso ao superior dela, mas não a ela. Ele aguentaria viver a
eternidade assim, sem ela? E pior de tudo, ele sabia que muitos outros dariam
sua milícia inteira para ter Alice em sua guarda. Afinal, mesmo não tendo
acesso direto a ela, as noticias corriam até mesmo no espaço.
(...)
Bella
estava com um bico enorme no rosto. Ela tinha tentado de todas as formas se livrar do infortúnio de ter que conviver
com gente. Bella podia ser meio antissocial, mas para ela, os únicos humanos
legais que ela conhecia era a mãe e a vizinha que ajudou a mãe no dia do
aniversário dela (resquício do trauma que a breve convivência com a avó Rosalie
e o avô Emmett). O resto, só sendo anjo mesmo. E nem mesmo os anjos eram lá
muito legais. Bella tinha feito sua melhor cara suplicante para a mãe que a
beijou na testa e a arrumou com uma saia vermelha e uma camisetinha de botões branca.
Com sua mãe não tinha dado certo. Quem sabe com seu pai?
Bella
foi até seu pai e fez a melhor cara de cachorro abandonado. Charlie soltou um
riso pelo nariz, pegou a pequena no colo e lhe estendeu uma minúscula mochila.
Nem com seu pai deu certo.
Bella
forçou para ser colocada no chão. Caminhou com desalento e foi na direção de
Jasper que a esperava na porta. Ele era a sua ultima tentativa.
—
Tio Jasper. — Disse Bella num tom suplicante.
Jasper
apenas balançou a cabeça.
—
Vamos. — Disse Convidando a pequena que cruzou os braços e colocou um grande
beiço nos lábios. — Eu posso te pegar no colo, pequena. — Ameaçou Jasper vendo
Charlie e Renée se aproximando.
A
pequena projetou o queixo, apertou os braços mais ainda, estreitou os olhos e
fechou a cara.
—
Tente. — Rosnou a pequena em desafio.
Renée
piscou para Jasper, como se dissesse: “Deixe
comigo.”
Jasper
deu de ombros e esperou o amigo avoado ir ao seu lado, para seguirem para a
delegacia.
—
Não consigo. — Sussurrou Charlie para que apenas Jasper escutasse.
—
Deixe de ser frouxo, homem. Teve uma filha, agora aguente as consequências. Ela
é metade humana. É obvio que ela teria que estudar como um. — Falou com tom
reprovador e a face em tom de zombaria.
—
Mas ela é tão pequena. — Choramingou Charlie observando Renée se ajoelhar para
ficar na altura da filha e falar com a mesma.
—
Tem certeza que você é homem? — Disse Jasper avaliando Charlie de cima em
baixo. — Porque está parecendo que a mulher da casa é você. Sua esposa que
deveria estar tendo essa hesitação, e não está.
—
Ela é muito pequena. — Repetiu Charlie ignorando o humor ácido do amigo.
Jasper
sempre fora assim. Era de se estranhar se de uma hora para outra ele começasse
a ser gentil e compreensivo.
—
Filha, você gosta de aprender? — Perguntou Renée fitando a filha.
—
Gosto. — Disse a pequena com desconfiança, tentando entender aonde aquele
questionamento levaria a conversa.
—
Gosta quando eu ou seu pai ficamos orgulhosos quando você faz uma nova
conquista?
—
Gosto.
—
Você gostou de aprender a ler as pessoas quando seu pai te ensinou a entender a
aura?
—
Foi a coisa mais legal. — Disse Bella se esquecendo da desconfiança e abrindo
um sorriso imenso.
—
Gostou de aprender a usar magia?
—
Amei. — Disse Bella dando um pulinho. — Mas ainda falta muito. O tio Jasper
disse que quando eu for maior. — Disse a pequena ficando na ponta dos pés,
levantando um braço e mostrando a altura que ela pensava ser a mais legal. — Eu
vou aprender até controlar o tempo.
—
Você gostaria de ficar para trás?
—
Como assim, mamãe?
—
Para trás, filha. Você gostaria de saber menos do que as crianças da sua mesma
idade.
—
Nunca. — Disse a menina indignada.
—
Já pensou você ser comparada com um mero humano? — Perguntou Renée pegando no
ponto fraco da criança.
Se
havia algo que Bella se orgulhava, era de ser diferente e mais evoluída que as crianças da sua idade.
—
Nem pense nisso, mamãe. Eu sou inteligente. — Falou a menina apontando para si
mesma com orgulho. — Não tem como eu ficar para trás.
—
Tem, sim, filha.
—
Tem? — Indagou a pequena arregalando os olhos e estremecendo com a ideia de
deixar de ser especial e ser alguém comum, ou até mesmo, menos do que as
pessoas comuns.
—
Se você não estudar, filha, com o tempo você vai saber menos do que todo mundo.
É isso que você quer, filha?
—
Não. — Disse a menina com horror. — Se é assim, eu quero estudar. Eu vou
estudar. Vou ser uma boa aluna, a mais inteligente. — Afirmou a pequena
finalmente descruzando os braços, correndo para porta, ficando na ponta dos pés
para abri-la e correndo para fora. Renée se segurou para não rir e acabar
colocando por terra todo o trabalho com as palavras que ela teve. — Mãe, vamos.
Se não eu vou perder a escolinha. Vamos. — Gritou a menina com impaciência.
(...)
—
Filha, a gente não tinha combinado? — Perguntou Renée questionando o porquê a
pequena assim que chegou à escola, pulou no colo materno, escondeu o rosto no
vão do pescoço da mãe e chorava desesperadamente.
—
Bicho feio, mamãe. Eu tou com medo,
mãe. — Chorava a pequena em desalento.
Alice
acompanhava tudo sabendo o motivo do choro da criança, mas se ela fizesse algo,
ela se exporia como anja; e isso não seria bom para a missão que ela teria de
desempenhar. Mas tinha algo que ela podia fazer.
—
Dona Renée? — Chamou Alice se aproximando.
—
Oh, Alice. Não sei o que está acontecendo. — Disse Renée acariciando as costas
da filha que não parava de chorar e se agarrar ainda mais ao seu pescoço.
—
Talvez fosse melhor a senhora ligar para o Seu
Charlie e o amigo dele.
Renée
ponderou rapidamente sobre aquilo. Tentou afastar os braços da filha de seu
pescoço, mas ela se agarrou ainda mais. Seth, seu anjo de guarda, dizia
palavras de consolo. Mas ele por ser apenas um anjo de guarda, não tinha cacife
para enfrentar o que estava assustando sua pupila. Realmente o certo seria
chamar um Potestade, ele daria conta do recado ou ensinaria como a criança
tinha que agir.
—
Boa ideia. Sim, uma boa ideia, Alice. — Disse Renée desistindo de tirar a
pequena do seu pescoço.
Alice
encaminhou Renée para dentro, e assim ela ligou para o marido e o amigo dele
virem ao seu socorro. Meia hora depois, os dois apareciam. Jasper e Charlie
logo viram o motivo do desespero da criança.
—
Eu não sei lidar com isso, não. — Gemeu com frustração Charlie, olhando para o
guarda da escola.
—
Bella. — Jasper chamou e pela primeira vez a pequena levantou a cabeça do ombro
da mãe. — Vem comigo. — Disse ele estendendo os braços para pegar a pequena.
Bella se soltou da mãe e foi pega no colo por Jasper. — Vem, vou te ensinar
como se proteger disso.
—
Eu não gosto dele. É bicho feio. Está me assustando. E tá doendo. — Choramingou
Bella lançando uma olhadela no espírito
maligno que ela via acompanhando o guarda da escolha que tinha no peito o
crachá com o nome de Sam.
—
Eu sei, princesinha. — Disse Jasper com voz carinhosa, fazendo Alice o olhar
com as sobrancelhas tão erguidas que quase tocava seu couro cabeludo.
—
Porque, tio Jasper? — Inqueriu a atual querubim e futura leoa.
—
Sabe, as vezes tem um humano... Aqui e
ali... Que consegue controlar essas criaturas, minha pequena. E para se
vingarem invocam sobre outros humanos.
—
Mas ele não sente? — Perguntou a pequena com timidez, se sentindo mais segura
no colo de Jasper.
Charlie
observava a tudo sentindo ciúme, por naquele momento, não poder fazer nada para
ajudar sua filha, mesmo ele sendo um anjo. Por sorte, Jasper por ser quem era,
podia dar fim naquela situação.
—
Sentir, sente. — Jasper esclareceu. — Mas ele sente em formar de doenças, dores
no corpo... Essas coisas. Mas fique tranquila, ele está contra aquele homem e
atingindo aquele homem, não a você, Bella.
—
Mas eu estou com medo. — Disse a pequena.
Jasper
a olhou com compreensão e sem o menor sinal de humor ácido que ele sempre
ostentava. Olhando por esse ângulo, até que ele passaria por um anjo tragável, pensou Alice. Jasper olhou de
soslaio para Alice e não segurou o sorriso de canto de boca vendo que sua
instruída podia, sim, o ver com outros olhos. Quem sabe...?
Mudou
sua linha de pensamento, tinha algo mais importante para fazer agora.
—
Repita comigo, Bella. Essa oração é um exorcismo. Eu te ensinaria daqui a algum
tempo, mas tendo em vista nossa atual situação... — Disse dando de ombros. — O
importante não é memorizar as palavras, mas a ação por trás das palavras. Tudo bem?
Bella
acenou com a cabeça, concordando.
—
Assim: Somos filhos de Deus. Deus é a luz
que desfaz as trevas de nossa mente. Somos filhos de Deus, portanto, “filho da
luz”, mantendo a mente iluminada, a treva é repelida. Porque somos filhos de
Deus, filhos da luz, tudo fica iluminado no local em que nós estivermos. —
Bella repetia com ele as palavras. Já nas primeiras palavras, ela deu asas a
sua imaginação, visualizando a ação que aquelas palavras tinham, como se elas
fossem o resumo de um filme que ela estivesse assistindo em sua mente. — Todas as pessoas são filhas de Deus,
portanto, reciprocamente irmãs, por isso, só podemos relacionar bem com todas
as pessoas e conviver harmoniosamente com elas, mesmo que alguém cometa um
erro, não o reprovamos e acreditamos que seguramente se tornará bom conosco. —
O espírito maligno estava se afastando do homem, mas rosnava e tentava se
prender a ele com todas as forças, sem sucesso. — Deus jamais é derrotado, nós que somos filhos de Deus, herdamos a força
infinita de Deus, por isso, jamais somos derrotados, também porque somos filhos
de Deus, jamais sentimos ódio do adversário. Sempre alcançamos vitória final,
porque repetimos firme e mentalmente que em nós está presente a força
inesgotável concedida por Deus. — Pronto, o espírito maligno estava
agonizando, já afastado do homem que antes aparentava uma expressão cansada, e
totalmente alheio a “ajuda” que estava tendo, sentia seu corpo mais leve e um
peso do ombro se afastando. — A vida de
Deus flui constante e abundantemente em nosso interior, como a água de um rio.
Por isso a nossa vida é alegre, dinâmica e saudável. Não contraímos doença
alguma, porque na água corrente do rio da vida não se desenvolve micróbio
algum. — O maligno estava agora sofrendo algo parecido com o vapor, e com
isso, sumindo gradativamente. — Nós somos
filhos de Deus. A bondade de Deus encontra-se no nosso coração. Deus é bondoso.
Por isso somos bondosos em qualquer circunstância e com todas as pessoas,
praticando ato de bondade com os outros, eles também são bondosos conosco. Deus
tudo criou usando as palavras. O que pensamos e falamos em palavras acaba
surgindo ao nosso redor, por isso não falamos nos defeitos das pessoas, mas
somente das qualidades delas. Por esse motivo, somente coisas boas vem até nós.
— Quase tudo do espírito tinha sumido, e a medida que isso acontecia, o
homem ficava cada vez melhor. Até sua azia, que nunca tinha sido compreendida
pelos médicos, ou se curava com a medicação, estava melhorando. — Deus é amor, somos filhos de Deus, logo
herdamos o amor de Deus, amar é colocar-se na posição do outro e compreendê-lo.
Por somos capazes de compreender bem os sentimentos dos outros. A compreensão
gera o amor e o amor gera a compreensão, por isso possamos conviver
amistosamente com todas as pessoas e manter bom relacionamento. Muito obrigada
as Três Pessoas da Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho N.S.J.C. e Deus
Espírito Santo, e as Três Pessoas distintas de um só único Deus Verdadeiro, e a
Virgem Maria Imaculada Conceição.
Não
havia o menor sinal do maligno. Bella se animou e pulou do colo do anjo e o
olhando com alegria, limpou a face antes banhada pelas lagrimas.
—
Ele foi embora. — Comemorou Bella. — O bicho feio foi embora. Oba.
—
Não para sempre. — Respondeu Jasper fazendo a menina parar sua comemoração e
correr e se agarrar a perna do pai que finalmente sentiu o ciúme ceder, porque
no fundo, sua filha o havia procurado. — Você terá que decorar isso, pequena. E
todas as vezes que vier pra cá, terá que botar aquele bicho feio para correr.
—
O homem não ficou livre?
—
Não! — Falou com ênfase.
—
E porque a gente não livra ele?
—
Se ele estiver com cede, você beber água não vai matar a cede dele. — Disse Jasper e vendo a
incompreensão na face da criança, ele esclareceu melhor. — Ele que tem que
correr atrás disso.
—
Ah. — Suspirou a menina que ainda não compreendia o porquê seu tio não podia ajudar de uma vez o
guarda, mas não iria discutir aquilo agora. Agora, sem o problema inicial, ela
queria estudar. — Mãe, vou para a aula. — Anunciou a menina. — Se não eu vou
ficar para trás.
—
Vai lá, filha. — Disse Renée ainda confusa com o que tinha acontecido e se
sentido totalmente perdida.
Bella
correu para Alice que a esperava na porta da escola. Agora, sem o bicho feio,
ela poderia estudar e ficar ainda mais inteligente.
(...)
—
Alguém vai me explicar o que está acontecendo? — Questionou Renée com um olhar
atento nos dois homens a sua frente.
Charlie
coçou a cabeça, envergonhado. Jasper retribuiu o olhar avaliando se compensava
explicar.
—
Está vendo aquele guarda da escola? — Disse Jasper apontando para o guarda que
estava com a expressão leve, o corpo ereto e finalmente tinha parado de sentir
calafrios devido a sua persistente azia.
—
Sim, e daí?
—
Ele tem um espírito maligno que o acompanha por... — Jasper se interrompeu, leu
rapidamente a aura do homem para ver desde quando ele passava por aquilo e
tendo a resposta, prosseguiu. — ...vinte anos.
Renée
levou a mão à boca, mas isso ainda não explica o porquê a sua filha tinha sofrido tanto.
—
Mas se está com aquele homem, porque minha filha ficou naquele estado?
Jasper
trocou um olhar com Charlie, que suspirou fundo antes de responder.
—
Porque ela não é totalmente anjo. Ela tem a fragilidade que apenas os humanos
têm aliado com a sensibilidade que nós, anjos, apresentamos.
Renée
ergueu a sobrancelha como se seu marido tivesse dito muito e no final não dito
nada. Jasper tomou para si a responsabilidade da explicação, por ver o embaraço
do amigo avoado.
—
Renée, vocês humanos são tão frágeis quanto um papel molhado. Mas também são
petulantes. Desculpe, mas é a verdade. E por isso não se dão conta da
fragilidade que vocês têm diante do invisível.
Diante de criaturas... Como se diz mesmo? Espirituais.
A presença de um espírito maligno faz com que várias doenças se manifestem no
corpo de uma pessoa. E na melhor das hipóteses, dores inexplicáveis. E é o que
acontece com aquele homem. Se você parar para analisar, antes da oração feita,
você se sentia levemente irritada. É ou não é? — Renée parou para pensar, e,
sim, ela estava irritada. Mas pensava que era por causa da atitude da filha que
parecia estar com manha, dengo. —
Quanto mais perto do homem, mais irritada você ficaria, mas pesado seu corpo
ficaria, mais desatenta e instável. — Jasper olhou a sua volta e viu que algumas
mães se demoravam, para tentar escutar o que eles conversavam, inclusive a
senhora Stanley que tinha levado sua neta, Jéssica para a escola e que estava
já planejando se aproximar. — Vamos, antes que aquela senhora atazane meu
juízo. Dessa vez acho que eu mesmo vou tentar acertar a cabeça dela. Mesmo
sendo errado. — Declarou Jasper, cheio de humor ácido, e puxando Renée e o
amigo para irem embora. Já a certa
distancia e deixando a velha Stanley para trás, ele voltou a explicar. — Só que
vocês humanos também são desatentos e tem uma péssima sensibilidade. As vezes
tem coisas que acontecem a volta de vocês e que só falta ser esfregado na cara
e vocês nem se dão conta. Só que nós anjos temos uma sensibilidade incrível. E
pior, vemos tudo o que vocês não veem. A sua filha, por ser metade anjo, vê
tudo. Você não viu o que nós vimos. Mas te garanto. O espírito era horrível.
Tinha mais de dois metros de altura, pelo por todo o corpo, todo desfigurado...
Acredite! Só de ver dá medo. — Disse Jasper por fim.
—
Mas você não sofreu quando viu. Charlie apenas ficou abalado, mas também não
sofreu. Já a minha filha disse que estava doendo. É isso que eu quero saber.
Por quê?
Jasper
colocou as mãos no bolso frontal da calça de brim. Os três caminhavam a passos
apressados pela rua. Afinal, Charlie e Jasper tinha horário para cumprir e
manter a fachada humana. E Renée tinha a casa para cuidar. Ir para o trabalho
ao modo anjo, estava fora de
cogitação. Pois todos tinham visto eles ali na escola e seria estranho aparecer
no segundo seguinte na delegacia.
—
Mas nós somos anjos. Ele automaticamente nos respeita e não tem como
influenciar a gente. Charlie não pode combater por ser da hierarquia dos anjos
de guarda e por isso nem treinamento teve. Eu até posso. Mas entenda, sua filha
é metade humana. Ou seja, parte dela é frágil como um papel molhado. Por tanto,
susceptível. Mas fique tranquila, logo ela decora aquela oração e não vai mais
passar por isso.
—
Mais ou menos, né? — Resmungou Charlie, sentindo novamente o ciúme ao se lembrar
que ele não pode ajudar.
—
Mas ela vai aprender a enfrentar tudo. — Respondeu Jasper e para implicar com o
amigo, ele deixou seu ombro bater no do amigo, ao falar: — Até porque você é
avoado, mas eu, não.
Rindo
os dois seguiram ao lado de Renée que ainda estava confusa com tudo.
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Eu amei o capitulo miga! Louca aqui pelo próximo, então não demora ok?
ResponderExcluirbjs Le