sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Por Trás dos Sonhos Capítulo 3



O dia da viagem dos meus pais finalmente chegou, o que significava que Eu iria acampar no dia seguinte. As coisas ainda não haviam se normalizado entre Renée, Phill e eu. A despedida não foi calorosa como teria sido se as circunstâncias fossem outras.


― Tem certeza de que ficará bem, não é? ― Renée falava com a voz pesada, quase sussurrando.

― Mas é claro que sim ― minha voz saiu como se tivesse um nó enorme na garganta.

― Cuide-se bem, por favor! ― Phill parecia estar suplicando.

― Está bem ― foi tudo o que consegui dizer.

― Não se esqueça de que eu te amo, filha ― a última palavra de Renée saiu exalando grande dor e pesar.

― Eu também ― respondi simplesmente, não querendo parecer dramática.

― Adeus ― eles disseram quase em uníssono. Eu acenei com uma das mãos em resposta.

Eu me sentia muito, muito vazia por dentro e essa sensação só aumentava ao passo em que eu via o carro de Phill se afastar. Ele e Renée foram de carro até o aeroporto internacional, o deixariam lá, e um amigo de Phill iria buscá-lo ainda no mesmo dia. Após alguns minutos, finalmente consegui entrar em casa e arrumar o que faltava para levar para a minha própria viagem.

Eu não esperava que Renée e Phill me telefonassem quando chegassem ao aeroporto, não depois de tudo. Por isso me assustei quando o telefone tocou e, fiquei ainda mais assustada ao perceber que ainda não tinha dado tempo de eles chegarem ao aeroporto.

― Mãe? ― eu perguntei numa voz assustada.

― Não... Phill! Sua mãe está aqui ao meu lado, aflita por te deixar em casa sozinha. Então você pode dizer a ela que ficará bem?

― Claro... ― minha voz já havia voltado ao normal, no entanto eu podia apenas escutar os gritos de Renée do outro lado da linha. Ela dizia:

― Não! Não vou pegar esse telefone, Bella vai se zangar, nós prometemos a ela que tudo bem se ela fosse acampar, lembra?

― Mãe ― eu chamei, mas ela não ouviu. A discussão entre ela e Phill ficou mais séria naquele momento, e agora nem ele parecia mais me ouvir. ― Mãe! ― eu insisti, mas foi inútil. Segundos depois, os gritos de Renée mudaram de tom: de furiosos, eles passaram a desesperados.

― Cuidado, Phill! Nãããão! ― ela gritou apavorada.

― Mãe? Você tá aí? ― não houve resposta para a minha pergunta. O telefone ficou mudo e tudo o que eu ouvia era o eco dos gritos de minha mãe. Eu tentei respirar, mas eu esqueci como fazê-lo. Eu tentei imaginar o que havia acontecido, mas só conseguia pensar no pior, então logo desisti de fazer isso e tentei voltar a respirar. Foi uma tentativa inútil. Parecia que horas tinham se passado até que vi eu conseguisse encher os pulmões de ar outra vez.

Eu tentei imaginar o que deveria fazer naquele momento, mas nada me veio à cabeça, a não ser acionar a polícia, ou aos bombeiros, ou aos dois! Ideia estúpida, é claro! Eu não sabia ao certo onde eles estavam, então decidi ir eu mesma rumo ao tal aeroporto para tentar encontrá-los no caminho. Eu liguei e pedi um táxi, peguei algum dinheiro, e quando o táxi chegou voei quase literalmente para dentro dele. Indiquei o caminho ao motorista e pedi que ele fosse o mais rápido possível. Os minutos transformaram-se terem se transformado em séculos, mas chegamos, finalmente, até onde estava o carro de Phill.

Eu saltei do táxi imediatamente, entregando o dinheiro que tinha nas mãos ao motorista, sem saber quanto era. Obviamente, deu muito bem para pagar a corrida, porque ele não se queixou quando eu saí correndo pela pista.

Quando eu cheguei, estavam lá os bombeiros e os policiais. Eu não via minha mãe e nem meu pai e isso me fez sentir um calafrio que percorreu toda a minha espinha. Não sei como, mas eu consegui me aproximar das ambulâncias, e lá estavam minha mãe e meu pai. Eu tentei entrar na ambulância onde estava Renée, mas não me deixaram fazer isso. Eu expliquei que ela era minha mãe, e parece que isso só fez com que eles me afastassem ainda mais dela e de Phill. Eu estava zonza e parecia que havia levado uma pancada na cabeça.

― Você tem algum parente ou algum amigo da família que possa ir até o hospital cuidar de tudo o que for preciso? ― o policial me perguntou polidamente e eu respondi ainda meio zonza.

― Sim.

― Então nos passe os números de telefones para que possamos entrar em contato, por favor ― ele falava sem nenhuma alteração em sua voz. Eu lhe passei todos os números que lhe seriam úteis, e os que não seriam também. Ele rapidamente localizou tia Susan ― irmã do meu pai biológico. Ela morava ao norte do país, e dificilmente nós íamos visitá-la. Renée dizia que era porque lá era muito frio, e minha mãe gostava do calor...

Eu não sabia muito bem como fui parar ali, mas me dei conta de que estava no hospital quando fui surpreendida pelos braços de tia Susan em volta de mim, me apertando forte entre eles. Fazia cinco anos desde a última vez que ela veio nos visitar, e mesmo assim ela ainda podia me reconhecer. Eu também a reconheceria facilmente, até porque ela estava tão linda quanto eu me lembrava. Sua pele branca se destacava em meio às outras pessoas que viviam sempre expostas ao sol. Seus olhos azuis estavam ainda mais intensos e reluzentes, mas havia uma ponta de alívio e tristeza refletida neles. Abraçamo-nos por um bom tempo sem dizer nada uma à outra, e foi ali que eu tive consciência de que horas haviam se passado desde que eu chegara ao hospital.

Um médico se aproximou de nós e disse com uma voz calma:

― Vocês são os familiares de Philipe e Renée Smith?

― Sim, somos ― foram as primeiras palavras de Susan. Houve um momento de silêncio que pareceu durar uma eternidade até o médico continuar a falar.

― Bem... eu realmente lamento muito. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas nenhum dos dois conseguiu resistir à cirurgia. Na verdade, Philipe nem chegou a ser operado. A pancada na cabeça foi muito forte. Como eu disse, lamento.

Susan não olhou para mim. Seus braços, que ainda estavam ao meu redor, me apertaram ainda mais forte, sufocando o grito que já estava quase saindo de dentro de mim. Eu tentei falar, mas a minha voz não saía. As lágrimas jorravam dos meus olhos sem eu nem mesmo me dar conta, e os soluços não faziam nenhum som, apenas sacudiam meu corpo.

― Não ― foi a primeira coisa que eu consegui dizer ― Não, não, não... ― eu repetia incansavelmente. Susan se virou para me olhar.

― Calma, querida ― Susan sussurrou, me mantendo firme em seu abraço. ― Eu sei que vai ser difícil, mas você vai conseguir se recuperar ― a voz dela era calma e baixa. Suas mãos esfregavam o meu braço a fim de me confortar, mas não foi possível fazê-lo.

― Foi minha culpa, tia Susan. Minha culpa. Eu... eu os matei ― minha voz tremeu ao pronunciar essas últimas palavras.

― Não, não foi. Você não teve culpa de nada. As coisas simplesmente aconteceram, você não é culpada por nada disso ― Susan tentava fazer com que eu não sentisse me culpada, mas ela não sabia do restante da história, e nem eu conseguia lhe contar. Ao menos não agora. ― Vamos, eu vou te levar em casa, e depois volto para resolver tudo.

Susan tentava me consolar e dizer que havia sido um acidente, e que eu não era responsável por ele. Mas quanto mais ela falava, mais a dor dentro de mim aumentava. Os soluços ainda não saíam e eu não consegui falar mais nada.

Quando chegamos em casa, Susan levou-me até o quarto, certificando-se de que eu tomaria um bom banho. Depois ela fez com que eu me deitasse e voltou ao hospital para resolver as coisas que eram necessárias.

Eu fiquei ali, acostumando-me à solidão, porque agora ela era tudo o que eu tinha. O que me foi dado para ocupar o lugar dos meus pais.

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