Capítulo 35 — Calma
I lose control when I'm close to you babe
I lose control don't look at me like this
There's something in your eyes, is this love at first
sight
Like a flower that grows, life just wants you to know
All the secrets of life
It's all written down in your lifelines
It's written down inside your heart
You and I just have a dream
To find our love a place,
where we can hide away
You and I were just made
To love each other now, forever and a day
(You
And I – Scorpions)
Acho que eu não sabia o quanto tinha realmente sentido a falta de Alberto
até reencontrá-lo hoje. Falar com ele pelo telefone ou por escrito sempre é bom
o bastante, mas nada se compara a estar na presença dele, ouvir sua voz sem o
filtro da distância e abraçar a sensação de volta ao lar que ele me traz.
Saudade é um sentimento com o qual me acostumei e que forjou a maior parte das
minhas defesas emocionais, mas a beleza de saciá-la é algo que provavelmente
nunca deixará de me surpreender, por isso, apesar do dia que tive, estou em
paz. Embora também esteja exausta.
Estar com Beto me faz muito bem e por isso resisti o quanto pude a nos
separarmos, mas eventualmente o cansaço veio com força e me venceu. Sinto-me
como se estivesse acordada há uma semana. Não pelas horas que efetivamente
passaram desde que o telefonema de Marina me despertou, mas pelo impacto deste
dia estranho, que com seu misto de emoções extremas parece não acabar.
Não é tarde agora, a noite está apenas começando e se não fosse minha
folga eu ainda teria algumas horas de trabalho pela frente, um fim de domingo
típico para mim. Contemplo por um momento o quanto seria bom que este fosse
apenas mais um dia igual aos outros, mas apesar de minha ânsia por normalidade,
fico feliz por poder voltar para o refúgio de meu apartamento e descansar ao
invés de trabalhar, mesmo que Blue não esteja lá para me distrair com sua
recepção exaltada e seu amor reconfortante. Meu coração se aperta um pouquinho
quando me lembro que não o verei até amanhã. Em pouco tempo, a casa já se
tornou tão plena da presença dele que não consigo mais imaginá-la vazia. Espero
que ele não sinta a minha falta como sinto a dele.
Casa vazia. Ausências. Estou cansada disso também.
Tento me focar no presente e, enquanto estou dirigindo, meus pensamentos
se alternam entre coisas importantes e aleatórias. Penso em Beto e Júlia, e em
como estão bonitas as árvores floridas no canteiro central da avenida. Penso em
almas perdidas querendo fazer mal a Caio de propósito e no cheiro bom que vem
da pizzaria de onde sai um entregador apressado em sua moto, passando ao meu
lado quando o semáforo fica verde. Penso na pequena Clara, filha de Marina e
Fernando, e em como deve ser sua vozinha de criança esperta e feliz enquanto
canto junto com a música que me envolve vinda do rádio. Penso em mim mesma, por
fim. E em Eric. Na inevitável vontade de me fechar em nossa bolha frágil e não
sentir mais nada, exceto sua presença em toda parte.
Quero sua voz, seus olhos e suas
mãos macias sobre mim. Quero a calma e o caos que se instalam e se alternam
quando nos tocamos. E quero não ter que pensar nas coisas que escondemos um do
outro, em toda carga que ele deve carregar completamente sozinho e em como
nunca parece realmente disposto a me deixar entrar. Quero que as dúvidas sejam
apenas suposições distantes e fictícias e que minha vida possa ser simples
outra vez. Só que com ele.
Estaciono o carro e entro no
elevador mecanicamente, deixando meu corpo executar sem pressa as ações
rotineiras enquanto minha mente fica à deriva. Ainda estou pensando em seus
olhos oceânicos quando a surpresa me toma. Em frente ao meu apartamento, como
se a força de meu desejo fosse o bastante para trazê-lo até mim, vejo Eric à
minha espera. Por um momento, resisto à ideia de que alguma coisa na cena me
incomoda e a alegria de vê-lo é maior que a razão, mas então o que quer que
esteja me parecendo errado começa a penetrar meus sentidos.
Eric está sentado no chão do corredor, as costas apoiadas na parede ao
lado da minha porta e as pernas dobradas diante de si. Seus cabelos estão
desalinhados, como se ele tivesse passado os dedos por eles repetidamente, e há
uma tensão estranha em sua postura. Quando observo seu rosto com mais atenção,
percebo que olheiras ligeiramente escuras contrastam com a palidez doentia que
sua pele não costuma ostentar e acentuam a profundidade do azul que me encara
de volta. Sua expressão é, como sempre, difícil de decifrar, mas pela primeira
vez consigo ler sua energia claramente e ela é angustiada e caótica, refletindo
a partir dele em todas as direções como se sua alma fosse mesmo o prisma que
sempre me pareceu. Vê-lo assim é uma imagem perturbadora e dolorosa. E eu não
sei o que pensar. Exceto que de repente me dou me conta de que ele não deveria
estar aqui.
— Oi — digo,
apenas para ter certeza de que não é algum tipo de devaneio proveniente do
cansaço, mas ele não responde e continuo suspensa no que parece ser um sonho ao
mesmo tempo bom e estranho.
Senti saudades dele, mas por mais que ao longo de todo dia eu tenha
ansiado por vê-lo, estar diante dele agora é algo totalmente inesperado, como
uma materialização da máxima de que se deve ter cuidado com o que se deseja.
Tento ficar feliz, porque afinal de contas ele está aqui e meu corpo e meu
coração não querem explicações, especialmente quando ele parece carecer tanto
de mim, mas minha mente não está muito a fim de se calar e hoje ela está
precisando de algumas respostas.
— Como você entrou aqui? Como você sempre entra? — pergunto, porque não é
a primeira vez que encontro indícios de seu livre acesso ao prédio.
Uma suspeita que eu nem sabia que tinha se confirma quando ele me estende
a mão como se quisesse que eu a segurasse, mas bem em sua palma está a chave da
porta do meu humilde prédio com valor de condomínio modesto demais para bancar
um porteiro. Não sei como ele conseguiu isso, e nem por que achou que
precisava, mas consigo discernir nitidamente a vergonha em seu olhar, a
consciência de que foi invasivo.
Sigo a direção de seus olhos quando ele os desvia de mim e vejo que as
coisas dele estão espalhadas pelo chão. Mas então reparo bem e noto que
“espalhadas” não é uma boa palavra. Como numa versão reduzida da mesa em seu
escritório, tudo está perfeita e estranhamente distribuído: quatro chaves
posicionadas em fila, ordenadas por tamanho, enquanto o chaveiro de onde elas
provavelmente foram tiradas está no meio um pouco acima, formando um triângulo
equilátero com a carteira e o celular.
Vejo sua mão se mover de forma hesitante, como se ele fosse recolher tudo
e se levantar dali, falar comigo e me dar uma explicação dissimulada e
plausível, mas ele para o movimento no ar, a meio caminho, e o que faz em vez
disso é reposicionar a sequência suprindo o espaço que antes devia estar sendo
ocupado pela minha chave, esmerando-se para deixar as que sobraram à mesma
distância, medida com a lateral do indicador. Eric trabalha nisso como uma
minúcia artística e não tenho certeza se ele percebe quanto tempo fica em
silêncio remontando seu triângulo perfeito, me evitando.
A coisa toda meio que me assusta e quero entender o que está acontecendo
com ele, mesmo tendo certeza de que ele não vai me contar. É desalentador e
inusitado o quanto esse homem normalmente tão altivo e seguro de si agora
parece mais frágil e confuso do que nunca. E não acho que seja coincidência que
todas as vezes em que pude olhar um pouco mais profundamente suas emoções foi
exatamente assim que ele me pareceu, embora nunca tanto quanto hoje.
Sento-me ao seu lado, controlando meu impulso desesperado de abraçá-lo,
deitar sua cabeça em meu colo e acolher seu corpo delgado e forte como se ele
fosse algo que eu pudesse guardar e proteger. Faço isso porque meu movimento
desperta nele uma reação estranha, como se por um milésimo de segundo ele se
encolhesse, com medo de mim ou de alguma coisa que só ele vê. Há um breve
lampejo em seus olhos de algo que não consigo entender e logo a energia caótica
já não é mais tão evidente, embora tudo ainda me pareça muito confuso.
— O que significa isso? — pergunto sem saber ao certo a que parte me
refiro, apenas tentando entender um pouco do que está acontecendo com ele neste
momento
— Eu... Paguei um vizinho seu pela chave. Foi no dia em que te deixei o
presente.
Claro. Daquela vez eu achei estranho, mas formulei uma explicação
plausível na hora e depois acabei esquecendo de perguntar. Imagino se ele diria
a verdade se eu o fizesse, mas por mais estranho que pareça, fico achando que
sim. Ele sempre me disse que não podia
me contar certas coisas, mas que não inventaria mentiras para responder às
minhas perguntas. Quem nunca o pressionou por respostas claras fui eu.
Você sequer fez perguntas, quem
dirá as certas! Mas é assim com quem tem telhado de vidro, não é?
— Desculpe — ele diz e seu coração parece preso em sua garganta, fazendo
aparições na falha sutil de sua voz, nos dedos que se movem nervosamente, nos
olhos que não sustentam os meus por mais do que alguns segundos...
Ele me devolve a chave e segura minha mão em torno dela, beijando meus
dedos enquanto o calor de sua pele e de seus lábios me dissolve qualquer
resistência. Nunca vou entender isso, nunca vou saber se todas as pessoas se
sentem assim, mas o toque de Eric é uma prisão à qual me entrego sem reservas,
querendo sempre a sentença perpétua. É só a pressão desesperada de seus lábios,
o calor de sua mão em torno da minha, mas me faz querer fechar os olhos e me
entregar àquela força que me envolve como se fosse sua única razão de existir.
Não resisto, nem vejo por que fazer isso, e minha mão livre busca seus
cabelos, os dedos percorrendo de leve sua nuca e a rigidez dos músculos de seu
pescoço que relaxam lentamente sob a pele quente. Um pouco daquela dor de antes
se dissolve assim, nesse contato simples, seus olhos de desanuviam e eu
subitamente entendo tudo. O conhecimento estava ali o tempo todo, apenas à
espera do minuto exato em que precisava ser compreendido. Mas agora é claro
como água. Eu ouvi. E sei. Eric também é uma missão.
É como se uma luz tivesse se acendido na escuridão a que meus olhos
estavam acostumados, e agora é muito fácil perceber. Não foi por acaso que ele
entrou em minha vida, não é coincidência que, apesar de todas as vezes em que
quis desistir e ser humana, eu tenha resistido tempo o suficiente para ouvir
esse Chamado específico. Não é mera impressão romântica que nossa história
pareça programada para acontecer, escrita antes de nossa própria existência.
Eric realmente foi feito para mim. Para que pudéssemos, de formas que
ainda não sou capaz de entender, salvar um ao outro para sempre.
Uma calma absoluta me invade e a confusão que vejo em seu rosto não me
assusta mais. Sou capaz de lidar com isso, agora mais do que nunca eu sei. Vou cuidar
dele, dar-lhe o tempo de que precisa. Vou tentar entendê-lo e esperar por ele.
E vou fazer isso da forma certa, sem sair do seu lado. Vivendo todos os passos
que nosso relacionamento precisa dar, que nós merecemos. Preciso que ele
entenda isso.
— Se você queria uma chave, deveria ter permitido que eu a desse a você.
Poderia ter pedido.
Ele olha para mim esperançoso,
como se já tivesse desenhado em sua mente todo um cenário em que eu o
expulsaria daqui e eu o estivesse reestruturando neste momento. Apesar de todas
as vezes em que lhe disse que não o deixaria, ele ainda parece carregar todas
as dúvidas que eu gostaria que não existissem mais, porque o que acontece
dentro de mim é bem mais simples do jamais foi para ele. Eu o quero. Agora
ainda mais.
— Essa é você ficando brava comigo? — ele testa, sorrindo pela primeira
vez desde que cheguei.
— Não, esta sou eu cansada demais para fingir que não te perdoo. E muito
aliviada de que você esteja deste lado da porta.
É verdade. Muito embora eu não entenda bem as intenções de Eric, e por
mais que minhas reações humanas — e físicas — a ele por vezes nublem minha
percepção, eu sempre soube que ele nunca me faria mal de propósito. Meu
instinto especial me diz isso, mas há também o que vejo em seus olhos. Ainda
assim, não gosto da ideia de que ele ultrapasse meus limites e quero que ele
entenda que uma vez já foi o suficiente.
— Eu juro que não faria isso. Juro que não entraria na sua casa. — Ele
parece ansioso para que eu saiba disso, e eu acredito, mas ele ainda não parece
capaz de apostar que está tudo bem entre nós. —
Desculpe — repete.
Acho que ele nunca me pareceu tão bonito quanto neste momento,
completamente desprovido de suas defesas usuais, meu príncipe fora de seu trono
de gelo, esperando como se eu também fosse seu salto de fé. Sei que nas atuais
circunstâncias isto é apenas simbólico, mas estendo a chave de volta para ele,
desta vez porque quero, porque decidi confiar em seu amor e na velocidade de
meus próprios passos em sua direção.
— Espere até que eu queira te dar a chave do apartamento, ok? Talvez
depois que eu souber mais sobre você do que apenas seu sobrenome.
O anseio pela verdade não desaparece como mágica quando resolvo confiar
plenamente nele. Pelo contrário. A confiança me vem tão naturalmente quanto a
expectativa de que ele confie em mim também, e eu quero conhecê-lo. Quero saber
tudo o que houver para saber sobre ele e quero que ele me decifre e me aceite
por inteiro em troca. É só que depois de uma vida inteira de evasivas e
segredos eu sei o quanto pode ser difícil decidir qual será o próximo passo,
especialmente quando temos os dois que dá-lo ao mesmo tempo.
Neste momento, porém, nossos corpos parecem decidir por nós e ele me
beija, retendo-me em seu abraço com uma espécie de desespero ancestral e
frenético. Me rendo facilmente e correspondo, admitindo para mim mesma que era
isso que eu queria desde o princípio, que seus lábios me fizessem esquecer do
mundo.
— Minha Luz. Minha Clara. Você é minha — ele me diz, a voz rouca pelo
desejo rasgando meus sentidos e entrando em minha alma como se não houvesse
nenhuma barreira entre nós. Ao menos quando estamos assim.
Preciso de mais. Imediatamente sei disso. E volto a beijá-lo, porque
sempre amei as palavras, mas esse tipo de silêncio está me dizendo muito mais.
Infinitamente mais. Está me dizendo que sim, eu sou mesmo dele, e ele é meu
também.
Exploro sua pele, provando seu gosto com minha boca, deixando minhas mãos
testarem a firmeza de seus músculos. E então ele faz o mesmo, segurando meu
seio como se reivindicasse o que meu corpo quer lhe dar. O calor de suas mãos atravessa
o tecido e a língua dele desliza pelo meu decote, provocando, disposta a ir o
quão longe eu permitir.
Um gemido escapa por meus lábios e o som daquele misto de alívio com
febre me faz atentar para a realidade inconveniente de que estamos sentados no
chão, prensados contra a parede do corredor, e que a qualquer momento alguém
pode aparecer e nos forçar para fora de nosso mundo. E eu ficaria furiosa com
isso.
— Estamos no chão do corredor — digo, e rio imaginando o que ele diria se
eu saísse exigindo privacidade de algum vizinho que inconvenientemente
resolvesse passar por aqui.
Você perdeu mesmo a vergonha!
— Daríamos um belo espetáculo para os vizinhos de andar. — Um dos cantos
de seus lábios se levantam naquele sorriso tipicamente malicioso que ele
costuma me mostrar quando está me provocando, e mais um pouco de meu bom senso
sai correndo escada a baixo. — Mas prefiro que a visão seja só minha — ele
completa, plantando a imagem em minha cabeça, o que, sinceramente, só piora as
coisas para mim.
É, esse é mesmo o tipo de coisa que
ele diria, caso você ainda esteja se perguntando o que ele acharia de sua
recém-descoberta safadeza.
“Não tão recente assim.”
Sei o que vai acontecer se eu o chamar para entrar e continuarmos assim,
mas talvez... Não! Nós já conversamos sobre isso. Tempo ao tempo.
Rio sem graça e desvio o olhar, porque aquele sorriso... Ah, preciso me
concentrar!
— Não conheço você, Eric. Nem você me conhece bem. Sabemos tão pouco um
do outro...
A mão dele sobe distraidamente pelo meu braço e desliza pelo contorno de
meu ombro, repousando ali enquanto a ponta de seus dedos massageia suavemente a
pele sob a alça da regata que estou usando. Ele não percebe o quão íntimo
aquele toque me parece, o quanto o calor que sua pele emana me faz querer
fechar os olhos. Seus pensamentos parecem perdidos em outro lugar, enquanto os
meus...
Estão perdidos também!
— Pergunte — ele me surpreende de súbito, e demoro um momento para
entender o que ele quer dizer.
A palavra fica girando em círculos em minha cabeça, brigando para entrar
em qualquer espaço que eu lhe ceder e criar raízes ali. Então, por fim,
acontece. Ela floresce e percebo que Eric acabou de dar o primeiro passo. E
está me esperando do outro lado do limite que estivemos esperando que se
quebrasse.
O que faço com isso agora?
O caminho que se estende em minha frente não é familiar e isso,
obviamente, me assusta um pouco. Meu instinto de proteger meus segredos começa
a gritar. Foram anos me fechando em meu próprio mundinho restrito. Anos
suficientes para que eu aprendesse que perguntas que vêm acompanhadas de
respostas têm em seu encalço a intenção de reciprocidade. Parecia mais fácil
imaginar como seria quando Eric me desnudasse esta possibilidade, mas quando
ele finalmente me deixa entrar fico com medo.
“Ei, gato, já que você me contou
tantas coisas, também tenho algo a dizer. Bom, é que... Eu sou um tipo de anjo,
sabia? Ah, o quê? Você sempre soube? Tudo bem pra você, então? Não, não. Não
estou brincando... É, não é uma metáfora. É só... um pouco complicado. Mas veja
pelo lado bom: sabe aquele ciúme todo que você tem do Caio? Não precisa. É que
ele é um anjo também. E é meio que meu filho. É, eu tenho idade para isso, sim.
Tenho inclusive idade para ser sua mãe também. Eu sei que é complicado, mas
achei que estava na hora de você saber.”
Acalme-se! Ele vai entender. Você o
ama porque ele é especial. O amor é um desígnio. Ele é o seu. O que significa
que você é o dele.
A conversa que tive com Beto hoje volta a ressoar em minha mente.
Beto e Júlia.
Caio.
Eric.
A necessidade da verdade.
O homem que amo abrindo as portas de seu coração para mim e fazendo-me
amá-lo ainda mais por isso.
No final, é isso que importa.
Tenha coragem. Como ele. Talvez a
noite não tenha horas o suficiente para que vocês precisem chegar nas partes
complicadas. Talvez “tempo ao tempo” seja isso, afinal. Começar do começo e
partir daí. Aos poucos.
Sim, talvez eu não aprenda tudo o que há para aprender sobre nós dois
esta noite. Talvez eu não saiba fazer as perguntas certas e tenha medo do que
vou ouvir em resposta. Talvez eu mesma não consiga dizer o que preciso dizer.
Mas o fato é que este dia que parece sem fim vai terminar em algum momento. E
em seu lugar virá um dia novo. E depois outro. E mais outro. E em todos eles,
Eric estará comigo. Isso me parece razão o suficiente para encarar o salto de
fé outra vez.
— Vamos — digo a ele, estendendo a
mão para nos levantarmos e entrarmos. — Vamos fazer isso lá dentro com uma
xícara de café.
— Só se for café irlandês[1]
para mim — ele brinca.
— Pode ser que eu queira um também — rio, mas não estou mais com medo.
Nem um pouco.
Eu acho.
[1]
Irish coffee (ou café irlandês) é uma bebida a base de café, uísque irlandês,
açúcar e chantilly. Há um estereótipo de que os irlandeses são grandes
consumidores de bebidas alcoólicas e Eric brinca com essa ideia, considerando
que há uma certa tensão na situação.
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