quinta-feira, 8 de março de 2018

CD2 - Cap 27


Capítulo 27 – Limites Rígidos, Limites Brandos,

I'll be there for you
These five words I swear to you
When you breathe I wanna be the air for you
I'll be there for you
I'd live and I'd die for you
I'll steal the sun from the sky for you
Words can't say what love can do
I'll be there for you
(I'll be there for you – Bon Jovi)



Estrela

— Não. Não. Definitivamente não! — Foi minha resposta a Logan quando fez a proposta.
Eu tinha sido boa até ali. Compreensiva. Paciente.
Tinha sido solidária com o sofrimento de Jeb quando me contaram sobre ele, e colocado nosso amigo em primeiro plano, mesmo que para isso precisasse fingir que aquilo não tinha recaído como uma bomba sobre o seio da minha família.
Fui tolerante com a espera inadmissível que os dois se impuseram pelo tal exame que poderia acabar com todas as dúvidas, porque era uma decisão que pertencia a eles, antes de tudo. Mesmo que eu sofresse tanto quanto.
Eu até mesmo me mantive em silêncio e guardei segredo sobre tudo, por mais que me pesasse lidar com a ideia de que tudo mudaria. E garanti a Logan, verdadeiramente, que o amaria de qualquer jeito se o hospedeiro acordasse e tivéssemos que lhe encontrar outro. Porque amava quem ele era e ele não era aquele corpo. Mesmo que eu o tivesse conhecido assim. Mesmo que sua essência estivesse, para todos que o conheciam, amalgamada com a humanidade daquele homem.
Ainda que eu tivesse me apaixonado por essa forma e que meu próprio corpo clamasse pelo dele, eu daria um jeito de me apaixonar de novo e ignorar meus desejos. Porque Canção Noturna era meu companheiro. Minha escolha em qualquer circunstância. Através da dor, se fosse preciso.
E por isso eu tinha suportado toda essa situação impossível e elaborado sobre a premissa de ensinar minha filha a amar o pai em outro corpo. Por tudo que é importante, naquela mesma manhã, eu tinha me forçado a rir enquanto brincava com Lindsay de “e se o papai fosse aquele ali?”, tudo porque, mais do que qualquer um, eu entendia o que estava acontecendo.
Porque eu já tinha passado por aquilo. Sabia o peso de carregar a vida de outra pessoa e me sentir como se não merecesse nada. E quando tudo aconteceu comigo, Logan me amou e me apoiou, acima da própria dor. Jeb, por sua vez, me recebeu de braços abertos e se tornou um pai para nós.
Então eu o amava também.
Muito.
O bastante para fazer por ele o mesmo que fiz por Peg. Assim, sob esse aspecto, a situação não podia ser mais familiar.
Mas aquilo que Logan me pedia... Aquilo! Era onde eu traçaria meu limite.
— Você sabe que é o modo mais seguro, amor — ele disse com a voz suave que usava quando achava que eu estava sendo pouco razoável.
— Não, não é.
— Estrela...
— Pare com isso. Você não vai me convencer. Para tudo existe um limite! Você não pode me pedir para te ajudar em algo que vai partir meu coração dessa maneira.
Cruzei os braços em frente ao meu corpo, me protegendo, e Logan pareceu sentir o baque de minhas palavras.
Ficamos nos olhando durante os instantes seguintes, antes de ele me envolver em seus braços com um certo desespero. O rosto torturado por estar me fazendo sofrer. Por não conseguir tomar o mundo em seus ombros sem precisar que outra pessoa penasse consigo.
— Me perdoe, amor — ele disse beijando meus cabelos. — Não faremos nada disso. Posso encontrar outra solução. Você sabe que eu sempre posso.
— Você não pode poupar todo mundo, Logan. Não pode evitar que alguém acabe sofrendo.
— Então, se eu não puder cuidar de todos, no fim escolho proteger você e Lindsay. Sempre — jurou, segurando meu rosto e afastando-o de seu peito apenas o bastante para poder me olhar nos olhos.
Tê-lo assim, tão entregue, ao mesmo tempo em que tentava sondar meus pensamentos mais íntimos, fez com que eu me sentisse subitamente vulnerável. E toda a angústia que eu estava contendo transbordou de mim em lágrimas abundantes e súbitas.
— Não, não, não! Por favor, Estrela. Eu não quis magoar você — ele implorou, secando minhas lágrimas com os lábios, procurando minha boca em beijos desesperados. — Não fique assim.
Retribuí o beijo com um ardor que o surpreendeu, avançando sobre ele e empurrando-o sentado sobre a cama do hotel onde estávamos hospedados. Em pé em sua frente, tirei minha blusa e sutiã, expondo meus seios à altura de sua boca. Imediatamente, Logan fez o que eu queria, me sugando com a mesma paixão urgente que eu sentia, enquanto uma de suas mãos massageava o outro seio.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Que tipo de saudade antecipada tinha transformado minha tristeza em desejo urgente, mas minha pele queimava com o contato desesperado.
Tirei a camisa dele também e senti um arrepio fundo de volúpia pelo que estava por vir, arranhando a pele de suas costas enquanto nos beijávamos.
— Estrela... — ele me interrompeu, preocupado e ofegante, mas eu fingi não escutar. Não queria falar. Só não queria falar.
— Shh — sibilei, enquanto me ajoelhava e abria sua calça, alcançando o membro pronto para mim. — Não estou magoada. Só quero fingir que está tudo bem.
— Mas está. Eu juro — ele engoliu em seco quando o toquei.
         — Shh — repeti e ele obedeceu, permitindo-se relaxar.
Afastei-me dele um pouco e tirei as peças de roupa que restavam, atenta aos movimentos dele ao fazer o mesmo.
Céus, como eu amava aquele corpo! Senti-me superficial e covarde diante da necessidade que eu tinha de tocá-lo. Mas eu não queria sentir aquele conflito. Não podia me culpar por meu desejo agora. Não enquanto Logan ainda era tão meu quanto podia ser.
Por isso não resisti quando ele me puxou de volta para a cama, colocando minha mão de volta onde estava antes enquanto me penetrava com os dedos em movimentos hábeis e enlouquecedores.
Deixei que ele me levasse até quase o limite, intensificando minhas próprias carícias nele enquanto me aproximava do alívio. Mas nenhum de nós estava pronto para que acabasse tão rápido, então Logan me parou e eu me deitei ao seu lado, explorando seu corpo com os lábios, percorrendo os contornos de seus músculos com as mãos, tentando afastar de minha consciência qualquer possibilidade de que aquela pudesse ser a última vez.
Eu o estava venerando.
A maneira sutil como sorria quando eu roçava meus lábios por seu peito. Os olhos que queimavam sob a expressão falsamente serena, sustentando os meus enquanto minhas mãos sentiam a pele quente de sua barriga perfeita e os pelos macios sobre as pernas torneadas arrepiando-se sob meu toque.
Sim, eu amava cada parte daquele corpo. A forma como reagíamos um ao outro. Tudo a respeito de estar com ele.
Mas porque era Logan quem estava ali. Canção Noturna. Meu parceiro.
Era ele, meu amante, quem sorria para mim com aqueles lábios e me reverenciava com aqueles olhos. E foi a essência dele que se encontrou com a minha quando ele me suspendeu em seus braços, me colocou sobre si e me penetrou devagar.
Um arrepio subiu por minha coluna e eu me inclinei para beijá-lo. Logan acariciou minha nuca, enfiando os dedos sob meus cabelos e massageando aquele ponto sensível que apenas ele sabia que estava ali e que ligava alguma coisa dentro de mim. Um simples toque que me tirava de órbita e me fazia enlouquecer.
Quando levantei os olhos, me recompondo um pouco do delírio, vi que ele sorria daquele jeito reservado apenas para mim.
Sacana. Perverso. Provocador.
O sorriso que eu só via nesses momentos e que reconheceria em qualquer lugar.
— Você tem seus truques e nenhum escrúpulo em usá-los, não é, bonitão?
Sempre tão satisfeito pelo efeito que causava. Seu homem terrível!
— Mas, bem, eu também tenho os meus. E estou por cima agora. Estou no controle — falei.
Suas mãos se posicionaram em minha cintura, como se dispostas a comandar os movimentos, mas não exerceram pressão alguma. O olhar dele me desafiava, esperando.
Comecei a me movimentar para baixo e para cima, devagar. Assisti-o fechar os olhos, aproveitando o prazer sutil e demorado, a cabeça inclinando-se para trás como se estivesse saindo deste mundo direto para outro só nosso.
— Eu amo você, Logan. De qualquer jeito, amo você — jurei, mordendo de leve seu queixo bem desenhado e depois sugando o lábio macio.
Os olhos dele se abriram, ternos, e ele inclinou o quadril para que nos afundássemos mais um no outro.
— Não — eu disse, parando meu movimento e levantando um pouco o tronco. — O controle hoje é meu, lembra?
Uma risada rouca escapou de seus lábios.
— Eu amo você mais do que tudo, Estrelinha. E você fica mais gostosa quando fica mandona, sabia?
Assenti, mordendo os lábios e dando um nó improvisado nos cabelos, como se me preparasse para o calor que viria. Os braços propositalmente levantados para que ele tivesse uma visão livre dos meus seios, como ele tanto gostava.
Então tomei, de fato, o controle. Sem restrições desta vez. Rebolando em movimentos circulares que eu sabia que o levavam ao limite. Logan soltou um gemido alto e exclamou alguma coisa. E eu continuei, acelerando e intensificando o movimento, arranhando levemente seu peito enquanto me apoiava nele.
— Você precisa parar agora, amor. Ou não vou conseguir me segurar mais — avisou.
Obedeci, querendo prolongar um pouco mais o momento, embora achasse que só conseguiria fazer isso por alguns segundos, mas Logan gostava mais quando chegávamos ao clímax juntos. Então parei, oferecendo meus seios para que ele beijasse com a sofreguidão de homem sedento que ele tinha quanto mais tentava se controlar, até que finalmente sua respiração se acalmou.
Lambi seu pescoço e ouvi-o gemer de novo quando recomecei, as mãos dele ainda me apertando os seios, brincando com meus mamilos da mesma forma como eu brincava com a intensidade dos movimentos.
Assim como previ, em pouco tempo minha sensibilidade se amplificou e eu podia sentir cada centímetro dele roçando minhas paredes internas à medida que eu rebolava sobre suas pernas, como se fosse possível fazê-lo alcançar todos os lugares ao mesmo tempo. Estávamos quentes de todas as formas e senti uma gota de suor escorrer por minhas costas quando o calor explodiu por dentro, me fazendo gritar e desfalecer em seu peito, afundando minhas unhas em sua pele.
Sob meu corpo meio inerte pelo êxtase recente, Logan assumiu o controle e começou a se mexer. As estocadas firmes me fizeram gemer alto outra vez e os espasmos continuavam intensos quando retomei o ritmo anterior e o calor explodiu dentro dele também, os músculos deliciosos se retesando quando ele se liberou num gemido arrastado.
Quase não tive forças para sair da posição em que estava, então Logan girou o corpo sobre o meu e me colocou deitada, ficando ao meu lado, nossas pernas ainda entrelaças. Ficamos ali, trocando beijos e carinhos trêmulos, até ele parecer sentir que eu já estava disposta a falar.
— O que foi isso? — perguntou, acariciando meu rosto. — Não que eu não tenha adorado, mas...
— Não sei — respondi olhando-o nos olhos. — Eu só senti necessidade de estar com você. E de entender que o que sinto quando isso acontece vai além do corpo. Como você me disse quando eu quis devolver o corpo de Peg: eu amo você, o hospedeiro é apenas uma circunstância.
O rosto de Logan se contorceu naquela expressão bonita e angustiada que ele tinha quando achava que meu coração se afligia, e continuou acariciando minhas bochechas com as costas da mão, como se ainda secasse as lágrimas de minutos atrás.
— Eu vou fazer o exame, Estrela. E se der negativo, não teremos que nos arriscar. Não precisaremos pensar mais nisso.
— E se der positivo?
Ele não respondeu. E nem precisava, porque eu sabia.
— Conheço você, Logan. Não é mais só pelo Jeb. É pelo humano também. Você o ama como amo Peg e quer saber se ele está aí.
— Não. Não vale o sacrifício que você teria que fazer.
— O sacrifício que você teria que fazer. Mais do que todo mundo. Porque ele faz parte da sua essência, da sua identidade. Ele é você. E pensar nisso fez com que você não conseguisse mais evitar desejar que ele tivesse uma chance.
— Isso não é certo. Somos Almas. É assim que vivemos. Não posso me permitir sentir culpa como se eu fosse um ladrão.
— Ainda assim, é como nos sentimos. Eu, você, Peg, Sunny, Cal... Todos nós que aprendemos a amar os humanos e a enxergá-los da maneira complexa e única como eles vivem. Por isso é diferente para nós, Logan. Eu sei que Vivian não está mais aqui, da mesma forma que você sempre soube que o Logan humano também se foi. Mas tudo que tem acontecido fez você duvidar e a única forma de não sentir isso é fazer com que não reste dúvidas de que ele não está mais aí.
Logan se sentou na cama e eu me sentei também, tomando a decisão imediatamente enquanto o observava enterrar a cabeça entre as mãos.
Nós não podíamos mais viver assim.
— O que você está tentado me dizer, Estrela? Eu... Eu não sei como agir. Não sei o que quero.
— Estou tentando te dizer que teria sido muito mais fácil viver com o corpo de Peg e criarmos John juntos, no nosso mundo, como se fosse nosso filho. E que estragar isso e trazê-la de volta para Ian, sem conhecer os humanos e sem saber o que fariam comigo, deixando você para trás, foi a coisa mais difícil e amedrontadora que já fiz. Mas se eu não tivesse feito, não teríamos Lindsay. E Peg. E Ian. E Jeb. E Kyle. E Sunny. E nem ninguém dessas pessoas que amamos e que nos fazem lutar por um mundo em que elas todas possam viver juntas. Então o que fiz foi a coisa certa. Por isso vou ajudar você a fazer o que sente que é certo também.
Eu não sabia se era alívio. Gratidão. Medo. Provavelmente era um pouco de todas essas coisas. Mas as lágrimas que por tanto tempo Logan tinha contido começaram a se libertar, seguindo umas às outras e caindo em minha pele enquanto eu o abraçava. E eu chorei com ele. Chorei por tudo o que aquele homem adorável tinha suportado até ali. Chorei pelos sofrimentos que ele tinha carregado como se fossem seus e pelos nossos próprios sofrimentos também. Chorei pelo pavor que eu estava sentindo ao assumir o risco e pela saudade que eu já tinha daquilo que por tanto tempo me parecera a paz.
— Você realmente acha mais seguro desse jeito? — perguntei, mas apesar de ter achado a proposta absurda a princípio, conseguia enxergar a lógica dela agora que não estava mais contra.
— Você sabe quanto tempo seria preciso para que ele pudesse dar algum sinal de vida se ainda estiver aqui dentro. — Logan apontou para a própria cabeça. — Quanto mais tempo de inserção, mais perigoso para o corpo se houver a retirada. E já faz muitos anos para mim.
O que ele dizia era verdade. Sabíamos por todas as nossas experiências de antes que a retirada não era como um coma, era mais do que isso. A maneira como o corpo reagia... Havia uma dimensão que nunca havíamos entendido e eu não sabia se um dia poderíamos, a menos que considerássemos as crenças humanas sobre o espírito.
O fato era que um corpo sem alma ficava vazio. E começava a morrer.
Por isso o que Logan tinha proposto era que fizéssemos retiradas sucessivas. E que a cada quatro ou cinco dias o acordássemos por tempo suficiente para que ele pudesse fortalecer o corpo outra vez para a próxima retirada.
Era arriscado também. E podia ser que os intervalos curtos de tempo em que o corpo ficaria sem o meu Logan não fossem suficientes para o outro acordar. Mas era nossa chance mais palpável de conseguir alguma coisa sem causar danos potencialmente irreversíveis.
— E o que faremos com Lindsay? — questionei.
Estávamos de volta a Nova Orleans para falar com Flora e David e convencê-los, aos poucos, a conhecer nossos humanos. Nosso apartamento de antes já pertencia a outra família, por isso nos hospedamos em um hotel, mas pelo tempo que ficássemos, Lindsay frequentaria de novo a escola que frequentava antes. E era lá que ela estava agora.
— Podemos alugar o quarto ao lado. Você não vai precisar me monitorar o tempo todo. Pode ficar lá comigo enquanto ela estiver fora e passar as noites com ela onde estamos agora. Os sinais vitais vão apontar se ele estiver próximo de acordar, não vão?
— Sim, posso arranjar uma desculpa e checar você a cada duas ou três horas. Também posso conseguir um monitor portátil, para vigiar seus sinais à distância. Mas ela vai questionar suas ausências, por mais que te veja de quando em quando. Ficaremos semanas aqui.
— Diremos que eu viajei para levar comida para casa. Ela está acostumada com as incursões. Não é o ideal e ela vai estranhar a frequência, mas é o único modo de mantê-la longe disso enquanto possível. Nas cavernas, ela me veria no hospital, faria perguntas. E os outros também. Exceto por Candy, não contamos a ninguém ainda o que está acontecendo.
Eu detestava com todas as minhas forças que Logan e Jeb não se sentissem à vontade de se abrirem com ninguém mais além de mim e de Candy. Sobretudo porque eu sentia falta de todo apoio que nossa família poderia nos dar. Mas era capaz de entender que eles não estivessem prontos. Demorou meses para que Jeb contasse a alguém e Logan só descobriu por acidente. Não dava para exigir que uma coisa delicada assim se tornasse pública antes mesmo que esses homens fechados entendessem sua dimensão particular.
— Concordo. Se ficamos em silêncio até agora, ninguém mais precisa sofrer com a parte difícil — concluí. — Quando tudo estiver feito e decidido, aí sim teremos algo concreto a confessar. Antes disso, neste ponto, não vale a pena.
— Ainda assim, preferia que alguém estivesse aqui para te apoiar.
— Seria perigoso para os humanos ficarem tanto tempo na cidade, mesmo que escondidos. E Kyle e Ian não ficariam tranquilos se Peg ou Sunny viessem sozinhas, por mais que entendessem se pedíssemos.
Logan concordou com facilidade. Provavelmente já tinha pensado em todas essas hipóteses, mas de repente seu semblante se iluminou com o que parecia uma nova ideia.
— Cal pode ajudar — disse. — Com o apoio de alguém de fora, nós não precisaríamos nem mesmo contar para Jeb. Seria mais seguro tê-lo aqui para se revezar com você e não correremos nenhum risco do outro Logan acordar sem ninguém por perto. Além disso, você vai precisar de ajuda para conseguir alguém novo para mim.
Examinei a ideia por alguns instantes. Cal era nosso amigo e eu me sentiria melhor mesmo se alguém conhecido estivesse comigo no momento mais complicado que eu poderia viver. Mas estava relutante em envolver outra pessoa nisso. No fundo, acho que estava com medo de que ele dissesse que o que estávamos fazendo era uma loucura sem tamanho, porque, céus, nem eu mesma sabia como pude concordar com aquilo. Parece que meus limites, tão concretos há meia hora, tinham acabado de se expandir a níveis de imprudência extrema.
— Se o Logan humano acordar, vai reconhecer a mim e à Lindsay. E vai se lembrar do sacrifício que você fez por ele. Nós sabemos que se ele tivesse uma família, faria de tudo por ela. E nós somos essas pessoas, não somos? Então ele me ajudaria a ajudar você.
— Talvez. Ou talvez me odiasse e quisesse um tempo sozinho com sua filha biológica e com a mulher de cujo amor terá tantas lembranças.
Meu sorriso se desfez na hora e apertei forte a mão de Logan, tentando assegurá-lo, sabe-se lá com que espécie de confiança, que tudo ficaria bem. Mas a verdade era que não havia como refutar aquilo, não havia certeza alguma. Estávamos presos em uma teia tão complexa que mal tínhamos espaço para nos mover além de estar de mãos dadas até o fim.
— Tudo bem — cedi. — Depois que você falar com nossos amigos de Nova Orleans, ligaremos para Cal e contaremos tudo a ele. Não faz mal nenhum ter um amigo disposto a ajudar. E entre eu e ele, teremos mais condições de manter você seguro de todas as maneiras. Posso começar a procurar um potencial hospedeiro desde já, por garantia.
Logan sorriu de lado, tentando fingir que o peso daquilo tudo não vergava nossos ombros para além do que acharíamos possível se esta conversa tivesse acontecido semanas atrás.
— Eu me ofereceria para te ajudar, mas não sei como passar por algo assim de novo, sinceramente.
— Não. Você já fez isso por mim. Agora é minha vez. Você já carrega a culpa por ter interrompido a vida de Águas Claras neste planeta para mandá-la para outro.
Pensar em minha antiga Curandeira era algo que tentávamos evitar sempre que possível e quase me arrependi por tê-la trazido para a conversa, mas, de certa forma, aquela situação fazia parte desta também.
— Você acha que ela será feliz lá, quando chegar? — perguntou, lembrando que a tinha mandado ao planeta dos golfinhos, anos-luz daqui. Quando chegasse, nossas vidas na Terra há muito teriam se extinguido, mas ela ainda se lembraria de seu tempo neste mundo. Eu esperava que com carinho.
— Não tenho dúvidas. Águas Claras era límpida como o nome. Ela entenderia por que você fez o que fez, e jamais se ressentiria de nós.
Talvez fosse minha forma de me iludir, mas quando herdei sua hospedeira, herdei também seus conhecimentos e uma visão clara de quem ela era. Uma Alma simples e pura. Incapaz de qualquer sentimento que não fosse baseado em tolerância e entendimento.
Logan sorriu, obrigando-se a acreditar que ao menos um pouco da culpa do mundo não era nossa, e nos deitamos abraçados, minhas costas contra o peito dele, sentindo um resto de calma que emanava de nossos corpos saciados.
— Estrela? — ele chamou baixinho.
— Hum?
— Se chegar a isso, arranje alguém para mim que seja como Águas Claras, capaz de ser feliz em outro lugar. Que não tenha laços inquebráveis aqui.
— É claro. Você sabe que é exatamente o que eu vou procurar. Não seria justo se fosse diferente.
— Eu sei. Mas se você não encontrar agora, não tenha pressa, espere pela oportunidade certa. E eu não me importo com a aparência, mas encontre alguém de quem você goste e que seja jovem o bastante para que eu possa ver Lindsay crescer.
Segurei a mão dele que me enlaçava e levei-a aos lábios. Aquilo tudo era difícil de ouvir, mas era mais difícil ainda de dizer. Eu sabia bem, embora o corpo de Peg nunca tivesse sido de fato meu, ao contrário do de Logan, que tinha sido dele desde sempre.
— Vai dar tudo certo, amor — recitei como uma oração. — Vai dar tudo certo.
— Não sei se quero que ele acorde — confessou, e eu sabia como sentir aquilo o deixava envergonhado. Mas não havia como culpá-lo por preferir as coisas como estávamos. Porque, bem, nós éramos felizes demais da maneira como tínhamos vivido até ali.
— Com todo respeito a ele, amor, por pior que eu me sinta com isso, tenho que admitir que também não quero.
— Então por que sinto tanta necessidade de fazer isso com a gente?
— Porque não seria você se se permitisse ser egoísta. E porque Jeb precisa que você faça.
— Sim, ele não admite. Mas precisa. — Ouvi seu suspiro e esperei, sabendo que, de certa forma, para ele era um alívio finalmente ter certeza do que faríamos a seguir, mesmo sem ter ideia do resultado. — Você acha mesmo que vai dar tudo certo? De um jeito ou de outro?
E ali estava, a pergunta que eu tanto tinha temido pelos últimos dias, mas então, de repente, percebi que já não estava mais assustada.
— Eu amo você, Logan. Você me ama. Nós temos uma filha e uma família. Então sim, vai dar certo, de um jeito ou de outro.
— Também te amo, Estrela. Para sempre. Então daremos um jeito, o que quer que aconteça. Vamos apenas... confiar um no outro, não é?
— Eu confio.
Senti um beijo suave em meu ombro e me aconcheguei mais em seu abraço. O amanhã podia ser absolutamente incerto, mas naquele momento podíamos apenas ficar abraçados, ouvindo nada além de nossas respirações e da história daquele amor que sempre gritaria mais alto.


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